Outono - 2011

Querido diário,

Misteriosamente, as coisas têm dado certo para o meu lado. Michael está deitado aqui comigo dando pitaco no que eu devo ou não escrever; eu já mandei ele ir embora mas ele é chato mesmo! O meu chato.

"Mia, você tem que parar de escrever nesse negócio, já tá na hora"

"Michael", virei de barriga para cima e o encarei, séria, "Passei cinco anos da minha vida sem triscar nisso, agora aguente"

"Você tem que canalizar tudo isso aí para compor músicas ou escrever mais livros, sei lá"

"Eu não, me deixa, Mike"

E assim a guerra começou: eu tentando escrever no diário, rolando pelo tapete, e desviando dos golpes de Michael que queria arrancá-lo de mim. Por fim, ele acabou aceitando e me deu cinco minutos pra terminar. Então vou tentar ser breve.

Algumas semanas depois do último show que fizemos, Grandmère, eu, J.P e Michael tivemos uma conversa séria. Para começar, a visão de nós três juntos por pouco não a fez desmaiar:

"MAS O QUE É ISSO?", ela bebeu um gole enorme de sei lá o quê com chá. Posso não saber o que foi, mas tenho minhas suposições, "AMÉLIA!"

"Vó... Calma", fomos até ela e sentamos no sofá, "Eu e o Michael voltamos"

"E eles já tinham terminado, só pra deixar bem claro", Michael, como sempre, se justificando. Rimos desse comentário.

"Na verdade, isso já tem tempo, Clarisse", J.P começou, "Mas prometemos continuarmos amigos, principalmente por causa de Genóvia e do Mike"

"Vocês querem que eu tenha um infarto??", ela falou, praticamente gritando.

"Vai dar tudo certo. Confia em mim, vó, em mim, a rainha de Genóvia"

Dei um olhar significativo para ela, o qual foi retribuído.

Em menos de uma semana, demos o esperando anunciamento de que me casaria com o guitarrista e cantor Michael Moskovitz.

Aparecemos em milhares de revistas e sites de fofocas, e eu perguntei a mim mesma o que eu fiz para ter dupla fama; tem horas que chega a irritar. Uma vez, estávamos num restaurante de rua e uma criatura me apareceu:

"AI MEU DEUS É A MIA THERMOPOLIS", um garoto gritou, sacudindo a amiga do lado, que se juntou ao coro, "E O MICHAEL MOSKOVITZ TAMBÉM! EI, MICHAEL, ABAIXA ISSO AÍ"

Michael começou uma crise de riso por trás do cardápio e eu o imitei. Tivemos que, por fim, abaixar o cardápio e dar pelo menos um sorrisinho amarelo. Fomos embora antes que mais gente atrapalhasse nosso jantar romântico.

E essa foi uma das muitas outras vezes que enfrentamos a mídia juntos. Agora ele sabe o que é ser eu.

Bom, antes de ontem, nós três tivemos uma espécie de bate-papo com os cidadãos de Genóvia e explicamos tudo: Michael não seria rei, ele não faz a mínima questão. J.P e eu continuaremos reinando juntos até o fim.

Mas apesar disso, todos entenderiam que o meu marido era Michael Moskovitz, o plebeu nerd-skatista que atualmente se transformara num rockstar. Mike vai crescer e conhecer o homem pelo qual escolhi nomeá-lo. Ele vai saber quem é seu pai; mas vai saber também que tem uma espécie de "tio" que o ama muito e que qualquer um acharia que era seu pai verdadeiro.

Vamos ensiná-lo a decorar as falas de Star Wars, pedir pizza por telefone, a tocar algum instrumento e andar de skate. Um dia ele vai ser o meu little Mike. E um dia ele vai ser o garoto do skate de alguém. E quando esse dia chegar, não vamos deixá-lo vê-la mais tarde, ele vai vê-la naquela hora, todos os dias.

Preciso terminar logo, Michael está cronometrando e faltam alguns segundos. Não sei quando será a próxima vez que irei escrever, mas, se eu demorar, tenha certeza de que é porque estarei ocupada com meus Little e Big Mike.