Em um dia ensolarado, com árvores verdes florescendo, flores de muitas espécies se abrindo, anunciando a chegada da primavera, uma ouriça de pelagem rosa clara, grande olhos verdes, com um vestido vermelho com detalhes em branco envolvendo seu corpo bem definido, grandes botas de mesma cor do vestido, andava vagarosamente por aquele ambiente agradável.

Quem a visse, dizia que estava tudo bem com a jovem ouriça. Mas não estava. Na verdade, estava farta de ser esquecida por todos, cansada de ser deixada para trás, cansada de ser a mais fraca do grupo.

E se ela sumisse por um tempo? E se fosse treinar para se igualar ao ser que mais ama no mundo? Quem sabe, teria uma chance de ser importante, de ser lembrada.

Pensando nisso, Amy Rose arrumou uma mochila com mantimentos necessários para uma viagem. Iria, a qualquer custo, ser lembrada por todos, nem que tenha que arriscar sua vida para isso.

Na hora do almoço, enquanto todos estavam se divertindo em volta da mesa, Amy pegou suas coisas e saiu de fininho. Como esperado, ninguém notou a ausência da jovem. Isso a deixou meio triste. Queria mesmo que a descobrissem e a impedissem. Ficou decepcionada mas não iria desistir.

Viajou para uma cidadezinha pequena que havia ali perto. Lá, haviam várias montanhas. As árvores e as flores sumiam conforme a ouriça subia uma das montanhas. Tudo cinza. A única coisa que dava um pouco de alegria ao lugar era a luz do sol batendo em uma única florzinha do lado de fora de uma caverna.

Amy se aproximou da caverna e resolveu que ficaria por ali, já que não queria permanecer vários dias sem ao menos ver alguma coisa viva. Adentrou o local e viu que tinham alguns mantimentos arrumados em um canto, uma coberta dobrada e um caixote perto dos mantimentos.

“Há gente nessa caverna já…” Amy pensou e suspirou vagarosamente, se virando para sair. Quando estava para descer um pouco a montanha, foi surpreendida por uma voz conhecida que ecoou do fundo da caverna.

- O que faz aqui sozinha? Se perdeu? - O ser perguntou de forma indiferente.

- Não. Só quis esfriar a cabeça. - Respondeu do mesmo modo.

- Esfriar a cabeça? E desde quando a “princesinha” precisa esfriar a cabeça?

- Não me enche. Estou indo. Não deveria ter vindo pra cá.

- Fique calma. Não adianta se estressar. O que a trouxe pra cá?

- Já falei. Vim esfriar a cabeça.

- E eu já perguntei. Por quê?

- Porque estou farta de ser esquecida, de ser deixada para trás. De ser fraca.

- Bom, você pode ser tudo isso mas, é muito determinada. Principalmente quando o assunto é “Sonic”, não é?

- Você nunca gostou dele. Por isso fica falando dele desse jeito tão sarcástico.

- Nunca gostei mesmo mas, alguma coisa sempre me leva pra perto dele. Isso me irrita.

- E o que seria?

- Não sei. Destino talvez? Não sei explicar. Penso que ele tem algo que deveria ser meu, já que não valoriza em nada isso.

- Algo que deveria ser seu? Ele só tem os amigos. É isso que deveria ser seu?

- Não. Uma outra coisa. Deixa pra lá. Entre, está escurecendo. Vai acabar ficando doente aí fora.

- Ok.

Amy entrou receosa. Sentou-se em um canto afastado da entrada. Passou a olhar novamente a caverna escura. Assustou-se quando uma fogueira se acendeu e iluminou o lugar. Era mais cinzento do que imaginara. A única coisa que tinha cor naquele lugar era aquela florzinha branca na entrada. Passou a fitá-la por um tempo enquanto pensava no que iria fazer amanhã, quando o dia raiasse.

Ficou um tempo daquele jeito, até sentir algo tocar seu rosto. Isso doeu um pouco, mas despertou-a de seu devaneio. Uma coberta havia sido atirada contra ela.

- Vai ficar gripada. A noite aqui é fria. Cubra-se com isso.

- Não precisava jogar a coberta em mim Shadow! - Amy exclamou com certa irritação na voz.

- Opa, foi mal. Agora se cubra. Amanhã será um longo dia.

- Será mesmo. Não sei pra onde irei.

- Ficará aqui. Te ajudarei a ficar mais forte e ser reconhecida.

- Por que irá fazer isso?

- Não sei. Deu vontade.

- …

A ouriça não respondeu. Estava sem palavras para retrucar. O que aconteceu ao ouriço negro para querer ajuda-la? Isso ficou ecoando em sua mente praticamente a noite inteira. Não conseguiu dormir sem sonhar com Shadow. O que estava acontecendo com ela? Por que seu coração estava acelerado daquele jeito? Ela amava Sonic, não Shadow. Pelo menos era isso que ela pensava.

No dia seguinte, acordou com um pouco de dor nas costas. Estava acostumada com sua cama macia e seus lençóis com aroma de lavanda. Olhou ao redor e viu que estava só. O caixote que se encontrava perto dos mantimentos estava aberto. Por pura curiosidade foi ver o que tinha dentro dele. Armas. Já devia imaginar algo assim vindo do ouriço negro.

Estava distraída vendo aquela quantidade enorme de armas que continha dentro do caixote, que não percebeu a presença de seu tutor.

- Escolha uma.

- Nunca atirei na vida! Como quer que eu escolha uma? Tudo o que tenho é meu martelo, e sou muito feliz com ele!

- O martelo? Bom… Serve. Pegue-o e vamos para fora da caverna.

- Ok.

Amy pegou seu martelo e seguiu Shadow para fora do ambiente escuro. Agora tudo estava mais claro e nítido. Shadow carregava consigo duas pistolas. Pareciam ser perigosas. Amy ficou um pouco insegura com isso. Poderia se ferir gravemente se vacilasse no treino. O ouriço negro estava levando isso a sério.

Ambos ficaram em posição de luta. A rosada mais tensa que o parceiro. Mal haviam começado a se confrontar e ela já suava horrores. Tinha medo de levar um tiro com aquilo. Atacava com insegurança, até ser derrubada por Shadow e ter uma das pistolas mirando sua cabeça.

- Ok, você venceu. Acho que nunca serei reconhecida nessa vida.

- Você se distrai muito, se deixa levar pela tensão do momento.

- Isso é incontrolável.

- Isso é controlável.

- Como pode ter tanta certeza?

- Porque eu controlo muito bem isso.

- Você? Não me faça rir…

- Estou falando sério. Se você se deixar levar, perderá sempre. Use a cabeça, não os sentimentos.

- Por isso você consegue matar tanta gente.

- Isso.

- Não posso fazer isso. Irei provar que posso vencer de outra maneira.

- Você quem sabe.

- …

- Melhor voltar pra casa. Seus “amiguinhos” devem estar preocupados com você.

- Não sou importante para eles.

- Oh… Está querendo dizer que é igual a mim?

- Ninguém é igual a você.

- Será?

- …

- Bom, vamos almoçar. Essa brincadeira me deu fome.

Ambos foram almoçar. Havia várias frutas na mochila de Amy. Ela colocou todas em cima do caixote para dividir com o parceiro, mas este só pegou uma. Todo o tempo eles ficaram em um silêncio atormentador. Ninguém falava. Amy podia sentir a tensão no ar, mas não se atreveu a quebrar tal silêncio. Quem o quebrou foi o ouriço negro.

- Por que quer ser importante? Qual a razão?

- Só cansei de ser deixada para trás, como já havia dito antes. Todos parecem estar um passo a frente de mim.

- Só isso?

- Não é só isso. Você não entende, já que sempre foi sozinho e nunca se importou com isso.

- Me importo com isso.

- Duvido.

- Sabe por que vivo me encontrando com Sonic?

- Por quê?

- Porque tenho esperanças de que você esteja junto com ele.

- …

- Eles até podem esquecer de você, mas eu não.

- …

- Toda vez que me encontro com ele e vejo você, fico mais aliviado. É como se todo o peso do meu passado fosse embora.

- Shadow… Isso é brincadeira, não é?

- Estou com cara de quem está brincando?

- …

A rosada estava desconcertada. Havia alguém que não se esquecia dela. Alguém inesperado, na verdade. Queria ser lembrada por outro, mas acabou sendo o contrário. Sem querer, sentiu uma alegria enorme em seu peito. Estava confusa. Ela não amava Sonic? Ela não vivia correndo atrás dele implorando seu amor? Percebeu que o que fez foi algo idiota. Nunca percebera o ouriço negro. Aliás, sempre ia confrontá-lo junto com Sonic e seus amigos.

Estava mais confusa ainda por conta disso. Mesmo ela indo lutar contra Shadow, ele nunca a feriu gravemente. Alguns cortes e tiros de raspão. Nunca saia ferida como seus amigos saíam. Agora se deu conta.

- Shadow… Por isso nunca chegou a me ferir como feria os outros?

- Claro. Por que eu feriria a única pessoa, depois de Maria, que amo? Não faria sentido algum.

- …

- Agora você precisa ir. Sua turma te espera, tenho certeza. E, por favor, esqueça tudo o que falei até agora. Não tem nenhuma importância.

- Se não tivesse, não estaria tão desconcertada. Perdoe-me por não enxergar o óbvio. Me sinto uma idiota.

- E você é. Por ficar implorando o amor de quem não te merece.

- …

- Vou buscar água para nós.

Shadow, depois de dito isso, saiu da caverna em busca de água, deixando uma Amy confusa para trás.

Não sabia o porque mas, estava confusa e feliz. Alguém se lembrava dela. Alguém sentia sua falta. Isso era algo que ela queria a muito tempo.

O ouriço negro estava demorando a chegar, então, acabou pegando no sono. Estava pensativa enquanto dormia. Estava pensando em parar de ser boba. Parar de correr atrás de um amor não correspondido.

Mais tarde, abriu os olhos lentamente, sentindo um cobertor a envolver e o ouriço negro dormindo sentado ao seu lado. Não resistiu e, levantando-se, beijou a bochecha dele.

- O que está fazendo? - Shadow perguntou de olhos fechados.

- V-você não estava dormindo? - A rosada perguntou surpresa e sem graça.

- Não.

- Desculpe.

- Pode fazer isso quantas vezes quiser.

- …

A ouriça, pegando toda a coragem que tinha, encostou seus lábios nos do ouriço negro. Este assustou um pouco com o toque inesperado. Ficou surpreso. Não esperava tal atitude da jovem rosada. Mas, tinha de admitir, estava gostando.

Ficaram por um tempo se beijando. As línguas em total sincronia, como se dançassem na boca um do outro. Amy abraçou Shadow pelo pescoço, inclinando um pouco o corpo, para ficar mais perto do parceiro. O ouriço, por sua vez, abraçou fortemente a rosada pela cintura, como se dissesse que estava esperando por isso a muito tempo.

Não demorou muito e ambos se separaram, em busca de ar. Amy estava desconcertada por ter feito aquilo. Olhou timidamente para o ouriço a sua frente, como se pedisse desculpas.

- Não precisa se desculpar.

- M-mas…

- Não precisa. Sabe a quanto tempo espero por isso?

- …

- Desde a primeira vez que vi você.

- …

- Hey.

- Ahn…?

- Te amo.

- A-ah! S-sabe… Descobri que estava perdendo meu tempo correndo atrás de alguém que não merecia…

- Ora, ora… Percebeu isso agora? Boa garota…!

- Não zombe de mim. Cansei de correr atrás dele. Sabe, estive pensando muito no que você falou. No momento, estou muito confusa.

- Imagino. Te darei um tempo para pensar.

- Faria isso?

- Claro, por que não? Um beijo seu eu já consegui.

- Palhaço.

Depois de duas semanas, Amy tinha a resposta. Viu que Tails e Cream haviam sentido sua falta, pois os dois se puseram a procurar por ela. Ouviu também que os outros estavam preocupados. Isso a deixava muito feliz, mas queria tentar a vida como uma aventureira ao lado do jovem ouriço negro.

- Gente, obrigada por virem atrás de mim, mas…

- Onde vai Amy? - Cream perguntou com uma carinha triste.

- Irei explorar um pouco esse mundo.

- Com quem? Vai sozinha? - Tails perguntou confuso.

- Não, com alguém que irá cuidar de mim.

- Ok… Espero encontrá-la algum dia… - Cream falou entre lágrimas.

- Calma Cream, eu volto, prometo!

- Volta mesmo? Sentiremos sua falta… - Tails falou em um tom de voz triste.

- Podem deixar comigo! Voltarei assim que possível!

Depois de se despedir dos pequenos, Amy voltou para a caverna escura, para juntar suas coisas.

- Está pronta?

- Claro.

- Sabe que a vida de um andarilho não é fácil, não é?

- Sei sim. Mas tudo bem, estou disposta a correr o risco.

- Ainda da tempo de voltar com Tails e Cream.

- Não obrigada. Quero ficar perto de quem me ama de verdade.

- Amy…

- Sim?

- Te amo.

- Também te amo.

- Já juntou tudo?

- Sim.

Antes de saírem da caverna, eles juntaram seus lábios rapidamente, em um selinho. Logo depois, saíram da escuridão, em busca de aventuras que só poderiam ser vivenciadas por eles.