Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 19
Bad Feelings


Notas iniciais do capítulo

Então, povo meu :3 A música da Carly é Pompeii, Bastille. Espero que gostem ^~^



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POV Kramisha

~Flashback On

– Diz que sim. Anda. – Lily quase pulou do colchão para cima da minha cama. Segurei firmemente o celular, fugindo dela. – Se você não falar, eu falo.

– Calma, Lily. – Falei, ainda um pouco chocada. Olhei a mensagem que Derek me mandara de novo.

“Kram, você quer sair um dia desses?”

– Mas... – Mal conseguia raciocinar. – Ah, vamos responder.

Escrevi um “tudo bem, que dia?” com os dedos muito trêmulos. Lily ria do meu nervosismo. Ela se deitou de novo, rindo.

– Não tem graça. – Falei, me deitando também. – Lily, para.

– Desculpa. – Ela disse, segurando o riso. Revirei os olhos, suspirando. – Até que enfim vocês vão sair dessa brincadeira suas.

– Que brincadeira. Eu só não tinha...coragem. – Abracei meu travesseiro.

– Bom, sorte sua que alguém decidiu agir. – Lily sorriu, suspirando. – Agora falta alguém pra mim.

– E desde quando você precisa de ajuda? – Falei. – Você simplesmente vai até o cara e fala.

– O problema é achar um cara legal, não falar com ele. – Ela deu de ombros, como se fosse óbvio. Lily era assim: achava alguém que a interessava, ia até ele e dizia. Só isso.

– Ele respondeu. – Peguei o celular, lendo a mensagem em voz alta. – Não sei. Cinema?

– Agora já é problema seu. – Lily falou, bocejando. – Você quem sabe.

Respondeu, respirando fundo. Enviou “Ok, que dia?” para ele, esperando que não soasse desinteressada. Imaginou se ele estava tão nervoso quanto eu.

“Semana que vem? Pode ser?” Eu geralmente não fazia nada fora pintar dentro de casa, então qualquer dia seria realmente bom pra mim. Concordei.

– E ai? – Lily perguntou, encarando o teto.

– Cinema, semana que vem. – Respondi, apagando a luz do abajur. – Agora vamos dormir, ok?

– Ah, tudo bem. – Ela bocejou, se virando de lado e fechando os olhos.

Aquele já era o segundo dia seguido que Lily dormia aqui. Provavelmente não queria ir para casa por causa do pai, e a mãe nunca era uma opção.

Não me incomodava nem um pouco a presença dela ali, mas era um pouco estranho imaginar que ela não tinha qualquer laço com o pai e uma relação horrível com a mãe. Era uma ideia um pouco surreal para mim.

Ouvi quando Lily começou a falar no sono, como sempre fazia quando começava a sonhar. Fiquei de pé, pegando meu celular e um robe. Sai do quarto com todo o cuidado do mundo, para não acordar minha amiga.

Fui para o único lugar mais seguro que meu próprio quarto: meu atelier. Acendi a luz depois de fechar a porta. Com cautela, fui pegando tintas, pincéis e uma tela.

Tinha tido um pesadelo na noite anterior. E como sempre, decidi colocá-lo na tela. Peguei um lápis, começando o esboço, me lembrando de cada detalhe daquele sonho horrível.

A sala de aula ganhava uma aura muito mais sombria, com todas as carteiras bagunçadas e o sangue no chão, ainda escuro e novo.Além da luz que só iluminava a porta, dando um brilho fraco ao tablado da frente da sala e à mesa do professor.

Eu reconhecia Keane agarrado à Carlotta, ambos com cortes profundos nas faces, como se tivessem chorado tanto que as lágrimas formassem uma vala na carne.

Via Lily, dezenas de cordas de guitarra enroscadas em seu pescoço, apertadas ao ponto de começarem a cortar. Seu olhar era desesperado, fitando o quadro.

Derek simplesmente fitava o tablado, a boca completamente aberta, sua mandíbula completamente bamba. Os olhos estavam totalmente pretos, sem qualquer sinal de cor ali.

Jehra estava na porta, sua sombra cobrindo parte do tablado. Com uma mão no portal e a outra amassando uma folha de papel, seu rosto estava repleto de canetas fincadas como agulhas, principalmente acima de seus olhos.

Eu mesma, na imagem, aparecia de pé sobre o tablado, segurando um pincel com uma mão erguida, fazendo menção de pintar com a tinta vermelha o quadro, já manchado pela cor.

E no centro do tablado, Claire de joelhos, com a expressão de agonia, com os olhos e boca completamente escurecidos pelo sangue que dali escorria. Suas mãos retorcidas como se dessem forma ao grito que nunca saíra de sua garganta.

Tudo aquilo era perturbador o suficiente. Respirei fundo, olhando meu progresso sobre a tela. O relógio do meu celular marcou duas da manhã. Sabia que não sairia dali tão cedo.

Continuei desenhando, assustada com o sentido que aquela tela tomara em minha mente.

~Flashback Off

POV Keane

~Flashback On

Carly provavelmente não gostaria de ouvir sobre aquilo. Mas eu não podia simplesmente ignorar que tinha me sentado justo ao lado dela no ônibus.

Claire não me parecia bem. Ela tinha marcas quase imperceptíveis das olheiras sob os olhos cinzentos. E sua boca estava cheia de machucados, que ela provavelmente causara. Já vira quando ela ficava nervosa e começava a puxar a pele dos lábios ressecados.

– Ahn, oi, Claire. – Disse, depois de alguns minutos. Ela pareceu surpresa ao me ver ali. Deu um aceno leve, tirando um dos fones.

– Ei, Keane. – E a conversa morrera ali. Eu não sabia como falar qualquer coisa depois de tudo que eu já havia lhe dito. E ela nunca fora boa em iniciar conversas.

– Vai pra onde? – Perguntei, sem olhar pra ela. A garota deu de ombros, trocando de música antes de me responder.

– O shopping mais longe que consegui pensar. – Os olhos dela perderam um pouco do brilho habitual, enquanto ela voltava a encarar a janela.

– O que vai fazer? – Não que fosse da minha conta, não era. Mas o silêncio me enlouqueceria.

– Vai ser aniversário do meu pai. Ele vai dar um jantar pra alguns amigos. Preciso de uma roupa. – Ela disse. – E comprar um presente pra não ficar parecendo uma filha ingrata.

A última parte foi a que me fez erguer os olhos para ela. Claire já voltara a encarar a janela, mas eu ainda podia ver o cansaço evidente em suas feições. Era inacreditável que aquele cara ainda esperasse um presente. Aliás, como ele tinha qualquer amigo?

– E você vai...?

– Ah, médico. Minha mãe me disse pra encontrá-la lá. – De novo, morreu o assunto. Percebi olhando de soslaio que ela encarava minhas mãos, parecendo hesitante. – Claire, tudo bem?

– Tudo. – Não era bem o esperado. – Keane, você tinha razão. Carlotta também.

– Sobre o que? – Perguntei, mas ela ficou de pé e deu sinal.

– Tudo. – Foi o que ela respondeu antes do ônibus parar e ela descer. Pisquei, tentando entender o que ela quisera dizer. O que eu tinha razão?

Fiquei tão focado naquilo que quase perdi meu ponto. Desci correndo, indo ao encontro de minha mãe. Se ela percebeu que eu estava com a cabeça em outro lugar, não comentou.

Antes de entrar no consultório, mandei uma mensagem para Carly. Não sobre Claire. Não diretamente, ao menos. Perguntei simplesmente se ela sabia se Claire estava bem.

A resposta dela foi um simples não.

Fiquei de pé e entrei no consultório, minha mãe me seguindo falando sobre alguma coisa de supermercados.

Passei o resto do dia confuso. Nada me vinha à cabeça, o que eu tinha razão. Claire simplesmente não fizera sentido. O som no meu quarto continuava tocando tranquilamente, com Why Does It Always Rain On Me?

Quando fui dormir, continuava sem qualquer ideia. Minha cabeça já doía, de tanto pensar naquilo. Mas a resposta não vinha. Peguei o celular, recebendo uma mensagem de Carly.

“Sobre a pergunta de antes, Ursinho...Não é que eu não sei. É que ela não está bem”

É, eu imaginava. Me cobri, apagando a luz do abajur, ainda um pouco incomodado.

– Boa noite, meu bem. – Minha mãe encostou um pouco a porta, depois de me dar um beijo. – Eu te amo.

– Eu também, mãe. – Suspirei. Claire certamente não ia dormir daquele jeito. – Eu também.

Fechei meus olhos, tentando sem muito sucesso me livrar da imagem deprimente de Claire e das dúvidas.

~Flashback Off

POV Carlotta

~Flashback On

Por que Keane de repente se preocupara com Claire daquele jeito? Não que eu mesma não estivesse um pouco assustada com o estado da garota. Ela me parecia tão cansada e sem qualquer objetivo.

Me sentei na minha cama, deixando de lado a revista que estava lendo. Talvez eu devesse checar se ele estava bem, amanhã. Keane era muito bom para lidar com certas coisas sozinho. Com outras...

Fiquei de pé, um suspiro escapando de meus lábios. Em minha mente, imagens de Claire durante as aulas começavam a surgir. Nunca parava de escrever, mesmo quando o quadro estava em branco. Durante os recreios, de vez em quando conversava com Derek, mas a maioria do tempo passava encarando o meio do pátio.

Pelo menos as marcas pareciam menos frequentes. Ou ela parara de apanhar, ou aprendera a esconder as provas do crime. Ainda assim, parecia cada vez mais cansada e...só.

Peguei meus fones, ligando meu celular e colocando numa lista aleatória. Eu não prestava atenção na música, mas ainda achava mais confortável do que ficar no silêncio.

“But if you close your eyes,

Doesn’t almost feel like nothing changed at all?”

Se eu fechasse meus olhos, pareceria que nada tinha mudado? Eu duvidava muito. Existem muitas coisas que nunca se consegue esquecer. O que acontecia com Claire era um desses casos.

Sai do quarto e fui para a sala, esperando que aqueles pensamentos ficassem amarrados aos pés da minha cama. Me sentei no sofá, pegando o controle e ligando num canal que falava de videogames.

Pareceu funcionar um pouco, para me ajudar a me esquecer de Claire. E um pouco da preocupação com que Keane me deixou.

Acho que acabei dormindo no sofá. Em algum ponto da noite, alguém me cobriu, provavelmente minha mãe. A televisão parou de emitir sons.

Acordei já de manhã, e um pouco atrasada para a escola. Pulei do sofá e fui tomar banho, tropeçando pela casa ainda um pouco sonolenta. Ouvi a campainha enquanto acabava de arrumar minha mochila.

– Bom dia, Ursinho. – Keane me esperava na sala de estar, onde eu dormira. Ele sorriu, beijando minha testa. – Tchau, mãe.

– Até mais tarde. – Me despedi, arrastando-o para fora de casa. Fomos para a escola de mãos dadas, como de costume. Ele não comentou de Claire, mas não falou de mais nada. Também fiquei calada.

– Você dormiu bem? – Acabei perguntando, vendo a cara de sono dele.

– Uhum. Só acordei mais cedo do que o costume. – Ele deu de ombros, sorrindo. – Você?

– Dormi no sofá, assistindo TV. Mas tudo normal. – Falei, escondendo o atraso. Não sei porque, mas me incomodava que ele soubesse que não tive tempo para me arrumar direito. Mesmo que ele não tivesse dito nada do cabelo um pouco bagunçado e o olho um pouco inchado.

– Que bom. – Chegamos. Ele soltou minha mão e foi para seu armário, como de costume. Subi direto para a sala de aula.

Ela estava lá, com o cabelo escondendo a maior parte de seu rosto. Ainda assim, consegui ver o cansaço sob seus olhos. Fui para meu lugar, quieta. Ela estava lá sozinha, com os fones de ouvido e escrevendo no caderno.

Me sentei, pegando minhas coisas e esperando Keane.

~Flashback Off


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Notas finais do capítulo

Então, gente? Alguma crítica? Beijos :3



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