Summertime Sadness escrita por Pacheca


Capítulo 16
Medicine


Notas iniciais do capítulo

Então, pessoas...Muitas memórias até agora, mas enfim :3 Adoro escrevê-las. As músicas desse capítulo foram Medicine - Daughter, Bon Iver - The Wolves (Parts I & II) e Flume



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POV Claire

~Flashback On

– Quando quiser, Claire. – Lily falou, me olhando. Me acomodei sobre a mesinha da sala de música.

– Ok. – Respirei fundo, olhando a letra uma última vez. – Acho que já peguei.

– Assim que der o play no computador começo a tocar. – Me estiquei, tomando cuidado para não deixar minhas costas ainda mais doloridas. Apertei o enter, começando a gravação.

Ela começou a tocar, olhando para a partitura em sua frente. Como ela conseguia alguma coisa assim tão elaborada? Era como se fosse seu instinto, escrever músicas.

“Pick it up, pick it all up,

And start again.”

Lily nem precisava dizer para saber que aquilo era sobre mim. Ao menos parecia ser. Era aquilo que eu sempre fazia, catava os cacos e recomeçava.

“You’ve got a second chance,

You could go home,

Escape it all,

It’s just irrelevant”

Não, eu não podia ir embora. Era isso que ninguém entendia. Eu não tinha pra onde ir. Eu não podia simplesmente largar minha mãe para trás. Mesmo que a mulher não gostasse de mim, sabia que apanhava por culpa minha.

“It’s just medicine,

It’s just medicine.”

Já tinha visto a mãe usando alguma droga. Não sabia o que era. Podiam ser só analgésicos, mas sempre soube que a intenção dela era se matar. Ou ao menos, se dopar até esquecer tudo ao seu redor por algum tempo. Eu já tentara fazer aquilo. Nunca tive a coragem, no entanto.

“You could still be,

What you want to

What you said you were

When I met you”

O que eu queria ser? Eu não podia. Amada. Querida. Queria que alguém confiasse em mim. Como eu sabia que Lily confiava em Kramisha. Derek sempre me escondeu alguma coisa. Sabia daquilo também.

Mas o que eu era quando ela me conheceu? Menos deprimida talvez. Eu estava me cansando. De nunca conseguir nada. Uma resposta verdadeira, de ninguém. De lutar por um carinho que nunca chegaria. Eu não era ninguém. Não mais.

“You’ve got a warm heart,

You’ve got a beautiful brain,

But it’s desintegrating,

From all the medicine,

From all the medicine,

From all the medicine

Medicine ”

Era justo isso que ela sabia. Era ela naquela música. Tinha tudo pra amar aos outros. Amava. Não era correspondida, era esse seu problema. E estava tão cansada de tudo, às vezes realmente parecia que todos meus sentidos se desligavam sozinhos. Eu ficava encarando a parede branca do quarto, a caneta caída sobre o caderno.

“You could still be,

What you want to,

What you said you were,

When you met me”

Respirava pesado, tentando me acalmar. Lily, tocava, quieta.Cantei mais uma vez, aqueles últimos versos. O coração já entalado na garganta.

“You could still be,

What you want to,

What you said you were,

When I met you

When you met me,

When I met you

Youuuu”

Era o final. Ela acabou de tocar, os dedos hábeis apertando cada tecla com pouca delicadeza. Pouca, mas ainda estava lá. Não consegui mais me controlar.

– Claire, o que...?

– Mil desculpas, Lily. – Me levantei, pegando minha bolsa. Os dois riscos já marcados no meu rosto, indicando o caminho por onde as lágrimas passaram antes de cair.

– Claire! – Me chamou mais uma vez, mas já tinha deixado a sala, aos prantos.

~Flashback Off

POV Lily

~Flashback On

Ela percebeu, então. Era aquilo. Provavelmente nunca mais gravariam nada juntas. Talvez a ruiva tivesse ficado com raiva. Só queria tirar aquilo de mim. Aquela tristeza que sempre me afligia quando me lembrava de Claire.

O celular tocou. Apertei o enter antes de atender. Kramisha. Dei um suspiro, me sentando de novo de frente para o piano.

– E ai? Como foi? – A pintora perguntou, a voz animada.

– Alguém está feliz. O que foi? – Mudei de assunto.

– Bem, ganhei algumas coisinhas novas. Vou voltar a pintar como nunca. – Tinha passado quase um mês sem pegar num pincel, porque suas tintas tinham acabado. – E não é só isso.

– O que mais é, então? Desembucha, Kram. – Falei, revirando os olhos.

– Tirei A+ na prova de biologia. – Então ela tinha recuperado a nota. – Não foi fácil, mas consegui. Não vou mais repetir de ano.

– É só o começo do bimestre, Kram. Você que está desesperada.

– Claro. Vai vir pra cá?

– É, só vou juntar minhas coisas.

– Ainda na escola? – Olhei o relógio. A hora em que sempre saiam.

– Já estou indo. Até mais. – A outra murmurou um ok e desligou. Como prometera, juntei minhas coisas apressada e sai do colégio, deixando as chaves com o zelador e agradecendo.

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– Ai está você. – Me recebeu na porta, sorrindo com um avental sujo. – Entra. Eu pedi pizza, já deve chegar.

– Valeu, Kram. – Joguei a mochila na cama dela, ficando descalça.

– Como foi a gravação de hoje? – Olhei para ela, meio travada. – E ai?

– Mais ou menos. – Dei de ombros. – Ah, melhor você ouvir.

Com a porta entreaberta, peguei o computador na mochila e abri nos arquivos gravados. Untitled. Cliquei nele,ouvindo a gravação começando. Até que eu tinha tocado bem.

Ela ficou prestando atenção na música, com o queixo sobre as mãos, os cotovelos nos joelhos. Séria, como sempre ficava quando estava séria. A voz de Claire estava bem clara, mesmo que ela tenha parecido a ponto de chorar o tempo todo.

– Escreveu essa também? – Perguntou, quando terminou. Ouvi Claire saindo correndo antes de responder.

– Como todas as outras. – Concordei com a cabeça. – Foi ela quem pediu uma coisa triste.

– Mas tinha que ser justo sobre ela? – Ela perguntou. Imagino que fechei a cara. Ela continuou. – Ela não deve ter ficado com raiva.

– Ah, não sei não.

– Quer que eu pergunte para Derek? – Ela pegou o celular, abrindo as mensagens. Vi que eles já tinham uma conversa.

– Quando pegou o número dele? – Franzi o cenho.

– Foi por um trabalho em dupla, de inglês. – Ela deu de ombros, digitando alguma coisa. – Pronto. Agora é só esperar ele responder.

– O que você disse?

– Só perguntei se Claire estava triste. Só isso.

– Ok. – Fiquei inquieta, mas deixei de lado. – Pizza de que?

– Nossa, você passa fome? – Ela riu. – Meia presunto, meia vegetariana.

– Presunto, boa garota. – Sorri. – E não passo fome, só não é todo dia que como pizza.

– Entendi. – Ela deu de ombros. – Pega a guitarra, vamos pro estúdio.

– Pintar?

– Claro. Tenho tintas de novo. – Não consegui ficar sem rir. Fui atrás dela, o instrumento na minha mão.

– O que devo tocar? – Me sentei nos fundos do quartinho, enquanto ela pegava uma tela.

– Hum, deixa eu ver... – Pensou um pouco, olhando para o chão. – Conhece Bon Iver?

– Flume? – Perguntei, palheta na mão. Ela deu um sorriso, assentindo.Comecei a tocar, o ritmo vindo naturalmente.

Ainda estava preocupada com Claire, mas teria que ser paciente. Só esperava que Kram estivesse certa e ela não estivesse com raiva.

~Flashback Off

POV Kramisha

~Flashback On

Fiquei surpresa com a música, assumo. Mas não deixei de gostar. Eu sabia que Claire não era nenhuma cantora profissional. Na verdade, se tratando de técnica, ela era bem comum.

Era o jeito dela, a emoção em sua voz que a deixava tão boa. Sempre tão pura, tão dolorosa. Cheia de sofrimento. Como seus quadros eram, e a maior parte das letras de Lily.

Era linda. A música era linda e ponto. Não se discutia mais. Mas Lily não tinha o que temer. Ela não ia ficar com raiva. Só triste em se reconhecer numa letra tão deprimente.

Fomos pro estúdio, até a pizza chegar. Ela tocou Bon Iver a meu pedido. As músicas dele eram tão...doces. Me lembravam de Claire de certa forma. E de Derek.

– Hey, Lily. Toca The Wolves depois, pode ser? – Pedi, olhando por cima do ombro. Na minha frente, o desenho da fada ia aparecendo aos poucos. A fada que desenhei na aula, enquanto olhava a marca no rosto de Claire.

– Ok. Meio deprimente, mas toco. – Terminou Flume. Começou a outra. Fiquei cantarolando a letra, me lembrando da mecha rosa do cabelo loiro dele.

– Lembrou do seu amor? – Lily adorava provocar. E eu tinha que aceitar. Só ela sabia que eu gostava dele. Talvez a própria Claire desconfiasse. Sempre sorria para ela quando a via olhando para Derek.

– Para, Lily. – Dei de ombros, começando a dar cor ao quadro. A campainha tocou. – A pizza. Vou pegar. Vem.

Deixei as coisas como estavam e corri até meu quarto. Tirei o avental e peguei a nota de cinquenta para pagar o entregador. Lily estava sentada na mesa, olhando pela janela da cozinha.

– São 22 dólares. – Entreguei a nota, enquanto ele me entregava o troco e a pizza. Agradeci e fechei o portão, minha cachorrinha do lado tentando fugir.

– Vem Didi, para com isso. – Ela veio correndo atrás de mim, feliz da vida. Ri.

– Isso, hora de comer.

– Tira a barriga dessa sua miséria por pizza. – Coloquei a caixa na mesa. – Pode servir.

– Seu pai não está aqui?

– Hoje não. Tinha alguma viagem de negócios. Volta depois de amanhã. – Sorri pra ela. – E você vai ficar aqui comigo.

– Virei sua babá.

– Claro que não, só está sendo uma boa amiga. – Fiz biquinho. Ela riu, atacando uma das fatias da pizza. – Obrigada pela companhia.

– Quanto mais longe daquele babaca, melhor. Não há de que. – Ela falava do pai. Não continuei o assunto. Fui comer também.

Meu celular vibrou. Olhei o que era. Mensagem de Derek. Li em voz alta, para que Lily já soubesse também.

– Ela me pareceu um pouco para baixo, mas é difícil saber quando ela NÃO está triste. Por que pergunta?

– Responde que eu fiz uma burrada hoje. Quero saber se ela está chateada.

Enviei, do jeito que ela disse. Ele respondeu de imediato.

– Duvido muito. Perguntei pra ela sobre a gravação, ela disse que foi a melhor música até hoje. – Fiquei esperando Lily responder alguma coisa.

– Valeu, Derek.

Mandei, sem esperar uma resposta. Voltei a comer, falando.

– Te disse que ela não estava com raiva. Mas estranho ela ter achado a melhor.

– Vou falar com ela segunda. – Dei de ombros, deixando para lá. Acabamos de comer e lavamos os pratos, pra depois voltar para o estúdio.

~Flashback Off


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :3



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