– Você não tem com o que se preocupar, você não tem competidores em lugar nenhum.

O que ela fala fica ecoando na minha mente por muito tempo, inclusive quando ela começa a se aproximar e eu vejo que logo iremos nos beijar, após ouvir isso esse beijo seria a melhor coisa que poderia acontecer comigo, na hora que nossos lábios estão se aproximando, uma explosão ocorre do lado de fora o que faz com que eu e Katniss déssemos um pulo e nos separássemos, como por reflexo ela já pegou seu arco e está preparada para atirar, mas nenhum outro som ocorre e então decido espiar, olho por entre as pedras e o que eu vejo me faz muito feliz, eu acabo dando um grito de felicidade e agradecimento, e saio na chuva.

Entre as pedras há um paraquedas atado a uma cesta, acredito que seja comida, pego a cesta e entrego para Katniss que abre com um rasgão e o cheiro e a visão do conteúdo só aumenta minha fome. Haymitch nos mandou pãezinhos frescos, queijo de cabra, maçãs e o cozido de carneiro com arroz selvagem que a Katniss disse que havia gostado. Minha felicidade é tanta que eu falo o que eu estou pensando:

– Haymitch deve ter se cansado de ver que estamos passando fome aqui na arena.

– Provavelmente sim.

De relance vejo um certo olhar pensativo em Katniss, mas não sei dizer no que ela está pensando, meu estômago começa a me fazer pensar só na comida que está na minha frente, sinto que eu poderia comer tudo, mas lembro do primeiro dia, no trem, depois de comer muito eu acabei ficando enjoado, olho para Katniss e vejo que ela parece pensar no mesmo que eu, em comer tudo, decido abrir a boca, se não acabaremos com a comida e passaremos mal depois:

– Acho que é melhor irmos com calma para poder comer, lembra o primeiro dia no trem? Comemos tanto que eu fiquei enjoado depois.

– É verdade, mas eu sinto como se eu pudesse comer tudo isso de uma vez. - Acabou que fomos sensatos e comemos um pãozinho apenas, dividimos uma maçã, e uma porção pequena, do tamanho de um ovo, do cozido e do arroz, ambos tentamos comer bem devagar, para aproveitar e tentar não atacar tudo, até talheres e pratos eles nos mandaram, mas ao terminar de comer, eu ainda sinto fome, parece que ainda há um buraco no meu estômago, Katniss começa dizendo - Eu ainda estou com fome, quero mais.

– Eu também quero mais, mas acho que é melhor fazermos assim, vamos esperar uma hora, assim o que comemos assenta no estômago, e aí nós vemos se ainda estaremos com fome. – Eu acredito que seja a melhor solução, pois se a gente se deixar levar, iremos passar mal, e acabar com a comida que temos, e o tempo ainda não está bom para sairmos para caçar e colher frutas.

– Tudo bem, pode ser, mas essa vai ser a hora mais longa que posso lembrar – Katniss diz isso como se realmente fosse difícil esperar, e então eu me lembro da nossa conversa antes da comida chegar e decido que podemos termina-la e assim passar o tempo.

– Eu sei de uma maneira dessa hora passar logo, o que era mesmo que você dizia antes do barulho? Era algo sobre eu... sobre não ter nenhum competidor.... e sobre ser a melhor coisa que aconteceu na sua vida....

Acho que não há nada de errado em eu aproveitar a chance e tentar ver se existe algo verdadeiro entre nós, se ela realmente sente algo por mim.

– Eu não me lembro dessa última parte. – Ela diz e parece que suas bochechas coram um pouco, mas está escuro na caverna e eu não sei dizer ao certo.

– Verdade, isso era o que eu estava pensando no momento – O tempo já esfriou aqui na caverna e como eu me molhei um pouco na chuva quando fui pegar a cesta, meu corpo está todo gelado, decido aproveitar mais um pouco – Dá um espaço para eu deitar junto, estou congelando aqui.

Katniss abre um espaço e eu entro dentro do saco de dormir, nos encostamos na parede, eu a abraço e ela deita sua cabeça no meu ombro, é tão bom estar assim com ela, queria poder ficar assim por muito mais tempo, queria poder ter ela em meus braços todos os dias, meu coração me diz que tudo aqui é verdadeiro, que eu estou a conquistando, mas a pequena parte de mim, a que é movida pela razão, diz que é para eu ter cuidado, ficar atento, enquanto estou nessa confusão dentro da minha mente, Katniss parece estar pensando em algo, e por fim ela me tira dos pensamentos perguntando:

– Então desde que nós tínhamos cinco anos e você começou a gostar de mim, você não olhou para nenhuma outra garota?

– Não, eu até olhava para outras garotas, mas nenhuma delas me prendeu como você.

– Acredito que esse negócio de você gostar de uma menina que é da Costura vai fazer seus pais se emocionarem muito.

– Bem difícil, mas não importa também, e outra se nós sairmos daqui, você não será mais a garota que mora na Costura, você será a garota da Aldeia dos Vitoriosos. – Acabo por imaginar esse pensamento, eu e ela na Aldeia dos Vitoriosos, um conjunto de 6 belas casas em uma parte reservada da cidade, que é destinada apenas para os vitoriosos dos jogos, o distrito 12 no momento só possui uma delas ocupada, que é a do nosso mentor, mal concluo o pensamento e Katniss diz:

– Mas então nosso único vizinho será o Haymitch.

– Isso é verdade, mas vai ser legal, eu, você e o Haymitch, será aconchegante, faremos piqueniques, comemoraremos aniversários, passaremos longas noites de inverno ao redor da lareira, lembrando das histórias dos jogos. – Conforme eu dizia isso, abraçava ela com mais intensidade, tentando passar esses pensamentos para ela.

– Mas eu já te falei, ele me odeia.

– Só de vez em quando, nos momentos em que ele está sóbrio, ele não fala mal de você.

– Mas aí que está, ele nunca está sóbrio

Em partes isso é verdade, mas como eu passei um tempo com ele, sei que ele gosta dela, mas não posso dizer, se não ela vai me encher de perguntas e assim descobrir os nossos planos e fazer isso na frente das câmeras não será bom para nenhum dos dois, então sigo por outro caminho.

– Isso é verdade, afinal em quem eu estou pensando? Já sei, é em Cinna, ele sim gosta de você, principalmente porque você não fugiu quando ele colocou fogo em você, agora Haymitch pelo contrário, bom fique longe dele, ele te odeia mesmo.

– Mas eu achei que você tivesse dito que eu era a favorita dele.

– Então, ele me odeia mais ainda, na verdade eu acho que pessoas não é o negócio dele.

Minha mente acaba me levando para o futuro, eu vejo as imagens de tudo o que conversamos aqui, nós dois juntos em uma das casas na Aldeia dos Vitoriosos, Haymitch sendo nosso vizinho, estando em nossa casa em um dia frio, todos enrolados em uma coberta, conversando e rindo, enfim aproveitando o tempo que temos, estou perdido de novo em pensamentos, e novamente Katniss me tira deles perguntando:

– Como você acha que ele conseguiu?

– Quem? Conseguiu o quê? – Estava tão longe que não entendi a pergunta dela.

– O Haymitch, como você acha que ele venceu?

A pergunta me pega um pouco de surpresa, apesar de eu ter uma leve idéia de como foi que ele conseguiu eu paro para pensar um pouco, Haymitch tem todo o jeito dele, mas quando é colocado para fazer algo e tem determinação ele consegue, ou seja:

– Ele foi mais esperto que os outros tributos.

Katniss parece ter chegado a mesma conclusão no exato instante que eu respondi, ficamos quietos, cada um com seus pensamentos, por aproximadamente meia hora, quando Katniss diz que está com fome e precisa comer mais um pouco, eu também ainda estou com fome e então concordo. Terminamos de comer e então o som do hino chega até nós, eu encosto meus olhos para enxergar entre os buracos das pedras, ao mesmo tempo que eu vejo um rosto no céu, que me abala, Katniss diz:

– Não deve ter acontecido nada, se não teríamos ouvido o canhão.

– Katniss – Falo no tom mais tranquilo que eu posso.

– Diga? Quer dividir mais um pãozinho?

– Katniss – Me viro para ela, mas ela parece não querer me ouvir.

– Eu vou dividir, mas o queijo vou guardar para amanhã – E então ela se vira para mim e acho que nota minha expressão, pois pergunta – O que aconteceu?

Reúno todas as forças que tenho para contar e então digo:

– Tresh morreu.