Burning Torch escrita por Pacheca


Capítulo 29
A Turnê da Vitoriosa


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo :3



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/426973/chapter/29

Charol estaria nos esperando no trem. Minha cabeça doía só de imaginar como seriam as duas semanas que estavam vindo. Eu estava acabando de me vestir para viajar até o distrito 12. Eu faria o discurso no 7 e embarcaria para minha turnê. Ia do 12 ao 8 e depois do 6 à Capital.

– Tudo pronto? – Loren perguntou, entrando sem bater no meu quarto. Eu já estava vestida com a roupa que Teuk fizera, calças azuis com uma camiseta verde escura. Calcei as sandálias verdes também.

– Agora sim. Como estou?

– Teuk tem uma habilidade incrível em te deixar a mulher mais bonita de Panem. Não sei como.

– Se você não vai falar nada de útil, fique quieto. – Rebati, revirando os olhos. Apesar de tudo, eu concordava. Com um pouco de maquiagem e boas roupas, Teuk me transformava em outra pessoa.

– Só estou te irritando. Vamos logo, antes que a peruca de Charol pegue fogo.

– Ela já está tão nervosa? Logo pela manhã?

– Ande logo. – Ele riu e saiu do quarto. Fui atrás dele sem nem me olhar no espelho.

O mesmo palco usado nas Colheitas estava armado em frente ao Edifício da Justiça. Subir ali me deixava desconfortável e triste. Tudo começara ali. O fim de Neville começara ali.

Charol sorriu para mim e me entregou um texto relativamente curto. Tinha mais que cinco linhas, então já me deixava um pouco preocupada com o que estaria escrito.

– Bom dia. – O Prefeito falou no microfone, um pouco tenso. Eu esperava a seu lado, sentindo o olhar de Loren em minhas costas. – O distrito 7 teve a honra de ter uma de nós como vitoriosa dos Jogos, senhoras e senhores. Por causa disso, o 7 recebeu quantidades exorbitantes de grãos e alimentos. Senhorita.

– Obrigada, senhor. – Agradeci e assumi meu posto. Corri os olhos pelo papel antes de começar. – Fico feliz em estar viva e ver todos esses rostos encarando-me, felizes por minha vitória.

Aquilo era sério? Eu tinha mesmo que ler aquela mentirada toda?

– Ser uma Vitoriosa é maravilhoso, pois prova o quão forte e valente eu fui. – E ordinária, completei na minha cabeça. – E só fui assim porque esse distrito, as pessoas dele, me moldaram dessa maneira.

As pessoas e o quase fuzilamento que eu sofri por um Pacificador, mero detalhe. Isso não teria efeito nenhum sobre mim.

– Obrigada por serem um povo tão maravilhoso, Panem e eu dependemos de todos vocês. – Como teria móveis tão bonitos na minha mansão construída sobre peso na consciência e dor? – E gostaria de dizer que estou feliz por estar aqui, mas estaria mais ainda se Neville estivesse do meu lado. Ele foi um bom garoto. Pena que fui forçada a matá-lo.

Minha vontade era de gritar um palavrão bem sujo para a câmera que me filmava e me transmitia para Snow, mas achei que só deixar aquele clima pesado no distrito seria o suficiente. Sorri como uma menininha doce e falei mais uma vez.

– Obrigada. Vocês merecem cada vez mais. – Essa parte era verdade. Eu queria ver meu povo feliz. E eles mereciam bem mais que aquilo.

O trem já nos esperava. Charol tinha, como esperado, saído um pouco mais cedo para acabar de organizar o trem. Entrei e fui direto para o último vagão. Aquele de vidro.

– Você é louca ou só finge? – Loren parou na porta, chocado. Eu realmente conseguira surpreendê-lo.

– Eu não ia aguentar olhar para aquelas pessoas, as que me criaram, e ir embora depois de falar tanta bobagem. – Respondi, fechando os olhos. – Eles realmente merecem mais. E eu realmente queria Neville comigo.

– Snow vai te matar.

– Eu não ligo. – Abri meus olhos, séria. – Não tem como piorar.

– Ele tem sua vó. E Shiranui.

– Ele me tem. Ele vai fazer questão de me mostrar exatamente isso, que ele pode fazer o que bem entender. Mas ele não vai me matar.

– Como tem tanta certeza?

– Eu só tenho.

– Tudo bem, se você acha.

Ele foi embora. Fiquei sozinha no vagão, vendo o sol subindo no céu enquanto íamos na direção do 12.

Foram dias bem cansativos. Todo dia eu tinha que fazer o discurso e ir jantar com o prefeito do distrito. Loren percebeu que sempre que eu adicionava algo era cheio de acidez, de ódio. Era cada vez mais provocativo.

– Pega leve, Jojo. Sua avó ainda está viva. – Loren falou antes do jantar no 2. Teuk ouvia a discussão calado, arrumando meu cabelo.

– Eu sei, Loren. – Respondi, séria. – Eu tento me controlar, mas não dá. Sai sem querer. Enquanto eu não fizer nada muito direto, ele não tem porque nos fazer mal. Eu vou me controlar.

– Loren? – Teuk perguntou depois que ele saiu do quarto, nos deixando sozinho. – Loner chama Loren?

– Uhum. Enfim, ele tem razão, eu preciso me controlar.

– Tome cuidado. – Foi só o que ouvi.

O último dos dias seria o pior, já sabia por antecedência. Chegar na Capital já não foi muito divertido. As luzes que eu um dia achei bonitas, agora eu só queria que caíssem nas cabecinhas coloridas do povo. E um anúncio brilhante imenso em cima de Snow.

Eu tinha me preparado. Ia para a festa na mansão de Snow com aquele vestido maravilhoso, ia sorrir, ia acenar...Ia mostrar para Snow que ele podia até me forçar a agir de certas maneiras, mas que ele nunca dominaria meu ser.

Rebeldia era aquilo. Eu podia não ser uma floresta em chamas. Mas eu era feito um tocha. Mesmo abafada, assim que visse uma faísca eu poderia me reacender. Snow queimaria.

– Você vai ficar divina.

– Por favor, Teuk. Como você disse, é bom que Snow veja que eu não poderia estar melhor.

– Pode deixar.

Nunca vi Teuk tão centrado em seu trabalho. E que trabalho esplêndido. O vestido azul decotado brilhante, os sapatos de salto prateados, a maquiagem mais pesada que o habitual. Eu estava deslumbrante.

– Mostre seu poder.

– Pode deixar.

Não sei bem se aquele modelo seguia a moda da Capital, mas com certeza seria tendência nas próximas semanas. Sorri para todos, passando pelo tapete estendido até a entrada da mansão. Todos os olhares estavam em mim.

– Jojo. – Snow estava de pé, me esperando. Sorri e cumprimentei-o.

– Presidente Snow. Tão elegante quanto sempre, não? Fico feliz em revê-lo.

Fiquei satisfeita em ver o desgosto no rosto de Snow. Sorri para as câmeras, acenei. Fui a Vitoriosa. Não era isso que ele queria? Pois então, tome.

A noite correu sem grandes acontecimentos. Comi. Ri. Cheguei até a dançar. Vigiei Snow, ele querendo me matar com um olhar. Pena que não funcionou.

Snow tinha me controlado. Ele tinha poder total sobre mim. Ele só parecia se esquecer disso.

Voltei para o 7 na manhã seguinte. Estava de ressaca, tinha tomado muito vinho, mas tudo bem. Eu sobreviveria. Loren se sentou ao meu lado no vagão de vidro, calado.

– Já sabe o que vai fazer?

– O que quer dizer? – Perguntei sem olhá-lo.

– Da vida. É uma vitoriosa.

– Ah. Sim, já sei. Aliás, eu preciso falar com Charol. – Respondi, pegando um copo no carrinho.

– Vai beber?

Preparei a dose de uísque antes de responder.

– Não, é pra você. – Estendi o copo, vendo o olhar de confusão em seu rosto. – Só queria te fazer um favor. Vi que você estava encarando o carrinho.

– Obrigado.

– Disponha. – Deixei o vagão, disposta a continuar com minha ideia. Eu não tinha que fazer aquilo, mas queria. Fui procurar Charol, decidida.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Burning Torch" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.