Louise No Mundo Dos Sonhos escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 16
Aquela que dispersa as sombras.


Notas iniciais do capítulo

Demorei mas cheguei! Uhu, palmas para mim!
Bem... eu sei que prometi postar rápido mas tive... imprevistos. Incluindo a falta de internet, que já me atormenta a dois meses.
peço mais uma vez desculpa pela demora, pessoal. Fiquem com o penúltimo capítulo de Louise no Mundo dos Sonhos, e espero que gostem do que vão ler. :3



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— Aster… — a princesa e Louise deixaram o nome escapar de suas bocas ao mesmo tempo, surpreendidas pela chegada dele. Uma coisa tinha que se admitir em relação ao necromante, ele sempre apareceria nos momentos definitivos, parecia mesmo com os vilões dos filmes que a garota tanto vira em seu mundo, com suas frases de efeito pré-fabricadas e postura intimidadora.

Mas é o que sempre dizem… quem muito fala, nada faz.

A pequena fechou sua expressão, assumindo a pose mais desafiadora – e clichê – que poderia pensar, apontando o dedo acusatoriamente para ele. — Seus planos malignos nunca serão concluídos, seu… seu traidor!

Aster apenas observou-a com um toque de descrença. Olhando-o frente a frente, Louise podia entender porque os pais de Hannyere caíram tão facilmente em sua fala mansa. Ele era belo, com seus cabelos negros ondulados e olhos quase negros, e seu sorriso tinha algo de carismático, de convincente. Procurando mais a fundo, porém, ficava óbvio que aquilo era apenas fachada. Suas maneiras eram irônicas, repletas de segundas intenções e suas palavras exalavam perfídia. De fato, agora ele sorria, logo começando a rir para si mesmo, levando a mão direita a testa. — Ora… francamente, eu não esperava vê-la por aqui, estava pensando no que faria exatamente para sumir com você. Mas… pensando melhor, acho que vou mantê-la como um animalzinho de estimação.

A jovenzinha bufou em resposta, a raiva subindo até o nível da raiz dos cabelos. — Não se eu te transformar num porquinho da índia antes!

— Ah… isso eu pagaria para ver.

Aceitando o desafio, Louise deu um passo a frente, ignorando os avisos prudentes de Hannyere e canalizando toda a sua força imaginativa para disparar um raio multicolorido na direção do feiticeiro. Este não fez mais do que abrir um sorriso debochado e levantar a mão em frente ao corpo, discretamente movendo o pulso para dar um tapa no acumulo de energia, fazendo com que o mesmo sumisse.

— Hum… acho que vai ter que fazer melhor, garotinha.

Vendo que transmutação de gente em animal não funcionaria – por mais que aquilo soasse muito legal – a garota tentou atirar projéteis em direção ao mago. Uma chuva das coisas mais inimagináveis, de armas a ursinhos de pelúcia, de instrumentos de cozinha a de tortura caiu sobre ele. Mesmo assim, Aster parecia ter uma película protetora sobre o corpo, de maneira que a maior parte da tralha era repelida ou se desintegrava, e o que conseguia chegar próximo o bastante para incomodá-lo era rapidamente estapeado e chutado para longe novamente. O necromante era praticamente intocável.

Suas mãos se juntaram para que batesse palmas, um sorriso presunçoso aflorando em seus lábios. — Esse foi o ataque mais interessante e estranho que eu já vi na vida, tenho que admitir. Continue assim, e talvez eu decida transformá-la em minha boba da corte quando eu subir ao trono do Reino Onírico.

A criatura de sombras permanecia parada, sibilante, as cabeças focalizando as três pessoas da sala, uma de cada vez. Louise imaginou que o monstro estava inclinado a devorá-la, e só não o fazia porque Aster decidira divertir-se da sua desgraça.

Babaca cretino…

— O que foi… já acabou? É tudo o que você tem?

— Por que está fazendo isso?

Ele franziu as sobrancelhas. — Exatamente de quê está falando?

— De você causando um monte de problemas pra todo mundo, é claro!

Outra risada escapou-lhe, e ele abraçou o próprio estômago, vergando o corpo. Por algum tempo o homem manteve-se assim, alheio, até que conseguiu pausar os risos e ficar sério novamente. — Como esperado de uma criança. Mesmo que meus motivos fossem óbvios como da maioria dos vilões por ai, definitivamente você não conseguiria compreendê-los, não é verdade? — ele começou a caminha, em direção a sua montaria, apoiando as mãos em duas das cabeças da besta, como em um afago. — Poder… é a forma mais simples de explicar, embora não seja exatamente por isso.

— Você apenas quer ver o circo pegar fogo. — protestou Hanny por sua vez, agarrando as barras da gaiola em que ainda estava presa, a despeito de todo o esforço de Louise. — Você gosta de ver os mundos sofrendo, essa é a verdade.

— Bingo. Chegaste ao ponto principal, minha querida princesa. Sabem, eu sou muito mais velho do que pareço. Tão antigo que suas mentes limitadas não podem calcular. Eu já regi vários reinos e já fui conhecido por inúmeros nomes. Minha magia negra já foi a mais poderosa do Mundo Real, um assobio era o bastante para que os mortos levantassem de suas covas. — os olhos escuros dele brilharam, como se estivesse nostálgico. — Mas, para alguém que existe a tanto tempo quanto eu vivi, era inevitável que me sentisse entediado. E, acreditem, sentar-se em um trono por eras é a coisa mais tediosa que se pode imaginar…

“Então eu decidi dedicar minha vida a um propósito sublime, que é, obviamente, causar o caos de todas as formas possíveis e imagináveis. Eu destruí civilizações, causei guerras e quando invoquei entidades dos abismos mais profundos. Como você acabou de mencionar, princesinha, eu causei o sofrimento do mundo por simples capricho. E tudo continuaria assim, caminhando para um desastre glorioso, se eu não tivesse sido dragado para aquele lugar.

“Sim… o lugar que a garotinha aqui deveria ter adentrado se a existência de Hannyere não interferisse diretamente com os planos. Devo dizer que escapar de lá é uma tarefa quase impossível, isso acontece quando criam um espaço com consciência própria. Como desgraça pouca é bobagem, a mulher que governa aquelas bandas é igualmente poderosa, e minha ideia inicial de continuar sendo um mensageiro do caos acabou fracassada antes mesmo de começar. Nada que eu usava contra ela surtia efeito, e os outros sentinelas responsáveis por cuidar o local eram difíceis de corromper.”

“Não preciso afirmar que fiquei entediado uma vez mais, sendo forçado a conviver em harmonia com os outros prisioneiros da dimensão. Então comecei a estudar maneiras de sair dali, ainda que todos afirmassem ser impossível. Vejam bem, o lugar não apenas aprisiona as pessoas que quer e quando quer, como só as liberta quando lhe convém. Alguém sair e entrar por conta própria é bastante… raro. Precisei estudar por muito e muito tempo até ter uma noção dos outros mundos que faziam fronteira com ele, e descobri uma forma de atravessar para o Reino dos Sonhos, acabando por chegar a estas Terras de Ninguém.”

“O Mundo Onírico me oferece toda uma nova gama de possibilidades, então não vejo razão para retornar a terra dos despertos, pelo menos por enquanto. Então pensei que seria interessante bagunçar um pouco as coisas por aqui… voltar a reinar por um tempo, talvez. Espalhar trevas, matar gente inocente… esse tipo de coisa que, modéstia a parte, eu faço de melhor.”

Ele finalmente parou de falar, piscando para elas. Algo passou por sua mente, e o monstro da escuridão chacoalhou-se, como se tivesse captado o pensamento. Poderiam jurar que a criatura estava rindo.

— Você está fazendo isso tudo porque estava entediado? — Louise sentiu a ira tomá-la pela segunda vez. A pressão da sala mudou ao seu redor, pedaços do salão quebrando-se e erguendo-se no ar, como escombros perdidos em gravidade zero. — Eu estou presa aqui porque você quis fazer uma brincadeira de mal gosto?

— Basicamente, sim. E das pessoas que podem me deter, as únicas que tem vontade de fazê-lo são… uma garotinha perdida, uma campeã de arena e um mago de araque. Destes três, apenas você está aqui, criança… percebe o que isso significa? — soltou as cabeças da besta, que inflou-se atrás dele, as bocas abrindo-se em direção a Louise, ameaçadoras. — Essa missão estava fadada ao fracasso mesmo antes de se iniciar. Você sobreviveu no seu mundo para morrer aqui.

Então, uma espada familiar singrou o vazio, partindo de trás de Aster e perfurando uma das cabeças da fera, que já preparava-se para dar o boto em Louise. A garota agarrou a lâmina sem pensar duas vezes, afinal reconhecera-a de longe.

— Mas nem ferrando que qualquer um de nós vai morrer para um cara prepotente como você. — a voz arrogante e familiar chegou a seus ouvidos, e Vega saiu de uma passagem nas costas do mago.

— Você está sonhando acordado, meu caro… literalmente falando. — Salazar apareceu logo depois, apoiando o braço no ombro dela e segurando com a outra mão a ferida de sua batalha anterior, que ainda não sarara completamente.

— Salazar… Vega! Vocês estão vivos! — o ódio que a menina mais nova sentia abrandou-se, dando lugar a um alívio e até mesmo um pouco de alegria. Havia preocupado-se com eles de verdade.

— É lógico que estamos, guria. Quem você pensa que nós somos? — Vega bufou, tirando assim as mechas que caiam em sua visão. Louise mais uma vez agradeceu mentalmente por vê-la de volta ao seu humor costumeiro. A outra Vega lhe dava calafrios. — Agora faça-me um favor e encante a minha espada, tenho um monstro gigante pra matar.

— Que reforço medíocre que você foi arranjar, garotinha tola. — Aster resmungou, vendo a menina passar os dedos finos pela lâmina da espada, dando-lhe uma camada luminosa como um sol, e logo após arremessando-a de volta para Vega. Disposto a bloquear a lâmina, ele estendeu um dos braços, mas a arma resvalou no seu escudo, furando-o como ácido e continuando seu percurso. — O quê…?

Em seguida, sentiu-se ser empurrado por uma barreira de cartas, foi jogado para longe. O necromante endireitou o corpo em pleno ar e tocou o chão primeiro com os pés, nivelando-se e deixando duas marcas paralelas e fundas, onde suas extremidades inferiores haviam passado. — Você equivocou-se em um pequeno ponto nessa história toda, necromante. — a voz de Salazar se fez ouvir, enquanto ele movia algumas cartas em direção ao monstro de escuridão. — No mundo desperto a força e o poder podem até ser decisivos…

— Mas aqui… — prosseguiu Vega, usando as cartas, que iam se amontoando como plataformas, para subir em direção a fera. A calda chicoteou, acertando-a e atirando-a contra o chão, mas sua resposta foi rápida, usando a lâmina para cortar fora o membro. — O que realmente conta é a determinação.

— No Mundo dos Sonhos tudo pode fugir à regra, desde que sua motivação seja forte o bastante para levá-lo adiante. — Salazar estalou os dedos, as cartas formando uma verdadeira passarela flutuante. Vega seguiu-a em disparada, com sua velocidade natural, e jogou-se no ar para descer a espada em uma das cabeças, arrancando-a fora.

— E sua motivação é patética… ela jamais poderá nos derrubar, não pode causar… — ela atirou a lâmina novamente, prendendo a segunda cabeça contra a parede. —… nem um mísero arranhão… — caiu sobre a plataforma, utilizando-a para pegar impulso e saltar novamente. —… em nós! — no ar, ela agarrou sua arma, girando e cortando o vazio, desprendendo uma onda de energia dourada que partiu o monstro de escuridão ao meio.

— Nós precisávamos receber a visita de uma criança do mundo desperto para lembrar-nos disso… — o mago suspirou, por fim. — Deveríamos sentir vergonha…

— Pare de fatalismos, Salazar. — a espadachim resmungou, como sempre, caindo como uma pluma ao lado dele e virando-se para Louise, mais uma vez enviando-lhe a espada. — Você pode vencê-lo.

Pela segunda vez, a garota tomou a arma em mãos, sentindo o corpo tremer mesmo com seu diminuto peso. Tanta confiança, mas Aster era tão absurdamente experiente e poderoso que tudo aquilo poderia tornar-se vão… Como lendo seus pensamentos, o necromante retornou ao tom debochado, aumentando a espessura da membrana que o protegia, raios negros marcando-a, ameaçando qualquer um que chegasse mais perto. — Não me façam rir, eu esmaguei seres mil vezes mais fortes que vocês. Não serei derrubado por algo tão insólito como “determinação”.

— Ele tem razão, Vega, eu…

— Pare de me contrariar uma vez na vida e escute, Louise dos Cabelos de Ouro e Prata. — impaciente, a mulher encarou-a a distância, com seu único olho. Uma ventania começou a preencher a sala, fazendo com que seus cabelos espalhassem, deixando a mostra o buraco onde já estivera o outro. — Se você chegou até aqui é porque é capaz. Eu e Salazar? Nós nunca conseguiremos detê-lo, porque nós somos a prova viva do quanto os desejos podem voltar para nos assombrar. Podemos ser corajosos, podemos ser nobres, mas temos um limite… nós não criamos nada. — o olhar desviou-se para o inimigo, estreitando-se. — Já é tarde para nós desejarmos. Você, contudo, ainda quer ir para casa, não é?

Os raios negros se alastraram. Salazar afastou-se para criar uma proteção para Hannyere, incapaz de mover-se. Aster parecia prestes a enviar uma onda de trevas grande o suficiente para engolir toda aquela província… quiçá, até mesmo aquele mundo. — O que ela quer dizer é que confiamos em você. Agora vá até lá e faça ele se arrepender de ter mexido conosco.

Louise respirou profundamente, sentindo-se mais confiante ao ser encorajada.

Ela era capaz.

Fora assim que sua jornada no Reino dos Sonhos começara, quando derrotara o Lorde do Terror, Siphirot. Ela era o coringa que vencera Salazar, a criança que tivera a ousadia de aceitar uma luta contra Vega. Era Louise dos Cabelos de Ouro e Prata, a Mestra da Imaginação, pelo menos enquanto seu espírito estivesse preso naquele mundo. E nada, nem ninguém poderia convencê-la do contrário.

O vento agora vinha também dela, seus cabelos erguendo-se em ondas dourado prateadas, os olhos vermelhos brilhando com valentia. Energia dourada jorrava de seu corpo, fazendo frente com os raios negros que vinham de Aster, unindo-se para materializar lanças de pura luz ao redor dela, todas apontadas para ele. Elas convergiram, sendo lançadas praticamente ao mesmo tempo. Sendo nove no total, as três primeiras desvaneceram ao bater contra a barreira de escuridão, no entanto causando uma pequena fenda, que foi alargada por outras três. O último trio de lanças atravessaram a proteção e fincaram-se no corpo do necromante, perfurando-o no peito, na altura do coração e na testa.

Aster perdeu o controle sobre a carga que manejava, desestabilizando-a, a energia escura sendo forçada a retroceder. Não acreditava que tinha sido atingido. Um sangue escuro, profanado por tantos anos usando de magia negra, começou a verter dos locais atingidos, enquanto ele se esforçava para retirar as setas imateriais. Agarrando a arma que fincara-se em sua cabeça, baixou-a para lançar um olhar furioso à menina. — Não é o suficiente!

Ele estava errado. Nesse momento Louise já estava muito próxima dele, segurando uma alabarda de luz – quando que aquela espada tão pequena tornara-se tão enorme e ameaçadora? - bem em cima da cabeça, e no final do seu pulo ela desceu-a, mirando o exato meio de seu corpo. A arma cortou-o como se fosse de manteiga, e Aster, um dos necromantes mais poderosos que já existiram, converteu-se em ossos instantaneamente, implodindo numa redoma vermelha e negra, que não demorou para ser envolvida por uma luz cegante, digna de uma estrela. Por fim, não sobrara-lhe nem mesmo o pó ou as memórias.

Perdera para uma criança, e nem mesmo seu espírito restara, para engolir tamanha humilhação.


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Notas finais do capítulo

Yeeeeeei!
Gostaram? Odiaram? Ficaram decepcionados? Ficaram surpresos?
Eu imaginei, como sempre, mil maneiras de vencerem o Aster, mas pra variar eu sempre escolho as ideias fortuitas que me vem a cabeça... geralmente dá certo. kkkkk
Acho que ficou bem clichê, mas Louise é isso. Original em alguns pontos, clichê em outros, uma mistura de coisas que eu nem sei definir. Basicamente, é assim que termina a vida de Aster... se poderia ser melhor ou pior, bom, minha cabeça que decide. E, para mim, foi um bom final.
.
Agradeço a todos vocês que me acompanham até aqui, principalmente ao Nick, que acompanha a fic praticamente desde o começo e não me abandonou nem por um segundo, mesmo com todas as minhas demoras. Valeu, meu bem, se eu cheguei até aqui, foi em parte pelo seu apoio, ele foi fundamental.
.
Como sabem, ainda não terminou. O último capítulo sairá em breve, no mesmo dia que o epílogo. Quando eu finalizar essa fic, passarei a trabalhar nos especiais dos outros personagens e na história que dá "sequência" a essa.
.
Mais uma vez agradeço por lerem. Até a próxima, pessoal!
Kisses, kisses ♥



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