Quando a garota abriu seus olhos, teve certeza absoluta que estava em uma bela enrascada. Por quê?

Para começar ela não sabia onde estava. Era um prado extenso, que ficava muito além de sua visão... ela levantou-se, batendo as mãos no vestido branco que usava, e pôs-se a caminhar, a espera que encontra-se algum ponto de referência.

Estaria perdida? Bom, isso é a conclusão lógica, mas infelizmente não tinha como ter certeza.

A garota continuou a caminhar, com passadas decididas. A grama foi ficando para trás, e finalmente ela conseguiu observar uma paisagem diferente daquela em que acordara... ao longe, havia um castelo de grandes muralhas em tons de cinza, talvez fosse uma cidade inteira. Ela ouvia rugidos e clangores ao longe... estariam em algo parecido com uma luta?

As pernas começaram a mover-se com mais rapidez e num segundo depois já estava correndo. Ao aproximar-se do portão, porém, ela foi forçada a parar de imediato...

Havia um cão de três cabeças parado na entrada -como se isso fosse muito normal- uma pata descomunal parou seu avanço, e ela precisou dobrar o pescoço para conseguir divisar a monstruosidade... e gritou...

Com todas as forças que seus pulmões de, aproximadamente 13 anos, aguentavam berrar.

–Fique longe de mim!

Ela viu uma das cabeças abrir a boca enorme e repleta de dentes afiados em sua direção e fechar-se um pouco acima dela, puxando-a pelo vestido e colocando-a para mais perto de seu corpo. A essas horas, a garota já estava a ponto de começar a choramingar.

–Cachorrinho bonzinho... eu não fiz nada...

A carranca continuava a fitá-la, antes de rosnar e morder a cabeça do meio.

–Que você fale com ela... eu tive que comer o ultimo engraçadinho.

–Devoraste-o porque bem quisestes. Era só jogá-lo longe para que não volta-se mais...

–Mas esse torneio anda trazendo umas criaturas estranhas a nossa porta... já tinham visto olhos assim antes? E esta roupa...

A terceira cabeça, pendurada na ponta oposta, passou a argumentar e logo após a farejar a menina perdida, como se isso fosse o suficiente para ter certeza de onde ela viera.

–Pare de farejá-la, vai acabar assustando-a ainda mais.

–Tem certeza que não é melhor devorá-la de vez...?

As outras duas cabeças retornaram sua atenção para a primeira que falara e ambas morderam-na no pescoço.

–Cale-se... é apenas uma garotinha perdida.

–Um ótimo espécime sem duvida. Diga-me, criança,

de onde vem?

Louise viu apavorada que agora três cabeças enormes-e falantes- fitavam-na de cima.

–Eu... eu não sei...

–Como não sabes? - a cabeça do meio, a mais formal, perguntou, num tom que evidenciava sua confusão.

–Deveria saber, ora essa... por acaso vai dizer que chegou ao Mundo dos Sonhos por engano?

A jovem apenas deu de ombros. Ela não sabia e pronto, não ia ficar discutindo com um cachorro, por mais bizarro que ele fosse. Mas ele dissera Mundo dos Sonhos?

–Ahn... isso foi apenas um engano... acho que vou voltar por onde vim...

Fez menção de andar para fora da visão do monstro, contornando a sua pata esquerda, quando este moveu-a novamente para impedi-la de sair.

–Espere ai, garotinha-com-olhos-de-coelho, não pense que pode entrar e sair assim sem mais nem menos...

–Somos responsáveis por manter a segurança do castelo...

–E devorar aqueles que insistem em ameaçá-la...

Okay... ela tinha entrado em uma confusão dos diabos, e não seria a primeira, nem a ultima. Arregalou os olhos, de fato vermelhos, para observar melhor o cão de três cabeças.

–Então... eu tenho que ficar?

–Tu tens de nos dar um bom motivo para que nosso amigo não a coma no jantar.

–E devo avisar, ele ainda está com fome... e sua carne deve ser melhor do que a do ultimo que ele engoliu.

–Mas eu não sei como eu vim parar aqui... não faço a menor ideia... eu só me lembro do meu nome...

–Do teu nome? - a cabeça do meio inclinou-se para a esquerda, e o corpo colossal moveu-se perigosamente para o lado. Se o intuito era deixá-la seguir ou simplesmente mudar de posição, não dava para saber.

–Sim... apenas do meu nome... Sou Louise...