Lentamente Aomine foi recobrando a consciência. Abrindo os olhos sentiu uma pontada em sua cabeça, os fechando rapidamente, respirando fundo finalmente conseguiu ir abrindo os olhos.

Incorporou-se olhando seu entorno, o quarto era de um estilo tradicional japonês sem nenhuma decoração que chamasse a atenção, era um simples quarto de tatame, com as paredes brancas, com apenas uma porta deslizante.

Soltou um gemido de dor assim que se levantou, sua cabeça estava latejando, levando as mãos até ela, sentiu com as pontas dos seus dedos uma umidade. Quando olhou, viu sangue nela, mas não podia sentir nenhum corte.

A última coisa que se lembrava era de estar descendo a montanha quando um galho de árvore quebrou aos seus pés. Depois disso tudo era apenas um borrão.

Olhou em volta do simples quarto procurando por seus pertences mais não viu em nenhum lugar sua mochila.

Caminhou em direção a única porta que havia no quarto, á abrindo completamente, apenas para dar de cara com outro quarto idêntico ao que estava, andou até o final do outro quarto para dar de cara com a mesma cena.

Parou olhando para trás, vendo os quartos por onde havia passado, virou sua cabeça para frente vendo a mesma cena que havia visto nos quartos anteriores, era o mesmo quarto, com o mesmo papel de parede, com o piso em tatame e com a porta de correr do outro lado.

Correu em direção a outra porta, abrindo então sucessivas portas iguais as outras, como em um loop eterno, com a mesma seqüência se repetindo.

Abrindo então mais uma porta não viu, para seu alivio, o mesmo quarto de paredes de papel branca, mais sim, talvez, o mais belo jardim que já tivesse visto em sua vida. Deu um passo para fora, sentindo o sol tocar levemente a sua pele.

As plantas eram de um verde intenso, de variadas espécies, das mais diversas formas e tamanhos, flores de cores vivas e vibrantes nasciam por todos os lados, como em uma espécie de desordem harmoniosa, e no meio do emaranhado de plantas se seguia um pequeno caminho de pedra.

Seguindo a trilha de pedra, Aomine olhava tudo impressionado, porém, ao mesmo tempo desconfiado, era um jardim realmente lindo, mais ao mesmo tempo ele lhe dava uma sensação estranha.

Andando pela trilha de pedras cercado por belas plantas que faziam uma espécie de túnel verde, se perguntou de que tamanho seria esse jardim ao todo, ele parecia ter quilômetros de extensão.

Logo se viu em frente a um pequeno lago e que no centro desse lago havia uma pequena ilha onde em seu centro uma cerejeira florescia em toda sua grandiosidade.

O caminho seguia cruzando o lago até chagar a pequena ilha, com cuidado para não cair, o moreno cruzou o caminho até seus pés tocaram no solo fofo da outra margem onde o caminho terminava.

Seus pés sem que ele percebesse o levaram para á frente da árvore, como que por vontade própria, como se ela o tivesse puxando até aquele lugar como um imã.

Como que hipnotizado levantou sua mão para tocá-la. Porem uma voz as suas costas fez com que ele acordasse de seu transe.

– Vejo que você finalmente acordou!

Virou-se rapidamente para encarar o desconhecido, a visão que teve o deixou momentaneamente sem palavras.

Vestido em um kimono completamente branco, que se encaixava perfeitamente em seu corpo esguio, com cabelos dourados que balançavam suavemente com a brisa, emoldurando então um rosto fino, os lábios rosados desenhados em um sorriso brincalhão, com a pele branca que parecia brilhar suavemente ao ser tocado pelo sol. Causando em quem olhasse certa sensação de deslumbramento.

Sacudiu a cabeça para afastar os pensamentos estranhos que estavam se formando, perante a visão do outro homem a sua frente.

– Quem e você? Onde eu estou?

O loiro piscou, olhando confuso para o moreno.

– Você não se lembra de ontem?!

O moreno continuou encarando o loiro a sua frente esperando que ele lhe falasse logo o que estava acontecendo e onde diabos ele estava.

– Bem, depois do machucado que você tinha em sua cabeça não é de se estranhar que você não se lembre de muita coisa...

O loiro falou divertido enquanto circulava o moreno, como quem olha algum animal exótico, irritando profundamente Aomine.

– Agora que você esta de pé posso ver que você é bem alto tam...

Não deixando o loiro terminar sua frase, Aomine o puxou pela gola de seu kimono o deixando cara a cara com ele.

– Eu perguntei quem é você desgraçado?!

O loiro ficou surpreso pelo súbito ataque por parte do moreno, olhou para os olhos furiosos que o encaravam nesse momento a poucos centímetros de seu rosto.

De perto o moreno era bem mais alto do que ele esperava, talvez fosse três ou quatro centímetros mais alto do que Kise e bem mais corpulento também.

– Eu peguei você ontem depois que você caiu da montanha! - falou se soltando das garras do moreno - Se não fosse por mim você provavelmente estaria morto!

O moreno pareceu se acalmar um pouco, mais ainda o olhava desconfiado.

– Bem... Obrigado, eu agradeceria mais ainda se você pudesse me mostrar à saída para que eu vá embora!

O loiro inclinou a cabeça e olhou curioso para o moreno.

– Eh?! Mas você não pode ir embora, você está preso aqui comigo.

Aomine encarou o desconhecido a sua frente, que o olhava sorrindo como se ele tivesse pedido algo muito absurdo ou engraçado para ele. Logo o desespero tomou conta de seus sentidos.

– Como assim desgraçado?!

Encaminhou-se novamente para pegar o colarinho do loiro, mas este foi mais rápido e escapou de suas garras. Ainda rindo o loiro pulou e se sentou na árvore de cerejeira.

– Não adiante você ficar com raiva, não e como se isso fosse minha culpa!

A raposa riu olhando para o humano no chão o olhando estarrecido, Kise, internamente estava se divertindo muito vendo as reações do humano.

– Você escolheu viver, não se lembra?!

– Do que você esta falando? - o moreno olhava para o loiro em cima da árvore que o encarava sorrindo e fazendo pouco caso do fato que o mesmo havia acabado de pular uma altura de quase três metros.

– Eu perguntei ontem para você, se você queria viver mesmo com as conseqüências que isso poderia causar! E você concordou então agora você está preso aqui comigo! Mais não se preocupe eu sou uma boa...

– Espera, espera ai! Eu já entendi que você me salvou ontem, coisa pela qual eu estou muito grato! O que eu não entendi ainda é porque eu estou preso aqui com você? Basta apenas me mostrar a saída que eu vou embora e fim de papo! - o moreno falou desesperado para que o loiro lhe falasse algo com um pouco de lógica.

– Como eu disse, eu salvei você agora você esta preso comigo!

– Droga, eu não to entendo nada do que você ta falando, me explica alguma coisa que tenha um pouco de lógica...

O loiro saltou da árvore e pousou suavemente na sua frente, fazendo que o moreno desse um salto de surpresa.

Levantando sua mão o loiro a colocou sobre o peito do humano assustado.

– Você sente isso?

Aomine ia perguntar sobre o que diabos o loiro estava fazendo, quando ele sentiu.

Um calor se espalhou por dentro dele era como se ele tivesse mergulhado dentro de uma banheira com água morna.

Deu um passo para trás caindo de sentado, e logo a sensação foi se apaziguando.

O loiro abaixou-se até ficar na altura dos olhos do jovem no chão que respirava com força e o olhava com os olhos arregalados.

– Eu dei pra você minha gota! Bem não dei exatamente foi apenas um empréstimo, mais é por isso que você está vivo! - Kise explicou - Como conseqüência você ficou ligado a mim, entendeu agora?!

Não, Aomine realmente não entendia mais nada agora.

– O quê diabos e você?!... - perguntou mesmo temendo a resposta.

O loiro a sua frente apenas sorrio e levantou-se e andou alguns passos virando se, o olhou por cima de seu ombro.

– Ora, apenas uma raposa!

Logo a ilusão que estava sobre o loiro foi desfeita mostrando no topo de sua cabeça um par de orelhas douradas, as suas costas uma a uma caudas douradas foram surgindo.

– Bem não esperava ter que mostrar minha verdadeira forma tão logo, mais como vamos conviver durante algum tempo juntos acho melhor não haver segredos entre nós assim... - virou-se para encarar o moreno, só que este não estava mais lá.

"Corra!"

Esse era o único pensamento que havia na mente de Aomine. Correndo pela trilha de pedras por onde havia entrado no jardim. Sua mente estava em branco seu único pensamento era se afastar de toda essa loucura sem sentido.

Embrenhou-se pelo meio do jardim gigantesco pulando sobre plantas e pedras, correndo sempre olhando para trás, para ver se não estava sendo seguido. Abrindo caminho por entre um grande arbusto tropeçou e caiu no chão, quando levantou sua cabeça seu corpo congelou.

Estava novamente na mesma ilha com a árvore de cerejeira, olhou para cima na árvore e o olhando calmamente sentado em um galho a raposa o observava com um sorriso divertido.

– Eu não sei por que todas as vezes que eu mostrei minha verdadeira forma humanos sempre tem essa mesma reação! - saltou de cima do galho em que estava pousando na frente do moreno no chão.

Aomine olhou para o loiro a sua frente com descrença, isso só podia ser um pesadelo.

– Sim, é isso eu ainda estou sonhando... Eu bati forte com a cabeça devo ainda estar dormindo...!

O moreno fechou os olhos e esperou, forçou sua mente para que ela acordasse logo desse sonho estranho que estava tendo.

Abriu os olhos novamente se vendo cara a cara com outro par de olhos dourados o olhando curioso.

Afastou-se novamente da figura para colocar suas mãos em sua cabeça as apertando com força não podendo acreditar que isso estava de fato acontecendo com ele, isso não era possível youkais não existiam, pensou encarando as orelhas douradas no topo da cabeça do loiro.

– O que você vai fazer comigo? - perguntou por fim assim que conseguiu se acalmar - Você vai me matar?!

– Matar você? Por que eu faria isso se eu salvei sua vida?!

– Se você realmente não quer fazer nenhum mal, então me deixe ir embora! - pediu levantando-se do chão enquanto encarava o loiro - Eu prometo que eu não vou falar para ninguém sobre você!

A raposa suspirou virando-se, andou em direção a cerejeira colocando sua mão sobre o tronco firme da árvore.

– Não e que eu não queira deixar você ir... Eu apenas não posso! - virou-se para olhar para o moreno - Para eu salvar a sua vida eu tive que lhe dar minha gota, a gota seria como um pedaço da minha alma, então como você está com ela dentro de você está ligado a mim, por ela! Então você apenas pode sair daqui se eu sair também!

– Então a pegue de volta, eu realmente não há quero! - o moreno falou exasperado.

– Eh... Verdade?! Tudo bem eu tiro ela se você quiser! - Kise se dirigiu para o moreno dando um leve sorriso - Apesar de que você provavelmente vai morrer, mas como você não quer a gota...

O moreno deu um passo pra trás olhando assustado para a raposa. Kise levantou suas mãos para tocar no ombro do moreno o trazendo para mais perto dele.

– O que você está fazendo?! - Aomine gritou vendo o rosto do loiro se aproximando do seu.

– Eh?! Eu tenho que tirar a gota pelo mesmo lugar que eu a coloquei! - levou seus lábios para o ouvido do moreno e sussurrou - Pela boca...

Aomine empurrou o loiro com seu rosto ficando corado pelas palavras que acabara de ouvir. O loiro a sua frente começara a rir vendo sua reação.

– Você deveria ver sua cara...

– Pare de rir! - Aomine gritou furioso com o rosto mais corado ainda.

Lentamente o loiro foi se recompondo, a reação do moreno perante o fato de ter que passar a gota pelos lábios havia sido realmente engraçada, fazia anos que ele não ria tanto. Enxugando os olhos encarou o moreno ainda vermelho que o encarava com raiva.

– Venha humano, vamos terminar nossa conversa dentro do tempo!

Continua na Parte II