De certo a água levara tudo consigo. E de certo também, as horas fazia a mesma coisa. Uma pequena garota. Sonhos, desejos, lembranças e uma vida. Uma vida cujo jamais voltará. Uma vida que acabou tão rápido quanto uma onda quebrando no meio daquele límpido e azul oceano. Horas, bem, as horas. Ela obteve o tempo necessário para que tudo isso mudasse e tentou ao máximo não ter que continuar sua inútil vida. Seu destino não era garantido, mas também de fato não era incerto. A garotinha cujo sabia que tudo o que vivera era uma farsa, a garotinha sabia que todos iriam a deixar em pouco tempo. Sabia que tudo o que tinha iria ser levado junto. O que ela poderia levar consigo era o infinito. A garotinha cujo não tinha sequer motivos para sorrir vivera naquela sanidade por anos. Sua infelicidade tampouco era transparente em seu rosto. Ah, aqueles olhos, aqueles profundos olhos castanhos cheios de dor. A garota que vivera presa em sua gaiola e que tinha suas asas amarradas para que nunca pudesse voar para longe dali e ser feliz. Aquele pássaro que apenas queria voar para longe dali, porque tudo estava mal. Ela apenas queria ser feliz um segundo, apenas um segundo só e sequer ligaram para isso. Vagando em frente a sua humilde casa, uma casa empoeirada e composta por lembranças úteis, raras, limitadas e que duraram tão pouco. A garotinha que de fato estava cansada de esperar por Deus. A raiva que subia e causava choques em seu corpo gélido e pálido. Sentada, a garotinha sentada em cima de um precipício a fim de experimentar sua liberdade. A fim de conhecer seu fim, sua morte. A garotinha cansada de subir e descer como as ondas, por fim se levantou e limpou suas lágrimas geladas. - geladas como as profundas águas do oceano em sua frente.

Seu ultimo sorriso, suas ultimas lágrimas, seus últimos segundos viva, seus últimos olhares nesse terrível e trágico mundo doentio. E assim a garotinha abriu seus braços. E deu um pulo para a sua morte. Pela primeira vez a garota pôde sentir seu corpo ficar leve como um pássaro. A garotinha delirou com o vento frio batendo contra seu corpo durante sua queda. Em um único momento, ela foi um perfeito pássaro. Livre e voando para longe de seus problemas. O impacto daquele corpo, do pequeno corpo cheio de amarguras e dor dentro de si entrando em contato com aquela água. E ali a garotinha se sentiu livre. Um pássaro sem sua maldita gaiola.

Um corpo dentro da água gelada e azul sendo levado para longe. Um corpo, em seus pulmões não mais havia ar. E a água ocultando mais uma morte, mais uma dor. Um ser revelando a sua dor. E a água levando tudo consigo, as ondas subindo e descendo. As horas, as infinitas horas que a garotinha viveu foram inúteis e dolorosas. As horas cheias de veneno que a pequena garota viveu se acabaram ali. E então sonhos, lembranças, desejos, uma vida, segredos e dores... Foram levados para longe junto com aquele corpo que apenas queria sair de sua gaiola. Um pássaro que estaria livre dali em diante. E suas malditas horas vividas e as que iria viver obtiveram um fim e a água. Aquela límpida e gelada água, aquela água azul cristalina à levou ocultando tudo novamente.