A ruiva limpava o rosto com a manga do vestido, olhando de soslaio para o rapaz. Ela fingiu abaixar para limpar as botas de neve, mas fez uma bola de neve e jogou em Frost. Ele por sua vez, controlou a bola de neve em centímetros de seu rosto, fazendo-a ficar estática no ar, e lançou-a na direção contrária. Merida tentou se proteger do ataque da bola de neve.

Começou-se assim, uma guerra de bolas de neve entre os dois. Ela corria para não ser pega, já que a praia era um lugar muito aberto. Jack tirava vantagem dela, devido aos seus poderes; porém, foi pego distraído e levou uma bola de neve tão certeira e forte que o fez cair no chão. Merida riu com mais gosto do que o normal, caminhando rapidamente até o corpo dele, caído no chão ainda atônito. Ele estava muito quieto. Será que foi muito forte? Ela chegou mais perto dele, quase se agachando, até que Jack fez um rápido movimento com o braço, envolvendo as pernas da garota e a puxando para si. Merida caiu estática no chão, com os joelhos no peito do rapaz e as mãos apoiadas ao lado da cabeça dele. Face a face.

A ruiva se sentiu corando novamente.

‒ Ninguém ganha de mim numa guerra de bolas de neve.‒ Ele disse com um sorriso maroto nos lábios ‒ Ninguém.‒ Ele girou o corpo de Merida na areia gelada, ficando por sobre ela. A jovem o empurrou pelos ombros.

‒ Saia de cima de mim, ‒ ela falou baixou, porém autoritária ‒ você é pesado.‒ Jack saiu de cima dela, ficando de pé à sua frente. Ele esticou as duas mãos para ela, ela as segurou e com a ajuda de Frost levantou-se. Já de pé, Merida não quis soltar as mãos das dele. Eram frias como uma brisa de outono. Ela soltou para que não ficasse mais envergonhada do que já estava. Ela pigarreou ‒ O que estava fazendo no meio das rochas?

‒ Pensando. ‒ Disse ele simplesmente. ‒ E você?

‒ Também pensando.‒ Ela deu de ombros minimamente. ‒ Como você consegue controlar o gelo e o neve? É obra das luzes mágicas ou daquela feiticeira maníaca por ursos?

O rapaz pareceu extremamente confuso. Suas sobrancelhas estavam unidas no cenho franzido. Ele retorceu o canto dos lábios, coisa que Merida achou adorável.

‒ Nenhuma das duas coisas.‒ Ele flutuou até a ponta do cajado fincado na areia, apoiando-se na parte curva com uma das pernas apoiadas. ‒ Já ouviu falar que a Lua tem uns... poderes sobrenaturais?

Merida já iria se perguntar sobre tais poderes sobrenaturais, quando viu a sombra que a lua fazia na praia. Já deveria ser muito mais tarde do que imaginava. Daqui à algumas horas, o sol iria nascer e Elinor iria aparecer em seu quarto para acordá-la. Não poderia perder mais tempo. Ela deu um gritinho abafado e se virou rapidamente, deixando Jack Frost confuso atrás dela.

Já estava montada em seu cavalo quando viu o rapaz de olhos azuis se aproximar. Não podia perder mais tempo, infelizmente. Ela agitou as rédeas de Angus, fazendo-o se virar. Tanto o cavalo quanto a menina se assustaram com a figura flutuante de Jack à sua frente. O cavalo se agitou, fazendo com que a garota quase se desequilibrasse. Jack colocou a mão no focinho do cavalo negro acalmando-o.

‒ Saia da frente, por favor! ‒ exclamou a ruiva ‒ Preciso chegar em casa antes que dêem por minha falta. Daqui a algumas horas o sol já vai nascer!

Frost soltou do focinho do cavalo. Ele apontou com o indicador para a menina e falou com a voz mais autoritária que poderia ter feito. ‒ Mesma hora, mesmo lugar, amanhã. Promete? ‒ Ela balançou o rosto com força e rapidez, fazendo um tufão de cabelos vermelhos. O rapaz flutuou um poço mais perto dela, ficando novamente cara a cara. Ele repetiu, ainda mais autoritário: ‒ Promete?

‒ Prometo. Prometo! ‒ Exclamou a menina, tentando se afastar dele, já se sentia vermelha e quente nessa altura.‒ Pode esperar por mim que estarei aqui! ‒ Frost tirou uma mecha encaracolada do rosto dela, tocando com as pontas dos dedos a bochecha sardenta da princesa. Com o toque, a pele ficou levemente congelada, fazendo um desenho de floco de neve no rosto da menina.

‒ Vá então. ‒Ele saiu da frente do cavalo, deixando-a passar rapidamente, como o vento. Jack observou a figura de cabelos vermelhos se afastar no horizonte até virar um pequeno ponto alaranjado na floresta densa. Sentiu-se sozinho novamente. Olhando para a Lua, soube que não estaria mais só.

Nunca mais.