O céu estava tão cinza quanto o cartaz desbotado pela chuva pregado no pátio da escola, onde vários alunos estavam reunidos para admirá-lo e fazendo planos para a noite irem visitar o tal circo mostrado no anúncio em letras garrafais. O sinal bateu e todos foram para suas respectivas salas, menos Rob, que até então estava sentado. Ele se levantou e foi até o tal cartaz. O garoto nunca tinha sentido nenhuma vontade de visitar o lugar, mesmo que já estivesse em sua cidadezinha pacata há uma semana e todos seus amigos tivessem ido.

Desde que o tão aclamado circo provido de espetáculos surreais e fantásticos, segundo os falatórios de toda a cidade, dezenas de cidadãos estavam desaparecendo. Rob achava que esses tais sumiços estivessem ligados ao circo, já que a maioria deles estavam nas apresentações antes de serem vistos pela última vez.

Após alguns minutos Rob entrou na sala, mas o professor ainda não havia chegado. Todos estavam sentados em cima das mesas ou perambulando pela sala marcando encontros e convidando seus pares. O garoto olhou para a menina sentada no começo de sua fileira e lhe deu uma súbita vontade de chamá-la para ir com ele ao circo, mas se conteve, talvez por medo.

- Ei! Você vai assistir ao espetáculo hoje? – Era Poe, seu amigo que o chamava.

- Não estou com muita vontade de ir. Prefiro ficar em casa – O garoto respondeu, mas na verdade sua vontade era ir com Luna.

- Minha mãe também não deixou eu ir hoje, ela acha que esses sumiços tem alguma ligação com o circo.

Rob olhou espantado para Poe, pois concordava com a mãe do amigo, pois para ele era muito estranho esses fatos estarem ocorrendo simultaneamente.

O diretor da escola entrou sem avisar na sala aos berros:

- Sentem-se! A escola não é lugar de bagunça. – Ele sempre dizia aquilo, mas ninguém se importava mais. Ele continuou falando:

- O professor de vocês não apareceu na escola hoje e nem deu notícias, ou seja, vocês estão dispensados. – Disse isso com um ar de alívio.

Rob também ficou aliviado assim como seu amigo por irem pra casa mais cedo, mas então a sensação passou rápido quando viu Edgar indo até a garota do começo da fileira.

- Luna! - Disse ele num tom elevado que em seguida ficou mais baixo, mas que mesmo assim Rob conseguiu escutar – Topa ir ao circo hoje à noite, comigo?

A garota olhou para Edgar e em seguida para Rob, mas esse fitava o outro lado para que não desse na vista que ele estava escutando a conversa. Luna então voltou seu olhar de volta par o garoto parado e sua frente e respondeu:

- Sim, eu já ia mesmo de qualquer jeito. – E sorriu.

Rob ficou inconformado por ela ter aceitado o convite. Tudo bem que ele não tinha a convidado, mas Edgar era o garoto mais antipático da sala, pelo menos era o que Rob achava.

Edgar era aquele tipinho de egocêntrico que consegue as coisas bem mais fáceis e que acaba conseguindo tudo o que quer. Rob voltou para casa pensando em mil e uma maneiras de matar e esquartejar Edgar, mas é claro eram apenas pensamentos. O menino nunca faria algo de mal para alguém.

Quando chegou em casa foi direto para o quarto onde ligou o computador e se conectou em um site de filme e séries online. Ele precisava esquecer-se de tudo, do circo, de Edgar e de Luna, nem que para isso precisasse rever todos os filmes do Harry Potter.

Rob se lembrou de repente que seu professor dissera na sala no dia anterior que iria ao circo e que agora nem aparecera na escola. Não tinha como haver tantas coincidências assim. O garoto pensou em Luna ficando desaparecida e resolveu que iria ao circo.

A noite veio e o cinza deu lugar para escuridão do céu que não tinha nenhuma estrela no momento. Assim que Rob chegou ao espaço circense deu de cara com o casal, cuja vontade era de enfia-los embaixo do solo, já que estava descontente até mesmo com Luna por ter aceitado, porém ainda estava ali por ela, para protegê-la no caso dela desaparecesse.

O garoto então pensou em como ele evitaria que ela sumisse e sentiu raiva de si mesmo por estar ali sendo plateia dos dois.

Todos começaram a entrar no circo e já que estava ali Rob decidiu ficar e apreciar a tão famosa apresentação. A multidão tumultuou um pouco a entrada que logo foi liberada. Antes mesmo de passar pela lona um cheiro doce atingiu em cheio o olfato do garoto. O cheiro vinha de dentro do circo.

Rob sentou-se nas fileiras de poltronas do meio. Logo os espaços vazios foram sendo preenchidos pelos moradores de sua cidadezinha pequena e tão pacata que o surgimento de um circo provocara tanto alvoroço que impedia que todos enxergassem os desaparecimentos.

A cabeça do garoto doeu e não só ela quanto todo o seu corpo, devido a raiva ao ver que Edgar e Luna se sentaram ao seu lado.

- Boa noite e aí como vai? – Edgar perguntou de forma educada, mas por mais que ele fosse gentil Rob ainda acharia ele idiota. Talvez o problema não fosse com ele, mas consigo mesmo. O garoto pensou e logo abandonou a ideia.

- Boa noite! – Foi a única resposta de Rob. Nada de um olá! Tudo bem? Apenas uma boa noite seca.

- Está ansioso pelo espetáculo? – Perguntou a garota.

- Sim, estava muito curioso. – O que era uma grande mentira.

As luzes começaram a piscar e se mover. O espetáculo iria começar.