A boa música nos embalava. Julia parecia animada em viver esses momentos comigo. O que tínhamos passava de qualquer simples amizade, ali, eu tinha segurança, eu tinha amor e um lugar para ficar sempre.

Chegamos rapidamente ao barzinho, estacionamos e o local parecia bem cheio. Me senti quase velha ao observar tantos jovens e tanta gente diferente. Era como se por algum tempo eu estivesse em uma bolha, e ao sair, o mundo tinha outro jeito, outro gosto. Logo encontramos uma mesa. Julia logo pediu uma bebida e um suco para mim.

– Agora desembucha. Eu te conheço bem demais pra saber que isso não é uma saída qualquer. – Ela sorriu.

– É só uma saída da bolha, Ju. Uma saída pra mim. Me prendi demais por Bernardo. Nunca aproveitei minha juventude por medo. Medo de quê? Nem eu sei. De perdê-lo, talvez... – Dei de ombros.

– Duda, você não pode se sentir assim. O amor não é prisão. O amor é escolha. É assim que você deveria vê-lo. – Ela falou e fez um quase biquinho.

– Eu sei... E é por isso que estou me afastando. Bernardo sempre teve escolhas. E eu? A minha escolha é me contentar com as migalhas...

– Eu sempre vou estar do seu lado... Sei que Ber não está sendo justo. Mas como sua amiga, te informo que infelizmente a culpa é sua também. – Ela mordeu o lábio inferior.

– Sim. Não o culpo. Fui eu que aceitei tudo isso, desde o início. - Bebi um pouco do suco. - Mas não estou aqui por ele. Estou por mim. Quero poder fazer algo por mim mesma. E isso já é um começo. – Ela sorriu.

Ela se levantou rapidamente, me puxando pela mão e eu fiquei sem entender.

– Então, vamos dançar. Porque afinal, você tem um bebê que precisa de muita diversão hoje.

Quando vi, já estávamos em meio á pista, dançando todas as músicas que tocavam, como se estivéssemos preparadas pra isso há muito tempo. Meu corpo se mexia de forma involuntária e não pude parar. A sensação que subia pelo meu corpo era incrível. Julia também estava dançando, e percebi muitos olhares para nós duas. Vários rapazes até mesmo nos abordaram. Julia ria a cada cantada que recebia e mostrava sua aliança.

Fui até o bar e pedi mais um suco. Não queria abusar de bebidas e depois me arrepender pelo bebê. Peguei o suco e me virei novamente em direção á pista. Quando de repente, sinto um esbarrão que faz meu suco virar.

Não pude acreditar quando vi quem era o rapaz descuidado: Fernando!

– Duda! Me perdoe! Vem aqui, eu pago outro pra você. – Ele me puxou pela mão, entrelaçando seus dedos com os meus e meu peito se apertou.

– Tudo bem, Fernando. Foi só um acidente. – Eu sorri sem graça, puxando minha mão.

– Mas eu faço questão de te pagar outro! – Ele deu aquele sorriso torto... – Que bom te encontrar aqui. Se soubesse que viria, tínhamos vindo juntos.

– Foi de ultima hora. Estou com uma amiga. – Sorri.

– Eu vim com uma amiga também... – Ele enrubesceu imediatamente.

– Obrigada pelo suco, de qualquer maneira. – Eu disse assim que peguei meu suco sobre o balcão. Fui saindo devagar, quando senti ele me puxar.

– Ei, não me entenda mal. É uma amiga mesmo. – Ele gargalhou. E eu ri alto também.

– Eu não pensei nada. – Levantei as mãos, segurando o suco, até a altura da cabeça e saí, ainda rindo.

Voltei para perto de Julia e ela logo se apressou.

– Quem é o senhor gato delícia ali? – Ela falou, dando um sorriso malicioso.

– Meu chefe! – E gargalhei, tentando esconder aquele clima.

Para minha infelicidade Julia me conhecia bem demais. Então evitei contato visual. Voltei para a pista de dança, querendo recuperar o tempo perdido na confusão. Dali pude ver Fernando com uma linda moça, loira e magérrima. Ele me olhou no mesmo instante. Virei. Estava morrendo de vergonha por estar encarando-o. Beberiquei novamente o suco, tentando não ficar vermelha, como de costume. Foi quando senti uma mão em minha lombar, virei devagar, quase rezando...

– Esqueci de dizer que você está linda. – Ele sorriu e eu quis derreter.

– Obrigada! Vai deixar sua ‘amiga’ sozinha? – Eu ri.

– Ela já está de saída. E sua amiga? Onde está? – Eu apontei para perto da mesa, onde Julia bebia uma caipirinha. Ele fez cara de espanto. – Você tá brincando que a sua amiga é ela?

– Não. Eu juro que é.- Eu ri.

– Tô vendo que além de ter contratado um colírio para os olhos, tenho também uma ótima informante sobre os Gonzáles. – Eu ri, pensando em como ele não sabia de nada.

Julia logo se aproximou.

– Ju. Esse é o Fernando, meu mais novo chefe. – Ela sorriu e deu-lhe dois beijinhos.

– Tudo bem? Duda, precisamos ir. O Felipe já está me ligando. – Eu assenti. – Tchau, Fernando. Foi um prazer te conhecer. – Ela saiu quase em disparada em direção á saída.

– Bom, tenho que ir. – Eu sorri e Fernando se inclinou para me dar um beijo. Por um terrível obra do destino, viramos o rosto para o mesmo lado e quando percebi estávamos nos beijando. Eu não pude me conter, meu lábio não mais respondia aos meus comandos e Fernando me puxou para perto, pude sentir a mão quente e forte em meu quadril. As línguas se encontrando, pareciam mais uma explosão e então o empurrei. Não pude dizer nada. Eu só corri até a saída.

Julia já estava no carro, mexendo no celular. Eu pulei para dentro, ainda suando. Ela me olhou assustada e eu não disse nada. Apenas liguei o carro e arranquei. Pelo retrovisor pude ver Fernando na saída do bar. Acelerei.