Blue Sky escrita por Mylena Melnix


Capítulo 1
Um mar de ilusão




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Era um sábado, eu havia acordado há poucos minutos. E observava aquela cena tão peculiar em minha cama. Bernardo estava enrolado em meu lençol de seda branca e dormia como se fosse um anjo. Levantei-me devagar e caminhei até a suíte, escovei os dentes e lavei o rosto. Meu corpo nu se declarava em frente ao espelho, ri ao me observar e recordar momentos da noite anterior. Voltei até a cama, onde Bernardo não havia mudado de posição e beijei-lhe os lábios devagar, com carinho. Seus olhos se abriram tão devagar quanto o passo de uma tartaruga e os lábios sorriram em resposta.   
— Bom dia, príncipe. – Eu disse quando acariciei seu lóbulo da orelha.
— Bom dia, doce.
— Não vai se levantar? Já são onze horas da manhã. - Eu disse enquanto me sentava sobre a cama ao seu lado.
— Dormi demais. – Ele coçou os olhos de forma rápida e se levantou. – Tenho que ir. Tá bom? – Chacoalhei a cabeça de forma positiva e ele selou seus lábios nos meus rapidamente.
— Vá logo, antes que eu te arraste para a cama novamente. – Ele riu e o vi desaparecer pela porta do banheiro.
Ouvi o barulho do chuveiro e em poucos minutos ele já estava devidamente vestido andando pelo quarto procurando seus sapatos. Saiu sem muitas despedidas, o que era bem típico dele. Se me perguntarem, se era esse o meu sonho, eu com certeza direi que não. Mas nem tudo na vida é como desejamos e esse é o meu caso com Bernardo.

Meu nome é Maria Eduarda, ou Duda, como preferir. Tenho 26 anos, e moro no bairro Batel, em Curitiba. Sou formada em Jornalismo, porém exerci muito pouco da minha profissão. Logo me enfiei nesse navio prestes a naufragar que vocês poderão conhecer. Bernardo é casado, muito bem casado, diga-se de passagem. E eu o amo. Amo como se ele fosse minha única forma de viver e talvez de fato ele seja. E é sempre assim que acontece, fins de semana juntos, ás vezes somente uma noite, ou um pequeno jantar. Eu não quis muito mais que isso, e se quis não pude ter. Aceitei as condições que a vida me exigiu, aceitei ser a outra para poder ter o amor em minhas mãos.

Bernardo é casado com Maite, a filhinha de pais ricos e dona da beleza mais invejada em Curitiba. Bernardo sempre me dissera que não a amava que estava com ela pelo status que isso lhe dava. Conhecemo-nos desde muito pequenos, éramos vizinhos numa pequena cidade do interior do Paraná e íamos sempre para a fazenda de seus pais. Onde brincávamos, corríamos e nadávamos no riacho. E isso se prolongou por anos, já tínhamos uns 16 anos quando começamos a nos apaixonar. Íamos para a fazenda e sempre acabávamos sozinhos, no meio das pedras perto do riacho, nos beijando escondidos de nossos pais. Mas as coisas começaram a mudar, quando Bernardo veio morar em Curitiba, seu pai estava precisando de ajuda na empresa ele precisava vir. Tivemos uma grande despedida, que resultou na perda da minha virgindade. Ber logo viajou, mas antes prometeu que iria me buscar e que iríamos nos casar. E eu, tola, acreditei. Passaram-se mais ou menos quatro anos e Bernardo não foi me buscar, nem sequer voltou para a cidade. Apenas mandou cartas com juras de amor por dois anos, e nos últimos dois, apenas dizia que não me esqueceria nunca. Eu fui ficando mais velha e com menos oportunidades, não queria crescer naquele lugar, com homens rústicos e rudes, que apenas esperavam que eu fosse nada mais que uma dona de casa, cuidando de seus filhos e fazendo sua comida. Aos vinte anos, juntei algum dinheiro e me mudei para Curitiba, onde iria trabalhar como garçonete por um tempo. Avisei a Bernardo e ele ficou extremamente enlouquecido, disse que eu não podia, mas mesmo assim eu fui. Quando cheguei, dividi um apartamento pequeno e fedido na periferia com minha amiga. Iniciei a faculdade aos trancos e barrancos. Bernardo foi me buscar e me trouxe para esse apartamento, bonito e caro, no Batel, um dos bairros mais ricos de Curitiba. E me contou que estava prestes a se casar. Parecia que aos poucos cada pedaço do meu coração se desfazia ao ouvir aquelas palavras, agüentei com aquela máscara de que tudo estava bem, de que tudo estava perfeitamente bem, enquanto meu mundo desmoronava. Ele jurou que me amava, que nunca ia me abandonar e que me daria tudo que eu precisasse. E apenas pediu para que eu não interferisse em sua vida com Maite e que se eu pudesse, ficasse com ele. Pois sua vida dependia da minha. E eu mais tola e ignorante possível, aceitei todas as suas condições. E hoje, se completam seis anos que estou aqui e sendo a amante de Bernardo Gonzáles, o todo poderoso da Louis Gonzáles. Uma importante empresa do ramo imobiliário.
Tomei banho e liguei para Julia. Minha melhor amiga e irmã de Bernardo. Cúmplice de todas as horas, que sabia e torcia pelo nosso ‘Final Feliz’.
— Oi, bitch!
— Oi, Duds. Tudo bem por aí?
— Sim, e aí?
— Tudo certo. Vamos fazer alguma coisa hoje? Por favor, diga que sim. Ah, espere – Ela parou de falar e me deixou na espera de chamadas. – Oi, desculpa a demora. Posso passar aí hoje?
— Claro, estou morrendo de tédio, só pra variar.

— Então me espera que logo eu chego por aí. Beijo.

Desliguei e ela logo estava lá. Bateu na porta e eu mandei-a entrar.

   
— E aí, gatinha. – Ela me deu dois beijos na bochecha. – Tá bem mesmo, Du? Que cara é essa de enterro?

— Estou na medida do possível. Seu irmão é um bosta, já te disse isso hoje? – Ela riu, divertida.
— Ele pode ser um bosta, mas você o ama. – Ela parou e pensou por um instante – Duda, eu sei o quanto é difícil para você. Mas foi você quem concordou. Ber a ama, você e eu sabemos disso mais do que ninguém. Ele pode estar com ela, dormir ao lado dela, mas sei que no fundo tudo que ele queria era estar aqui... Com você.
— Na maioria das vezes, não é o que parece, Ju. Porque ainda assim, é lá que ele está. Ao lado DELA! – Eu gritei meio sufocada pelas lágrimas que começavam a inundar meus olhos.

Ela me abraçou e eu fiquei ali, imóvel. Ela me soltou do seu abraço e me olhou, com aqueles olhos que pareciam dizer ‘Eu estou aqui, por você.’ Sentei no sofá e puxei um maço de cigarros. Fumei com calma e ambas em silêncio quase esmagador.

Levantei-me e me dirigi ao banheiro e quando voltei, ela acabara de desligar o celular.   
— Ai, o Felipe não vive sem mim. – Ela riu e mostrou o celular. Eu apenas sorri.
Segundos depois, Bernardo me ligou.  
— Oi, doce. – Ele falou com a voz calma.
— Oi, Ber. Está tudo bem? Você não costuma ligar a essa hora e nos vimos há pouco... – Eu perguntei com certa preocupação e ele me interrompeu.
— Du, você sabe que eu te amo não sabe? Sabe que tudo que faço é por você e por mim, não é? – Ele falou pausadamente, quase que de forma didática.
— Sei. Mas não entendo porque isso agora... – Olhei para Julia que estava ruborizada e entendi tudo na hora. – O que a boca aberta da Ju andou te dizendo?

— Não importa. Eu sei que sou um idiota por fazer isso com você.

— Quieto. Depois conversamos, ta bem? Don’t worry.
— Tá. Eu preciso desligar, te ligo mais tarde. Tudo bem? – Ele deu uma breve pausa. – Ah, provavelmente vou dormir aí hoje. Beijo.
— Tudo bem, se cuida. Beijo.

Ele desligou e eu quis matar a Julia. Mas seus olhos pareciam tão dóceis que não tive coragem.   
— Eu tenho que ir, Maria.
— Não me chame de Maria. – Eu arfei e ela riu.

— Mas esse não é seu nome? – Ela gargalhou e correu, antes que eu a pudesse estrangular.

Fiz uma salada e comi em casa mesmo. Já eram quase duas horas da tarde. Coloquei um filme e me deitei, acabei adormecendo e só me acordei com Bernardo me beijando de forma doce.   
— Amor? – Eu falei confusa. – Nossa, que horas são? – Ele riu.
— Seis horas da tarde. – Chacoalhei a cabeça e olhei a tevê desligada.
— Chegou faz tempo? – Perguntei enquanto me acolhi em seu tórax acetinado.
— Não muito. Trouxe isso para você. – Ele falou enquanto pegava uma caixa de bombom.
— Obrigada meu amor. – Eu sorri e beijei seus lábios rapidamente.
Rapidamente, Bernardo ocupou o lugar vago ao meu lado no sofá e me puxou contra seu corpo.   


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