Soldado da Guarda escrita por Bravery


Capítulo 1
Capítulo Único.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Bem, se você leu meu outro conto, sabe que ele foi uma segunda opção de trabalho escolar. Bem, eu trouxe a primeira opção do trabalho porque eu realmente gostei desse conto.
É um romance leve, nada muito meloso. Também é um drama leve, nada muito pesado.
Esse conto foi inspirado no livro Paixão, da Lauren Kate.
Espero que vocês gostem ^--^



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Ponto de Vista de Alice.

Segunda Guerra Mundial.

Tempo e local sem definição.

Meu estômago deu uma volta completa dentro de minha barriga.

A cena que eu via era, com toda a certeza, a mais horrível e devastadora que um ser humano poderia ver nessa época. Infelizmente, ela se tornara um pouco comum para mim e, por mais que eu já tivesse visto-a várias vezes, o efeito que ela tinha em mim ainda era o mesmo.

Da fila feita na frente de um grande caminhão de abastecimento, formada por enfermeiras cansadas, jovens e com os rostos congelados numa máscara severa de tranquilidade, eu via vários soldados no chão, alguns gritando por socorro, chamando por nós, enfermeiras. Outros estavam apertando os ferimentos expostos que jorravam sangue fresco, fazendo o ar ter um cheiro de ferrugem e sal. Já alguns – os mais feridos ainda – se mantinham imóveis, mal aguentando as dores e fazendo a cena ficar pior ainda.

Dentre os soldados, a paisagem que um dia fora um grande quartel novo em folha, agora eram apenas ruínas.

“Enfermeira!” A enfermeira-chefe gritou. E eu me sobressaltei. Estava tão ocupada em observar os soldados que gritavam que nem ao menos percebi que, agora, as enfermeiras de roupa e chapéu branco se misturavam com alguns soldados, se sujando de terra, lama e sangue para ajudar os pobres feridos. “Enfermeira!” Minha atenção foi chamada mais uma vez.

Estendi os braços rigidamente e ela colocou um jarro de água pesado em meus braços. Ela ia murmurando o que me entregava como se fosse conseguir ter um controle do que saia e entrava do caminhão de abastecimento.

“Água… Gaze… Bandagens… Maleta.”

E então ela me dispensou.

Rapidamente corri para o campo dos feridos. Tentei dar prioridade aos mais feridos. Sabia que os que gritavam não necessitavam tanto assim de ajuda e podiam esperar por alguns mínimos minutos, afinal, eles tinham força o suficiente para gritar. Os que pressionavam os ferimentos também não eram as minhas prioridades.

Eu precisava escolher aqueles que não estavam se mexendo. Eles realmente precisavam de minha ajuda, pois, mal conseguiam se comunicar, apertar os próprios ferimentos sangrentos. Eles estavam lutando para respirar e até mesmo para manter a consciência.

“Ande logo menina!” A enfermeira chefe gritou.

Aproximei-me de um soldado de cabelos negros, pálido (provavelmente por causa da perda de sangue) e imóvel que estava perto de mim. Duvidei se ele estava respirando, mas mesmo assim, me ajoelhei e depositei as coisas no chão de lama.

Preparei-me para começar o procedimento que era ensinado a toda mulher, criança ou adolescente. Todas nós tínhamos que saber, não era de nossa escolha. Aprender e estar preparada para ser convocada como enfermeira e salvar vidas ou não aprender e correr o risco de ser convocada e acabar matando algum soldado. Ninguém queria ser causador de mortes por descuido, então a maioria optava por aprender. Só quem resolvia que não queria aprender eram as garotas ricas, afinal, elas pensavam que nunca seriam chamadas... Mas isso mudou, a guerra começou a ficar mais intensa e começaram a recrutar até as adultas.

O soldado me surpreendeu.

Assim que eu toquei seu machucado no braço, ele abriu os olhos e olhou para o meu rosto, apavorado.

Ele tinha olhos surpreendentemente azuis.

Ele gaguejou incoerente por alguns segundos até conseguir formar uma frase completa.

“Q-que é que você v-vai fazer?!” E então agarrou a mão que eu havia colocado em seu braço. E fez uma careta.

O movimento fez seu machucado abrir e cuspir uma grande quantidade de sangue. O soldado soltou um gemido de dor alto, que foi abafado por um grito alto e estridente de um outro soldado. Não precisava virar a cabeça para saber que a garota miúda e arrogante que havia vindo conosco para ajudar, havia machucado seu paciente. Era mais que óbvio que ela era despreparada e rica.

O meu paciente, no entanto, fez a menção de virar a cabeça. O impedi, começando a ficar nervosa.

“Por favor, não se mexa!”.

Quem é você?!

Não respondi.

Que é que você vai fazer comigo?!

Não respondi.

RESPONDA-ME!

“Ora, mas cale a boca Soldado!” Gritei, sem paciência. Ele se mexia muito e a cada movimento, perdia sangue e ficava mais pálido. Comecei a ignorar suas perguntas e peguei o jarro, lavando rapidamente o ferimento e ignorando seus resmungos de dor. Um pouco tarde demais, percebi que ele não tinha sido ferido apenas no braço. Com um rápido check-up pude ver que ele tinha uma bala alojada no abdômen, vários ferimentos no rosto (incluindo um nariz quebrado e um possível olho roxo) e outros ferimentos menores.

Comecei a limpar o lugar onde a bala estava alojada, mas não estava fazendo muito efeito. Comecei a rezar para que o socorro do hospital chegasse logo. Poderia parecer estúpido e retardado, mas eu realmente comecei a murmurar a oração em latim que minha avó me ensinara quando criança. Se eu bem me lembrava, era para os anjos.

Algo se iluminou no rosto do Soldado e, debaixo de minhas mãos, a pele dele ganhou mais cor e vida. Ele parecia vibrar, ganhando saúde. Antes que eu pudesse perguntar o que estava acontecendo, ouvi um som que me fez respirar aliviada.

As sirenes e os gritos masculinos eram altos e logo os soldados que ajudavam a nós, enfermeiras, começaram a carregar os feridos. Contra a minha vontade, me levantei e dei espaço para dois deles pegarem o meu paciente. O mesmo olhou em pânico para os homens e então agarrou minha mão enquanto era erguido. Novamente ele parecia doente e pálido.

“Acalme-se, estarei logo atrás de você.” Disse para ele, apertando sua mão.

“Promete?”

“Prometo”.

E então, os homens o levaram.

Recolhi as coisas do chão rapidamente, abandonando as gazes ensanguentadas e rasgadas no chão. Corri até o caminhão de abastecimento, larguei as coisas lá e corri até a fila que ia para o caminhão de transporte das enfermeiras. Fomos divididas em duplas e eu fiquei junto com uma loira que parecia ter quase a minha idade, talvez um pouco mais nova. Ela tinha um rosto gentil e apertara minha mão rapidamente enquanto a Enfermeira-Chefe falava.

Fomos designadas para dentro de um caminhão de feridos, já com novos materiais em mãos. Sentamos-nos uma de cada lado do lugar apertado e as portas do caminhão foram fechadas.

Talvez a palavra desagradável seja fraca demais para expressar a situação de dentro do caminhão.

Era apertado demais e homens estavam empilhados um em cima do outro em suas macas que eram suspensas no alto apenas por um par de ferros, todos chacoalhando e reclamando de dor. Um cheiro de insuportável de ferrugem e sal e um calor horrível. Uma iluminação quase nula e duas mulheres se espremendo entre feridos.

Ah, mas que maravilha!

Observei os feridos e não vi meu paciente entre eles.

Eu e a Loira que, mais tarde, descobri que se chamava Mary-Anne, começamos a tratar dos soldados.

[...]

Poderia dizer para vocês que depois que o caminhão chegou ao hospital, eu estava bem.

Poderia dizer também que depois de entrar no hospital, eu encontrei meu paciente e tratei dele. Poderia dizer que vivemos uma história maravilhosa de amor e que tivemos filhos e moramos até o fim de nossas vidas em uma casinha amarela e tranquila, num bairro de gente normal.

Eu poderia dizer.

Mas eu estaria mentindo.

O que realmente aconteceu foi:

Nós chegamos ao hospital e fomos arrancadas do caminhão. Ensanguentadas, descabeladas e cansadas. Fomos obrigadas a subir três lances de escada, trocamos de roupa e nos limpamos.

Mary-Anne foi cuidar de mais pacientes e eu comecei a rodar todo o hospital a procura de meu paciente. Eu não o achei e a enfermeira chefe brigou comigo, pois eu deveria estar cuidando dos doentes.

Fui cumprir minhas obrigações e depois fui dispensada para poder dormir.

Depois daquele dia, eu nunca mais o vi. Passei uma semana toda procurando registros no hospital de um homem gravemente ferido, cabelos negros e olhos azuis e fiquei frustrada ao não encontrar nada.

Acabei por desistir, já que parecia que ele nunca havia existido.

Quando voltei para casa, descobri que o lugar onde eu morava havia sido destruído por uma bomba, cerca de dois meses depois da minha convocação de enfermeira.

Muitos anos se passaram depois disso e eu tive uma boa vida. Filhos, casa, marido e felicidade. Tive tudo isso. Mas meus pensamentos sempre voltavam para o soldado e sempre que eu pensava nele, era impossível não lembrar a oração que eu havia recitado baixinho e de sua reação.

Foi uma decepção eu ter morrido sem me dar conta de algumas coisas. Mas, caso você não tenha entendido, eu lhe explico.

A oração que eu recitara não era para qualquer anjo, era para um anjo da guarda. Meu anjo da guarda.

Meu nome nunca constou nos registros de mulheres que iriam ser recrutadas para serem enfermeiras durante a guerra. Ele só entrou depois que eu cumpri meus serviços. Ou seja, alguém falsificou uma chamada de enfermaria para mim. Esse mesmo alguém foi ferido na guerra e virou meu paciente que sumiu misteriosamente da face da terra.

E caso você não tenha se dado conta:

Aquele soldado, era o meu Anjo da Guarda.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso.
Espero que tenham gostado e que não tenham se incomodado muito com o final.
Comentários são mais do que bem-vindos!
Obrigada e até a próxima ♥



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