Hurricane escrita por RafaellaBignardi


Capítulo 1
Capítulo 1.




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CAPITULO UM.

Vamos começar com as coisas da minha vida nada interessante. Em primeiro lugar quero listar as quatro coisas que mais gosto no mundo: tomar sol no meu pé, do formato dos meus olhos quando eu acabo de acordar, de desenhar e de ler. Não é só isso, claro, mas são as coisas que eu faço com mais freqüência. Não que meus olhos verdes opacos, que sempre passam despercebidos pela multidão sejam a coisa mais linda de se olhar quando eu acordo, mas eu me contento em vê-los. Eu tenho uma irmã mais nova e uma mãe, apenas. Minha mãe é uma artista plástica falida que beira os quarenta anos que vive bêbada pela casa, minha irmã tem sete anos, é uma menina gordinha de pele morena e cabelos negros escorridos de tão lisos. Nós não nos parecemos nem um pouco, talvez pelo fato de sermos irmãs de pais diferentes, ambas abandonadas pelos tais. Digamos que minha mãe nunca teve “sorte” no quesito homens que se deve amar. Sou fruto de um amor entre uma fã e um guitarrista de uma bandinha famosa, eles se apaixonaram ela fugiu de casa e foi viver na estrada com ele e sua banda e um ano depois veio a surpresa na porta dos meus avós, minha mãe voltou pra casa com uma criança nos braços. Eles como bons pais que sempre foram, acolheram ela. Estava tudo certo para ser uma vida boa e comum. Eu iria crescer sendo educada pela minha mãe e meus avôs, só que certo dia meu pai resolveu bater na porta de casa novamente e levou minha mãe embora de novo. Viemos morar no Arizona, minha mãe começou o trabalho como artista, que não deu muito certo, fazendo-a desistir de tal e ir trabalhar em uma lanchonete. Meu pai que tinha prometido uma vida boa voltou para as drogas e morreu no meu aniversario de cinco anos, ótimo presente de aniversario, não acha? Seu pai morrer de overdose na sua frente.

Minha mãe batalhou duro na vida e depois de algum tempo sua carreira como artista decolou a mil, ela ganhava dinheiro, muito dinheiro. Mas novamente se apaixonou pelo cara errado. Ele era descendente de espanhóis e indígenas, isso explica os cabelos escorridos e a pele morena da minha irmã, era um bom cara afinal, mas ele magoava minha mãe, que tinha ficado tão frágil após a morte do meu pai. Ela o pegou traindo ela na própria cama com a minha babá, quando estava grávida da minha irmã e então se desiludiu da vida, messes depois quando minha irmã nasceu ela descobriu que ele vinha roubando o dinheiro dela – nosso dinheiro – há tempos; e o mandou embora, ele não se importou, era ir embora ou ser preso. É o que homens fazem, não é? Encantam-te, partem seu coração e depois vão embora fingindo que nada aconteceu. Ele nunca nos procurou e depois de um tempo minha mãe começou a receber o dinheiro roubado por ele, de volta; ela não se importou de onde o dinheiro vinha, tinha decidido ser uma mulher independente, isso consistia em viver bebendo por ai. Ela não é uma mãe ruim, apenas não é muito sóbria. Mas, eu já não reclamo mais da vida; não acredito que tudo tenha um propósito e que um dia vá melhorar, isso é ladainha de filmes e livros de auto-ajuda, algumas pessoas simplesmente têm uma vida ruim e é isso que o mundo precisa aceitar. E eu só apenas uma dessas pessoas, as que não têm uma vida boa. E nada no mundo vai mudar porque eu sou infeliz. - Caroline Frayman, você tem dois minutos para levantar dessa cama – Era a voz da tia Caty; ela é a melhor 

amiga da mamãe desde o tempo em que elas trabalharam juntas na lanchonete. Ela me chamou de novo e logo depois que o fez, puxou o meu edredom cor-de-rosa com listras azuis de cima de mim, deixando meu corpo pequeno e pálido demais a mostra, com as minhas meias vermelhas no pé e meu pijama da Hello Kitty. Abri os olhos e mirei no relógio verde em cima do criado mudo baixo, cor de gelo que continha além do relógio, um abajur que era uma pequena arvore cerejeira. – Tia Caty, são oito horas da manhã! – exclamei nervosa, puxando o edredom de volta e enfiando a cara no meu travesseiro que cheirava a baunilha. - Exatamente, os passarinhos já estão cantando e o sol raiando, anda; levanta e vamos colocar a mesa no jardim – Ela puxou o edredom de novo, enquanto foi abrir a grande cortina branca que ia do teto até o chão do quarto e eu tirei a cara do travesseiro, olhando para a janela. 
- Qual é o seu problema? Sua mania por amar natureza me dá medo. - Querida, se eu não amar a natureza, vou amar quem; você? – Ela fingiu um olhar de desdém pra mim, e eu joguei meu travesseiro na sua direção e ela se desviou.
- Eu sei que você me ama – gritei quando ela abriu a porta pra sair do quarto.
- Eu vou deixar de te amar se você não levantar essa sua bunda gorda cama – falou e fechou a porta atrás de si com força. Rolei algumas vezes na cama e depois resolvi levantar, me arrastei até o banheiro do meu quarto, meu cabelo parecia um ninho de um passarinho zangado, mas eu gostava; peguei a escova roxa em cima da prateleira e comecei a desfazer os nós ruivos cor de “ferrugem”, escovei os dentes e joguei uma água na no rosto; não iria me trocar, não agora. Sempre tomamos café da manhã no jardim aos domingos, é uma das superstições da tia Caty; abri a porta do 
meu quarto e lá estava eu no corredor não muito grande que se estendia a minha frente, com mais quatro portas. Entrei no quarto a frente do meu, o quarto de Isabelle, minha irmã.
- Bom dia flor do dia – Ela estava de frente ao próprio guarda roupa, colocando uma das suas fantasias que sempre vivia vestida, sim; fantasias. Para Isabelle usar roupas casuais era algo extremamente difícil, a primeira vez que ela vestiu uma fantasia tinha três anos e desde então só sabe se vestir assim. - Bom dia Caroline – ela falou com sua voz suave, que parecia mais o cantar de um anjo para os meus ouvidos; quando era mais nova ela tinha dificuldades em pronunciar meu nome, mas eu nunca a deixei me chamar de “Carol”, eu odiava aquele apelido e não permitia que ninguém me chamasse assim. Logo que Isabelle escolheu sua fantasia do dia, que era de índia, sua preferida por sinal; descemos para o café da manhã. Tia Caty já tinha colocado a mesa e nos fez fazer a mesma oração de sempre antes de comermos, mamãe havia se juntado a nós, ainda vestindo sua camisola de seda branca e com os cabelos negros curtos como o de um homem, meio bagunçados.
- O que seria de mim sem você Caty? – ela sorriu pegando um dos pães da cesta. Essa era a mãe que eu gostava de imaginar sempre: feliz, sorridente e gentil, que sempre lembrava as pessoas à importância que elas tinham, mas infelizmente nem sempre era assim – Essa cena me deu vontade de pintar; vocês não acham? Que linda família incomum somos. Eu vou nos retratar em uma pintura – Ela levantou depressa da mesa, deveria estar indo para o estúdio. Tia Caty começou a rir, e Isabelle a acompanhou na risada, nunca entendi a necessidade da tia Caty em sorrir para tudo e rir de tudo, sem contar no seu amor pela natureza. Catheriny Sulivan, seu nome de batismo; foi filha de um casal de hippie e quando tinha dezoito anos seus pais morreram em um protesto contra alguma coisa que eu não me lembro agora; com dezoito anos ela veio morar com a sua avó e por coincidência trabalhar na mesma lanchonete que a mamãe. Hoje tia Caty é dona de uma lanchonete de lanches orgânicos e reformou a casa da avó. Ela já teve um filho, Michael; mas ele morreu alguns dias depois de nascer - Isso é que se chama de uma artista inspirada – disse ela e acabamos de tomar nosso café da manhã. Passamos o dia todo como a família incomum que somos, tia Caty cozinhou e limpou a casa enquanto eu via mamãe pintar e Isabelle brincava, quando a noite começou a cair, mamãe começou a beber e as coisas começaram há desandar um pouco, ela gritou, esperneou e reclamou da péssima vida que tinha, deu o habitual show de embriaguês até que caiu em um canto qualquer, a essas alturas tia Caty já tinha ido embora; eu a arrastei escada acima até o próprio quarto e a larguei na cama, ainda usava a mesma camisola, às vezes me pergunto como minha mãe, uma linda mulher, alta magra e poderosa se tornou essa frágil bêbada demente. Isabelle estava em seu quarto, vendo filme quando depois de tomar um banho e colocar outro pijama eu entrei no mesmo. - Hora de dormir pequena princesa guerreira – Sorri para ela – Vai, já para o banho enquanto eu arrumo sua 
cama – falei desligando a televisão; o quarto de Isabelle, diferente do meu era claro, tinha paredes pintadas de azul bebe a cor preferida dela; e uma cama branca de casal imensa, ela gostava de espaços grandes; todos os móveis do seu quarto remetiam a um estilo medieval, todos esculpidos pela mamãe. Enquanto ela tomava banho, abri o seu guarda roupa e separei uma camisola com um par de meias coloridas.
- Você sabe que eu odeio usar meias pra dormir – Isabelle reclamou enquanto eu vestia as meias nos seus 
pés.
- Você quer que as fadas noturnas comam o seu pé? Não, né? Então coloque a meia – sorri enquanto ela se ajeitada entre as cobertas – Boa noite pequena – fui ate o seu criado mudo e acendi o abajur, igualmente o meu.
- Ei Caroline – ela me chamou e eu me virei quando saia do quarto; esperei que ela falasse – Porque a mamãe não faz isso? – ela perguntou me encarando.
- Isso o que? – perguntei parada no batente da porta.
- Cuidar de mim, como uma mãe normal sabe como as mães das minhas amigas. Queria que ela fizesse isso, não estou reclamando, você faz isso perfeitamente, mas... Eu queria ter uma mãe – ela falou com uma pontada de tristeza nos olhos, Isabelle era uma menina muito esperta para sua idade.
- Eu também queria Isabelle, eu também queria... – Falei apagando a luz do quarto dela e fechando a porta. 
Isabelle era uma das, se não a coisa mais importante da minha vida, mas eu simplesmente não conseguia falar sobre a falta materna que tínhamos. Apenas não conseguia... Da falta paterna então; nós simplesmente nunca tocávamos no assunto. Eu sentia por Isabelle não ter conhecido seu pai, mas ao mesmo tempo estava feliz por ela não ter tido o mesmo pai monstruoso que eu tive, só de lembrar as coisas que ele fazia... Ainda penso se foi um horror ou um alivio ele ter morrido. Deitei-me na cama com os pensamentos acelerados, abri a gaveta do meu criado e tomei um dos meus anti-depressivos junto com um remédio para insônia; era melhor apagar do que ter pesadelos de uma noite de sono qualquer. Acordei com o relógio despertando, hora de levantar e enfrentar o mundo normal do qual tendo desesperadamente me isolar. Arrastei-me até o banheiro, como sempre e liguei a ducha, precisava de uma água gelada no rosto para despertar, saí do banheiro tremendo de frio e entrei no meu pequeno closet. Eram sete e vinte da manhã, mas o sol já estava começando a dar as caras por aqui, que ótimo; eu odiava calor. Peguei um vestido acentuado de alcinhas florido qual o comprimento ia até um pouco antes do meu joelho - essa era a regra da escola - e calcei uma sapatilha azul; penteei o cabelo; demorei um tempo até desfazer todos aqueles nós.
- Ok, já está na hora de cortar um pouco – resmunguei para mim mesma na frente do espelho, não era uma visão do inferno, eu não era ridiculamente feia, era parcialmente anormal; não que eu tivesse um quadril largo demais ou peitos gigantes. Era tudo perfeitamente em seu lugar, meu corpo caia em qualquer roupa perfeitamente, mas eu podia desejar ter alguns quilinhos a menos, não podia? Eu não sou o que se chama de gorda, sou apenas uma garota comum; com suas indesejáveis gordurinhas a mais. E a grande diferença entre mim e o mundo que me rodeava: todas as garotas eram incrivelmente bronzeadas e tinham um tom vivo em seus cabelos loiros ou marrons. Eu, uma quase albina; ruiva de olhos verdes, não era o tipo de menina que fazia muito sucesso por aqui. Entrei no closet de novo e peguei um cardigã verde e minha mochila roxa. Mesmo não fazendo “muito sucesso por aqui”, eu já tive alguns casos amorosos, ou é assim que se chama... Eu nunca gostei de verdade de alguém, como dizem nos livros e nos filmes, sabe? Quando o coração dói a cada despedida. Não, nada dessas bobeiras; eu só me sentia bem com a pessoa. Tive apenas dois meninos em minha vida, um foi Chow e nós nunca tivemos um caso amoroso. Eu tinha treze anos e ele foi o primeiro garoto que eu beijei atrás do galpão da lanchonete da tia Caty, era um coreano de cabelo azul que tinha vindo passar as férias por aqui, fim da historia. O outro era Brad; meu ex melhor amigo, ele tinha câncer no pulmão e morreu um mês depois que completamos dois messes de namoro. Às vezes eu ainda vou a casa dele, pra conversar com a mãe dele e levar Isabelle pra brincar com Dinah a irmã dele; isso era algo que eu repetia muito nos primeiros messes sem ele, eu ia até a casa dele conversava com a mãe dele por algum tempo e depois ia para lá, o meu santuário de masoquismo particular: o quarto dele. Ver as coisas dele, sentir o cheiro dele; lembrar de nós, jogando vídeo-game e reclamando da vida me fazia bem e ao mesmo tempo mal. Brad e eu nos conhecemos quando minha mãe se casou com o pai de Isabelle, eu tinha seis anos. Nós sempre soubemos que ele ia morrer; afinal todos vamos, mais cedo ou mais tarde; Brad viveu mais do que o esperado até, foi um pequeno milagre enquanto vivia. Sai do meu quarto e entrei no de Isabelle, depositei um beijo em sua testa. Eu não freqüentei a escola 
quando criança e mamãe repete o mesmo ritual com Isabelle. Eu amei ter ficado em casa minha vida toda, mas entrar no colegial com quinze anos foi algo difícil e eu nunca fui de ter muitos amigos. Mas para Isabelle isso não é problema, ela passa grande parte do dia na lanchonete da tia Caty comigo e tem várias amigas de sua idade. Peguei as chaves do meu fusca vermelho e bati a porta de casa atrás de mim. Meu carro foi meu presente de dezesseis anos, mamãe queria uma festa; mas eu me neguei a tal e ganhei então o primeiro carro da mamãe, versão reformada. Cheguei à escola, já cheia como sempre, estacionei na mesma vaga de sempre; embaixo de uma grande arvore para fazer sombra. Peguei minha mochila e fui a caminho da sala da minha primeira e odiada aula: física. Ajeitei-me em uma das ultimas bancadas e coloquei meus fones que agora tocava The Strokes no ultimo; umas garotas nerds se sentaram na bancada junto a minha e a aula começou. Eu odiava física, assim como odiava matemática, eu tenho dislexia e isso me faz ficar confusa quanto aos números. No instante que o professor virou para mim e ia reclamar dos meus fones, alguém abriu a porta. Senhor Mosebi, um velho egípcio caquético virou a cabeça de mim para o garoto que acabara de entrar. Ele era branco, não tanto quanto eu; mas pálido; tinha olhos azuis, tão claros que quase chegavam a ser cinza e uma boca vermelha, seus cabelos eram tão negros quanto à luz da meia noite e seu rosto impecavelmente branco, não que o meu não fosse; mas meu rosto assim como todo o meu corpo era coberto por sardas da cor laranja. Ele era alto e não tão magro, tinha até uma quantidade bem pequena de músculos. Ele usava uma camiseta grande demais pra ele que dizia “foda-se” com uma mão fazendo um gesto obsceno, junto com uma calça jeans clara larga que tinha um rasgo perto do joelho e calçava um vans vermelho – eu admito que o achei extremamente charmoso o jeito que ele estava vestido; posso ser uma depressiva, mas sempre gostei de gente que sabe se vestir.
-Escute aqui mocinho, nós não permitimos atrasos nesta escola – Mosebi, foi ignorante como sempre e o menino fechou a porta atrás de si – Só vou tolerar, pois é o seu primeiro dia – ele gesticulou o único lugar vago na sala, a bancada da frente. E o menino se dirigiu para lá, quando ele andou pude ver o skate em sua mão – Seu nome, por favor. - Christian – ele resmungou baixo, tinha uma voz rouca e suave.
- O nome todo senhor indigente – Mosebi andava pela sala, como sempre fazia e se aproximou da minha mesa – Posso saber por que a senhorita Caroline se sente superior ao resto dos mortais dessa sala e não precisa ouvir a aula nem o nome do novo colega de turma? – falou, literalmente puxando os meus fones.
- Christian Mulek – o garoto falou de novo, dessa vez alto e chamando a atenção de Mosebi quanto a minha bronca, agradeci com um olhar para ele, que apenas virou para frente e o senhor Mosebi seguiu com as aulas. No intervalo fui à cantina e comprei o de sempre: cupcake. Me sentei no jardim e coloquei meus fones novamente, zapeei pelas playlists que iam de The Beatles até Metalica enquanto o intervalo passava, quando o sinal tocou segui normalmente para minha aula de inglês, não fosse por ter visto o garoto novo; Christian sentado com o grupo de roqueiros da escola, fumando. Será que todo adolescente desse lugar, se não fosse surfista tinha que ser drogado? Virei o rosto e continuei andando até que uma mão me puxou. Era Clarissa, uma menina loira de peitos grandes e coxas grosas que vestia uma longa camisa do Aerosmith e meias arrastão.
- Oi? – falei tirando os fones. - Meu novo amigo quer saber seu nome – ela falou rindo, parecia drogada como sempre e eu tirei seu braço de mim e continuei andando – Não seja tão esnobe senhorita de cabelos cor de fogo – ela riu alto e eu me virei para trás; ela voltava ao grupo de amigos dela e lá estava Christian me encarando por rabo de olho e um dos caras me olhando maliciosamente – Nos vemos hoje no grupo de apoio – ela berrou; era uma dos adolescentes do grupo de “ex-depressivos” do qual freqüento e pude ver Christian dando uma risadinha torta, me virei e fui para sala. Para mim, mais do que para o resto do mundo; era fácil lidar com humores variados, era simples: somente ignorar. As aulas passaram demoradamente tediosas e quando o sinal bateu praticamente voei ate meu carro. Sai do estacionamento lentamente e coloquei o pé no acelerador quando peguei a estrada, cheguei em casa 
e Isabelle já estava pronta, vestia uma roupa que me parecia mais uma guia turística de filmes infantis.
- Olá Dora a aventureira – sorri para ela puxando seu chapéu – A onde está a mamãe? – perguntei subindo as escadas.
- Dormindo ainda. E eu sou indiana Jones! – resmungou se jogando em um dos puffs da sala. Entrei no meu quarto e abri a cortina, joguei minha mochila sobre a cama e depois fui ao quarto da minha mãe. Bati duas vezes e entrei, ela estava sentada na cama, com uma xícara de chá nas mãos e uma cara de ressaca.
- Eu e Isabelle estamos indo para tia Caty, você vai sobreviver sozinha? – falei parada na porta do quarto, o cheiro de bebida que o mesmo exalava me dava enjôo. Era um quarto grande, o maior da casa, o papel de parede floral já desbotado e manchado, os móveis brancos igualmente aos do quarto de Isabelle, todos acabados e lascados.
- Será que vocês não podem parar um dia em casa? – Ela falou, a voz saiu fraca e irritadiça.
- Ficar em casa enquanto você se acaba nas bebidas? Não obrigada, prefiro levar minha irmã para um lugar menos hostil – Falei sarcástica. - Eu ainda sou sua mãe Caroline, você me deve respeito – ela tentou, falhamente aumentar o tom de voz.
- Não estou te tirando o respeito, apenas avisando que estou saindo com Isabelle e depois vou para o grupo de apoio o qual você me obriga a freqüentar, tia Caty trás Belle mais tarde – peguei na maçaneta da porta para fecha - lá.
- Tome cuidado – ouvi a voz fraca dela antes de bater a porta, desci as escadas correndo e gritei para Belle que saiu da cozinha comendo bolacha. - Podemos ir ao McDonalds? – perguntou de boca cheia.
- Deixa a tia Caty ouvir isso... – falei empurrando ela pra fora de casa e fechando porta.
- Eu amo a tia Caty, mas eu odeio as comidas que ela vende, eca – fez uma careta enquanto entrava no banco de passageiro e colocava o cinto.
- As comidas do restaurante dela são saudáveis e é o que nós precisamos comer – liguei o carro. - Você só fala isso porque trabalha lá isso se chama “puxar-saco”- ela me mostrou a língua. - A onde você aprende essas palavras ein mocinha? – ri e puxei a orelha dela. - Ai – resmungou. 
Quando chegamos, eu estacionei o carro e entramos na grande lanchonete da rodovia, que dizia “coma saudável, viva saudável”. Isabelle correu para a cozinha a onde tia Caty estava cozinhando.
- Tia Caty, não se encoste a essa falsa, ela queria no ao McDonalds – falei rindo e Isabelle começou a dizer que era mentira. Peguei meu avental e fui para o meu turno no caixa. Isso não era bem um trabalho, tia Caty fingia que sim, só para podermos ficar aqui sem o meu constrangimento de estar atrapalhando. Ela abriu outro caixa para que eu pudesse fazer algo de útil enquanto Isabelle brincava pelo restaurante e até ajudava a atender de vez em quando. Ela era uma mulher extremamente amável e carregava um fardo que não era seu nas costas: eu e Isabelle. O entra e sai de clientes da lanchonete estava grande, mesmo nos dias de hoje alguns adolescentes ainda gostam de comida natural.

- Tia Caty – falei enquanto fechava meu caixa – Tô indo ta? – o relógio marcava seis horas, a sessão do grupo começava às seis horas, mas eu sempre dispensava a embolação do começo. No grupo de apoio, que era parte do hospital da cidade, nós vamos duas vezes à semana para as “aulas”, “sessões” ou como eles costumam chamar “conversa amigável com gente experiente”. Pois é, você não pode simplesmente sair do grupo de apoio, não é como um curso do qual você se forma e pode seguir em frente, na maioria dos casos é: você sai porque seus pais te tiram ou porque você se rebela contra. Eu não tenho nada contra o grupo de apoio, ele realmente me ajudou no começo, mas agora eu já sabia fingir muito bem e só tinha que agüentar e algumas vezes ajudar alguns jovens depressivos ou problemáticos; como eu sou uma das pacientes mais velhas de tal, tenho a obrigação de nunca faltar, ou talvez porque se eu o fizer minha mãe será avisada e eu vou me encrencar. Estacionei o meu fusca e subi a longa e estreita escadaria para o galpão do lado da igreja; sim, isso é um grupo religioso. Fazem parte do corpo docente do grupo de apoio: Pastor Simon e a doutora Andrea e claro nós, os problemáticos. Quando cheguei ao topo da escada, avistei meu lugar de sempre, a cadeira ao lado da grande janela que sempre ficava aberta com a brisa quente das noites da cidade e onde eu podia ver crianças voltando da escola. Na maioria das reuniões éramos eu, o pastor, a doutora, Clarissa, seu namorado problemático, um senhor de meia idade e uma garota gordinha estranha, da qual eu nunca lembrava o nome. E claro, os novos visitantes. Clarissa era linda e o que todos os garotos da escola gostavam; só que se relacionava com as pessoas erradas, era filha de um renomado medico da cidade, mas namorava um dos delinqüentes do local, ela só freqüentava o grupo de apoio porque já tentou se matar, graças ao seu namorado a quem jura amor eterno e ele... Bom, porque é um cara cheio de problemas psicológicos. O senhor de idade vinha enfrentando uma depressão depois de sua mulher ter falecido e a garota gordinha, era uma fofa de cabelos loiros e olhos azuis e ela tinha problemas como sofrer bullyng na escola. As reuniões sempre enchiam, até gente de outras cidades vinham, mas nós; éramos os membros de sempre. Sentei-me no lugar de sempre e cumprimentei a garota gordinha. Eles logo iam começar, o lugar estava cheio e o pastor estava indo para o centro da pequena sala. Isso é o que se pode chamar de um culto de auto-ajuda. Mas, assim que ele começou a falar a porta se abriu e lá estava o garoto novo da escola: Christian. Clarissa gritou para que ele se sentasse com ela e o seu namorado. Ele foi sorrindo tímido. Os seus olhos percorreram pela sala e pararam quando encontraram os meus. Espanto; foi isso que eu pude sentir olhando em seus olhos e então desviei o olhar. E a sessão se passou como todas as outras se ouviram os depoimentos de algumas pessoas e algumas horas depois estávamos todos em pé tomando o habitual “cafezinho”. Pastor Simon estava em um canto conversando com Christhian e no momento que eu olhei para eles, o mesmo me chamou, andei até eles com os olhos baixos. Droga! O que eu fiz pra merecer isso?
- Pastor Simon – cumprimentei segurando sua mão.
- Caroline quero lhe apresentar Christhian Mulek. Ele se mudou essa semana com a mãe e a irmã para uma casa a duas ruas da sua – Ele sorriu olhando para Christhian.
- Já nós conhecemos hoje na escola – fiz um esforço mental para não gaguejar nas palavras.
- A é, a menina dos fones – Ele sorriu.
- Mas que ótimo que já se conhecem. Caroline preciso de um enorme favor; você pode ajudar Christhian a preencher o formulário dele, por favor – O pastor pediu me entregando o formulário e uma caneta – Será de enorme ajuda, pois tenho algumas coisas para resolver.
- Claro pastor – sorri amarelo e o pastor se virou para a porta de saída, a sala já não estava mais tão cheia – Por favor, por aqui – falei indicando o caminho do escritório e Christhian foi atrás de mim. Sentei-me na mesa do pastor e ele sentou na cadeira da frente – Nome completo, por favor. 

- Christhian Mulek Maltez – falou com sua voz suave.
- Idade – falei enquanto anotava o nome no computador, com uma duvida se Maltez se escrevia com s ou z, resolvi colocar z ao final das contas.
- 16 – pude ver um sorriso torto em seus lábios – Você vai me responder as mesmas perguntas depois ou o que? – ele colocou os pés em cima da mesa.
- Sinto lhe informar que não e seria muito gentil da sua parte tirar os pés de cima da mesa, por favor – falei rapidamente, eu já tinha feito aquilo muitas vezes, o pastor sempre me fazia anotar os nomes dos novos membros, talvez porque confiasse em mim e por eu saber mexer em tudo. Ou por pura esperança de que um dia eu vire amiga de alguém – Preciso do seu telefone também.
- Você vai me ligar depois? – ele sorriu sacana, tirando os pés de cima da mesa. Ainda usava a mesma roupa, só que agora existia uma jaqueta xadrez vermelha pro cima da blusa. Eu revirei os olhos – 587432 – falou rápido demais, mas eu consegui anotar – Você é filha do pastor, ou algo parecido? – perguntou, agora 
brincando com um pequeno globo terrestre que havia em cima da mesa.
- Não, sou só um membro do grupo – falei enquanto anotava algumas informações do próprio grupo. Depois mandei o formulário para ser impresso e ele acabar de preencher as perguntas pessoais.
- Você não tem cara de quem tem problemas com depressão – Falou, no mesmo instante quase deixou o globo de cristal cair, mais foi agiu e o pegou antes que tocasse o chão. - Você não tem cara de quem realmente se importa – Fui sarcástica.
- Aparências enganam – ele deu um sorriso sínico.
- Digo o mesmo. Bom, agora o resto é com você – retirei o formulário da impressora e o entreguei para ele, com uma caneta.
- Será que você não pode me ajudar com o resto? – ele perguntou enquanto eu levantava – Eu acho que olhar pra você me fez esquecer até quem eu sou.
- É só ler, está anotado ai – Sorri puxando a porta. - Posso saber ao menos sua graça? – Se levantou e foi para a porta, me impedindo de abrir a mesma.
- Caroline – Falei rápido e ele fechou a cara – Frayman – bufei e completei o nome e então ele tirou a mão da porta – Estarei esperando no corredor – Falei séria – E é bom que não quebre nada daqui de dentro – Bati a porta. Dez minutos depois ele saiu com o formulário na mão.
- Você não fugiu! – ele fingiu espanto, me entregando o formulário enquanto eu tirava os fones – O que ta ouvindo? – puxou meus fones – Olha Aerosmith. A bonequinha de porcelana tem bom gosto musical – ele falou enquanto eu me levantada. - Quem disse que não se deve julgar pelas aparências? – Falei puxando meu fone de volta.
- Ninguém. Eu só disse que elas enganam.
- Pois bem, eu acabei de dizer – falei e voltei para a sala, só havia a doutora Andrea, entreguei o formulário para ela e me despedi, com Christhian vindo logo atrás de mim, chegando ao estacionamento só havia meu carro. - Como você vai embora? – perguntei por nada. - Andando e você princesa? A mamãe vai vir buscar? – perguntou debochado. 

- De carro – balancei minhas chaves – Se não for muito para o mero plebeu eu posso te dar uma carona – Sorri sínica para a cara de babaca que ele ficou. Mesmo na pouca luz em que estávamos ele parecia e era lindo.
- Só vou aceitar porque to sem meu automóvel – Ele falou abrindo a porta do banco de passageiro.
- Você quer dizer seu skate – Gargalhei auto. - Além de riquinha é esnobe? – falou colocando a mão no painel e ligando o som.
- Não sou riquinha e muito menos esnobe, só não curto skates. Quer dizer, quando eu era pequena eu tinha uma queda por skatistas, mas isso é passado – falei rápido demais, até pro meu entender.
- Quando era pequena, sei – ele sorriu torto, acho que isso é uma mania; pois nem eu reviro tantos os olhos – que é minha mania – como ele sorri torto. Ele tinha um que estranho, parecia superior; mas lá no fundo dos olhos transparentes dele, parecia haver tristeza, eram olhos de quem já sofreu muito na vida – E então, você vai me contar o que fez para entrar no grupo de apoio ou não? – ele me tirou do meu transe particular.
- Sinto lhe dizer que não – falei sério, mas meio descontraída. Os olhos fixos na estrada, qualquer desvio para olhar pra ele e eu me via perdida na minha imaginação, me perguntando o que esse menino já passou na vida.
- Poxa, precisamos mais do que um formulário e uma carona pra você compartilhar as dores da sua vida 
comigo? – se fingiu de chateado e bufou; enquanto eu parava no começo da rua dele; a qual o pastor tinha falado – Vejo que só arranjei amigos chatos – falou em um tom de brincadeira saindo do carro.
- Ei Christhian, esqueceu seu casaco – falei quando ele já tinha virado; ele voltou para pegar – E a propósito, não somos nem vamos ser amigos. Eu não ando com gente que fuma – falei e pisei fundo no acelerador; olhei para trás pelo retrovisor e o vi parado no mesmo lugar, sorrindo torto. Eram exatas duas ruas da minha casa, eu não vi em que casa ele entrou, pouco me importava. Minha rua, a rua das grandes mini mansões da cidade, era quase inabitada; minha casa, o ultimo casarão da rua, 
estacionei meu fusca ao lado do carro da minha mãe e entrei em casa. Isabelle estava no sofá assistindo “E o vento levou” e comendo panquecas; o cheiro estava bom. Entrei na cozinha esperando encontrar tia Caty, mas era minha mãe quem estava lá. - Vinte minutos atrasada, liguei no seu celular e você não atendeu – Ela falou se virando para mim, o bafo de álcool exalando – Suas panquecas esfriaram – falou dando um gole na sua grande taça de vinho, ela já não estava sóbria.
- Desculpe; meu celular fica desligado quando estou nas sessões. E eu demorei porque o pastor Simon me pediu para cadastrar um menino novo... Você sabe, coisa que só quem freqüenta o local há muito tempo pode fazer – Sorri amarelo.
- Não reclame – Ela deu outra golada e se virou para o forno microondas e tirou de lá dentro minhas panquecas – Com mel, como você ama – E as colocou na bancada a minha frente – Eu sei que apesar dos pesares, você gosta e precisa do grupo – ela enfatizou o precisa – Mas essa explicação compensa por dez minutos e os outros dez?
- Mãe – revirei os olhos, era entediante a mania que ela tinha de cronometrar o tempo – Eu dei carona para o menino novo. - Caroline Frayman! O que eu disse sobre dar carona a estranhos? – Ela bateu a taça forte na bancada – Você não houve nada do que eu te digo mesmo? – Ela aumentou o tom de voz.
- Ele não é um estranho, nós nos conhecemos hoje na escola. - Nossa! Quanto tempo vocês se conhecem; amigos de infância não? – ela jogou as mãos para o alto – Se ele tivesse feito alguma coisa com você Caroline. Você não consegue usar o cérebro? O que eu faria se... - Não é como se você nunca tivesse deixado coisas ruins acontecerem comigo – Falei a cortando no meio de sua frase e empurrando as panquecas – Perdi meu apetite – Levantei bruscamente da cadeira e subi as escadas correndo com ela berrando meu nome atrás de mim, bati a porta do quarto e a ouvi subindo as escadas.
- Sua ingrata! Minha vida acabou por sua culpa e você ainda vem me culpar? Seu monstrinho – ela berrava batendo na porta, típico. Tirei a sapatilha e comecei a tirar minha roupa, liguei as torneiras da banheira e jogueis os sais de banho lá dentro, enquanto ia pegar um roupão. Um banho de banheira era tudo que eu precisava. Sentei na banheira e a esperei encher, quando já estava cheia; fechei as torneiras e fechei os olhos. Acordei um tempo depois e vesti o roupão. O relógio em cima do criado mudo marcava 02h00min da manhã, a casa lá embaixo estava em silencio absoluto, abri a porta do quarto e desci as escadas devagar, a TV ainda estava ligada; agora no mudo e Isabelle jogada no sofá dormindo, recolhi os lixos das embalagens do chão e fui jogar no lixo da cozinha. E lá estava minha mãe, sentada na cadeira e com o tronco e os braços em cima da mesa de centro. Desprezível. Joguei os lixos e as suas garrafas de bebidas no cesto e voltei para pegar Isabelle, levei-a nos braços com dificuldade para o quarto; subir escadas já era algo difícil para minha falta de coordenação, carregando alguém então... Cheguei ao topo da escada, com a respiração alta e Isabelle já estava arriscando acordar, chutei a porta do seu quarto e a levei até a cama. - Boa noite princesa – dei um beijo em sua testa e voltei para o meu quarto, trancando a porta. 
Acordei atrasada, vesti um short de cintura alta vermelho e uma blusa azul de alcinha, achei a mesma sapatilha azul de ontem e voei para o carro. Fome. Era tudo o que se passava pela minha cabeça e me lembrei que no dia anterior tudo que eu tinha comido se resumia ao cupcake no intervalo da escola. Estacionei o carro na mesma vaga, assisti às aulas e só pensava em comer algo no intervalo. O sinal demorou séculos para bater, quando tocou fui às pressas para a cantina; comprei um sanduíche natural e fui me sentar no jardim. Eu nunca sentia muita fome, mas comi aquele sanduíche como se fosse a ultima coisa da minha vida; enquanto tomava o suco que eu também tinha comprado, me xinguei por não ter pego um casaco, deixando meus braços mutilados a mostra – Droga – falei baixinho, se alguém visse aquilo seria meu fim. Automutilação era um habito qual eu nunca tinha conseguido abandonar.
- Bonitas cicatrizes – Ele deu um pulo para o meu lado e eu soltei um grito ridiculamente alto e desnecessário, ele riu se sentando ao meu lado no chão. - Não tem graça – puxei meu braço para o meu abdômen, apertando com força, senti uma onda de enjôo com o pensamento dele falando isso pra alguém – Se você contar isso pra alguém – tentei olhar pra ele ameaçadoramente.
- Relaxa caixinha de fósforo, eu não sou uma garota loira de peitos grandes e fofoqueira – Ele me sorriu – E eu não entregaria alguém por fazer arte.
- Arte? – Perguntei confusa e ao mesmo tempo brava pelo novo apelido que ele tinha me dado.
- Toda modificação em seu próprio corpo é uma forma de expressar arte, eu vejo cada corpo com uma tela, se a sua é suja de sangue, o problema é completamente teu – Ele puxou meu braço com força, passando os dedos quentes levemente pelos meus machucados – Até que combina com você.
- Sobre a garota loira de peitos grandes, você deveria estar falando assim dela? Não que eu saiba muito sobre amizades, mas acho que não são assim que amigos se tratam – Sorri sínica, puxei meu braço, tudo que eu menos precisava era todo mundo vendo o estranho fazendo carinho no meu braço, não que eu chame aquilo de carinho. - E quem disse que ela é minha amiga? – Ele fez a coisa que mais me irritava no mundo, responder uma pergunta com outra.
- Você – retruquei.
- Você tem uma mania de colocar palavras na minha boca não? Ela não é minha amiga, eu não ando com gente que fuma – Ele sorriu me olhando nos olhos, aquilo era um sorriso irônico ou sínico? - E você tem uma mania insolente de roubar as minhas idéias – falei firme – Você ao menos sabe por que eu não ando com gente que fuma você precisa se interar mais de uma religião antes de fazer parte dela.
- Isso é uma religião? Tipo uma seita satânica? – Ele falou fingido e fazendo um sinal de cruz com a mão, ele diferente de mim, estava sentada de uma forma desleixada, sua postura não estava ereta como a minha. - Não seja estúpido – revirei os olhos – E você ao menos tem um motivo pra não andar com gente que fuma.
- Não mesmo, mas achei que minha nova amiga da religião anti-fumante pudesse me explicar – Ele sorriu novamente, isso estava ficando irritante. O que uma pessoa tão feliz estava fazendo no grupo de apoio? - São assuntos particulares – Retruquei rápido. - Você é muito particular – Ele me retrucou mais rápido ainda – Deveria ir para uma ilha e se isolar do mundo. Lá não teria a quem ferir os sentimentos recusando uma amizade.
- Não seja falso – eu ri alto. - Eu, diferente de você; sou verdadeiro todas as horas do dia – Ele puxou meu braço – Não me tranco no banheiro para expressar a vergonha e a dor que escondo durante o dia. - Não fale do que você não sabe – puxei o braço de volta, esse vai e vem de tal estava ficando cansativo.
- Você não me deixa saber de nada, pressupõe-se que eu terei que tirar minhas próprias conclusões – Ele se levantou e limpou a parte de trás da bermuda preta que usava. Eu que estava assustada demais com aquelas palavras diferentes fiquei sentada, quieta... Ele tinha tocado em uma ferida, sobre a minha falsa felicidade, ele não tinha esse direito. Eu não sabia muito sobre palavras, ou como adolescente se relacionam, afinal para uma garota de dezesseis anos, eu sou bem incomum; eu não tenho um grupo de amizade, nem saio aos finais de semana e as únicas pessoas da minha idade com as qual me relaciono já tentaram se matar pelo menos uma vez. Mesmo não sabendo muito sobre pessoas, sabia que elas não deveriam se deixar transparecer assim, tão rude, com palavras tão cruéis. Passei todas as restantes aulas na eterna duvida de se as pessoas eram mesmo daquele jeito, na sua maioria ou se Christian era mesmo um ignorante.


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Notas finais do capítulo

Bom; não há muito o que falar, ainda está sem capa pois a minha vontade de postar foi repentina, é uma historia original, isso já sabem... E bom, espero que me saia bem com isto xD