Respirei fundo e liguei para Naruto. Eu estou tremendo neste momento... São 04:00 horas da manhã, e se ele não for como eu, que tem insônia e estiver dormindo? E se ele nem me atender? Deus do céu, eu deveria mesmo era ter ido falar com a minha mãe primeiro! Mas não, eu fui ligar para ele. Porquê eu fiz isso primeiro? É óbvio, eu quero saber se ele vai para a escola, se está bem, se não fez nada de errado... Oh, Deus, ele atendeu!

–– Você não dorme mesmo, hein, pequena? –– ele pergunta rindo, e sua voz não tem sinal algum de sono ou algo assim.

–– Para eu não dormir, basta pensar em algo ou alguém. –– digo e me arrependo dois segundos depois por ter dito isso, porquê dessa frase inteira, apenas a palavra “eu” saiu sem que eu começasse a guaguejar.

–– E pensou no quê? –– ele pergunta e ouço o barulho de um chuveiro sendo ligado.

–– Em você. –– respondo sorrindo para a parede a minha frente, e o assunto acaba. –– Me desculpe perguntar, mas você vai tomar banho em uma hora dessas?

–– Aham. Acredite, é melhor. –– ele diz e fecha o chuveiro porquê percebeu que estava fazendo muito barulho. –– Me desculpe perguntar também, mas você quer tomar banho comigo?

Sou tão surpreendida com essa pergunta que até consigo cair da cama. Meus pais acabaram de gritar para que eu pare de fazer tanto barulho, e acho que sequer tem noção de quantas horas são, ou me mandariam dormir e não isso. Sento na minha cama de novo com o maior cuidado, e Naruto está rindo escandalosamente assim como Gaara do outro lado da linha.

–– Obrigada, só que não! Eu também tenho um chuveiro na minha casa. –– informo o mais rápido que consigo e acabo rindo de mim mesma.

–– E se ele estragasse? –– Naruto pergunta e quero muito responder que iria para a casa dele, mas sei que isso é errado. Muito errado.

–– Eu tomaria banho de mangueira, então. E pare de graçinhas para cima de mim, rapazinho! –– digo tentando não falar tão alto. Naruto ri de novo. –– Então, você está bem?

–– Sim, e você?

–– Estou também. Mas, assim, se você por acaso não estiver bem ou estiver se sentindo sozinho e essas coisas, eu posso ir aí na sua casa, viu? É só me ligar, estou sempre disponível. –– digo sorrindo e levantando as sobrancelhas, imaginando o que ele vai responder.

–– “Sempre disponível”, é? –– ele pergunta de volta e percebo o quanto isso também saiu idiota.

–– Não nesse sentido que está pensando! –– trato de dizer o mais rápido que posso e tapo a boca com a mão de tanto rir. –– Mas, enfim, você me entendeu, não é?

–– Entendi sim. –– ele responde, e ficamos em silêncio de novo.

Essa é a maior prova de que Naruto ainda gosta de mim e se importa comigo, apesar dos problemas. Eu sei que pode ter um dia em que ele acorde e não se lembre mais de que eu sou, mas também acho que isso é impossivel.

–– Ansiosa para ir lá para a fazenda? –– ele pergunta do nada, o que me assusta por ter sido pega de surpresa.

–– Muito! Morrendo de vontade que a semana passe rápido, mas parece que ela parou no tempo. –– respondo sendo sincera, porquê hoje ainda é quarta!

–– Vou ter que desligar, pra tomar banho. –– ele avisa e estou à ponto de fazer isso primeiro quando Naruto berra para eu esperar. –– Tenten te falou sobre o ensaio?

–– Falou sim... E não se preocupe, pois eu estarei lá. –– respondo e aviso bem rápido depois de um tempo e ouço Naruto dizer, mesmo que baixinho, “ainda bem”.

–– Leve o Gaara, se puder.

–– Ah não, não! Ele vai estar indo comigo no shopping com a Tenten depois do ensaio e já está uma fera, imagine se eu o arrastar para outro lugar então... –– digo e acabo meio que bufando.

–– Tá bom. Eu entendo. Ele é assim mesmo. –– ele diz e percebo que está perto de desligar. E a sensação de estar sozinha me atinge de novo. –– Talvez eu vá na escola hoje, assim, não só para fazer o ensaio... Até mais tarde, pequena.

–– Até. –– digo e então desligo.

É incrível, simplesmente incrível como Naruto consegue me fazer rir em uma hora como essas... E o mais estranho é que eu sempre acabo me sentindo infeliz quando ele vai embora, e sempre tinha aquela voz na minha cabeça dizendo para que eu pedisse para ele ficar mais um pouco, assim como também tinha outra que berrava e eu não estava mais a agüentando –– “Eu amo você!”. Me jogo na minha cama e fico olhando para o teto. Espero que se passem pelo menos mais uma hora para ir até o quarto dos meus pais, e quando chego lá, os dois já estão arrumadinhos.

–– Ah, querida! Eu estava aqui contando tudo que é azul, quer me ajudar? –– minha mãe pergunta e acabo rindo com isso, porquê ela inventa muitas coisas estranhas para se fazer.

–– Eu adoraria... Mentira, eu não adoraria. Mas obrigada. Vim conversar com você porquê soube que está emburrada comigo. –– digo me sentando na cama e ela olha para o banheiro, exatamente onde o meu pai está encostado fazendo o melhor que pode para não começar a rir.

–– Você mudou completamente a conversa, querido. –– ela diz para ele, e meio que entendi que meu pai está ferrado. –– Qual o motivo que eu ainda não sei?

–– A psicóloga.

–– Não era isso! A verdade é que estou preocupada com a psicóloga também, mas principalmente com você mudando de namorado praticamente a cada segundo, Sakura. Kiba era um bom namorado, você sabia que eu gostava dele, e agora você muda do nada para alguém que eu nunca vi. –– ela explicava ainda anotando sobre tudo que é azul, e sorrindo para si mesma. –– Então, como vou poder confiar que ele era tão bom, educado e gentil com você como Kiba era?

–– Eu não entendo você, sério. Quando eu estava trancafiada dentro do meu quarto, você reclamava que eu não saía de lá, e tudo o mais. E agora que eu estou tentando ser social, você continua reclamando, mãe! –– retruco quase gritando e percebo que preciso diminuir o tom.

–– Eu posso pelo menos saber o nome dele que até agora ninguém fez o favor de me dizer? –– ela pergunta me olhando dessa vez. Ela continua emburrada.

–– Gaara Sabaku. E não precisa se preocupar, pois ele é um ótimo namorado. –– respondo e ainda acrescento, porquê não gosto mesmo que desconfiem de Gaara assim.

–– E como tem tanta certeza de que ele é sincero com você? –– ela pergunta de novo e me levanto.

–– Olha mãe, ele pode estar sendo falso e você ser certa, tudo bem, eu já entendi! Mas eu tenho tanta certeza porquê ele se parece com o Sasori. –– respondo andando pro lado do meu pai, rezando para que ele pudesse me dar uma ajuda, por mais que pequena que fosse.

–– É , isso é verdade. –– ele concorda e suspiro aliviada.

–– Enfim, eu tenho que ir hoje ver um ensaio fotográfico que o Naruto vai fazer para a escola e depois vou com a Tenten no shopping para tentar ajudar ela a escolher um sapato. Gaara também vai. –– aviso e ela levanta uma sobrancelha e olha para o lado.

–– Você vai voltar para trocar de roupa? Eu e seu pai não vamos ficar em casa hoje à tarde. –– ela avisa de volta e me encho de esperanças de que posso chamar Naruto para vir aqui.

–– Não, não. Eu vou colocar uma debaixo da blusa de frio agora. –– respondo e sorrio para ela. –– Posso trazer o Gaara aqui depois?

Minha mãe levanta uma sobrancelha de novo, e por um segundo me lembro perfeitamente de Temari, então ela ranca a folhinha com o número de quantas coisas são azuis no quarto e coloca dentro da bolsa, e quase como se eu já soubesse disso, ela diz:

–– Não.

–– Escuta, mãe: não vamos fazer nada e ele é da minha... –– começo, mas ela faz um sinal rápido com uma das mãos e me calo no mesmo segundo.

–– Ainda não estou convencida.

–– Mas você estava aqui ontem quando ele me buscou, e não disse nada.

–– Não, eu não estava aqui. E que história é essa de um garoto entrar aqui sem que eu deixe? –– ela pergunta e dou graças à Deus por meu pai não ter tocado no assunto de que Naruto já tinha ficado aqui.

–– Enfim, Gaara é um bom rapaz, eu acho... Enfim de novo, vá se arrumar, Sakura. –– ele diz e confirmo com a cabeça.

Saio do quarto dos meus pais e vou direto para o banheiro. Estou agora imaginando com que cara ficarei quando o ensaio de Naruto e Hinata começar. Provavelmente, ela vai estar aquela perfeição, com uma cara de quem dormiu pouco, mas que continua de bem com a vida –– coisa totalmente diferente comigo. Eu acho que quando ela começar a fazer algo que me provoque ciúmes, posso inventar que estou passando mal ou que Gaara está me ligando, e deixar Tenten sozinha por lá. Deus do céu, porquê esse maldito ensaio não poderia ser com qualquer outra garota? Fiquei impressionada sim quando Tenten me disse que eu era quem iria tirar as fotos com ele, porquê eu achava que ninguém além dele, e dela, Gaara e Kiba sabiam da minha existência. Também acho que seria ótimo se eu tirasse algumas fotos com ele, ou eu poderia tirar apenas dele... Sou interrompida pelos meus pensamentos quando acabo batendo o braço no chuveiro e o engraçadinho me dá um choque. Sou obrigada a controlar um grito, mais por causa do susto.

–– Mãe! Será que pode fazer uma trança no meu cabelo hoje, por favor? –– pergunto desesperada depois de ter colocado a blusa de frio extra e arrumar minha mochila.

–– Hum... Não. –– ela responde e vira o rosto.

–– Cruzes... Que mãe desnaturada... –– meu pai diz e nós três rimos juntos.

–– Só vou fazer dessa vez porquê estou de bom humor, mas não se acostume. –– ela diz e me sento no sofá para que ela faça.

Ela faz uma trança raiz, a que eu amo de paixão! São aquelas que prendem o seu cabelo todo, e no meu caso como não tenho franja, é tudo mesmo. Gosto de deixá-la para trás, mas o meu pai está nesse segundo a colocando no meu ombro, porquê ele diz que eu fico mais “bonitinha”. Balanço a cabeça e acabo rindo, e mais alguns segundos depois, estou dentro do carro da minha mãe presenciando uma briga entre os dois. Eu sinceramente não gosto que eles façam isso enquanto um dirige, porquê sei como a minha mãe é, e se ela decidir discutir e ao mesmo tempo ficar com as mãos para o alto, sinto que vamos acabar morrendo um dia ou outro... Agradeço pela “carona” quando chego na porta da escola e imploro para que eles não discutissem mais, e eles vão embora.

Hoje eu acabei perdendo um pouco a hora, por isso corro para o meu armário para pegar os livros que preciso para a primeira aula. E para a minha infelicidade, quando o fecho, Kiba aparece na minha frente tentando sorrir para mim. Me viro no mesmo instante, mas ele fica na minha frente.

–– Eu queria falar com você. É sobre a Hinata. –– ele diz e isso soa tão ridículo que reviro os olhos.

–– O que quer falar? Ah, espere! Deixe-me adivinhar... Com certeza é mais alguns dos meus segredos para que ela conte para toda a escola de novo, não é? –– ironizo a frase toda, e não, eu não estou sendo mal educada ou essas coisas, acredite.

–– Dói ver você falando assim comigo, Sakura. Não é fácil para mim ficar longe de você. –– ele retruca e preciso dar uma risada, tentando sacar se ele disse isso mesmo.

–– E esperava o que depois de ter feito aquilo? Que eu voltaria a falar com você, assim, numa boa? Você, Kiba Inuzuka, a quem dei a minha confiança e contei o maior segredo que tinha guardado! E sou uma completa idiota por isso. –– digo, tentando não gritar. –– Enfim, pouco importa. Agora, eu tenho que ir.

–– Você ainda gosta de mim? –– Kiba ergue as sobrancelhas de um jeito triste e preciso buscar paciência até onde eu nem sabia que existia dentro de mim.

–– Como amigo, sim. –– respondo apertando a alça da mochila.

–– Tem como me dar outra chance?

A resposta vem na minha cabeça quase um segundo depois.

–– Não. –– E depois de dizer isso, eu sigo, o deixando parado para trás. Eu queria muito perdoá-lo e esquecer, mas infelizmente não sou desse tipo. Mentira, eu até que sou, mas uma coisa como a que Kiba fez, não é algo que eu vá esquecer e perdoar assim tão rápido. Talvez algum dia ainda vamos nos falar de novo.

Mas o que me incomoda agora é que ele queria falar da Hinata, e eu não deixei. O que será que era? Algo que ela vai fazer comigo outra vez? E me lembrando sobre as fotos mutiladas, eu ainda não sei como meus pais ainda não sabem. Bem, Tsunade não estava na hora do showzinho e quanto mais uma pessoa é humilhada, mais as outras gostam. Então, eu acho que provavalmente eles nunca saberão; ou, pelo menos, não por mim. Assim como personagens de livros fazem, balanço a cabeça para tentar espantar esses pensamentos e quando chego na minha sala, vejo Gaara escrevendo. Sorrio com a cena mas minha expressão se torna séria quando percebo como ele está; Gaara parece estar tremendo, e seu rosto está machucado. Tem alguma coisa errada aí.

–– Olhe para mim. –– ordeno quando me sento. Depois que ele entrou, conseguiu convencer que Kurenai o mudasse de lugar, e eu me livrei da pessoa que ficava puxando o meu cabelo.

–– O que foi? –– ele pergunta de volta, ainda concentrado na escrita.

–– Não se faça de burro comigo! Olhe para mim. –– repito e ergo seu queixo. O corte que antes me parecia apenas um arranhãozinho, agora se tornou algo um pouco sério.

–– Eu não me faço de burro com ninguém. –– ele diz abaixando o meu braço de uma forma gentil. –– Pode ficar em silêncio por um instante, por favor? Atrapalhou a minha concentração.

Confesso que isso me deixou um pouco surpresa, porquê ele nunca tinha falado assim comigo... Mas não demonstro isso e continuo tentando chamar a atenção.

–– Foi o seu pai, não foi? –– pergunto e meu olhar bate no caderno; só então percebo que ele não tinha escrito nada. Na verdade, até tinha, mas apagou logo em seguida.

–– O que você acha? –– ele ergue o rosto dessa vez. –– Bem, o papai acha que eu não sou o namorado perfeito.

–– Mas você é! –– retruco indignada com o que acabei de ouvir, porquê provavalmente grande maioria da escola queria ser eu nesse momento. –– E porquê ele acha isso?

–– Por não aceitar um filho que não seja perfeito, talvez? –– Gaara pergunta de volta e percebo que ele está com vontade de chorar. –– Sabe como isso? Nunca ser suficiente o bastante? Então, é isso o que eu sou. Se eu pudesse escolher entre voltar para casa no final do dia ou morrer, a segunda opção seria a minha resposta.

Mesmo que meio sem jeito, e quase batendo a perna em tudo, eu me levanto e o abraço. Já era para a aula ter começado, mas nenhum professor ainda apareceu, e quando isso acontece, todo mundo sempre sai da sala para ficar passeando pela escola –– coisa que eu até hoje nunca achei graça ou sentido. Dói ficar desse jeito , por isso me sento em seu colo. Eu nunca tinha feito isso na minha vida, sério, e a única sensação que tenho ao o fazer é nada mais que proteção. Tenho certeza absoluta de que sequer passa pela cabeça de Gaara segunda intenções comigo embora as garotas continuam dando em cima do que ainda é meu.

–– Você com certeza é perfeito, e o seu pai é um idiota. –– sussurro em seu ouvido e ele sorri. –– Não fique assim não, tá? Mais tarde quando formos no shopping, prometo comprar um cuurativo colocarmos em seu rosto. –– Ele balança a cabeça afirmando. –– E um para a minha perna. –– penso.

–– Ei, Sakura! Eu estava vendo o site do shopping que a gente vai, e olha o que eu encontrei... –– Tenten entra na nossa sala praticamente gritando e fica muito sem graça quando vê nós dois daquele jeito. –– Oh, desculpe...

–– Não se preocupe com isso! E então, o que você encontrou? –– pergunto me virando, mas continuo no colo de Gaara, que encosta o queixo no meu ombro.

–– Estes novos sapatos aqui, mas eu acho que são muito altos para mim... O quê que você acha, Sakura? –– ela informa e pergunta tudo de uma vez, me entregando o celular para que eu possa ver. E para ser sincera, eu não aconselharia ninguém a comprar nenhum desses aqui.

–– Porquê não vai de tênis? –– Gaara pergunta, e nós duas nos viramos para encará-lo. –– É mil vezes mais confortável, e bem, você não precisa se preocupar se são altos ou não.

–– Não acho que seja uma má ideia... –– digo, colocando o celular na mão dela de novo. –– Lembra do baile? Então, eu vim de tênis e acredite, foi ótimo.

–– Eu sei e me lembro, sim. Só que... Tênis não combinam comigo, sabem? E eu sou muito baixinha! –– ela reclama e não sei mais o que dizer. –– Ah! Daqui a pouco a gente vai poder sair para ver o ensaio do Naruto, e eu arrumei um jeito de irmos embora mais cedo.

–– Tudo bem. –– digo somente balançando a cabeça. –– E não se preocupe sobre o sapato, Gaara vai junto e com certeza vai te ajudar. Não é, Gaara?

–– O que? Ah, é sim! Com certeza. –– ele responde desesperado, porquê até a este segundo esteve dormindo.

–– Ok! Encontro vocês logo. –– Tenten diz e sai da sala antes que eu possa dizer mais alguma coisa.

Começo a rir assim que percebo a cara que Gaara faz, porquê provavalmente, ajudar uma garota a escolher um sapato não estava na lista dele de o que fazer hoje à tarde. Olho para frente e encontro Naruto conversando com a professora Kurenai, o que me é estranho... Já estou no meu lugar de novo, e por causa do barulho, não entendo nada do que eles falam, mas vejo ele fazendo alguns sinais para cima e ela concorda. O que será que estavam falando? Será que é sobre alguma nova decoração da escola?

–– Parece que o chuveiro não estragou. –– Essa é a primeira coisa que ele diz quando se senta e vira para me encarar. Abaixo a cabeça, rindo. –– Vai mesmo pro meu ensaio?

–– Vou, sim. Não precisa se preocupar. E por favor, esqueça a história do chuveiro. –– digo o olhando dessa vez.

–– “Não precisa se preocupar”. Somos melhores amigos, e melhores amigos fazem brincadeiras uns com os outros, não é? –– ele pergunta e meu coração meio que dó um pouquinho, assim, só um pouquinho mesmo...

–– É claro. –– respondo sorrindo. –– Mas espere, onde está a Hinata que até agora ainda não a vi?

–– Está se arrumando. –– ele diz revirando os olhos. –– Sério, eu simplesmente não sei o que tem na cabeça dessas garotas de hoje em dia! Por mim, nenhuma usaria maquiagem, porquê assim, mostrariam a beleza natural, assim como você.

–– Eu sou horrível, cara! –– digo o mais baixo que consigo, porquê Kurenai hoje decidiu ficar me olhando de um jeito estranho.

–– No dia em que você for horrível, eu estarei grávido. –– Naruto brinca e acabo soltando uma risadinha pelo nariz. –– Hinata fez alguma coisa com você ultimamente?

–– Não... Porquê?

–– Porquê não precisa se preocupar mesmo quanto à isso. Logo vai acabar. Confia em mim. –– ele diz e fico pensando sobre a conversa com Kurenai. Será que eles estão tramando alguma coisa e não me disseram nada?

–– Ah, tá. Mas eu só espero que não esteja pensando em matar ela. –– brinco e ele sorri uma última vez antes de se virar para a frente de novo.

Fico pensando nisso as três aulas seguidas. Mas como assim, logo vai acabar? O que ele vai fazer? Será que vai contar para o pai dela? Só que se for assim, vamos precisar de provas, e até agora, que eu saiba, não temos nada. Sequer começamos a tentar destruir o poder de Hinata, e se as pessoas que ela já ameaçou ajudassem um pouco, seria melhor e mais fácil. Desperto somente quando Tenten aparece de novo me puxando pela mão, Gaara também vem atrás, e tudo o que consigo ouvir é:

–– Eu vou ter que passar na minha casa, mas tentarei ir no shopping. Caso eu não for, você sabe porquê.

Sim, eu sei porquê. E se o Gaara não estiver lá quando chegarmos, eu vou na casa dele e tenho certeza de que o pai dele não vai recusar que ele saia comigo; não se eu começar a chorar na frente dele.

Começo a me arrepender quando chego no estúdio. Naruto já está arrumadinho e vem me cumprimentar assim como faz com Tenten, e Hinata me lança um olhar de ódio e depois sorri de lado. É, eu sei que ela vai me provocar, mas também sei que Tenten também vai estar aqui e tentar me controlar. Nos sentamos em umas cadeiras que ficam um pouquinho perto de onde os dois estão, e cruzo os braços já tentando procurar paciência.

Paciência essa que some quando Hinata praticamente se joga no pescoço de Naruto, quando ela beija seu rosto, quando ele é a abraça por trás, e eu estou inquieta na cadeira. Tenten disse que ainda temos que ficar por um minuto, e eu não sei se vou agüentar. Mas eu agüento. Não sei como, mas agüento. Quando eles se aproximam de mim, coloco as duas mãos para trás para não acabar com a cara de Hinata ali mesmo. Ela continua com aquele sorrisinho idiota e Tenten sai correndo para tentar também tirar uma foto.

–– Então, como você acha que eu fui? –– Naruto pergunta, e tenho que pensar em que resposta dar.

–– Deus do céu, você foi incrível! Mas Hinata está lá e ela atrapalhou tudo... Sabia que era eu quem deveria estar tirando essas fotos com você? Pois bem, era, porquê esta criatura aí que está do seu lado ameaçou acabar com a nossa escola caso não fizesse as fotos com você. –– Isso é o que eu penso em dizer.

–– Tenho certeza de que ficaram lindas! –– E isso é o que eu digo.

–– Mas me parece óbvio que ficaram lindas, afinal, eu estava nelas, certo? –– Hinata diz e apenas ela acha graça da própria piada. –– Ah, Sakura! Vai ser aniversário do meu pai semana que vem, e eu estava pensando em te convidar. Quer ir?

–– Obrigada, mas... –– começo, mas sou interrompida com um gritinho que ela dá.

–– Não aceito não. Você vai, e leve seu namorado, porquê Naruto já vai comigo. –– ela informa e sinto que vou começar a chorar. –– Bem, agora eu vou ter que trocar de roupa. Até mais.

Nenhum de nós dois responde. Sinto vontade de correr para longe, e faria isso se Tenten não tivesse convencido o fotógrafo a ficar tirando fotos dela enquanto ela pula. Olho para Naruto esperando uma explicação.

–– Não vai falar nada? –– pergunto impaciente.

–– O que você quer que eu fale? Escuta: sair com a Hinata tem sido a melhor coisa que eu tenho feito, para assim poder ter a confiança dela e finalmente acabarmos com ela... Entende?

Olho para o teto por alguns segundos e depois para ele.

–– Ah, eu entendo! Só que enquanto você está aí fazendo essas coisas, ela está roubando você de mim! –– digo e me arrependo por isso. A única sorte é que Tenten já está do meu lado e eu saio com ela.

Passamos na casa dela para eu deixar a minha mochila lá e poder tirar o uniforrme, e então seguimos. O caminho para o shopping é um pouco longe e somos obrigadas a pegar um ônibus que a esse horário ainda está vazio, e eu tenho uma das maiores surpresas da minha vida: Ino está lá dentro. Quando Tenten vê ela, sai correndo e quase tropeça para abraçá-la, e parece que ela quer falar comigo também, mas não tem coragem.

–– Ah, Sakura! Esta aqui é a Ino, uma antiga amiga minha antes que mudasse de escola. –– Tenten apresenta a pessoa que um dia já fui capaz de chamar de melhor amiga e balanço a cabeça afirmando, pois não quero puxar assunto com ela.

O caminho todo fiquei olhando para Ino e Tenten conversando. Ela estava tão mudada. O cabelo estava mil vezes mais grande, e ela também tinha crescido um pouco... Quando chegamos no ponto para descermos, Ino me puxa de leve pelo braço, o que quase me faz entrar em pânico.

–– Preciso muito falar com você. É sobre a Hinata. E é sério. –– ela diz e olha bem nos meus olhos.

Fico alguns segundos olhando para todos os lados, e Tenten está me gritando lá fora. Então, digo rapidamente antes de sair corendo:

–– Você sabe o meu número.

Quando coloco os pés na calçada, mal a sinto. O que foi isso que acabei de ouvir e respondi? Porquê ela precisa falar muito comigo e sobre a Hinata? E será que eu posso confiar nela de novo? Não, com certeza não! Prometi a mim mesma que não iria cometer esse erro de novo, e não vou mesmo. Com certeza não. Com certeza não...

–– O que houve no ônibus? –– Tenten pergunta depois que entramos no shopping e ela compra algumas coisas para ela e um milk-shake para mim.

–– O meu pé ficou preso e aquela sua amiga me ajudou. –– minto olhando em volta e percebendo que Gaara ainda não tinha chegado. Mandei uma mensagem para ele a alguns segundos atrás e ele disse que iria vir, mas até agora nada. Estou começando a ficar preocupada.

–– Você ficou com ciúmes do Naruto, não foi? –– ela pergunta do nada e a olho surpresa com isso.

–– Não. Eu só acho que a Hinata não deveria ficar se esfregando nele daquele jeito. –– minto de novo, e acho que dessa vez ela sabe disso. –– Mas que porcaria, o Gaara não chega logo...

–– Oi. –– ele diz atrás de mim e me viro no mesmo segundo para encará-lo. –– Desculpe a demora.

–– Eu achei que você não viria mais. –– digo olhando bem para seu rosto. Sim, eu estou procurando se o pai dele o machucou de novo.

–– Eu também achei. Oh, milk-shake! –– ele quase grita pegando o copo da minha mão sem que eu deixasse.

–– Gaara! –– digo tentando o pegar de volta, mas ele se vira para o outro lado. Tenten só está rindo de tudo isso. –– Gaara! Me dá isso aqui!

–– Ah, para com isso, amor! Você já deve ter tomado bem mais que eu. –– ele diz e em segundos toma todo o resto, e ainda tem a capacidade de fazer aquele barulhinho irritante quando não tem mais nada dentro. Apenas o encaro com, provavelmente, a mesma cara emburrada que a minha faz.

–– Que fofinha! –– ele meio que elogia passando a mão na minha testa. –– Fica assim não que mais tarde eu compro mais para você, tá, mô?

–– Para com esses apelidinhos idiotas, já falei... –– aviso, e isso parece fazer ele ter mais vontade de me irritar.

–– Mas olhe que gracinha que fica quando está nervosa! Sinto até vontade de te morder! –– Gaara bate na minha testa um pouco forte, fazendo eu fechar os olhos, e a única coisa que sinto logo em seguida é ele mordendo meu rosto de leve.

–– Vocês dois realmente ficam fofos juntos. –– Naruto diz e abro os olhos de novo. O que ele está fazendo aqui? –– Que bando de gente mais mal educada! Nem me chamam para sentar. Mas tudo bem, eu vou embora.

–– Ah, não! Senta aqui! Aqui! –– insisto pegando uma cadeira da mesa ao lado que eu nem sei se tem alguém sentado nela, mas se tinha, então a perdeu. Ele se senta e eu esqueço que o meu namorado está do meu outro lado.

–– Então! Sakura, vamos lá comprar o sapato comigo? –– Tenten pergunta chamando a minha atenção e confirmo com a cabeça.

Eu não queria ter saido do lado de Naruto, mas, contudo, eu disse que iria ajudar a Tenten, e cá estou eu, sentada em um banco que é extra-duro enquanto vejo ela desfilar com milhões e não se decidir de uma vez. E isso é uma coisa que eu acho errado, porquê estou com pena da mocinha que está trazendo e levando várias caixas de sapatos sem que ninguém a ajude. Juro que estou quase fazendo isso.

–– Esse é chamativo demais... Outro! –– Tenten diz pela milionésima vez e olho para trás.

Daqui dá para ver os garotos e eles estão conversando animadamente, mas sou interrompida por Tenten que pede a minha opinião em outro sapato, e eu digo que está ótimo, perfeito, e que ela vai arrasar. Então, graças à Deus, ela escolhe esse e voltamos para a mesa.

Ficamos a tarde toda conversando, rindo e gritando. Fazia quanto tempo que eu não saía e me divertia assim? Meses ou anos? Acho que anos. Ou eu sinto como se fossem anos. E o que eu percebi hoje, é que eu não estou tão sozinha como imaginava. Percebi que existem pessoas que apesar de tudo o que Hinata está fazendo ou tudo o que aconteceu conosco, não vão deixar que os problemas passados atrapalhem e que eu caia sem tentar me levantarem de alguma forma, mesmo que às vezes não funcione; que quando eu precisar de ajuda, elas estarão sempre disponíveis para mim e eu posso confiar nelas sem nenhuma desconfiança. E acredite, essa foi a melhor coisa que eu poderia ter percebido em toda a minha vida; que eu tenho amigos de novo, e que Deus do céu, eu sei que já disso isso, mas, eu não estou sozinha!