Sai do colégio há um ano. Tecnicamente há um ano. Quer dizer, é difícil sair de um lugar quando esse lugar não sai de você. E quando digo que é difícil, quero dizer que é praticamente impossível. Meu pai é o dono do colégio. Vivo nas imediações do covil, ou seja, ao lado do prédio de tijolos amarelos.

A diretora me adora. E esse é mais um dos motivos do porque eu não consigo deslocar minha vidinha desse lugar pacato.

Agatha Evans e seu marido, Christian Evans, moram em uma casa imensa, que se encontra ao lado da minha. Passo a maior parte do ano lá, porque o senhor dono de multinacionais, lê-se meu pai Hans Harue, vive em constante deslocamento.

No começo eu viajava com ele, mas depois de alguns anos comecei a ficar entediada. Qual é! Eu precisava de amigos e estava ansiando por uma vida social.

Minha mãe morreu quando eu tinha quatro anos. Seu nome era Kari. Só Kari. Não tenho certeza se me sinto triste quando penso nela, mas, sei lá, meu pai fez um bom trabalho me criando, apesar de estar sempre em reuniões.

Certo, deixando o assunto morte de lado, papai diz que eu me pareço um pouco com ela: o cabelo loiro ondulado, sardas alaranjadas no nariz. Melhor dizendo, em referência ao espelho aqui de casa: cabelo cor de esquilo e um nível imenso de sardas vermelhas espalhadas pela minha cara. Não posso ter certeza se realmente pareço com ela, não tenho memórias e nem fotografias para confirmar.

É, minha vida não é fácil.

Ou era, se eu ver pelo lado antes dele resolver voltar a viver com os pais.

Eu vi Jeremy exatamente duas vezes na vida: uma quando meu pai comprou o colégio e pediu que a mãe dele comandasse e outra vez num natal cheio de neve, quando não pude pegar o voo para encontrar com meu pai. E isso foi há quatro anos.

Desde esse encontro Jeremy está em um colégio interno só para meninos no exterior. Sei muito pouco sobre ele, tenho receio de perguntar algo para Agatha e ela ter um faniquito de saudade.

Ele é um ano mais novo que eu e, agora que voltou, vai estudar no último ano do colégio.

Nesse tempo eu não tinha ideia do porque de sua volta, mas devia ter previsto que isso de alguma forma ia me afetar. E muito.