3 meses antes.

–Você não deveria comprar esse anel, o que garante que vai ficar com essa menina para sempre. Que é ela com quem quer casar? Para mim isso cheira a encrenca. – Wesley o encara. Ezra só não contrária o irmão, pois deixará de ouvir quando olhará o anel que estava agora em sua frente. Todo de prata com uma pedra semelhante a um floco de neve o anel fez o olhar do professor se iluminar. Seria perfeito para Aria – Sua branca de neve – que provavelmente pularia de alegria com o pedido.

“É cedo demais” “Vocês são muito novos “ ” Ela é muita nova” “Como vai saber se é realmente ela que você quer passar o resto da vida?” “Tem muito peixe no mar, por que se apegar com o primeiro baiacu que viu?” eram afirmações e perguntas frequentes feitas por seu irmão, o único que sabia do plano que Ezra vinha arquitetando a mais de um mês.

Claro que não estava nos planos contar ao seu irmão, mas quando Wesley o viu pesquisando diferentes tipos de anéis e caixas na internet não teve como esconder. Ezra pediria Aria em casamento. A primeira reação foi um surto, claro, seguido de gritos de repreensões e o lembrete de como a vida de solteiro é maravilhosa. Ezra, felizmente não estava aberto a segundas opiniões. Já tinha tomado sua decisão, se casaria com Aria, seria feliz para sempre.

–Não é como se fossemos casar amanhã.– Wesley não conseguia compreender. Se o objetivo do irmão era se casar apenas depois, porque fazia o pedido agora. Não valeria mais apena esperar? – Eu sei o que você está pensando. Parece uma má ideia. Eu pensei muito sobre isso, e eu amo Aria como nunca amei ninguém em minha vida e vou me casar com ela. O pedido vai apenas concretizar isso. É uma promessa do nosso amor, de que nos casaremos um com o outro, de que o nosso destino está cruzado e ninguém nem nada vai impedir isso. Entende?

Apesar de Wesley nunca entender completamente ele acabou apoiando o irmão, o ajudando nas decisões, no terno que usaria para o pedido, o anel, os preparos. Tudo teria de ser perfeito. Ele achará um baile em outra cidade onde ninguém os reconheceria. A levaria de limusine cantariam a noite toda, Dançariam até os pés doerem, conversariam sobre todos os assuntos e ririam das maiores bobeiras. Para encerrar a noite perfeita Iriam para um “hotel” perto de lá que na verdade era uma espécie de memorial com todas as coisas que Aria amava e tudo que tinha haver com o relacionamento dos dois. Lá se ajoelharia, faria o discurso e...

Tudo teria de ser perfeito. Ela iria amar.

No presente

PI. PI. PI.

O despertador de Jackie grita do outro lado do apartamento de Ezra.

Droga, droga, droga.

Jackie tenta se levantar uma, duas, três vezes até que a preguiça a vence. Que se dane. Ela conseguiria dormir mais algumas horinhas com esse barulho, não? Até poderia ser uma trilha sonora para seus sonhos.

–Pelo amor Jackie! Esqueceu-se de desligar o despertador de novo? – Ezra se vira na cama agarrando o travesseiro e o grudando a seu ouvido com a maior força que conseguia. Sem respostas. –Desliga! – Ela faz um não sutil com a cabeça encostada no travesseiro. – Por favor meu amor - Ele choraminga, ela solta uns ruídos indistinguíveis mas acaba por levantar.

–Ezra... O que eu não faço por você hein? – Com apenas uma camiseta do namorado Jackie se dirige até o aparelho desligando-o.

Aproxima-se novamente de seu amado e enquanto o observava deitado, se depara com a ideia de preparar–lhe um café da manha afinal, os dois já se cansaram de tomar café da manhã todos os dias na padaria da frente.

–Amor, quer ovos mexidos? – Ela pergunta se aproximando ainda mais. Nada. – Amoor? – Ela se aproxima percebendo os olhos fechados, a boca encolhida e o cabelo em cima do rosto. Ezra voltará a dormir e a ideia do café surpresa caiu por sua cabeça como uma pena. Começou a pegar os poucos ovos que tinha na geladeira e usar os restos. Para preparar o bolo favorito de Ezra ela vai ao mercado e compra o que falta. Porém, enquanto prepara percebe que se esqueceu do fermento. Boa Jackie, como vai fazer o bolo sem fermento? Até que ela se lembra: havia usado o fermento nem uma semana antes, teria de estar em algum lugar. Vou ter de procurar, se não achar volto ao mercado. Procura nas mesas da cozinha, em baixo da pia e até mesmo no banheiro, mas nada. Só faltava o armário da sala para procurar, mas se lembrou de uma conversa de poucos dias antes.

–Jackie, estou feliz de estarmos namorando, mas, custe o que custar não abra o armário da sala combinado? – Seu olhar era sério e não pendia nenhum sorriso no rosto.

–Ai Z, estou me sentindo em “mil e uma noites” assim... Por que não posso abrir. Por acaso guarda cadáveres de ex-namoradas aí? –Mas é claro que estava brincando, ela sabia muito bem que apenas ela e Aria – que estava bem viva- namoraram sério Ezra depois de se formar.

–Muito engraçado. Guardo umas coisinhas, mas me preocupo extremamente com a organização desse meu espaço. Se uma coisa sai do lugar fico maluco. Por favor, não mexa para não ter a chance de isso acontecer. Combinado?

–Tudo bem. Não é como se estivesse interessada na bibliografia de cada autor que você já lerá de qualquer forma. – Debochará Jackie encerrando o assunto.

Uma rajada de vento a faz voltar para o presente. Ela tomaria muito cuidado ao mexer nas coisas não tirando nada do lugar e se, afinal, não achasse o fermento iria comprar.

Papéis, papéis, livro, maquina de escrever, papéis, canetas, papéis, livro, livro, recibos. Ezra disse que isso era organizado? Para mim é uma completa bagunça. É, nada de fermento. Até que seus olhares se atraíram para uma caixa preta e brilhante bem escondida atrás de dois livros erguidos. Seu coração se acelera imensamente. Tum, tum. Tum, tum. Tum, tum. Aquilo seria...? Será que era para ela? Ela com certeza via que o relacionamento estava indo para algum lugar mas aquilo? Era bom demais para ser verdade. Lagrimas escorrem de seus olhos antes mesmo que veja se o que tem dentro da caixa é realmente o que ela pensa que é. Queria aproveitar mais alguns segundos da imensa felicidade que invadia seu peito e corpo.

Quando abre a caixa lentamente as lagrimas passam a jorrar de seus olhos em quanto o sorriso se estampa no rosto. Todas as duvidas que já tivera sobre a amor de Ezra se encerram no momento em que olha o anel de prata com um diamante em formato de floco de neve por cima. Ezra a amava. Há amava muito. Verdadeiramente. Ele jamais a pediria em casamente se não há amasse. Claro que Jackie tinha muito mais a ver com uma joia de ouro com pérolas como sempre desejará, mas isso era o de menos. Trocavam depois. Ele queria casar com ela e isso já era o suficiente. Um grito de felicidade escapou de sua boca fazendo Ezra acordar de sobre salto, assustado com o que poderia estar acontecendo para tamanho grito. E ao olhar para o lado e ver Jackie com a caixa na mão fica completamente desnorteado.

Ela corre em sua direção se joga em cima do homem repetindo milhares de sim enquanto o beija. Ele tenta a interromper varias vezes, mas ela sempre não o dá a chance dizendo que era o momento dela agradecer. Era um mal entendido, como dizer isso. Se Jackie soubesse que Ezra pretendia pedir Aria em casamento –O que só de lembrar fazia todos os ossos de Ezra doerem, desejo que jamais seria realizado- ficaria desamparada, seria muita magoa de ambos os lados, vindo por nada. Começa a refletir. Não teria que casar com Jackie naquele momento afinal das contas, poderia dar uma desculpa dizendo que era para o futuro dos dois e naquele meio tempo até eles realmente planejarem um casamento Ezra teria tempo o suficiente para se apaixonar por Jackie. Ele sabia que no momento isso parecia impossível, pois apesar de se forçar o máximo que podia ele sabia que não a amava. Mas quem sabe isso pode mudar?

Jackie era adorável, não seria tão ruim assim ser noivo dela afinal de contas. Um fleche de uma esperança de um futuro casamento passou por seus olhos. Mas, quem estava atrás do grande vestido de noiva, apesar dele tentar fingir que não, não era Jackie. Ele sabia muito bem quem ele queria usando esse anel. Quem ele queria o beijando. Doía tanto pensar nela e apesar de não querer que fosse assim era ela quem ele queria ao seu lado no altar. Era Aria.

Jackie parou de beija-lo. Olhou-o de cima a baixo dizendo convencida.

–Vou terminar o café. Em vez de surpresa vai ser de comemoração! – Mais um gritinho saiu de Jackie enquanto saltitava alegremente até cozinha. Ele estava com ela agora. Iria se casa com ela. Só deveria pensar nela. Jackie. Jackie. Jackie.

Pena que o coração nem sempre houve a cabeça.