Sangue Fresco escrita por The Usurper


Capítulo 3
02




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Algo ruim aconteceu com minha mãe, pois havia um corte sobre sua sobrancelha e isso era algo que nunca tinha acontecido. Sabia que ela não era bem vinda na cidade... mas ela nunca tinha sido ferida.

A raiva estava borbulhando sob minha pele. Eu conseguia sentir algo quente subindo sobre minha garganta. O ar que eu exalava estava muito quente. Porém minha mãe levou a mão ao rosto e pude ver que ela não havia sido ferida. O fogo rapidamente desceu e minha respiração voltou ao normal.

Ela sorriu para mim e começou a retirar tudo que ela tinha trago na bolsa. Peças para uma festa para nós dois. Ela rapidamente se colocou a preparar as coisas enquanto eu a ajudava na cozinha, o bolo ela já tinha assado durante o dia e agora estava o enfeitando. Eu estava preparando a mesa para nós dois.

Ela ia preparando a comida ao mesmo tempo que terminava o bolo. E logo estávamos sentados de frente para uma mesa de festa. Fomos comendo tudo, devorei quase toda a comida, enquanto minha mãe comia um pouco de tudo. E quando estávamos no fim do bolo ela me chamou.

“Filho, vamos para a sala quando terminarmos de comer. Tenho algo para te contar e isso não pode mais ser escondido.” Eleanor se levantou e seguiu para a sala me deixando na cozinha para limpar os pratos e talheres que tínhamos usado. Acabei de comer e lavei a louça, acabando fui para a sala.

Ela estava sentada em sua cadeira próxima a lareira, que estava apagada. Me sentei na sua frente. A história de hoje era a mesma de sempre, mas umas partes eram novas e outras não. “Seu pai era um dragão, como você sabe, mas ele também era humano, não como você e eu. Ele era caçado a um bom tempo, mas sempre conseguia acabar com os caçadores, exceto uma vez, no dia que você ia completar um ano e meio, mais ou menos, e esse foi o pior ataque que ele sofreu, nesse ataque ele estava na floresta nadando, e quando ouvi seu grito soube que nada poderia ser feito.” Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto, mas ela logo a limpou.

“Corri para casa e te coloquei a dormir. Corri para vê-lo, mas quando cheguei percebi que nem a minha ajuda seria possível para salvá-lo. Normalmente eram enviados de 10 a 20 guerreiros para matar o dragão, mas dessa vez eles enviaram muito mais que isso. Não era possível contar a quantidade, mas estimulo que eram 100. Ele estava cercado por todos os lados. E foi recuando para uma caverna atrás da cachoeira, enquanto recuava percebi que ele me deu um último olhar e um pediu foi feito assim que ele me olhou. ‘Se eu morrer nessa batalha, tranque o lugar com sua magia.’ Esse fora a pior pedido que ele poderia ter feito para mim. Mas mesmo assim o fiz quando ouvi o clamor e o grito da vitória dos soldados.” A mulher forte que eu via a anos agora parecia triste e fraca enquanto lembrava do passado.

“Rapidamente entoei o feitiço que os colocariam para dormir e com outro logo após esse, tranquei a caverna com uma enorme pedra mágica. Que só desaparecia em um certo dia. O dia que eu decidisse te contar o passado. Bom, esse dia chegou. Já se passaram 12 anos desde aquele incidente e hoje a pedra deve ter sumido.”

“Sim ela sumiu.” Saiu de minha boca e um olhar apareceu no rosto de minha mãe. “Hoje após você sair, fui nadar no lago que sempre ia, mas ao chegar lá e nadar por um tempo, percebi que faltava uma pedra atrás da cachoeira e decidi que podia dar uma olhada. Encontrei muitas armas e armaduras velhas, ossos humanos e uma ossada de um dragão.” Lhe contei o que vi na caverna, sem deixar nenhum detalhe faltando. “Pelo que vi próximo ao dragão somente poucos guerreiros estavam vivos quando você os trancou. Os únicos ossos humanos mais inteiros estavam próximo a entrada e não devia ter mais do que 10. Ou seja, ele matou cerca de 90, mas os ferimentos que tinha recebido o mataria logo e foi isso que aconteceu...” Minha voz morreu após essa confissão, minha mãe estava sem reação ao ouvir minha história, porem ela assentiu e voltou a falar.

“Se eles não tivessem morrido, creio que nenhum de nós dois estaria vivo hoje.” Foi a afirmação dela. “Sou uma ‘bruxa’, usando a fala dos aldeões, mas não sou malvada como fazem parecer. Apenas faço uso da energia que flui pelos seres-vivos e pelo ar. Os encantos apenas nos ajudam a concentrar o que queremos fazer. Também possuo grande conhecimento em ervas medicinais, mas como dizem por aí. ‘Magia é perigosa e não deve ser feita por ninguém.’ Não sei quem inventou isso, mas sei que estava completamente enganado. Ela é fatalmente perigosa se for usada de modo errado, mas se certa pode salvar vidas. Todos os seres a usam, mesmo quando não sabem, alguns apenas usam poucas vezes. Até mesmo você, meu filho, já a usou, apenas não se lembra dela.” E em seus olhos pude ver algo que nunca tinha reparado antes. O olhar de alguém que já sofreu muito no passado. “Quando comecei a ser chamada de bruxa, eu devia ser bem pequena, uns 7 anos. Pois se me irritavam tudo explodia ou voava ao meu redor, mas uma coisa eu me lembro, uma velha senhora me chamou e me perguntou se eu era uma garota que podia fazer coisas voarem. Sinceramente, eu estava com medo quando ela me perguntou isso, mas acenei a cabeça, e quando a olhei. Me surpreendi com o que tinha visto, ela estava sorrindo, nem mesmo meus pais sorriam mais para mim.”

“Ela me disse que era uma feiticeira e perguntou se eu queria aprender a controlar isso. Respondi que sim e foi nesse dia que deixei a vida que tinha na vila. E vim morar aqui nesta casa. Aquela senhora cuidou de mim como se eu fosse sua própria neta e me ensinou tudo que sabia. E quando sua morte se aproximou, eu já estava com quase 18 anos. E no dia que ela sentiu isso, ela soltou um último sorriso, se despediu de mim e disse que um dia, eu encontraria um amor verdadeiro. E ele só me abandonaria na morto. E foi justamente o que aconteceu.” Agora, sua própria voz já saia abafada, ela parou de tentar esconder o que sentia. E suas lágrimas estavam caindo como se ela precisasse se libertar de tudo. Apenas continuei sentando no chão olhando para esse outro lado de minha mãe, a mulher forte, com magia, aquela que me ensinou tudo que sabia e que agora parece fraca, desamparada e sozinha.

“Foi quando completei 22 anos que seu pai chegou aqui. Ele chegou e eu o ‘domestiquei’, vamos disser assim.” Um pequenino sorriso saiu de seus lábios. Queria ter conhecido esse meu pai que ela parece tanto amar. “Um homem pequeno, olhos ferozes, voz sonora e um dragão. Pude sentir que ele parecia me querer, mas pude sentir que havia algo diferente nele, seus próprios movimentos eram incertos. Os meus eram tensos. Podia sentir que havia algo nele que eu gostava, mas o que era. Só descobri quando ele chegou bem perto de mim e disse meu nome. Sua voz, ela me encantou e soube que ele seria aquele que ficaria comigo até a sua morte.” A felicidade que ela parecia ter ganhado até o momento começou a sumir, e ela passou a ficar tensa. Conseguia perceber os movimentos que seus ombros faziam e até mesmo seu olhar demonstrava tudo.

“Na primeira vez que ele soube ter uma caçada a sua procura ele se despediu de mim e prometeu que voltaria. Correu para a floresta, eu fiquei a espera, mas não demorou muito e ele já tinha voltado, estava um pouco machucado e estava com um sorriso de triunfo. E foi nesse dia que eu devidamente me soltei sobre ele. Um homem pequeno com uma força monstruosa. O homem que devia ser meu marido. Com o passar do tempo acabou por ser uma rotina, mas mesmo assim, toda vez que ele saia eu ficava muito preocupada e quando ele voltava eu ficava alegre. Depois da vigésima vez, ouve uma calmaria e nesse tempo eu engravidei de você. Zenon estava todo alegre quando recebeu essa notícia. Ele parecia orgulhoso de si e ainda mais orgulhoso de mim.”

“Com o passar dos meses ele saia cada vez menos do meu lado, e suas batalhas estava ficando mais curtas, ele parecia ansioso para te ver e eu só podia rir de como ele estava. O dragão ficava feliz de me ver e cada vez que me via corria e me acariciava. Nove meses se passaram até o nosso filho nascer, Y’allaer, era você. Um pequenino garoto, meio-dragão e meio-humano. Seu pai estava tão feliz por você ser um garoto que ele quase destruiu uma parte da casa. Mas fora isso, nada vinha acontecendo em dois meses, e isso me deixava preocupada, mas sua chegada tirou tudo de minha cabeça e só podia pensar em duas coisas. Você e seu pai. Ele e eu estávamos felizes com sua chegada e trabalhamos para te criar para ser forte.”

“Quando você o olhava você sorria e as semelhanças entre os dois só foi ficando mais forte com o tempo. Os meses foram passando e os ataques estavam mais demorados. O que matou seu pai foi aquele que eles demoraram quase 5 meses arrumando. E quando ele chegou, percebemos o porquê de tanta demora. A força do ataque era avassaladora e nesse dia ele não conseguiu mais se levantar.” E após essa grande revelação ela se deixou chorar na sua cadeira. Não tinha palavras para expressar o que eu sentia. Apenas sabia o que devia fazer, esperar. Fiquei ali mesmo no chão esperando. Não sei quanto tempo passou, mas após um tempo ela disse que eu poderia ir dormir, já tinha me dado muita coisa para processar e eu devia ir para cama. Me levantei e lhe dei um beijo de boa noite em seu cabelo. Isso a fez relaxar, sua mão passou pelo meu braço e ela parecia decidida com sua decisão, a hora tinha chegado e agora eu já sabia de seu passado com o meu pai. Agora eu sabia quem ele realmente era e o que eu era. Subi para o meu quarto e quando me deitei. Percebi que um dia, eu queria ser como Zenon. Poderoso, temido e respeitado, mas não gostaria de morrer como ele, gostaria de viver com a mulher amada e se um dia eu a encontrar, que ela fique comigo para sempre.

Com esse pensamento adormeci. E que o futuro me espere. Pois serei forte e destemido como meu pai. Um poderoso dragão...


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