As Cores Do Outono escrita por SakuraHimeT


Capítulo 3
Capítulo 3-Maçã e Canela


Notas iniciais do capítulo

Aqui está mais um capítulo. Para acompanhar a leitura, recomendo uma boa chávena de chá de maçã e canela! ;) Divirtam-se! ^^



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O galo cantou novamente pela madrugada. A tia já tinha saído para o mercado e estava no celeiro.

Os animais estavam esfomeados e fui buscar palha e ração para os dar. Depois subi metade das escadas em madeira para o galinheiro e ergui apenas um pouco da cabeça para espreitar. As galinhas ainda dormiam nos seus ninhos, dificilmente conseguia ver se tinham ovos ou não. 

O macho da casa veio ao meu encontro com um olhar desconfiado. Depois soltou um cacarejo bem alto que assustei-me e quase caia da escada.

-Ai bicho horrivel. Está bem, já vou descer!- resmungei para o animal e quando cheguei ao chão mostrei-lhe a lingua. Ele virou-se de costas para mim, abanhou as penas do traseiro e saiu andando cheio de si.

Voltei a fazer uma careta e depois ri. Os ovos ficariam para mais tarde.

Entrei na cozinha quando o telefone da residencia tocou. Corri para atendê-lo.

-Estou? Pai! Que saudades!- agarrei-me ao objecto com as duas mãos emocionada.-Como foi a viagem? Sim está tudo bem, tou a gostar imenso. Ontem tirei leite à Dolly, sabias? Sim pai, está tudo bem. Por favor fica bem e telefona sempre que puderes. Beijos, amo-te muito.- e desliguei. Sentei-me no sofá da sala quase a chorar. Já morria de tantas saudades dele.

O telefone tocou de novo.

-Pai? Ah tia... sim ele ligou. Oh, está bem, não se preocupe então. Obrigada, bom trabalho até logo à noite.

Levantei-me, a tia não vinha almoçar hoje.  

Abri o frigorifico e ainda sobrava jantar de ontem. Aqueci e almoçei sozinha sentada no sofá do alpendre.

O chalé da gente rica, estava com a chaminé a fumegar.

Pensei no que fazer durante aquela tarde. Será que Syaoran estava no baloiço?Tinha de devolver o seu lenço, que emprestara-me no outro dia. Hm, ontem demanhã. Acabei de comer e fui lavar a loiça, quando surgiu-me uma ideia de fazer um bolo de chocolate.

Preparei todos os ingredientes para cima da mesa. Esperava que Maki não ficasse chateada.

Depois do bolo estar pronto,preparei chá de maçã e canela numa garrafa térmica , arrumei uma pequena cesta com o lanche e o lençinho e saí de casa em rumo á clareira. Estava ansiosa e nervosa.

Minutos depois cheguei lá e encontrei o baloiço sozinho. Suspirei tristemente. Ainda olhei em volta , mas nenhum sinal de Syaoran.

Triste e aborrecida, regressei para a casa com a cesta cheia. Quando fechei o portão da entrada, ouvi o meu nome.

O meu sorriso iluminou-se institivamente.

-Syaoran!- gritei.

Ele vinha a correr em minha direção com o seu casaco castanho escuro. E por deus, estava dentro da fazenda da casa de gente rica.

A cerca da minha casa, fazia divisão onde ele estava. Oh meu deus.

-Olá.- cumprimentou sorrindo.

-O-olá!.- respondi corada

-De onde vens? Ou melhor será perguntar, para onde vais?

-Na verdade...esta cesta era para a minha tia, mas entao perdi-me na estrada até ao centro e voltei para trás. Sim é isso!- senti o rosto quente de vergonha. Não queria que ele soubesse que tnha preparado isto tudo para ele? Agora era tarde demais e demasiado constragedor.

-Hm.. sei. Acho que vou acreditar na tua palavra então.- ele sussurou e olhou-me de lado sorrindo.

-Na verdade...- mordi o lábio nervosa.

-Eu ainda não estive hoje na clareira.

Arregalei os meus olhos e quase deixei a cesta cair ao chão. Como ele sabia?

Ele gargalhou suavemente.

-Mas como...?

-A clareira fica no lado direito da estrada e o centro no lado esquerdo, e tu vinhas do lado direito.- voltou a rir.

Corei intensamente.

-Agora tenho um espião, é?- entrei na brincadeira.- Pronto, desculpa. Eu queria te fazer uma surpresa..- por fim confessei.

-Engraçado.- ele mexeu nos seus cabelos.- Vinha mesmo te perguntar se querias dar um passeio comigo.

Agora é que levei a coisa a sério. Caramba, Syaoran convidou-me para sair com ele! Um encontro? Oh que burriçe Sakura, tu própria querias lanchar com ele...

-Sim, porque não? Aliás, tenho uma coisa para te devolver.- corei.

-E fizeste-me uma cesta?- perguntou curioso.

-Claro, eu fiz bolo de chocolate.- comentei.

-Bolo de chocolate?- surpreendeu-se.

-Oh, nao gostas? Sempre podemos comer outra coisa.-voltei a ficar nervosa.

-Eu amo bolo de chocolate.- esticou o dedo e tocou-me na ponta do nariz.

-Oh, acertei então.- rimos os dois.

Chegámos novamente ao carvalho e lanchamos a pequena merenda que preparara.O rapaz estava impressionado com os meus dotes de culinária e expliquei-lhe que aprendi com o meu pai. Ele era um grande chefe de cozinha.

Ficámos lá a tarde toda.Entreguei-lhe o lenço fresco em agradecimento por me limpar ontem depois da queda.

 Conversamos diversos assuntos e descobri mais um pouco da familia dele. Afinal Syaoran era natural de Hong Kong.Tinha quatro irmãs mais velhas e estavam todos na china. Porém o tio ,que era dono da fazenda,faleceu e ele estava a cuidar da casa previsóriamente até que a familia chegasse.

-Então vives sozinho naquele chalé?- perguntei.

-Não propriamente. Tenho lá a minha tia, o mordomo e a minha prima Mei Ling, que agora está de férias em França.

-Ah.. e então quando estás livre vens para cá.

-Sim, aqui é o meu lugar.

Olhei para ele e uma pergunta passou-me pela mente. Hesitei em perguntar.

-E sabes... sabes quando voltas..?

Syaoran ergueu a cabeça para mim, atento.

-Para a China? Não tão cedo.- e de repente desviou o olhar ficando sério.- Tudo o que não queria, era voltar lá...

Ops. Agora é que me tinha percebido. Syaoran amava viver aqui. E eu começei a pensar se ele não estivesse correcto? Afinal era um paraíso.

-Todos temos problemas familiares, Sakura. E eu estou-me a lixar para todos eles.

 Ficámos uns minutos em silencio. Syaoran falou friamente e senti um clima tenso sobre nós.

Naquela tarde, conheci um pouco do outro lado do rapaz. Ele sofria silenciosamente, no entanto não queria ser apenas uma conhecida para ele. Queria ser uma amiga.

-Por tudo o que seja mais grave, acabamos sempre por ultrapassar.- falei.

Ele virou-se para mim e cruzamos o olhar.

-Não quero ser apenas uma conhecida, Syaoran, quero ser uma amiga, se puder ajudar em alguma coisa conta comigo, no entanto não te vou obrigar a contares os teus problemas, deixo-te á vontade para os faze-los se quizeres.- falei por fim sorrindo gentilmente.

Ele arregalou os olhos e estendeu a mão em direção ao meu corpo.

Fiquei tensa sem saber o que fazer, mas ele foi mais rapido e puxou-me para os seus braços num abraço caloroso e confortante.

-Obrigado, Sakura.- sussurou com a cabeça escondida no meu ombro.

E eu retribui o abraço, sentido o coração querer-me saltar do peito.

Como era tão bom. O seu abraço era tão caloroso e tão doce como o sabor de maçã e canela.Duas combinações perfeitas.

Corei e aninhei-me melhor a ele.

Ficamos o resto da tarde abraçados, encostados no tronco do carvalho. Nenhum de nós se atreveu a falar mais alguma coisa.

Syaoran parecia ter tido um passado triste, e se pudesse ajuda-lo, ficaria feliz comigo mesma, porque o meu coração dizia que estava no caminho certo.

O calor do por-do-sol na minha face despertou-me lentamente. Olhei para cima e vi Syaoran dormindo com a cabeça apoiada no tronco. Tinha uma expressão serena e linda.

Tentei desviar-me dos seus braços, sem o acordar, mas foi em vão.

-Olá.- falou.

-Olá, já está tarde, precisamos voltar.- assenti.

Arrumamos a cesta e fomos os dois de volta para as fazendas.

-Vejo-te amanhã? - perguntou Syaoran hesitante.

-Porque não?- respondi-lhe com um sorriso.

-Até amanhã, Sakura.- acenou e entrou no portão da casa.

-Até.- sussurei.

A tia já estava na cozinha a fazer o jantar, quando entrei.

-Querida, tudo bem?

-Sim tia.

-Onde foste com a minha cesta?- perguntou largando a colher de pau na panela e dobrando os braços sobre o peito, desconfiada.

-Fui fazer um piquenique.- respondi imediatamente. 

Apressei-me a desarrumar a cesta e deixar tudo em ordem.

-Ah sim? Com quem?

Maki levantou uma sombrancelha desejosa de rir.

-Com ninguem!

-É sim, sozinha. Então pergunto-me porque estás tão corada, minha jovem?

Naquele momento quase que caia no chão.

-O que? Eu c-corada? N-não é nada tia!

-É?- riu-se.- Ah criança, mentiras não é contigo, nunca foi Sakura.- voltou-se para a panela da sopa.

-Eu vou tomar banho, até já!- e fugi das perguntas daquela mulher inquisidora.

Nos seguintes dias, encontrava-me sempre com Syaoran debaixo do carvalho.Conversávamos o dia inteiro, liamos poemas e jogavamos às cartas. A tia ia embora para o centro da vila e eu conseguia sempre escapar e chegar cedo à noite, antes dela. No entanto a quem podia enganar. Ela desconfiava de algo.

O frio ficara mais rigoroso nos primeiros dias de Outubro.

Num sábado à tarde, estavamos as duas à lareira da sala a ler alguns livros.

A tia fez chá  e eu acompanhei-a com o meu bolo de chocolate.

Ainda não tinha visto Syaoran naquela semana. Esteve a chover todos os dias e era ímpossível passear pelos campos.No entanto, sabia que ele estava lá no chalé com uma parte da familia.

Tinha saudades dele. Imensas. O meu peito apertou-se fazendo-me sentir desconfortável. Syaoran era boa pessoa. Um bom rapaz e muito gentil. Mas havia algo no seu passado. 

No entanto, percebi que ele nunca teve um amigo chegado como eu.Nem eu tinha um amigo tão chegado como ele, a não ser Tomoyo claro. Gostava de poder faze-lo sentir-se mais feliz. Mais aberto. Mas o que?

-Estás muito pensativa, Sakura.- disse Maki.

-Sim...

-O que se passa?- a mulher abaixou ligeiramente o livro para olhar para mim.

-Eu não sei explicar.- falei e fechei o meu livro olhando para a lareira.

-O que sentes? Saudades do pai?

-Também.

-Também? Então há mais saudades?

As minhas bochechas ficaram da cor de duas belas maças vermelhas.

-Eu quero fazer alguma coisa, eu sinto que preciso de fazer alguma coisa.- abraçei-me a mim mesma triste.

-Porque não o convidas para vir cá beber um chá conosco?- perguntou.

-Seria uma boa ideia mas... espere!- levantei a cabeça repentinamente para a tia. Ela sorria marota.- Como? Quando..é que..?

A mulher levantou-se e agaixou-se à minha frente segurando-me nas mãos.

-Nota-se à distancia, minha querida. Estás apaixonada!- confessou radiante.

-O que?! Não, nada disso!- exclamei arregalada.

-Oh? E por quem? Pelo vizinho, que vive no chalé mesmo ao lado da nossa casa.- voltou a sorrir.

-Tia... não acredito.- confessei envergonhada.- Eu não estou apaixonada, somos só... hm.. somos só amigos! Nada mais!- tentei me desculpar mas o meu coraçao e a minha mente reclamavam interiormente.

Estás apaixonada por ele. Admite Sakura.

-Nada mais? E aqueles encontros de tardes inteiras, o piquenique com um delicioso bolo de chocolate feito por ti? - a mulher ria cada vez mais.

Raios a partam. Inquisidora ou espiã? Ah, nada disto estava certo. Eu nao podia estar apaixonada por Syaoran. Ou podia?

-Convida-o. Convida-o para vir cá a casa, fazes novamente o teu bolo de chocolate e passamos uma tarde agradável aqui ou lá fora se não estiver a chover. Está bem?

A mulher olhou para mim carinhosamente. Estava disposta ajudar-me e eu queria ajudar Syaoran.

Emocionada abraçei-a pela primeira vez depois da minha chegada.

-Obrigada tia.-sussurei.

Fim do Capítulo.


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Notas finais do capítulo

Próximo capitulo daqui a dois dias! ;)



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