O Universo De Sophie escrita por Filha de Hades


Capítulo 6
Capítulo VI


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura...



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“...Peter Pan é eterno, mas só existe num momento da vida de cada criatura.”

Essa foi a resposta dada por Dona Benta a Emilia apôs ter contado a todos a história de Peter Pan. Esse fragmento faz parte de uma das histórias mais conhecidas de Monteiro Lobato, no qual ele adaptou o clássico de J. M. Barrie para história contada. Essa frase já gerou estudos de vários estudiosos e anônimos que tinham algo a dizer sobre o assunto. Mas tenho certa preferência pela continuação do próprio autor apesar de achá-la bem triste a meu ver:

“- Em que momento?

- No momento em que batemos palmas quando alguém nos pergunta se existem fadas.
- E que momento é esse?
- É o momento em que somos do tamanhinho dele. Mas depois a idade vem e nos faz crescer...e Peter Pan, então, nunca mais nos procura..."

Que história maluca não é mesmo? Um garoto que não queria crescer. Mas ele não pode. Essa é a sentença mais inocente e ao mesmo tempo a mais castradora que se pode ouvir. Essas palavras foram ditas pelo próprio J. M. Barrie, ele acredita que um alguém podia ser qualquer coisa desde que quisesse de verdade. Se tem imaginação para tal, porque não? É magnífico ver Johnny Depp na pele desse grande autor no filme Em busca da terra do nunca. É emocionante e surpreende, eu recomendo, trás uma grande lição sobre como grandes surpresas podem vir dos lugares mais inesperados.

Mas vocês devem estar se perguntando onde eu quero chegar com isso não é? Bem, queria chegar nesse ponto que Peter Pan parou. Claro que não podemos parar no tempo e nunca mais crescer ao menos não física e biologicamente falando. E quando eu era criança nunca me preocupei com isso, mas eu acho, acho que eu não me importava de crescer.

Mas de uma coisa eu me lembro, eu queria entender os adultos, porque complicam tanto as coisas simples? Porque brigam tanto? Ai eu cresci... E sabe da maior? Ainda me faço essas mesmas perguntar diariamente. Porque? Porque? Porque? Creio que minhas duvidas nunca serão sanadas. Porem ainda tenho para mim que é ai que se encontra o sentido da vida, naquele instante em que você encontra a resposta pra uma pergunta e lhe surge outra simultaneamente. É pra isso que as pessoas continuam vivendo, por algo ou por alguém. Mas as perguntas sempre estarão ali. Só que mais difíceis de responder.

Quando eu era pequena perguntava coisas mais simples do tipo:

“— Mãe? Porque agente tem que comer?”

E as respostas eram mais simples:

“— Pra ficar forte e não ficar doente. Come!”

.

Ou então:

.

“— Mãe? Porque agente tem que tomar vacina?

— Pra ficar forte e não ficar doente. Toma!

— .... Ai.”

.

É, minha mãe foi sempre pratica e direta. Minha mãe, ela é um ser humano que desperta a minha curiosidade. Eu a amo sabe, amor de mãe e filha eterno e indestrutível por mais que qualquer coisa aconteça. Mas a minha relação com ela nunca foi de cumplicidade, aquela que a maior parte das filhas sempre tem com as mães. Acho que isso pode ter algo haver com o fato de eu ser um molequinho em pele de menina. Só acho. Mas a verdade é que a minha mãe as vezes parece não dar a mínima atenção ao que eu falo, não que ela faça isso por mal, é só que ela é assim. E ela nega. E uma vez eu falei algo pra ela e meu padrasto tava perto quando eu disse e depois ela me veio com essa:

“— Sophie? Porque você não me disse?

— Mas eu disse mãe. E ainda falei que você não estava prestando atenção.

— Disse nada se tivesse dito eu teria lembrado.

E foi ai que meu padrasto entrou no papo.

— Ela disse sim. E você não prestou atenção. Como você sempre faz com todo mundo.”

.

Ela ficou sem jeito e sem ter o que dizer e eu não sai como mentirosa o que mais importava no momento. Mas você acha que isso a fez mudar? Velhos hábitos nunca morrem. Eu já me acostumei com esse defeito dela e pra compensar eu sempre a ouço sei de tudo que ela já fez na vida, de bom e de ruim. E a admiro em todos esses pontos. Todos. Ela é uma mulher muito forte, realista e pé no chão. E muito engraçada. Ela é aquela pessoa que consegue alegrar qualquer mesa de amigos mesmo se ela estiver preocupada ou triste. E isso eu sei que herdei dela, só que com um pouco mais de intensidade.

Eu costumo dizer que se eu fosse escrever a história de vida da minha mãe daria um livro tocante e hilário. Ela tem histórias comoventes como quando apenas ela estava trabalhando em uma casa com 7 pessoas e se não fossem as coisas que o pessoal da igreja mandava todo o mês não sei como teria ficado, até porque eu era pequena pra entender bem a situação. E histórias engraçadas como quando ela tropeçou na entrada no banco e deu de cara no vidro escuro, e só quando ela entrou no banco lotado e olhou para a porta viu que o vidro era insulfilmado e de dentro pra fora dava pra ver tudo. Ou a minha preferida de quando 3 centavos no mercado viraram motivo de barraco. Todo mundo ri quando ela conta essa história fatídica.

Mas isso é pra outro momento... Afinal eu já fugi do meu foco inicial. Falar das pessoas que eu gosto me faz perder o foco.

No fim das contas eu só queria falar sobre aquela pergunta que todo mundo já ouviu pelo menos uma vez quando era pequeno.

“O que você quer ser quando crescer?”

É tanta responsabilidade em uma pergunta só, pra alguém que nem sequer entende isso. Mas cada vez que me faziam essa pergunta eu dava uma resposta diferente. Até onde eu me lembro eu já quis ser: Astronauta, mágico, assistente de mágico, cantora (fail), jogadora de vôlei, promotora, palhaça, medica, desenhista, art finalista, dubladora... Entre outras coisas e essas são só as que eu me lembro. E agora vocês me perguntam o que eu faço hoje em dia? Sou recepcionista, professora e atriz.

Sou recepcionista de um hospital veterinário de uma universidade. Entrei aqui por acaso, tinha entregado currículo na universidade e tinha essa vaga aqui. Quando entrei achei que seria difícil me adaptar. Quando falo que faço isso recebo a seguinte resposta:

“— Ain que inveja do seu trabalho, você fica o dia todo com os bichinhos fofinhos.”

.

Mas não é bem assim. Eu trabalho em um hospital... Hospital... Ninguém vai a um hospital porque está bem neh? Eu vejo muitas coisas feias aqui e já passei por cada uma que contando ninguém acredita. Uma vez um senhor apareceu e disse que um cachorro maior tinha brigado com uma cachorrinha e arrancou o couro dela. E disse pro outro:

“— Trás aqui... Trás aqui e mostra pra ela.”

.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa do tipo “não precisa eu não sou a veterinária” ele já tinha colocado-a em cima do balcão e erguido o couro da cachorra. Eu sorri sem jeito por uns longos segundos e falei...

“— Vish.”

.

E a melhor coisa que eu descobri trabalhando aqui é que eu tenho um estomago muito forte. E que eu gosto mais de animais do que eu achava. Talvez eu desse uma boa veterinária, se o curso não fosse tão caro e período integral. Mas o veterinário daqui disse que eu deveria ganhar um certificado de curso técnico em veterinária, porque a pratica eu tenho, só não a teoria. Eu já sei a diferença entre claudicação e disfunção do membro. Já sei diferenciar todos os medicamentos humanos e veterinários, e o nome de quase todos os antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos mais usados. Já sei diagnosticar fratura em Rx e quase sempre chuto certo o local da fratura, ainda mais se for fêmur ou radio e ulna. Consigo ler laudo de ultra-som e saber se é piometra ou calculo renal. Sei a diferença entre um cateter e um equipo. Já diferencio bem Lhasa de Shitzu. Sei a média de vida de cachorros, gatos e cavalos. Já sei fazer curativo de ferida cirúrgica e tirar pontos. Não erro uma parvovirose e nem uma cinomose. E sei ver uma mastectomia de longe. Estou longe de saber alguma coisa de veterinária, mas me orgulho em dizer que sei de tudo um pouco do lugar onde eu trabalho. E acabei pegando gosto. Tanto que de sábado de manha faço bico numa clinica veterinária, na recepção e quebrando galhos.

E como disse sou professora. Professora de informática nas horas vagas. Dou aula de informática básica, computação gráfica e Web Design. Também é uma área que me diverte e me instiga a estar sempre aprendendo mais.

E por fim atriz. É... Bom acabei caindo em um curso profissionalizante de teatro e atualmente estamos fazendo peças na região. Isso é algo que eu amo. Me gratifica e me torna uma pessoa melhor. E pensar que quando eu comecei eu não queria, eu sempre fui tímida demais, nem amigos eu conseguia fazer direito que dirá encantar um publico. Mas fiz o curso porque era na escola onde eu ia dar aulas e isso ajudaria a me soltar com os alunos. E no fim das contas estou firme e forte no teatro a mais de 2 anos. E não tenho pretensão de parar.

Também tenho no meu currículo oratória, vendas e Design de móveis. E um grande passa-tempo que eu queria transformar algum dia em uma profissão rentável é a fotografia. É uma das grandes paixões da minha vida. Eu me divirto e me maravilho dando atenção ao que quase ninguém da nas suas vidas apressadas demais.

E sabe do pior? Eu ainda nem decidi que faculdade fazer. É verdade... São tantas opções. Mas o que eu queria mesmo... Tem haver com todas essas profissões sem ter nada haver com nenhuma delas. Eu ainda não perdi as esperanças de ser uma futura psicóloga.

E essa sou a eu de hoje. A eu que eu tanto falei até agora sem falar nada. Uma garota confusa cheia de coisas pra fazer, que dorme tarde e reclama o dia todo que está com sono. E que mesmo com tanto pra fazer ainda acha um tempinho para o laser, os amigos, para escrever... E infelizmente... Até mesmo para se apaixonar. E foi por culpa do meu emprego numero 1, que eu o conheci.


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Notas finais do capítulo

Continua...