Em um dia ensolarado os dois estavam a conversar em um local tranquilo, pacato.

Poderia talvez a paisagem a qual eles presenciassem ser considerado o reflexo de suas vidas? De suas almas? Essa tranquilidade aconchegante significava muito mais do que aparecia.

O que não poderia se imaginar era a quantidade de segredos e perturbações que esse vazio zelava.

Os desentendimentos já eram tão comuns que não havia mais motivos para mudarem seus tons de vozes. O que poderia parecer uma simples conversa poderia ser uma exaltada discussão de pontos de vista diferentes.

...

Seu nome é Kankri Vantas e você já esta morto. A sua espécie foi extinta em lastimosos acontecimentos que você prefere não discutir nesse momento.

Seus sentimentos são confusos. Você sofre de problemas verborrágicos que são desconhecidos para você. Esses problemas não passam de um disfarce para toda a sua insegurança, você na realidade teme que todos descubram a sua verdadeira face. Na realidade você é muito inseguro sobre tudo aquilo que você cegamente defende. Você crê na igualdade sanguínea da sua espécie, enquanto se sente interiormente menosprezado por ser diferente. Você só queria ser igual aos outros. Aceito em algo que ninguém mais se importa a não ser você.

Mas agora o que você esta conversando não envolve nenhum dos seus problemas, ou pelo menos é isso o que você acredita.

Você esta a conversar com Porrim Maryam, que para você é muito mais do que um simples sentimento pálido, como a sua espécie descreveria a sua amizade. Enquadrava-se como uma verdadeira mãe, mas esse tipo de conceito materno não existe na sua espécie. Então você prefere mentir para os outros e para si mesmo de que não há nada entre vocês e que ela não é a sua “verdadeira mãe”, negando os sentimentos carinhosos que ela nutria por você. Ainda assim se você pudesse a descrevê-la a chamaria de mãe, e você o menino rebelde que teima em aceitar o quanto a ama. E o quanto a quer feliz. Mas a verdade é que você ignora a todos os mandamentos dela e se rebela contra ela para provar sua falsa independência.

E nesse momento era exatamente o que você insistia em fazer.

– Você necessita de mais amigos Kanny, companhias melhores, eu não suporto ver você sozinho dessa forma. – Dizia Porrim enquanto seus preocupados olhos fitavam seu rosto. Ela só desejava o seu bem e você sabia disso, mas sempre se esforçava para esquecer e ignorar a razão, acreditar em algo mais vil.

Você estava preparado para interromper essa coerção em relação a sua vida pessoal, que você tanto odiava. Até que novamente ela o interrompeu subitamente.

– Antes que você comece com o seu discurso, eu não estou dizendo de uma forma romântica, o que eu quero dizer é que você poderia tentar conversar com os outros ou ao menos tentar diminuir seus diálogos intermináveis. Você irá terminar sozinho se continuar assim. – Nesse momento você não conseguia esconder a fúria do seu rosto. Sim esse era o exato assunto que você mais se exaltava e estava determinado a se rebelar com a sua opinião. – Você esta tão rebelde atualmente, eu me lembro de quando você era mais jovem e essa rebeldia não existia, porque os dias não podem voltar a serem como antigamente Kanny? – Os olhos dela suplicavam por algo que você não poderia fazer. Você já não era mais o mesmo verme imaturo que ela conhecia, ou pelo menos era o que você gostava de acreditar.

Você estava prestes a despejar toda sua fúria em palavras que só faziam sentido para você, quando foi interrompido novamente.

– Por que você não tenta dar uma chance para Meulin? – E nesse momento a linha tênue de sua amabilidade foi ultrapassada. Não, de todos os Trolls, não, essa era justamente a escolha mais irritante, era como se o radar para macro agressões de Porrim acabasse de conseguir nesse exato instante alcançar o ponto máximo da sua fúria.

– Porrim, por favor, pare agora. Eu já não sei por onde começar com as ofensas que você cometeu exatamente com o meu ser, são tantos gatilhos disparados que nem adiantaria marca-los. Suas tentativas frustrada e incompetentes de ajudar os outros só esta fazendo com que os irrite e o ideal seria que você ficasse quieta. – E nesse instante talvez um espelho com o reflexo das suas atitudes seria muito bem vindo à sua vida. – Você precisa parar com isso eu já não sou mais um pequeno verme o qual você chamava de Kanny. Eu já amadureci, e eu não gosto mais de ser tratado dessa forma, e você não é nem mesmo a minha “mãe de verdade” para falar assim. E se você não perdesse seu tempo com relacionamentos fúteis ou importunando a minha vida quando eu estou seriamente comprometido na construção de importantes palestras (que não interessavam a ninguém) você entenderia o significado do termo “mãe”. E você ainda se atreve a me importunar com isso? Com esse assunto trivial? Você sabe bem que a Meulin, bem... Não que eu tenha algo contra ela ou também com a sua deficiência física. Mas, olhe para ela, ela é tão infantil e jamais alguns de seus assuntos vão me interessar. Ah não ser, é claro, que eu precisasse alerta-la da maneira errônea que ela vem utilizando seus termos impróprios. Mas de qualquer maneira o que eu quero dizer agora... – Nesse momento você foi interrompido por uma peça que o destino pareceu satisfeito em pregar justamente contra você.

A mesma que você estava a criticar nesse momento ia à sua direção gritando por seu nome de maneira estridente. Em sua mente só havia uma única frase que correspondia a todos os seus pensamentos: “O que ela poderia querer agora?”. Obviamente ela não ouviu nada do que você estava a dizer sobre ela, e mesmo se ela quisesse não iria conseguir por causa da sua surdez...