Your Annabeth escrita por Sídhe


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Primeiro: algumas pessoas me disseram que não leriam porque o nível de spoiler é autíssimo, isso magoa :/ Segundo: Sim, eu sei que o Leo tá caidinho pela Calypso no livro e o povo considera canon, mas ainda não é, e a Calypso pensa que a Reyna é a namorada do Leo. Bom, eu realmente gostei dessa fic porque ela encaixa na história dos livros. Não levem na crítica o que Reyna irá dizer, pois eu shippo Caleo também (na verdade, eu shippo o Leo com qualquer uma que o faça feliz, eu só o quero feliz, mas leyna é o ship supremo).
Boa leitura!



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Leo tamborilou os dedos na mesa e suspirou, olhando para o plano gélido de metal.

Talvez eu possa vê-la outra vez, um lado de sua mente dizia. Não, não pode, respondia o outro.

Cerrou os punhos e bateu-os contra a mesa, extravasando a raiva naquele ato. Era como se toda a sua esperança houvesse sido roubada, ainda mais depois que ele, inutilmente, tentou no dia anterior perguntar a Afrodite se a veria novamente. Tudo o que recebera fora um sorriso sarcástico vindo dos lábios da deusa. Por um momento, ele se perguntou por que ainda estava do lado dos deuses. Eram cruéis e egoístas. A imagem no telão de Argo II mudou, com cenas de campistas sorridentes num treinamento de duelos ou nos campos de morango.

Era por aquilo.

Suas mãos apoiaram-se com força na mesa, tentando eliminar toda a frustração flexionando os braços contra ela, causando uma dor no ombro do garoto. Colocando uma das palmas no local, ele fez uma careta de dor. Calypso certamente poderia cuidar dele se estivesse ali. Mas Leo escolheu os amigos (e o mundo) ao invés dela. Não havia solução.

Soluçou baixo. Aquilo não significava que ele não iria continuar a gostar dela, que ele não iria atrás dela. Ele jurou pelo rio Estige, e cumpriria a promessa. Uma promessa a manter com um alento final. Eram tantas as promessas feitas que ele nem sequer tinha mais certeza à qual a Profecia se referia.

E se ele realmente nunca pudesse encontrar com Calypso outra vez?

Seus olhos estavam vermelhos e ameaçando chorar, escondidos pelo escuro do lugar que tinha como única fonte de luz o telão à sua frente. Ninguém veria, ninguém o encontraria sem um sorriso no rosto; então ele deixou aquilo vir à tona, as lágrimas rolaram por seu rosto enquanto ele encarava o piso, ainda com os braços apoiados na mesa para se manter de pé.

– Quando me sinto sozinha – Uma voz conhecida irrompeu no fundo do lugar. Leo podia sentir a iluminação entrando pela fresta da porta, mas não se virou para ver a dona da voz – E não há ninguém por perto, faço uma prece para minha mãe e penso em algo pelo qual valha a pena viver.

Ele fungou, de costas, e passou o pulso no nariz.

– Tipo o quê? – Observou de relance o rosto dela na escuridão pelo canto do olho.

Reyna deu um pequeno sorriso satisfeito, encarando o chão.

– Boa pergunta.

Ela adentrou a sala, silenciosa como um gato, sentando-se numa das cadeiras e encarando o garoto, somente uma sombra de frente para o telão iluminado. Leo se sentia envergonhado por ela estar o vendo daquele jeito. Aquela era Reyna. Reyna, a garota que havia atravessado meio mundo em seu pegaso, lutando contra espíritos do vento, sacrificando um amigo somente para entregar uma mensagem. Mas não qualquer mensagem, fora ela quem levara a estátua de Athena Partenos, ela quem restaurara a paz entre gregos e romanos. Ela quem os salvara centenas de vezes após Percy e Annabeth saírem do Tártaro. Reyna sempre acreditara neles.

E agora ela estava ali, num pijama qualquer, vendo-o chorar no cômodo mal iluminado como uma criancinha. Ele estava prestes a abrir a boca para pedir desculpas, mas ela fora mais rápida.

– Não se preocupe – O tom de voz dela, geralmente frio e direto, estava calmo – Só mostra que você é humano. – Ela o encarou nos olhos. Leo esperava ver dó – e como ele odiava que sentissem dó dele, mas não, o que ele viu fora um sentimento de compreensão. Ela voltou a falar – Se lhe incomoda que eu veja, posso me retirar... – Reyna se levantou, mas Leo a interviu.

– Tudo bem, não tem problema – Fungou outra vez, limpando as lágrimas com a manga do casaco militar. O casaco que Calypso lhe dera. Sentou-se numa cadeira no lado oposto da mesa, não encarando Reyna nos olhos – O que faz aqui a essa hora? – Sua voz estava embargada e fragilizada.

A garota levantou as sobrancelhas levemente.

– Eu acho que a pergunta certa seria por que você está assim?

– Desde quando se importa? – Soou rude, sem intenção.

Ela o analisou por inteiro, os olhos negros decidindo se considerariam aquilo como uma ameaça ou não.

– Porque você é meu amigo. – Respondeu num tom um pouco menos mordaz que o dele, mas ainda assim que o assustou. – E eu nunca o vi dessa forma.

Leo fungou novamente, ainda decidido a não olhá-la diretamente, brincando com o controle wii do navio entre os dedos. Reyna era alguém confiável, disso ele tinha certeza, desde que a guerra com os gigantes se aproximava, ela demonstrava estar interessada em ajudar a todos. Mesmo que ambos ainda não se entendessem perfeitamente, talvez pelo incidente com Nova Roma semanas atrás, talvez pelo fato de que ambos não eram próximos ou compatíveis. Mas, daquela vez, ele decidiu dar um voto de confiança para ela.

Ele voltou a fazer uma expressão de dor.

– Você já se sentiu – Media as palavras – como se tudo que você pudesse ter lhe fosse tirado? Como se a única tábua de sua salvação fosse transformada em pó?

Reyna o olhou nos olhos, os negros encontrando os castanhos.

– Todos os dias da minha vida.

Ele finalmente retribuíra o olhar. Ela sabia, não sabia? Leo viu a dor nela quando, dias atrás, ela sacrificara o próprio pegaso. Quem sabe eles realmente entendessem a dor um do outro.

A pretora romana olhou para a mesa de forma descontraída:

– Jason me contou sobre você e Calypso. – Sua voz era serena e calma, quebrando o silêncio da noite. Àquela hora todos estavam dormindo. – Ele disse que você perguntou a Afrodite sobre ela e que a resposta não fora das melhores.

– É por isso que está aqui? – Inspirou o ar com dificuldade, olhando para a garota meio encoberta pelas sombras, assim como ele.

Reyna ainda tinha o olhar vago, seu cotovelo se encontrava na mesa, a mão remexendo o lugar onde antes havia o colar. Ele não estava mais lá e ela fez uma careta para aquilo, como se quisesse rosnar.

– Não consigo dormir uma noite inteira.

Ele levantou as sobrancelhas em resposta, mas não estava surpreso.

– Faltam apenas três dias – Ela continuou, franzindo o cenho – Os gigantes estão próximos e Gaia quase acordando. É o fim do mundo e não podemos impedi-lo.

Ninguém falou mais por alguns segundos, ambos presos em seus pensamentos, a vaga luminosidade fazendo parecer a cada um que o outro não estava mais lá.

– Ela me beijou. Calypso. – Ele quebrou o silêncio.

Pela primeira vez na noite, Reyna se mostrou realmente atingida.

– Ela passou a gostar de mim, mas eu tive que ir embora. – Continuou, observando-a desconfiado. – Não que eu a amasse antes disso, mas agora... – Sua voz falhou, mexendo num pedaço de barbante qualquer vindo de seu cinto. Leo estava fraco, não era mais enérgico ou tão bem humorado quanto antes. A cada dia que passava ele piorava e via uma chance menor de rever Calypso - Foi a primeira vez que uma garota me beijou.

A expressão de Reyna era dura como ferro.

– A ama por que ela beijou você? – Sua voz era afiada como uma lâmina.

Ele a olhou desconfiada.

– Bom, não exatamente-

O olhar que ela o deu o fez interromper a si mesmo no meio da frase. A voz dela era puro gelo:

– Você não a ama porque gosta dela. Você a ama porque ela ama você. Isso não é amor, é egoísmo, desespero. Você não suportou a ideia de sair daquela ilha sendo amado por alguém.

Os olhos de Reyna faiscavam de raiva, como se fosse algo há muito guardado.

– E por que você está tão interessada, huh? - Leo falou.

A mandíbula dela foi forçada, tensa. Ela desviou o olhar. Reyna nunca desviava o olhar.

– Você está perdendo o foco da missão.

– Que mentira das piores – Bufou, levantando-se da cadeira - Sou eu quem cuida de tudo neste navio, eu quem mais se preocupa!

Reyna voltou o olhar para Leo, o rosto cheio de mágoa e à beira do choro. Mas ele tinha certeza que ela não o faria na frente dele, ainda mais depois de ter chorado na morte de Cipião. Leo somente não conseguia entender porque ela estava tão sentida com seus pensamentos sobre Calypso.

Ele hesitou.

– Reyna, você... Você está com ciúmes?

Ela fechou os punhos, se levantou e deu um passo à frente tentando intimidá-lo, encarando-o fortemente.

– Não é como se eu quisesse gostar de você. Vênus... - Seus olhos estavam nervosos - Vênus interrompeu tudo o que eu poderia ter com Jason por puro divertimento. Sabe da história, não sabe? Nós poderíamos ter sido mais que melhores amigos.

Fungou, não parecendo mais tão ameaçadora, mas continuou e não o deixou falar.

– Ela me fez acreditar que eu deveria ficar com aquele que destruiu meu lar. No início pensei que fosse Percy, mas foi você quem destruiu meu Acampamento, meu único lar de verdade. Ela é cruel e só se importa em fazer com que eu crie expectativas infundadas.

Por um instante Leo pensou que ela o bateria, mas Reyna apenas virou o rosto, se distanciando dele e fungando mais uma vez, mas não chorava. Ela era forte demais.

Vendo-a assim, a imagem dela pareceu igual à Annabeth, antes mesmo de Argo II ter sido construído. Ela tinha a mesma expressão de quando Percy havia desaparecido: Nada nem ninguém poderia impedi-la ou mudar o que sentia. As sobrancelhas franzidas, a expressão dura e pensativa, os lábios crispados numa fina linha junto da mandíbula forçada. Loiras agora o pareciam perigosas, mas nenhuma se compararia à filha de Belona. Reyna tinha um brilho assassino e frio nos olhos.

O mesmo brilho que viu no espelho de bronze mostrado a ele por Calypso, na qual Reyna cravava sua adaga nos venti e os matava enquanto viajava por si só até o outro lado do mundo.

A voz de Calypso ecoou novamente para o momento. “É ela a sua namorada? A sua Penélope? A sua Elizabeth? A sua Annabeth?”

Seus olhos agora o encaravam, desconfiados, prontos para o que ela diria.

– Deveria ser eu ao invés de Calypso - Tudo que ele conseguiu foi engolir em seco e desviar o olhar enquanto ela prosseguia, com a voz mais alta do que deveria - Um beijo não é motivo para você gostar dela.

E quem é você para julgar?, a mente dele dizia. Ele sentia a raiva aumentando e o sangue pulsando em sua cabeça, o ombro ficando com dor novamente.

– Não gosto dela pelo beijo! – Rebateu, também aumentando o tom – Ela não me rejeitou. Você entende o quanto fui rejeitado por toda garota de quem eu gostava?

Reyna parecia que iria explodir de fúria.

– Eu também estou sozinha – Rosnou - Mas eu penso na guerra e no que irá acontecer a meus amigos caso nosso lado perca! – Exclamou, perdendo todo o controle que tinha. Sua armadura psicológica havia quebrado novamente – Pare um pouco de pensar sobre si mesmo e tente entender que não é o único aqui que está sofrendo com as consequências! Não somos suas máquinas.

Aquilo o atingiu como um tapa na cara, mais uma vez fora dito a Leo que ele se importava mais consigo do que com seus amigos, como se a vez passada fosse apenas o levantar da mão.

– Então quer dizer que se eu te beijasse, isso não significaria nada para você? – As palavras jorraram de sua boca sem nenhuma intenção, mas era tarde demais para reverter, ele estava com o rosto a poucos centímetros do dela. Vapor emanava de sua pele.

– Controle a sua língua e o que ela diz! – Ela rebateu.

– Que tal a sua me ajudar? – O garoto, no modo seu automático, fez a piada com sarcasmo.

Se assustou quando Reyna puxou-o e se inclinou, tocando a mão em seu pescoço e pressionando os lábios quentes de raiva contra os seus. A boca de Leo queimava, e a sensação de um curto-circuito em seu cérebro fora tão mais forte do que quando beijara Calypso. Ele retribuiu, abraçando-a com os braços magros ao redor da cintura.

Não conseguiu ver seu rosto quando se separaram num impulso, mas percebeu que Reyna olhava para a porta com um olhar aterrorizado.

Frank Zhang murmurou da porta:

– Ouvi vozes – Sua voz falhava, tocando a mão na parede com os olhos arregalados. – E-eu...

Reyna foi a primeira a tomar coragem. Ela engoliu em seco e andou até ele.

– Zhang... – Falou, o encarando duramente. Era estranho, ele era muito mais alto e forte do que ela, mas a pretora o fazia se encolher como se fosse um monstro assustador – O que você viu? – Sua voz era fria.

Ele engoliu em seco e se endireitou.

– Nada – Expirou, a respiração rara – Eu não vi nada.

Ela, ainda meio em estado de choque, tocou uma mão no ombro do asiático e deu um último olhar para Leo. Nele não tinha nenhum desprezo, mas um horror que não era natural à ela. Quando saiu da sala, Frank pareceu relaxar, mas não tanto até olhar para Leo, que ainda mantinha as orelhas quentes pelo que haviam feito segundos antes.

– Desde quando vocês... vocês? – Ele parecia confuso com sua cara de bebê.

Leo engoliu em seco, sem saber o que responder. Uma pergunta veio.

– Frank, não que possa se medir o quanto você gosta da Hazel, mas... – Ele chacoalhou a cabeça, como que para fazer uma máquina emperrada voltar a funcionar - Você gosta dela como Percy gosta de Annabeth? Considera Hazel a sua Annabeth?

– Mas é claro que sim. – Os poucos centímetros a mais e o novo cargo de pretor talvez o tivesse feito mais confiante, afinal. Da última vez, Frank parecia hesitante em responder, mas agora não tinha dúvidas. Talvez também fosse por ter segurado sua namorada quase morta em seus braços. – Por quê?

– Me belisca. – Leo disse.

– O quê?

– Me belisca – Repetiu – Estou sendo disputado por duas garotas. Ou estou sonhando ou tinha alguma coisa no meu café da manhã.

Frank levantou as sobrancelhas.

Leo lembrou do que Calypso havia lhe dito. Seria ele capaz de gostar de Reyna tanto quanto Percy gostava de Annabeth? Cairia no Tártaro por ela?

Ele não sabia responder. Mas quando a sala ficou mais fria e solitária com a saída do outro garoto, sua mente pensou automaticamente numa frase.

Tocou os lábios com as pontas de seus finos dedos, que ainda formigavam do beijo.

“É ela a sua Annabeth?”


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Notas finais do capítulo

A parte de Leo falando com Afrodite e Reyna perdendo o colar - para encaixar na fic 'Você Não Quer Dançar Comigo?' - foram criadas por mim. E essa fic vai para a Jade (vulgo, Areals), porque o níver dela está chegando e eu usei uma teoria (sobre o que Afrodite disse para Reyna) dela na fic, então devo dar os devidos créditos :3 Feliz aniversário!
Espero que tenham gostado!