90 Dias escrita por Gaby Molina


Capítulo 9
Capítulo 9 - Jem e Angie


Notas iniciais do capítulo

Olá :3



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Jem

Somedays I can't even trust myself

It's killing me to see you this way...

— Little Talks, Of Monsters And Men

Arrastei-me até meu quarto. Tori ficou parada na porta, fitando-me com aquele par de olhos dourados que Deus sabe de onde vieram (nossos pais têm olhos escuros como os meus). Apenas mais um sinal de que ela é especial.

— Você não vai me questionar? — perguntou, desconfiada.

— Não. Boa noite.

— Mas...

— Eu só quero dormir, está bem? Ou eu durmo, ou eu me encho de vodka, porque eu realmente não quero enfrentar meus dilemas neste exato momento.

— Ok, eu também não estava ansiosa por essa conversa — ela deu de ombros e foi para o próprio quarto.

* * *

Segunda-feira chegou mais rápido do que eu gostaria. Cheguei ao colégio e Tori já começou a olhar em volta.

— Cadê a Angie?! Não falo com ela desde sábado... — disse ela, mordendo o lábio.

— Não sei se quero saber.

Tori ergueu uma sobrancelha.

— Certo, eu deveria ter imaginado que essa era a causa da sua súbita necessidade de beber.

— Angie não é a causa de nada, está bem? E não fale disso com ela.

— Tudo bem. Mas só porque você não me questionou ontem.

— É verdade. Esqueci disso. Sortuda. E... Merda, ela está vindo para cá — suspirei. — Até depois.

Ver Angie trouxe todas as memórias de volta. Até as que eu não queria que voltassem.

— Certo, desculpe — ela me afastou, mordendo o lábio. — Não posso fazer isso.

— Por que não? — ergui uma sobrancelha, mas não a soltei.

— Eu só... — ela me fitou com aqueles grandes olhos azuis. — Droga, Jem. Você é incrível, mas... Somos só amigos.

— Passamos os últimos cinco minutos nos beijando. Preciso lembrar você disso?

— Não. Eu me lembro bem. Eu... não sou a pessoa certa para você gostar, está bem? — Eu já sou bem grandinho, Angie. Posso decidir isso sozinho.

— Por favor — ela desviou o olhar. — Não se apegue a mim.

— Tarde demais. Afinal, você não está fazendo sentido nenhum.

— Eu... sei. Amigos, certo? Amigos. É mais fácil.

— Não, não é.

— Tá, Jem, eu sei! — ela bufou. — Eu estraguei tudo e não vou estragar de novo! Faça a si mesmo um favor e não se apaixone por mim!

E então ela saiu andando e não a vi até segunda-feira. Foi como vislumbrar o Paraíso e ter alguém te dizendo que você não pode ficar.

Um fato sobre a Angie: ela sempre conhece você melhor do que você a conhece. E é a rainha dos esconderijos, então é claro que me encontrou.

— Oi! — sorriu, sentando-se ao meu lado.

— Oi. Que bom que voltou para casa bem no Sábado.

— É, a Cassie tinha uns trocados para o táxi. Eu mandei umas mensagens para você no fim de semana. E você não apareceu na venda de bolinhos.

— Não recebi as mensagens.

— Recebeu, sim. Você não passa cinco minutos sem checar o próprio celular.

Isso era quando eu realmente almejava uma mensagem sua, pensei.

— Dormi demais no Domingo.

Eu podia sentir o olhar de Angie em mim. Ela estava linda como sempre, os cabelos ainda mais dourados por causa do sol colocados atrás da orelha, o nariz levemente torcido para indicar que não acreditava em mim, os pés balançando porque ela era baixinha demais para alcançar o chão... Eu não conseguia tirar nada daquilo de minha cabeça. E agora, para completar, ainda sentia o gosto dos lábios dela, que vinham junto com o soco no estômago do discurso de "Só amigos".

— Lembra aquilo que você falou, sobre ter estragado tudo e sobre não estragar tudo de novo? — fitei-a, me levantando. — Você está fazendo um péssimo trabalho, porque continua estragando tudo de novo e de novo cada vez que abre a boca.

— Jem... — ela se levantou.

— Não! Pare — me aproximei, respirando fundo. — Ou você me diz que porra está acontecendo. Ou simplesmente... me esqueça, está bem? Nem parece ser tão difícil assim.

Ela apenas ficou ali parada, sem dizer nada.

— Certo, foi legal conhecer você — suspirei e saí andando, usando todas as minhas forças para não voltar atrás e beijá-la, ganhar outro discurso e me foder de novo.

Angie

Cold, dark sea, your waves are rocking me

I close my eyes and fall asleep, all eyes on me

Your eyes on me

— Sinking Man, Of Monsters And Men

[Jem fez umas caras tão revoltadas agora. Foi hilário, vocês tinham que ter visto] Foco. Certo. Minhas tentativas de voltar a falar com Jem normalmente foram brutalmente repudiadas. Eu não podia dizer que estava surpresa, mas ainda tinha aquela pequena centelha de esperança de que as coisas ficariam bem.

Bem, elas ficariam, dali a 76 dias, quando eu voltaria para Mendocino, Califórnia, e teria minha vida de volta.

Uma vida que não incluiria Jem. Ou Cassie. Ou Tori. Então era melhor que eles se acostumassem a não me querer por perto.

Era diferente com as meninas, elas eram minhas parceiras de trabalhos, compras, festas e fofocas; elas continuariam fazendo as mesmas coisas quando eu fosse embora. Mas Jem...

A última coisa que eu queria era magoá-lo, e foi a única coisa que eu realmente conseguira fazer. Eu tinha 90 dias para não me apegar, e em menos de 15 já tinha dado uns amassos com um dos caras mais populares (e surpreendentemente legais) do colégio.

Sentei-me no telhado, onde tinha certeza de que Jem não iria aparecer, e fiquei pensando em que merda estava fazendo com a minha vida.

Foi quando ouvi passos.

— Jem? — chamei, esperançosa.

— Não. Desculpe — Tori corou um pouco. — Cassie me contou sobre o seu esconderijo. Quer ficar sozinha?

Fiz que não com a cabeça e Tori subiu. Só que Tori era a pessoa mais princesa e menos inclinada a esportes do mundo, então eu tive que impedir que ela caísse pelo menos umas sete vezes. Por fim, ela se sentou ao meu lado.

— O que aconteceu entre você e o meu irmão? Em resposta, apenas dei de ombros.

— Acho que acabou de vez — falei baixinho.

— Você queria que acabasse?

Dei de ombros novamente.

— Enfim, eu não sou importante. Como você voltou para casa no sábado?

Ela riu um pouco como se lembrasse de alguma história.

— Um velho amigo.

Ouvimos o sinal que indicava a primeira aula ao longe.

— Deveríamos ir.

— Com certeza — Tori me fitou por um momento. — Só me responde uma coisa: meu irmão beija bem?

Soltei um riso nervoso.

— Você está seriamente me perguntando isso?

— É, sabe, é o tipo de coisa que eu deveria saber.

— Por quê?!

— Porque talvez assim entendesse o que as garotas veem nele.

Abri a boca, mas logo depois fechei.

— Eu não vou ser a pessoa a te dizer isso, está bem? Nem quero pensar em Jem agora. Ou nunca mais.

Saí correndo. No caminho vi Jem lendo num banco, e eu sabia que ele tinha me visto, mas não desviou o olhar. Era melhor assim. Ele claramente não podia ser só meu amigo, e eu não podia deixar que fosse mais do que isso. Não sabia se ele era do tipo que desapegava rápido, mas eu não era. Então apenas encaminhei-me para a classe, tentando encontrar alguma música que expressasse exatamente o que eu estava sentindo.

So I think it's best

We both forget

Before we dwell on it

The way you held me so tight...

Desliguei o walkman. Of Monsters And Men sempre fora minha salvação, mas agora eu os associava com Jem. Sentei-me em minha cadeira, sentindo o perfume conhecido que vinha da cadeira de trás. Aquele seria um longo dia.


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