A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 7
Capítulo 6




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HOGWARTS, ESCÓCIA – 14 anos antes

- Isto é loucura! Se nos pegarem... - Draco resmungou pela enésima vez enquanto acompanhava Astoria no percurso longo que era a escadaria de acesso a Torre de Adivinhação.

- Se você resmungar mais uma vez eu te empurro escada abaixo. - Astoria reclamou em um tom azedo e Draco calou a boca. Não duvidava que ela realmente fizesse isto, pois era doida desse jeito.

- Por que estamos indo para a Torre de Adivinhação? - perguntou quando pisou no nonagésimo degrau. Sério mesmo, esta escada não acabava?

- Para colocar um pouco de aventura em sua vida patética?

- Vida patética? - Draco soltou ultrajado. A vida dele não andava nada patética nos últimos tempos.

Astoria parou em um degrau, virando-se abruptamente para encará-lo, o que fez Draco frear de pronto antes que esbarrasse nela.

- Eu sei, a sua vida é uma merda. O Lorde das Trevas está acampado em sua casa, você tem uma marca no braço como se fosse gado de abate e uma guerra está acontecendo lá fora e você está no olho do furacão. Mas saca só! Você não é o único! Então termine de subir esta bosta de escada ou eu o faço subir chutando a sua bunda ossuda até lá em cima. - Astoria disse tudo em um fôlego só e fuzilando Draco com o o olhar, o que o fez engolir em seco e continuar a subir a escada assim que ela voltou a andar, sem dizer mais uma vírgula durante o resto do percurso.

- Brilhante, e agora? - Draco perguntou quando eles finalmente chegaram ao topo da escada apenas para darem de cara com a porta do alçapão fechada.

- Agora que você entra. - Astoria virou-se para ele com um enorme sorriso no rosto. Um sorriso que prometia algo nada bom e que provavelmente o colocaria em alguma encrenca nos próximos minutos.

- Como é?

- Feitiços de levitar. Você deve ter aprendido algum nesses adoráveis anos em que passou em Hogwarts. - Draco engoliu em seco mais uma vez. Havia ouvido sobre o assunto em alguma aula de Flitwick, mas isto foi durante o sexto ano e nesse ano ele estava mais preocupado com outras coisas. Do tipo: manter a sua família viva ao invés de tirar boas notas na escola.

- Você quer que eu a levite até o alçapão?

- Ding, ding, ding, temos um vencedor!

- E depois? - resmungou, cruzando os braços sobre o peito. - A porta provavelmente está trancada com feitiços poderosos. Não vou poder sustentá-la por muito tempo no ar enquanto você tenta arrombá-la. E pode haver alarmes... - Astoria rolou os olhos e isso o fez calar-se de pronto.

- Para que Comensais da Morte colocariam feitiços de tranca na porta e alarmes em uma sala que só tinha incensos e porcelana barata? Além do mais, a maioria deles não deve nem lembrar da existência dessa sala. Pensei que havia notado isso diante da ausência de guardas perambulando por esta ala da escola.

Draco notou. Óbvio. No segundo em que pôs os pés fora da sala comunal da Sonserina, ele quase foi pego umas três vezes durante o percurso entre as masmorras e a torre. Tudo para se encontrar com uma menina com quem conversou umas três vezes. Mas à medida em que se aproximava da antiga sala de Adivinhação, notara que a guarda ficava mais e mais escassa.

Durante todo o tempo ele ficou se perguntando o porquê de estar fazendo aquilo. Astoria Greengrass era uma Corvinal desregulada, uma mestiça que parecia obcecada por ele sem motivo algum. Ou talvez com o motivo de querer simplesmente se rebelar ao associar-se com alguém tão mal visto como ele.

A fama de Draco já era ruim na escola antes do sexto ano. Depois disso, os seus colegas que previamente o olhavam com desprezo simplesmente porque ele era um menino mimado e arrogante, agora o olhavam com desprezo, medo e nojo. Mais nojo da parte dos grifinórios, simplesmente porque ele era um menino mimado e arrogante que cometeu a burrice de seguir o Lorde das Trevas.

E cada vez que ele recebia os olhares de nojo, Draco queria gritar. Gritar para os grifinórios idiotas que era muito fácil lançar acusações e julgá-lo quando eles não sabiam metade da história. E, talvez, se soubessem, diriam que Draco tinha opções, que ele poderia lutar, mas foi covarde.

Draco Malfoy foi covarde. Ele era um covarde, isso não era novidade para ninguém. Mas desculpe se ao invés de dizer não a um dos bruxos das trevas mais poderosos de todos os tempos, ele resolveu dizer sim, como todo garoto de dezesseis anos que não queria perder os pais tão cedo e tornar-se mais um órfão de guerra.

- E então? - Draco piscou, saindo de seus devaneios e mirando a garota na sua frente. Ela tinha uma sobrancelha erguida e os braços cruzados sobre o peito. Malfoy rolou os olhos, retirando a sua varinha de dentro do seu blazer de alta costura, novamente se perguntando por que deixava-se associar com Greengrass.

Astoria era o completo oposto dele até mesmo na hora de se vestir, mostrando claramente a sua origem e criação trouxa. A garota usava calça jeans gasta, um casaco de moletom de capuz onde estava escrito “Cambridge University”, uma jaqueta jeans sobre esse mesmo casaco e botas de couro com cadarços. Totalmente diferente de Draco que vestia blazer, calça de alfaiataria, camisa de seda de botões e sapatos italianos. O cabelo dela estava em um coque mal feito, o de Draco penteado impecavelmente, as mãos tinham a pele ressecada e dedos com unhas roídas, enquanto as mãos de Malfoy eram perfeitamente cuidadas e de unhas bem feitas.

Poderia estar em uma fase ruim da sua vida, mas ainda mantinha as aparências.

Astoria Greengrass nem bonita era. Não a beleza aristocrata das mulheres com quem Draco estava acostumado a conviver durante os tempos áureos dos Malfoy. Ela era simplória como qualquer outra pessoa e que, em um bom dia, nem lhe chamaria a atenção e provavelmente seria vítima do bullying de Draco.

- Malfoy! - o chamou em um tom impaciente. - Para hoje seria bom. - resmungou e Draco inspirou profundamente e evitou rolar os olhos. Astoria e ele não tinham nada em comum mas, no momento, ela era a única pessoa que apreciava a companhia dele. O restante da escola, até mesmo os seus companheiros de casa, o tratava como se ele tivesse uma doença contagiosa. Talvez Crabbe e Goyle fossem os únicos que ainda se prestavam a conversar com ele, mas os dois grandalhões não eram homens de muitas palavras e vez ou outra Draco precisava ter uma conversa inteligente com alguém.

Pansy era geralmente a pessoa para quem corria, mas essa percebeu que não era uma boa ideia associar-se com um Malfoy, já que a família não mais encontrava-se nas boas graças do Lorde das Trevas. Parkinson agora tirava o tempo para bajular Nott, o que enfurecia Draco. Sabia que a garota era uma vadia aproveitadora desde que a conheceu, mas saber disto e testemunhar isto era uma diferença muito grande. Algo que feriu o pouco orgulho que sobrava em Malfoy.

- Pronta? - perguntou e não esperou que Greengrass dissesse alguma coisa, apenas apontou a varinha para ela e murmurou o feitiço sob a respiração.

Logo Astoria estava pairando a alguns centímetros acima do chão e pouco a pouco foi subindo mais até que o topo de sua cabeça chocou com o alçapão de madeira. Ela retirou a varinha de dentro da manga do casaco e a apontou para a tranca da porta, murmurando uma coisa o outra para si mesma até que Draco ouviu o clique familiar de fechadura se destravando.

Astoria abriu o alçapão, segurando na borda desde e impulsionando o seu corpo para cima. Quando os pés dela desapareceram pela abertura, Draco encerrou o feitiço e esperou apenas alguns segundos para ver a escada mágica de corda ser lançada em pleno ar e em sua direção. Guardou a varinha novamente no bolso de seu blazer e agarrou a escada, a subindo rapidamente e passando pelo alçapão as pressas. Nenhum alarme tinha soado quando Greengrass arrombou a porta, mas era melhor prevenir do que remediar. E somente quando Astoria recolheu a escada e fechou a porta foi que ele respirou aliviado.

- E agora que estamos aqui, fazemos o quê? - Draco perguntou com escárnio. A sala estava mergulhada na escuridão. Não, engano dele, um fraco feixe de luz vinha da parede e quando Astoria acendeu a sua varinha, Malfoy viu que a parede na verdade eram grossas cortinas que estavam entreabertas e deixavam um raio de luar passar e iluminar pobremente a sala.

- Agora observe e veja a mágica acontecer. - Astoria foi até as ditas cortinas e puxou uma delas, a deslizando pelo suporte e deixando a mostra uma porta de vidro que ela destrancou e abriu. Uma brisa fria entrou na sala assim que a porta foi aberta e a garota virou-se para encará-lo. - Você vem ou não? - e cruzou a porta.

Draco rolou os olhos, inspirou profundamente e seguiu Astoria, se perguntando pela enésima vez por que estava fazendo as vontades daquela garota maluca.

Assim que cruzou o batente, Malfoy arregalou os olhos surpreso.

A porta levava a uma pequena varanda que dava vista a praticamente todo o terreno de Hogwarts. Os topos das árvores da floresta proibida eram iluminados pela lua crescente que era refletida na superfície cristalina do lago da escola. Ao longe podia-se ver as luzes de Hogsmeade e as estrelas no manto negro do céu brilhavam tanto que eram um show à parte.

O único som possível de se ouvir naquela altura era o sibilo do vento e o farfalhar das folhas as árvores. E ali, tão no alto e com aquela vista, Draco pensou que por um segundo todos os seus problemas deveriam ser esquecidos e que não valia a pena nem ao menos manchar aquele cenário ao pensar neles.

- Por que você está fazendo isto? - perguntou depois de minutos de silêncio, com Astoria e ele parados lado a lado no parapeito da varanda e observando a bela paisagem.

- Fazendo o quê? - Astoria respondeu sem nem ao menos desviar o olhar do céu estrelado, apenas apoiando os cotovelos sobre a pedra do parapeito e descansando o queixo nas palmas das mãos.

- Falando comigo, me trazendo para lugares como este. O que você espera ganhar disto? - era a pergunta que martelava na mente de Draco cada vez que alguém se aproximava de boa vontade dele.

No passado, quando o nome Malfoy ainda exercia alguma influência, aqueles que eram generosos demais com a sua família sempre queriam algo em troca. Lucius ensinara Draco desde cedo a sempre desconfiar da aparente bondade alheia. Por isso que ele passou os anos de escola desprezando tudo e todos e tratando aqueles que o rodeava e o bajulava mais como propensos aliados do que propensos amigos. E na única vez em que considerou realmente deixar alguém se aproximar, esse alguém cuspiu em sua oferta de amizade e foi se associar com um dos pobretões Weasley.

Hoje o nome Malfoy não era mais glamouroso, então não tinha porque despertar o interesse de terceiros.

- É tão difícil para você acreditar que talvez algumas pessoas queiram a sua companhia apenas por querer? - Astoria virou-se para encará-lo, com ambas as sobrancelhas erguidas, e Draco bufou.

- Sim, é. Ao menos na minha experiência.

- Sua experiência? Ah, sim, claro! Os lacaios com quem você anda e que estão mais para propensos associados do que amigos de verdade. Mas aí eu pergunto: em algum momento você quis ser amigo de algum deles?

- São todos sonserinos, Greengrass. Faça amizade com um deles e prepare-se para ser traído. - falou em um tom de aviso, mas Astoria somente riu, ignorando o alerta dele e a ameaça de que se ela continuasse com aquela loucura de querer interagir com Draco estava simplesmente pedindo para ser traída.

- O bruxo faz a casa, não o inverso. Por exemplo: na Corvinal deveria ter somente aqueles que têm sede de saber, mas as minhas notas mal servem para eu passar de ano. Daphne, por outro lado, devora livros com a mesma velocidade com que o meu pai devora uma das tortas de amora da minha mãe. Você piscou e ela já acabou. E, mesmo assim, ela está na Sonserina. O que isso lhe diz?

- Que a sua loucura é genética. - zombou e Astoria riu.

- Você quer mesmo saber por que eu faço isto? Porque em uma bela tarde chuvosa eu estava voltando da minha prática de direção e vi um garoto sentado no parapeito de uma janela olhando a rua e me observando discutir com a minha irmã. Na hora eu não dei importância, mas então percebi que ele continuou a fazer isto todos os dias e então pensei: nossa, ele deve estar muito no tédio para achar que a coisa mais interessante do seu dia é ver as irmãs Greengrass discutindo no meio da rua.

- Aproximou-se de mim por pena? - Draco rosnou. Não queria a pena de Astoria. Pena era pior do que interesse. Era o atestado de que ele já tinha deixado de ser patético e agora era digno de pena de uma garota de quinze anos que usava roupas surradas e tinha uma mãe trouxa.

- Pena? Não sou do tipo de apiedar-se das pessoas. Me aproximei de você por curiosidade. Conhecia a sua fama dos anos prévios em Hogwarts, do que ouvi falar de você e do que a minha irmã me disse. Pelo que ouvi falar, você era o tipo de pessoa que vivia com uma barreira ao seu redor, impossibilitando qualquer aproximação física. Naqueles dias em Spinner's End você não pareceu tão inalcançável assim e eu pensei: talvez eu devesse falar com ele, saber o que ele tem para as pessoas o acharem intocável. E sabe o que eu descobri? Draco Malfoy é tão humano quanto eu e faz merda como qualquer outro e agora está enfrentando as consequências.

- Então é isso, você quer se gabar. Rir da minha miséria.

- Por que diabos você acha que o mundo gira em torno do seu umbigo? - Astoria resmungou. - Não sei o que os seus pais andaram dizendo para você quando criança, mas você não é o centro do Universo. Por isso, baixa a bola se não quiser levar um soco na cara. Porque sendo humano você sangra e vai ficar com um belo hematoma no rostinho bonito se não parar com a frescura. - disse em um tom cortante e Draco calou a boca. Algo no olhar de Greengrass o fazia ter certeza de que ela realmente era capaz de deixá-lo com um olho roxo.

- Então você me abordou porque estava curiosa e queria saber se eu era realmente tudo isso que as pessoas falavam. - disse depois de alguns minutos quieto. - Então você descobriu que as pessoas estavam exagerando. Mas e depois? Por que continuou?

- Você é realmente desconfiado.

- Greengrass... - Astoria suspirou.

- Estamos em guerra Malfoy e se não percebeu, até mesmo aqueles que ontem eram melhores amigos hoje desconfiam um do outro. Não dá para andar nesta escola sem olhar por cima do ombro e esperar ser apunhalado. Hogwarts, assim como o resto do mundo mágico, virou terra de ninguém. Eu não posso nem ao menos falar com a minha irmã pois serei punida por uma reles corvinal tentar falar com uma sonserina. - Draco encolheu os ombros em pesar.

A segregação também estava forte entre as casas. Sendo a Sonserina a ex-casa do Lorde das Trevas e boa parte dos Comensais da Morte, assim como do diretor da escola, ela estava recebendo alguns privilégios que as outras casas não recebiam. E mesmo que na Sonserina houvesse mestiços, esses eram melhores tratados do que os outros mestiços da escola.

- E você achou que se envolver comigo seria uma boa ideia? - Malfoy soltou em um tom de escárnio e Astoria respondeu com um riso curto e seco.

- Não. Achei que você nem ao menos perderia o seu tempo comigo, mas me enganei, não é mesmo? Assim como eu, você está desesperado em ter uma válvula de escape, algo que o faça esquecer de tudo o que está acontecendo a nossa volta.

- E você encontrou a sua válvula de escape em mim.

- E você a encontrou em mim.

- Não seja tão arrogante.

- Não sou? - Astoria riu zombeteira e olhou para o relógio em seu pulso. - Estamos aqui em cima há quarenta minutos. Me diga quantas vezes você pensou na guerra, ou no que está acontecendo em sua casa, ou em Você-Sabe-Quem, durante esse tempo? - Draco piscou repetidamente.

Quantas vezes ele pensou? Talvez uma, no segundo em que cruzou o batente da porta, e depois não mais.

- Espera ganhar um doce por estar certa? - Astoria gargalhou diante da expressão contrariada que Malfoy fazia.

- Não. Mas espero encontrá-lo aqui amanhã, neste mesmo horário.

- E o que a faz pensar que eu virei e não simplesmente te denunciarei aos guardas. Que hoje eu vim somente para lhe dar uma falsa sensação de segurança mas que, no fundo, estou na verdade armando para você. - provocou e Greengrass apenas o mirou em silêncio por longos segundos antes de dizer:

- Você estará aqui amanhã. - falou, dando a volta por ele e alcançando a porta de vidro.

- Como tem tanta certeza?

- Porque você precisa de mim... Tanto quanto eu preciso de você. - disse isso e logo depois sumiu na escuridão da sala.

Draco ouviu a porta do alçapão ser aberta e depois fechada e em seguida silêncio, indicando a partida de Astoria. Voltou a sua atenção para o cenário na sua frente e suspirou.

Greengrass tinha razão: precisava dela. O encontro entre eles havia sido nada convencional, a aproximação dela fora dos padrões, a relação que eles construíam era sem sentido, mas agora não conseguia imaginar os seus dias sem a presença de Astoria neles. Em tão pouco tempo tinha se apegado a uma desconhecida e jogado ao vento toda a cautela que aprendeu de seu pai. O relacionamento deles era algo que estava fadado ao fracasso, mas Draco pouco se importava.

Agir mais e pensar menos, foi o que Astoria lhe disse no dia anterior. Talvez fosse uma nova e importante lição a se aprender, não é mesmo?


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