A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/425058/chapter/5

HOGWARTS, ESCÓCIA – 14 anos antes

Hogwarts era para ser o segundo lar de quem está fora do lar. Um abrigo para todas as crianças mágicas do Reino Unido. Um lugar de educação, sabedoria, estudos, risadas e alegrias.

Bem, Hogwarts era isto, meses antes. Antes de um Draco desesperado em garantir a vida de sua família consertar o armário sumidouro e trazer Comensais da Morte para dentro da escola. Antes do Lorde das Trevas finalmente obter o controle do Ministério e colocar Snape como diretor do colégio. Antes de tudo ir para o buraco de vez.

Hoje Hogwarts tinha a mesma animação de um cemitério em dia de chuva e contendo um cortejo fúnebre. Os alunos cruzavam um com os outros nos corredores e mal se olhavam nos olhos. Os sangue ruins... Não, nascidos trouxas. Draco estava se obrigando a mudar de atitude, pois estava tão enojado consigo mesmo que não conseguia mais ver nenhum glamour nas propostas de grandeza e purificação da raça pregadas por Você-Sabe-Quem.

De qualquer maneira, os nascidos trouxas foram expulsos da escola na primeira oportunidade. Os mestiços foram mantidos por misericórdia do diretor que servia de testa de ferro do Lorde das Trevas. Porque ninguém ali era mais inocente para acreditar que tudo que saía da boca de Snape era fruto da mente dele, mas sim palavras repetidas do próprio Lorde das Trevas. E eram esses mestiços que não cruzavam o olhar com os colegas sangue puro.

Uma segregação surgiu na escola e não era mais incomum ouvir os gritos dos alunos que eram torturados pelos irmãos Carrow por qualquer motivo que fosse.

Entretanto, se para os colegas a nova Hogwarts havia se tornado o inferno em terra, para Draco já tinha ido muito além disso.

Cada corredor que passava pela manhã lhe trazia lembranças do ataque prévio. Não conseguia mais subir na Torre de Astronomia sem ter uma vertigem ou frequentar o terreno atrás dela sem se lembrar do corpo de Dumbledore estendido na grama. O silêncio sepulcral que predominava no Salão Principal durante as refeições era sufocador e toda vez que Draco lançava um olhar para a mesa dos professores e via Snape sentado na cadeira do diretor, ele tinha vontade de vomitar.

A biblioteca, no fim, tornou-se o refúgio de muitos, embora a cada dia que passasse estivesse perdendo mais livros. Qualquer exemplar que tivesse uma menção que fosse a trouxas era queimado em uma fogueira santa na entrada da escola. Na primeira vez que isto aconteceu, Madame Pince pensou em protestar, apenas para ser calada por um olhar de McGonagall e um aceno negativo de cabeça vindo dela. Antes perder os livros do que perder a vida. Mas, ainda sim, os corredores de estantes ainda eram o melhor lugar para se esconder dos Comensais que perambulavam pelo castelo.

E se esconder era o que Draco fazia no momento.

- Hey! - era uma prova de como o ambiente de Hogwarts estava hostil e o quão acostumado Malfoy estava com os gritos de tortura dos colegas, que ele nem ao menos pulou de susto quando Astoria apareceu ao seu lado.

- Não deveria estar falando comigo, sabia? - disse em um tom tão baixo que obrigou a garota a dar mais um passo em sua direção para ouvi-lo.

Astoria e ele tinham criado uma estranha relação nas duas únicas noites em que ficaram a madrugada inteira sentados no meio fio de Spinner's End falando sobre tudo e nada. Greengrass fazia brincadeiras e piadas sobre a guerra que primeiramente ofendia Draco, por ser alguém que estava vivendo tudo aquilo, para depois arrancar uma risada dele. Afinal, se não risse da sua desgraça o que mais ele faria? Se lamentar? Estava na merda, mas ainda tinha o seu orgulho Malfoy.

Contudo, depois que ele voltou para casa (se é que ele pudesse chamar a mansão novamente de casa com o Lorde das Trevas a denegrindo da maneira que estava) perdeu o contato com a garota e mesmo voltando para Hogwarts não falou mais com ela. Astoria era uma mestiça que estava na Corvinal e ele um sangue puro na Sonserina. Se dirigisse um oi que fosse na direção dela seria a jovem a ser punida sob a acusação de estar influenciando com o seu sangue trouxa os pobres e inocentes sangue puros.

- Por quê? Está com alguma doença contagiosa da qual eu não estou sabendo? - Draco nada respondeu, apenas a olhou atravessado e voltou a sua atenção para as espinhas dos livros na estante na sua frente. Astoria bufou e encostou na estante com tamanha força que se a mesma não tivesse feitiços sustentadores a mantendo no lugar, teria tremido intensamente e derrubado um volume ou outro.

Silêncio prevaleceu entre os dois e por um momento Draco pensou que ela desistiria de atormentá-lo e iria embora, mas não foi o que aconteceu.

- Mas e então, como foi o seu verão? - Malfoy lançou um olhar incrédulo para Astoria.

Recordava, em algum momento durante as suas conversas, de que havia dito à garota que fora intimado pelo Lorde das Trevas a voltar para casa. Casa esta que ele estava usando como base para aprisionar e torturar os seus inimigos. E Greengrass ainda tinha a cara de pau de perguntar como havia sido o verão dele?

Bem, vamos resumir:

Um bruxo psicótico estava usando o quarto do seus pais como moradia, dormindo na cama deles e fazendo-se sabe-se lá o que com aquela cobra com a qual Draco suspeitava que ele tinha um caso. Nojento.

Depois, ele sequestrava bruxos contrários as suas ideias e imposições, os aprisionava nas velhas masmorras (que na verdade estavam mais para um enorme porão) da mansão e os torturava a ponto de seus gritos ficarem impressos na parede de pedra por dias. Draco, nesse meio tempo, escondia-se em seu quarto sob feitiços protetores, encolhido no espaço pequeno entre a cama e a parede fria, abraçando os joelhos e tremendo, rezando para que tudo aquilo fosse um pesadelo.

Em algumas noites ele fazia isso sozinho. Em outras, a sua mãe estava ao seu lado o abraçando e sussurrando palavras de conforto em seu ouvindo e prometendo que tudo ficaria bem.

E então, na véspera do seu retorno à Hogwarts, o Lorde das Trevas torturou e matou a antiga professora de Estudos Trouxas bem na copa da casa, derrubou o seu corpo na mesa de jantar onde os Comensais e a sua família se sentavam e ordenou que Nagini usasse os restos mortais da mulher como refeição. Draco achou que iria vomitar as próprias entranhas ao presenciar tal cena grotesca e passou aquela noite completamente em claro, pulando a cada ruído que ouvia a velha casa dar.

E quando pensou que Hogwarts o ajudaria a esquecer o pesadelo contínuo que foi o seu verão, que seria o seu lar, o seu abrigo, o seu paraíso, ele chega na escola apenas para vê-la guardada por Comensais, lobisomens insanos, Dementadores e outras criaturas das trevas sob o comando de Você-Sabe-Quem. Foi sair de um inferno para o outro e às vezes ele tinha vontade de pular da Torre de Astronomia só para saber se morrer seria melhor do que continuar naquela vida.

E Astoria vinha e fazia uma pergunta cretina como aquela.

- Ah, qual é, não pode ter sido tão ruim. - ela zombou e Draco a fuzilou com o olhar. - Certo! Eu conto como foi o meu. Comensais disfarçados de aurores bateram na minha casa em meados de Agosto para interrogar o meu pai, o acusando de ser cúmplice da fuga de nascidos trouxas do interrogatório do Ministério. Eles o arrastaram pelos cabelos e sumiram com ele no meio da noite. Minha mãe ficou possessa e junto com a minha irmã desapareceram por três dias. Quando voltaram, ambas estavam ensaguentadas, com feridas, carregando o meu pai meio morto entre os braços e arrumando as nossas coisas em alta velocidade porque tínhamos que sumir de Spinner's End antes que o Ministério viesse atrás da gente.

Draco a mirou com os olhos largos. Havia ouvido pelos corredores da mansão Comensais reclamando de pessoas que estavam empacando o processo de purga do Lorde das Trevas. Pessoas que ajudavam nascidos trouxas a fugirem das garras do Ministério e desapareceriam com elas. E foi então que Malfoy pensou com horror que talvez, talvez, um dos gritos agoniados que ouviu vir das masmorras da mansão pertenceu ao Sr. Greengrass.

- Minha mãe falou que não voltaríamos para Hogwarts, mas a minha irmã e eu fomos contra a ideia. Há pessoas aqui que precisam ser protegidas. Essa coisa de permitir que os mestiços recebam educação porque eles não têm culpa de seus pais terem se associado a trouxas é conversa. Logo a desculpa vai ser jogada ao vento e seremos caçados e mortos como os nascidos trouxas. Acho que isso só não foi feito porque se formos realmente mortos, não haverá muita comunidade mágica para Você-Sabe-Quem governar, não é mesmo?

- Protegidas? - perguntou, se sentindo um cretino. Não era o único que estava sendo afetado pela guerra e agora que observava melhor Astoria, percebia isto.

A garota tinha olheiras e a pele estava extremamente pálida, destacando ainda mais as sardas que pintavam o seu nariz e bochechas. Os olhos verdes estavam avermelhados, o cabelo castanho despenteado, o uniforme em desalinho e ela parecia ter perdido peso. Ou seja, assim como Draco, não estava em suas melhores condições físicas. Mas, mesmo assim, ainda lutava, ainda persistia e insistia em fazer piada de toda aquela situação. E talvez a fizesse porque era ou rir da desgraça ou entregar-se ao desespero e a segunda situação nunca era uma boa opção.

- Proteger pessoas, o negócio da família. - ela respondeu em um tom que deixou mais dúvidas do que esclarecimentos.

- Sua mãe é dona de casa, o seu pai professor de História em uma universidade trouxa. Você mesma me disse. Como assim proteger pessoas é o negócio da família? - Astoria riu roucamente e o som assustou Draco, que olhou a sua volta rapidamente para checar se ninguém havia ouvido a gargalhada da garota e resolvido investigar.

- Um dia eu te conto. - falou ao terminar de rir e enfiou as mãos nos bolsos do robe da escola. - Mas e então? Eu contei como foi o meu verão. Falta você me contar o seu. - ela o mirou com grandes olhos verdes cheios de expectativas e Draco piscou repetidamente. Astoria não poderia estar falando sério.

- Você está falando sério? - vocalizou os seus pensamentos e ela deu de ombros. - Tem noção de que estamos em uma guerra? - o sorriso brincalhão que estava nos lábios dela desapareceu, dando lugar a uma expressão séria e sombria. Uma expressão que Draco percebeu não combinar em nada com Astoria. Queria o sorriso de volta, mesmo que fosse para continuar ouvindo as sandices que ela dizia.

- Percebi isto quando passei pelo corredor do terceiro andar e vi os Carrow torturando um segundo anista e tive que dar as costas, ignorar o olhar choroso do meu colega de classe implorando por ajuda e seguir caminho, fingindo que nada aconteceu. E isto foi no primeiro dia de aula. Não me deixe contar as notícias que vinham via correio coruja sobre o mundo mágico ou que vivíamos em alerta constante esperando os Comensais baterem em nossa porta para matar toda a nossa família simplesmente porque o meu pai se casou com a minha mãe.

Draco se sentia o rei dos cretinos agora e tinha ainda mais vontade de se jogar da Torre de Astronomia por ser tão babaca.

Malfoy suspirou, recostando na estante, como Astoria fez mais cedo, e começou a contar tudo de ruim que lhe acontecera naquele verão desde que voltou para uma casa infestada de Comensais da Morte e comandada pelo Lorde das Trevas. Astoria ouviu a sua história em silêncio, sem comentar nada ou soltar uma piadinha que fosse, até que depois de uns quarenta minutos ele finalmente colocou um ponto final em seu relato e se sentiu agradavelmente mais leve por ter compartilhado os terrores que viveu nos últimos meses de férias com alguém que não fosse os seus pais.

- É, o seu verão foi uma bosta. - foi o comentário dela, o que fez Draco rir. Uma simples palavra que definiu tudo. Viu quando Greengrass pegou a bolsa que tinha largado no chão ao chegar e procurou algo dentro dela, oferecendo segundos depois um doce de leite para Draco. - Um prêmio para você que teve férias mais miseráveis do que as minhas. - ainda sorrindo, Malfoy recolheu o doce e o desembrulhou, o jogando de pronto na boca.

Em outros tempos ele faria o confeito passar por várias inspeções e lançaria feitiço atrás de feitiço sobre ele a procura de algum truque escondido entre a massa de açúcar e leite. Hoje ele estava pouco se lixando se Astoria o transformasse em periquito por tempo indeterminado. Se acontecesse, isto seria o ponto alto do seu dia e Draco estava precisando de mais altos para compensar todos os baixos que viveu recentemente.

- Eu realmente não deveria estar conversando com você. - Draco comentou depois de dar a primeira mordida no doce em sua boca e extrair parte do seu açúcar.

- Por quê? Porque o meu sangue mestiço e corvinal me torna plebe demais para a sua sensibilidade de sangue puro, sonserino e aristocrata? - zombou e Malfoy deu à ela um sorriso escarninho, o primeiro que dava em meses.

- Não. Porque você é louca e temo que acabará me arrastando para o seu antro de insanidade quando eu menos perceber.

- Droga! Você descobriu os meus planos nefastos. - brincou e Draco riu por um segundo antes de voltar a ficar sério.

- Verdade Greengrass, não deveríamos nos falar. Se alguém nos vir...

- Eu serei punida. Mas caso não tenha lhe informado: eu sei me cuidar. - Malfoy percorreu os olhos pelo 1.65 m que era Astoria Greengrass, praticamente nada perto dos 1.80 m de Draco, e completamente inofensiva se os grandes olhos de desenho infantil em um rosto arrendondado fossem alguma indicação. - Não pense muito sobre este assunto bebê. - brincou, dando tapinhas com a palma na bochecha de Draco, o fazendo torcer a expressão em uma carranca. - Apenas pense em estar amanhã às dez da noite na escada de acesso a Torre de Adivinhação.

Draco franziu as sobrancelhas. A Torre de Adivinhação estava fechada desde que a professora Trelawney saiu de Hogwarts fugida dos Comensais da Morte.

- Pense menos e aja mais bebê. E esteja lá! - ordenou, jogando a alça da bolsa sobre o ombro e passando por Draco, indo em direção a saída do corredor de estantes.

- Não me chame de bebê! - Malfoy soltou ultrajado quando o seu cérebro finalmente conectou depois de sofrer mais uma sessão de sandices de Astoria. Essa, como resposta antes de desaparecer biblioteca adentro, foi somente rir da indignação dele.

Draco bufou, voltando os olhos para os livros na sua frente, mas realmente não os vendo pois estava ocupado demais rindo feito um idiota ao relembrar da conversa louca que tiveram e sendo tomado pela ansiedade por saber o que o esperava amanhã a noite.

Algo bom estava acontecendo na vida dele... Finalmente!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Canção Permanece A Mesma" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.