A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 10
Capítulo 9




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MATLOCK, INGLATERRA – Agora

Matlock parecia um cartão postal de férias. Uma típica cidade de montanha com clima ameno, construções antigas, com museus, casas de banho, população onde todo mundo conhecia todo mundo e vários turistas rodando pelas ruas tirando fotos e conversando em línguas diferentes.

Em outros dias Harry até se interessaria pela paisagem e o que ela tinha a oferecer. Proporia a Gina uma viagem para a cidade para espairecer, deixaria as crianças com Molly e curtiria um final de semana com a esposa no ar fresco da montanha.

Em outros dias.

Hoje Harry estava ali atrás de uma pista que estava prestes a fechar um caso inacabado há quase cinco anos.

- Esse cara deve ter feito algo muito grave para o SOCA¹ estar atrás dele. - comentou o delegado que havia os contatado e que os levava em sua viatura direto para o local onde Malfoy estava.

- Matou a mulher e os dois filhos pequenos. - Ron, sentado no banco do carona, esclareceu, e o homem arregalou os olhos e soltou um baixo assovio. Com certeza o máximo que ele deve ter enfrentado em Matlock foi um roubo ou outro. A cidade não parecia ser o tipo de lugar que gerava assassinos. Aliás, quem iria querer matar alguém vivendo em um lugar daqueles?

- Eu deixei dois policiais a paisana vigiando o suspeito. Ele se hospedou em um motel perto da saída da cidade e no último rádio que eles me passaram, disseram que o carro dele ainda estava lá e que o suspeito havia saído a pé e sem carregar nenhum pertence. Provavelmente foi comprar comida ou alguma coisa do gênero.

- E esse rádio foi passado há quanto tempo? - perguntou Harry no banco de trás.

- Dois minutos antes de vocês chegarem. - respondeu o delegado. - Aliás, vocês chegaram rápido heim?

- Estávamos retornando a Londres quando fomos avisado pelo nosso superior sobre o seu contato. - Ron respondeu e o delegado olhou estranho para ele e depois para Harry através do espelho retrovisor.

- Sem carro?

- Nosso carro quebrou em Sheffield. Sem opções para alugar outro, estávamos de táxi. - Harry deu de ombros e o homem ao volante soltou outro assovio baixo.

- Viagem cara.

- Nem imagina. - Ron soltou em um tom divertido, rezando para que a conversa morresse ali. O problema de viajar de chave de portal para encontrar com colaboradores trouxas que não sabiam que estavam ajudando o governo mágico, era as desculpas que os aurores tinham que arrumar para justificar a sua repentina aparição logo após o primeiro contato.

Sorte deles que o Reino Unido era uma ilha extremamente pequena e cuja viagem de carro por grandes distâncias sempre levava algumas horas. Em certos casos, em um trânsito bom, apenas minutos.

A paisagem de casas e comércio foi ficando cada vez mais rara e logo a viatura dobrou em um cruzamento onde havia uma placa que mostrava ser ali a saída para a rodovia. Andaram mais alguns quilômetros pela estrada federal e logo mais à frente viram um pequeno letreiro de um motel piscando à esquerda.

O delegado deu a seta e quebrou para a direita, entrando no estacionamento de um restaurante de beira de estrada e logo em seguida estacionou o carro, desligando o motor e deixando o veículo segundos depois. Harry e Ron o imitaram e enquanto seguiam o delegado viram que dois homens saíram do restaurante e vieram na direção deles, parando em frente ao policial.

- O carro permanece lá. - um dos homens relatou, apontando para o estacionamento do motel onde havia um velho Fiat 147 e uma Land Rover Defender 80 de cor azul marinho. - O suspeito saiu há vinte minutos e seguiu a pé pela rodovia em direção a cidade. Não retornou até o momento. Falamos com o gerente do motel assim que ele saiu e ele disse que o homem chegou na noite passada, identificou-se como John Smith e alugou o quarto doze que contém duas camas queen size.

- Duas camas? - Harry perguntou e o policial a paisana que relatava tudo virou-se para ele com uma expressão indiferente.

- Fiz a mesma pergunta e o gerente me respondeu dizendo que até agora esta foi a solicitação menos estranha que ele recebeu de hóspedes. - Ron e Harry olharam ao mesmo tempo para o motel do outro lado da rua.

- Necessitam de reforços? - o delegado perguntou.

- Não. - Ron respondeu. - Agradecemos a cooperação rapazes, mas assumimos daqui. - os três policiais trouxas abriram a boca para protestar, com certeza achando burrice Potter e Weasley irem abordar um sujeito perigoso sozinhos.

O delegado começou a vocalizar sobre isso, mal notando Harry mover-se a sua volta e ir para trás do trio de oficiais trouxas. Quando o homem estava no meio do seu sermão, sendo apoiado pelos seus subordinados, ele calou-se abruptamente, ganhando uma expressão vazia e um olhar vidrado. Os dois policiais a paisana também ganharam as mesmas expressões e Ron rolou os olhos, recuando um passo enquanto via Harry sair detrás do trio.

- O que você implantou na mente deles? - perguntou enquanto via os três trouxas piscarem lentamente como se o cérebro estivesse pegando no tranco.

O ruim de trabalhar com pessoas sem o conhecimento do mundo mágico era que quando elas começavam a questionar demais a atitude deles, Harry e Ron sempre tinham que apelar para um Obliviate seguido de um feitiço de alteração de memória.

- Que eles vieram aqui para comer a salada de ovos do restaurante que hoje está divina. - Ron riu e acompanhou o amigo quando esse atravessou a estrada na direção do motel, olhando a sua volta incansavelmente a procura de qualquer sinal que fosse do Malfoy.

A passos suaves, ambos cruzaram o estacionamento, aproximando-se lentamente da Land Rover e olhando para dentro do carro. Os assentos possuíam um forro de couro sintético grafite e o chão da parte de trás tinha alguns jornais velhos, embalagens de comida e algumas sacolas vazias. Sobre o painel havia uma revista caça palavras e no porta copos uma garrafa térmica de café. Fora isso, o carro não tinha mais nada em seu interior.

Os dois aurores seguiram caminho, deixando o Rover para trás e indo na direção dos quartos cujas saídas davam direto para o estacionamento, passando porta por porta até chegarem ao número doze.

Ron e Harry sacaram as suas varinhas, posicionando-se cada um em cada lado da porta e Weasley bateu suavemente com os nós dos dedos na madeira.

- Sr. Smith? Gerência do hotel. Podemos falar com o senhor um momento? - chamou Ron. Mesmo que os policiais trouxas tenham dito que Malfoy saíra e não retornara, isso não queria dizer nada. Draco era um bruxo. Ele poderia ter voltado ao quarto do hotel sem os dois oficiais trouxas terem o visto. Bastava aparatar. - Sr. Smith? - chamou novamente, apenas para certificar-se de que Draco estava realmente ausente.

Esperaram mais alguns segundos e quando estavam considerando colocar feitiços de alerta de aparatação na porta e se afastarem para montar tocaia, um barulho vindo de dentro do quarto os parou. O som de algo caindo, algo como uma caixa de metal, chegou aos ouvidos dos dois.

- Sr. Smith? - Ron chamou mais uma vez, mas ninguém veio atender a porta.

Weasley trocou um olhar com Potter que vagarosamente desencostou da parede e pôs-se em frente a porta, apontando a varinha para a fechadura.

- Eu entro e você fica aqui fora cobrindo a retaguarda. Deixe-o pensar que há somente um de nós para termos o elemento surpresa. - Harry disse baixinho e Ronald assentiu com a cabeça, vendo de rabo de olho o amigo murmurar um “alorromora” sob a respiração e destrancar a porta. - No três. - sussurrou Harry.

- Um. - começou Ron.

- Dois. - continuou Harry.

- Três! - quando Weasley terminou de dizer três, Harry abriu a porta com a varinha erguida em posição de combate e rapidamente cruzou o batente, apenas para levar o choque de sua vida.

Potter esperava encontrar de tudo naquele quarto de motel naquele dia, menos um garoto de oito anos apontando uma espingarda na direção do seu coração.

HOGWARTS, ESCÓCIA – 13 anos antes

Draco chegou à entrada da Torre de Adivinhação com atraso, apontou a varinha para o alçapão que Astoria e ele camuflaram, o abrindo, e viu a escada de corda cair automaticamente em sua direção. Em gestos rápidos e precisos ele a escalou e quando terminou de cruzar a entrada, a escada se encolheu e a porta se fechou.

Malfoy não mais precisava do auxílio da luz da varinha para atravessar a sala. Meses a frequentando o tornou familiar com todos os objetos que haviam no caminho e dos quais ele desviava com precisão. A porta de vidro que levava para a varanda já estava aberta, o que dizia que Astoria tinha chegado, como sempre, na hora. Draco rapidamente a cruzou e antes de dar um boa noite que fosse, começou a soltar o verbo.

- Espionagem! Você acredita nisso? O Lorde das Trevas quer que eu faça espionagem. Como se já não me bastasse as missões prévias, agora ele quer que eu espione. E o mais ridículo, os alvos são os alunos de Hogwarts. Quer que eu descubra mais sobre a resistência estudantil feita pelas outras casas. Porque sabe como é, eu sou super popular no momento. Claro que eles vão me contar tudo. A vontade que me deu de mandá-lo para aquele lugar... Mas aí eu lembrei do seu conselho: mantenha a boca fechada e apenas diga sim senhor. Você acredita em uma coisa dessas?

Astoria nem ao menos se deu ao trabalho de desviar o olhar da paisagem para mirar Draco, apenas soltou um resmungo de escárnio como resposta.

- Vejo que o seu Natal não foi bom.

- Você acha? - Draco desdenhou. - O que vou dizer à ele quando me pedir por relatórios sobre o meu progresso?

- Eu tenho uma sugestão. - ela começou a dizer em um tom seco e cortante e virou-se para encarar Draco com olhos vermelhos e brilhantes. - Minta! - rosnou entre dentes e Malfoy engoliu o que quer que fosse dizer em seguida. Não pelo tom hostil com que ela tinha lhe respondido, mas sim pelo fato de que o rosto pálido de Astoria estava marcado por uma trilha de lágrimas.

- O que aconteceu com você? - perguntou em um tom temeroso, porque se Greengrass começasse a chorar na sua frente ele nem saberia o que fazer.

Draco já não era bom em lidar com os próprios sentimentos, quanto mais os sentimentos de uma garota chorosa. Era um pesadelo somente pensar na possibilidade.

- Outras pessoas também têm vidas tão miseráveis quanto a sua. E talvez, somente talvez, eu não esteja a fim de ouvir você reclamar pela enésima vez das consequências dos seus erros.

- Como é? - Draco sibilou em um tom ofendido. Em todo esse tempo Astoria fez tudo, mas nunca lhe jogou na cara a burrice que ele cometera de aceitar a Marca Negra.

- O Lorde das Trevas está atormentando a minha vida, o Lorde das Trevas quer que eu faça isso, o Lorde das Trevas é um cretino sem noção. O Lorde das Trevas é isso, é aquilo. Você reclama tanto dele que estou começando a considerar que o seu problema não é raiva, é paixão reprimida mesmo. - disse azeda e Draco trincou os dentes, apertando as mãos em um punho para impedir-se de sacar a varinha e azarar aquela abusada.

Era realmente muito bom para ser verdade e foi gostoso enquanto durou.

Mas, aparentemente, o encanto tinha se quebrado. Astoria havia perdido o interesse nele e agora o desprezava como todos os outros naquela escola e isso, surpreendentemente, machucava. Imensamente.

- Você é tão cretina Greengrass! Vem de uma família cuja atitude principal é fugir de conflitos. Os seus avós, tios e primos estão todos na Riviera Francesa, a sua irmã fugiu de Hogwarts na primeira oportunidade que teve. Você prega aos quatro ventos que detesta injustiça, mas não a vejo levantando um dedo para fazer nada, nem mesmo juntar-se a resistência estudantil você se junta. Talvez o seu pai tenha sido o único a fazer alguma coisa, embora tenha sido uma atitude extremamente estúpida. Mas o que esperar de um sujeito que se casou com uma trouxa?

Malfoy desdenhou e diria mais se o punho de Greengrass não tivesse se chocado com violência contra a sua boca, abrindo uma ferida e arrancando sangue.

- Você não ouse falar do meu pai! - ela vociferou com o corpo todo tremendo pela fúria mal contida, com mais lágrimas rolando dos olhos e os dentes trincados de raiva. - Não ouse... - Astoria ergueu novamente o punho, mas desta vez Draco foi mais rápido e antes que ela o batesse, a segurou pelos pulsos e impediu qualquer ataque.

Greengrass debateu-se enlouquecidamente, querendo se soltar do aperto do sonserino, mas parecia que toda a raiva estava aos poucos fugindo de seu corpo, deixando apenas o cansaço para trás.

- Você não se atreva... - ela soluçou e abaixou a cabeça.

- Astoria... - Draco murmurou.

- Não... - e antes que Malfoy pudesse reagir, a garota se jogou contra o corpo dele e o abraçou apertado pelo peito, escondendo o seu rosto molhado entre as vestes negras que ele usava. - Ele não resistiu. - disse em uma voz abafada. - Ele não resistiu...

Draco não precisava perguntar quem não resistiu, pois tinha uma vaga ideia.

Entre uma conversa e outra, Astoria comentou algo sobre o pai estar doente, que a captura e tortura por parte dos Comensais durante o verão o deixou fraco. Aparentemente, Phillip Greengrass se tornou mais uma baixa de guerra durante as festas de fim de ano.

- Eu sinto muito Astoria. - Draco falou baixinho ao envolver os seus braços ao redor dela e a apertando ainda mais contra o seu corpo, a deixando chorar em seu peito tudo o que ela precisava chorar. - Eu sinto muito mesmo.

E Malfoy surpreendeu-se ao perceber que ele sentia, que pela primeira vez não estava sendo hipócrita em suas palavras. Pela primeira vez ele realmente demonstrava compaixão pelo sofrimento alheio e desejou de todas as maneiras poder abatê-lo. Simplesmente porque ele não gostava de ver Astoria sofrer.


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Notas finais do capítulo

1 - SOCA: Serious Organised Crime Agency



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