Panem Et Circenses escrita por Cacau54, Nita Yamanaka


Capítulo 9
Capítulo 8: Desavenças inevitáveis.


Notas iniciais do capítulo

Olá galera!! Hoje sou eu, a Cacau, quem vos fala por aqui *-* E quero agradecer muitíssimo a Daniela Nicacio que deixou uma recomendação incrível para a história e que me fez saltitar alegremente, sério, muito obrigada mesmo! Fiquei mais do que feliz, pode apostar *-* Boa leitura a todos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424782/chapter/9

A chuva prosseguia, no entanto, não com a mesma fúria de quando resolvera colocar-se no caminho deles aquela noite. Ao fundo da caverna, Gaara permanecia em seu costumeiro silêncio, todavia, em sua mente havia os mais variados sons, fazendo-o esquecer-se da chuva comum, que ainda trazia uma gélida brisa à caverna. Frio... Esta era apenas uma das muitas sensações que rodeavam o corpo de Ino. Adormecida próxima de Hinata, a loira habitava mundos paralelos, onde a imagem de seu pai era o centro de todas as suas inertes atenções...

À frente delas, Naruto encontrava-se apagado. Tamanho havia sido seu cansaço que a exaustão de seu corpo tinha derrotado sua inquietação. Um pouco distante do loiro, o Uchiha encontrava-se também adormecido, porém, sua mente ainda assumia caminhos tortuosos, fruto da febre que passava em ritmo gradativo. O sangue em seu braço já havia cessado de estancar desde a primeira ação da rosada, ainda em meio à mata densa. Mas os efeitos da perda de sangue que tivera até antes da chegada dela estariam nítidos pelo menos até o amanhecer. Fraco, ele internamente sabia que tinha de render-se aquela decadente condição por um dia... Ele teria que submeter-se a isso, ou um maldito ferimento o faria perder mais dias em vão.

A poucos metros da entrada da protegida caverna, Sakura se permitia descansar. Em um leve sono, a rosada tinha um simples mais eficiente trunfo em mãos. Com uma linha amarrada à ponta de um dos dedos, ela havia preparado uma armadilha na entrada da caverna. Nada muito elaborado, pois a confusa situação em que estavam retirava até mesmo dela, um pouco da total razão. Mas uma armadilha de pequeno porte poderia ser útil e, mediante aquele temporal, seria a única forma de ouvirem a aproximação de um inimigo. Somente com duas kunais explosivas e aquela linha praticamente invisível, poderiam se salvar em caso de algum ataque.

Razão... Era tudo que, por aquela fria madrugada, não conseguia fixar-se no sangue dos dois. Com um suspiro inaudível, o ruivo desviou os olhos mais uma vez na direção da loira. Por que não poderia simplesmente matá-la? Era a alternativa mais atraente para livrar-se daquela estranha agonia. Nunca se sentira tão deslocado antes... Nunca se sentira tão curioso antes... Curiosidade, aquilo não era algo que um Sabaku deveria ter. Ele tinha de estar sempre afastado do antigo quarto de sua mãe, e acatava tal decreto de seu pai sem questionamentos. Ela inspirava questionamentos... Aqueles malditos olhos azuis brilhantes causavam-lhe uma grande irritação. Ou talvez o amedrontasse?

Trêmulo, Gaara retirou depressa seus olhos da figura de Ino, concentrando-se nas pedras vazias que compunham o interior da caverna. Olhando para ela, muitas questões surgiam em sua mente. Mente que ele próprio não sabia como poderia tornar-se tão movimentada de um dia para o outro. Era culpa dela, certamente. Mas ele descobriria de qual artimanha ela utilizava para deixá-lo... Assim.

Assustada, Ino despertou em um pulo. Ofegante, a loira demorou alguns segundos até reconhecer o ambiente em que realmente estava. Turvos, seus olhos azuis olharam afoitos por toda caverna. Ainda não havia amanhecido... Respirando com mais calma, ela encarou a chuva que caía do lado externo. Tão gelada... Nunca havia enfrentado uma madrugada tão gelada. De repente, o caloroso abraço de seu pai e seu antigo cobertor roxo fazia uma imensa falta, capaz de enfim fazê-la dar-se conta de que... Tudo não havia passado de um sonho. Um pesadelo. Não iria deixar jamais que atentassem contra a vida de seu pai. Danzou... Aquele crápula ainda teria um fim a altura de sua tirania, no fundo, acreditava nisto, por mais que nada mudasse. Será que Konoha voltaria aos tempos que seu pai tanto lhe relatava? Custava a acreditar, porém, se não depositasse um pouco de crédito no impossível, os sonhos se perderiam.

A loira encaminhou seu olhar para os demais dentro da caverna, todos estavam dormindo... Exceto ele. Com um singelo sorriso de canto, Ino respondeu ao olhar sombrio e opaco que ele lhe direcionava, em meio a escuridão do fundo da caverna. Não possuía medo dele. Mesmo durante a luta que travaram, não havia sentido medo dele. Algo em si lhe dizia que o caráter solitário dele não era perigoso... Todavia, as mesmas sombras que o rondavam atraíam o mais forte sentimento que restava de sua infância: a curiosidade.

Eram os únicos acordados naquele lugar. Será que os pulsos dele tinham se cicatrizado um pouco? As faixas de suas pernas ainda estavam sob a pele fria que ele detinha. Erguendo-se do chão, a Yamanaka desferiu lentos passos, dirigindo-se ao fundo da caverna. ?Não sei como lidar com isso...? As roucas palavras dele vieram a sua cabeça. Ele nunca havia se ferido. Não sabia precisamente o porquê, mas gostaria de puxar assunto com ele... Talvez ele lhe aliviasse daquela estranha curiosidade.

Surpreso, Gaara encarou a loira a sua frente. Por que ela havia vindo até ele? O que queria? O som da chuva tornou-se mais marcante, e um clarão causado por um raio distante iluminou a face de ambos por poucos segundos. Por aquele breve tempo, Gaara pôde visualizar mais uma vez os brilhantes olhos azuis de Ino, do mesmo modo como pudera ver os mórbidos olhos dele, cuja opacidade verde, apesar de levemente raivosa, demonstravam serenidade.

– Não está conseguindo dormir? – indagou a loira em uma tentativa de puxar assunto com ele, sentando-se de frente para Gaara e abraçando os próprios braços. O frio estava mesmo rendendo-a aquela noite. Mas conversar com alguém tão gélido quanto aquela brisa poderia aquecê-la?

– Não. – respondeu o ruivo, em tom baixo, automaticamente. Não sabia por qual razão a havia respondido. Não queria tê-la tão perto, não queria companhia. Nunca tivera. Mas para seu completo azar, ela havia despertado algo morto dentro de si: impulso.

Contemplando a face mal iluminada dele, Ino apertou os braços em volta de si. Ele nunca havia se machucado... Não aparentava ter sono algum mesmo após aquele desgastante dia... Quem era ele? Por aquele pequeno instante, sua cabeça foi ocupada por apenas esta pergunta.

– Além de não saber lidar com feridas também não está acostumado a dormir? – brincou a loira, rindo baixinho. – Você não poderia ser de Konoha mesmo. – completou Ino, cessando o sorriso travesso que tinha nos lábios, diante ao olhar confuso dele.

Gaara a observava com o semblante povoado por uma singela confusão. Não compreendia por qual razão ela estava a sorrir daquela maneira... Ainda mais na presença dele. Mal se conheciam. No entanto, o sorriso dela era tão diferente do que sua irmã às vezes lhe lançava, que o ruivo pegou-se preso em meio as expressões dela, queria desvendar tudo que a levava àquele maldito brilho nos olhos. Brilho que, diante dos clarões da tempestade, ele podia sentir... Sobre si. Ter aquele brilho direcionado a ele era apavorante. Novamente, gostaria de poder esconder-se dela, salvar-se. Fugir era definitivamente algo que jamais fizera perante nenhum inimigo, como o legado dos Sabaku, matava a todos os inimigos que cruzavam seu caminho. Entretanto, aquela opção parecia-lhe tentadora demais no momento, como se necessitasse daquilo para manter sua sanidade.

Atenta à reclusão do ruivo, Ino perguntava-se se havia dito algo que não devia. Ele era incrivelmente fechado, não expressava nenhuma reação física e... Tinha grande vontade de fazê-lo. Alguém como Naruto já a teria questionado a respeito de suas afirmações, já teria gesticulado várias vezes. Até mesmo alguém como o Uchiha mexer-se-ia um pouco. Mas ele era capaz de ficar totalmente imóvel, aguçando a capacidade da loira de não manter-se quieta. Não conseguia ficar muito tempo parada e, o estático filho do Kazekage estava provocando-a se portando assim. O que ele faria se ela se aproximasse mais? Reagiria? Ele não poderia ser tão diferente dos outros homens. Por mais distante que fosse, ainda era um homem, e como tal, sempre seria um fácil brinquedo a uma mulher.
Mais um forte raio cortou o céu da floresta, e Ino aproximou-se mais do ruivo a sua frente.

– Estou congelando de frio... Você não? – indagou à loira, há alguns poucos centímetros da face de Gaara. Marota, Ino encarava seu rosto tão temido com um sorriso de canto. Todavia, ele nada demonstrara ou respondera, apenas a olhara, como se não se incomodasse com a aproximação de ambos. Surpresa, Ino afastou-se um pouco. É, não havia se enganado mais cedo no riacho. Ele era muito incomum como rapaz, mas não era um difícil enigma. Tinha quase certeza que, como seus olhos diziam, ele também se encontrava surpreso pela pouca distância estabelecida por ela segundos atrás. Por seus mórbidos olhos verdes... Ela conseguia lê-lo discretamente.

– Estou acostumado às noites frias do deserto. – respondeu Gaara, analisando-a. Aquela perigosa proximidade o atingira, mesmo que não demonstrasse. Não permanecia tão próximo das pessoas com frequência, tão pouco era tocado. Há anos ninguém o tocava. Mas ela havia quebrado aquela regra interna, mais cedo, lhe enfaixando os pulsos sem permissão.

– Meu pai já me contou muito sobre sua vila... – comentou Ino, emitindo um pesado suspiro. – Se eu pudesse daria o fora desse lugar agora mesmo, estou preocupada com meu pai. – confidenciou à loira.

Com a respiração levemente descompassada, Gaara cerrou um dos punhos. Como resultado, sua areia se agitou, e o nervosismo do ruivo não passou despercebido por Ino.

– Qual razão você tem para isso? – a interrogou Gaara, firme. Queria uma resposta. Será que ela não se dava conta de que estava e sempre estaria sozinha? Preocupação era algo inútil, sobretudo com aquilo que todos denominavam de família. Não passava de uma ilusão. Estava certo disto.

– Meu pai. Meu pai é a minha razão. – assentiu Ino, sincera. Uma forte determinação passou pelos olhos azuis. – Ele é a minha família. Do mesmo jeito que o Kazekage-sama e seus irmãos são para você. – tentou explicar a Yamanaka.

Errado. Ela não sabia do que estava falando. Mas não iria contar a ela, eram convicções que preferia manter sozinho, assim como a dor dilacerante pela morte de sua mãe. Às vezes, gostaria de soterrar aquela dor com seu caixão de areia. Porém, parecia que não havia remédio algum para ela, como para as feridas da carne. Se um dia descobrisse que ainda poderia ter esperanças de encontrar esse remédio, faria o possível para consegui-lo e aliviá-lo daquela atroz tortura interna.
Não respondendo nada a ela, Gaara continuou apenas a olhá-la e, diante da pouca reação do ruivo, Ino sentou-se ao lado dele, ainda sentia muito frio. Por mais que ele não dissesse uma palavra, somente esse fato já a fazia estranhar sua pergunta. Ele não gostava de sua família? Não... Seus olhos não diziam isto. Pareciam carregar um intenso fardo.

Não compreendia porque toda aquela preocupação que ela tinha com seu pai, não entrava-lhe na cabeça. Mas deixaria o assunto morrer, sua cabeça já estava latejando em função da palavra que ela pronunciara com tanta ternura: ?pai?. Emitindo um fraco grunhido de dor, Gaara encarou o chão, evitando encará-la. Maldita dor de cabeça.

– Você está bem? São os pulsos? – indagou Ino, captando a expressão atordoada dele. Havia ouvido aquele grunhido, mas sem dúvida, ele era bom em manter-se sempre inexpressivo.

– Não é nada. Não vai voltar a dormir? – indagou Gaara, queria que ela voltasse para onde estava e o deixando só novamente. E era isso que acreditava que ela faria.

– Vou tentar... – proferiu a loira que, para a surpresa dele, ajeitou-se onde estava, há poucos centímetros dele. – Deveria fazer o mesmo, escute a chuva... Ela vai lhe ajudar a dormir.

Estático, Gaara sentiu-se irritado mais uma vez. Ela havia falado de um jeito doce, com ele? Não sabia por que, mas sentia-se irritado. Ela estava ultrapassando seu padrão de conforto. Mas, com o passar das horas, sentia seu sangue menos quente. Ela já havia adormecido e ele a observava, analisando o subir e descer de suas costelas, em um movimento calmo. – Escute a chuva... Ela vai lhe ajudar a dormir – as palavras dela surgiram em sua mente. Não trovejava como antes, a chuva estava mais branda... Repentinamente, o som da água o relaxou, fazendo-o dormir por poucas horas.

XXX

Os primeiros raios de sol acertaram em cheio o rosto delicado de Hinata, que apertou ainda mais os olhos tentando afastar o incômodo e voltar a dormir. Perguntou-se quem havia ido abrir as cortinas de seu quarto, mas ao rolar o corpo desconfortavelmente bateu as costelas em uma pedra e então a realidade atingiu sua memória. Não estava em seu quarto... Lembrando-se de tudo o que havia acontecido no dia anterior e com um suspiro, finalmente, abriu os olhos. Olhou para o fundo da caverna, onde o sol ainda não havia iluminado – local onde a Hyuuga duvidava que em algum momento recebesse luz do sol – estava o ruivo, Sabaku no Gaara. Parecia cansado e ela se perguntou internamente curiosa se ele em algum momento havia dormido aquela noite. Ele não aparentava estar muito a fim de papo e ela estava pouco disposta a puxar assunto com ele e acabar falando sozinha. A morena percebeu, com surpresa, que Yamanaka Ino estava dormindo perto do Sabaku e ela tinha a estranha impressão de ter visto a loira do outro lado da caverna antes de dormir.

Ignorou tais pensamentos e olhou para o resto do pessoal, encontrando um Uchiha Sasuke encostado de modo desajeitado um tanto deitado e outro tanto sentado. Tinha a singela impressão de que ele despertaria com dores no pescoço. E do outro lado, quase perto de si, estava Sakura, dormindo, e ela realmente parecia exausta. Seus olhos encontraram, de relance, o corpo de Uzumaki Naruto, perto da abertura da caverna, com os cotovelos apoiados no chão e a cabeça inclinada para trás. Ao que parecia ele estava aproveitando o sol fraco da manhã com a brisa calma que vinha e lhe balançava os cabelos loiros da testa. Hinata se levantou calmamente e andou a passos lentos até próximo dele.

– Parece que a tempestade de ontem refrescou um pouco o tempo... O calor está mais suportável. – a doce voz dela fora suave aos ouvidos de Naruto, e ele abriu os olhos, surpreso. Olhou para cima e sorriu para ela, mostrando todos os seus dentes.

– Ainda bem. – o Uzumaki comentou um pouco alto demais, o que já era esperado dele e Hinata ouviu, sem nem mesmo precisar olhar para trás, que uma das meninas havia resmungado e se mexido no lugar – Não estava mais aguentando aquilo. Não tem nada pior do que calor e fome. Principalmente fome.

A Hyuuga não falou nada, apenas riu de canto para o garoto, sentado de maneira um tanto comum no chão. Ela havia crescido sobre regras muito rígidas de seu Clã, conhecendo apenas os integrantes do mesmo e ver uma pessoa de maneira tão relaxada à fez sentir um pouco de liberdade, sem todas aquelas rédeas que a prendiam. Quando levantou o pé para dar um passo e sair da caverna sentiu uma mão quente enlaçar seu pulso. Olhou para o loiro de maneira interrogativa e curiosa.

– Acho melhor não sair. – Naruto dissera de maneira meio sombria, mas logo depois sorriu ao ver que a Hyuuga estava prestes a entrar em pânico – Até que a Sakura acorde, pelo menos. – explicou o loiro, olhando em direção à armadilha que a Haruno havia preparado na entrada.

Hinata franziu o cenho e desviou sua atenção para a rosada que continuava repousada em uma parte da caverna, perto da parede de pedra escura, o braço direito da garota estava levemente esticado pra cima de seu tronco e um pontinho luminoso no dedo indicador da rosada chamou a atenção da Hyuuga. “Uma armadilha!”, pensou com espanto, enfim entendia o que ele quisera dizer.

Em seguida se sentiu envergonhada por nem ao menos ter cogitado a ideia de fazer uma armadinha, entretanto aquele pensamento passou quando se deu conta de que provavelmente nenhum dos outros havia feito uma. Naruto soltou o pulso da morena e o pequeno choque do encontro das peles se esvaíra. A Hyuuga se surpreendeu ao perceber a ausência da pele dele, ficando frustrada em leve com o gesto dele, mas sem pronunciar nada se sentou ao lado do loiro e fechou os olhos, para aproveitar os raios fracos do sol nas primeiras horas do dia.

– Ela é engenhosa. – o Uzumaki falou e a morena apenas assentiu concordando, tinha de concordar, afinal.

A Haruno se remexeu desconfortável, queria aproveitar a calmaria ao máximo. Ela era acostumada ao silêncio e ter sofrido todo aquele agito na noite anterior a havia desgastado demais. Mas desistiu com um suspiro resignado, assim que a realidade a atingiu de verdade ela sabia que não poderia mais voltar a dormir. Esfregou o rosto de maneira cansada e percebeu dois pares de olhos a encarando, azuis e perolados, ambos os jovens a cumprimentaram com um “bom dia” animado que fora retribuído com um pequeno aceno de cabeça.

– Você poderia desfazer a armadilha? – a pergunta fora feita por Hinata, que sorriu simpática para a rosada.

Sakura novamente apenas balançou a cabeça, não tendia a falar muito logo que acordava, pois seu humor sempre estava ácido demais até mesmo para ela aceitar. Desfez a armadilha e resolveu curar o braço do Uchiha enquanto o mesmo dormia, para que não tivesse de passar pelo mesmo momento desconfortável outra vez, de ter um Sasuke emburrado a encarando tão de perto. Ela possuía completa ciência de que Naruto e Hinata estavam encarando-a e aquilo fez com que uma ruga surgisse em sua testa, ao franzir o cenho.

Decidiu ignorar ambos os olhares curiosos e fazer o seu trabalho. Ajoelhou-se ao lado de Sasuke, que estava com o braço apoiado em cima do corpo. Inclinou-se devagar em cima dele, virou o braço do moreno para que pudesse visualizar o corte com mais precisão, notou que estava muito melhor do que o dia anterior e ficou orgulhosa de si mesma, sabia que estaria praticamente curado quando chegasse a tarde e aquela pontinha de culpa que a dilacerava internamente estava, enfim, passando. Começou todo o processo, repetindo tudo o que havia feito antes, para garantir a eficiência do tratamento.

O Uchiha sentiu um toque acetinado em seu braço, dedos longos e esguios circularam seu tríceps, o forçando a virar o membro, porém de maneira delicada. Um leve formigar começou em seu machucado e Sasuke não aguentou, finalmente abriu os olhos. Nem mesmo ele sabia se estava surpreso ou não com o fato de ser Haruno Sakura semi-inclinada em cima de seu corpo, com os olhos verdes concentrados na ferida.

Aquele brilho verde que saía das mãos da garota estava iluminando suavemente o rosto da mesma, fazendo-o parecer carregado de sombras, no entanto, ao mesmo tempo exótico. Sasuke ficou com mais vontade ainda de bater nela, não entendia muito bem aquilo, talvez fosse pelo fato de ter talhado seu braço ao meio e ainda o vencido na luta, apesar de aquilo ter sido pura sorte.

– Quer parar de me encarar? – a voz dela soou rouca e irritada, o moreno percebeu que por trás daquela concentração toda havia uma irritabilidade mascarada.

Ele apenas bufou, não esperava que ela fosse começar a curar seu braço tão cedo, entretanto aquilo era melhor ainda, pois iria se recuperar mais rápido. Desviou os olhos e percebeu a Hyuuga sentada aproveitando o sol com o Uzumaki ao seu lado, Sasuke trincou os dentes ao se lembrar da pergunta que o loiro lhe fizera na noite anterior.

– Pronto. – a rosada falou chamando sua atenção novamente, ela enfaixou o ferimento para proteger de eventuais bactérias, porém fizera aquilo de maneira bruta – Acredito que até o início da noite você possa se movimentar com mais rapidez e precisão. – Sakura o encarava nos olhos, falando de maneira séria, como se fosse uma médica passando instruções ao paciente – Apesar de não ficar 100%, seu chakra já vai se estabilizar.

Sasuke prestara atenção em tudo apesar de continuar com uma expressão impassível, apenas resmungou qualquer coisa e não disse nada de concreto. Não havia o que falar, talvez, quem sabe, um obrigado, mas ele era um Uchiha não fazia seu feitio ficar agradecendo as coisas e também havia o fato de ter sido a própria Haruno a causadora daquilo. Para o moreno ela não havia feito mais do que sua obrigação.

A Yamanaka acordou ao ouvir uma voz de garota, sentou-se abruptamente, de maneira assustada. Olhou ao redor, confusa. Girou um pouco a cabeça para o lado esquerdo e viu um Sabaku a encarando de maneira curiosa, interessada e distante; mas não dissera nada. Ela se perguntou mentalmente se ele havia seguido seu conselho e tentado dormir escutando o som da chuva, mas pelo aspecto dele, não deveria ter dado ouvidos as suas palavras. Ino olhou para o outro lado e chocou-se ao perceber que Hinata e Naruto pareciam estar curtindo o sol e a Haruno parecia encarar o Uchiha de maneira avaliativa e irritada.

– Mas o que diabos estão fazendo?! – ela perguntou alto, chamando a atenção de todos para si. Sentia seu sangue fervendo em suas veias, a raiva subindo para sua cabeça.

– Como assim? – Naruto indagou, de todos, ele foi o primeiro a sair do choque inicial causado pela súbita onde de fúria da Yamanaka.

– Por que vocês estão aí tomando sol como se estivéssemos de férias?! – Ino exclamou, erguendo-se altiva e apoiando uma das mãos na cintura, ato dela que já se tornara reflexo da loira – Meu pai está internado e precisa de mim, caso vocês não estejam se dando conta do que está havendo, não estamos de férias! Estamos presos! – os olhos azuis de Ino tinham um brilho de indignação contido.

Não estava suportando mais permanecer naquela ilusão sem mover um mínimo dedo para sair dela. Seu pai deveria estar nervoso com sua ausência, e tudo que ele menos poderia ficar era nervoso. Sua saúde não permitiria tal luxo. A loira percebeu que a expressão de todos ao redor havia mudado, com exceção do dele, de Gaara; ele não demonstrava uma única expressão sequer. Mas Hinata havia empalidecido e olhava para baixo, pensativa. Naruto, por sua vez, abrira os lábios fazendo menção de falar algo, mas nenhum som saía de sua garganta.

O Uchiha fechou ainda mais o cenho e trincou os dentes, a garota tinha razão, mas o escândalo que estava fazendo estava a irritá-lo. Entretanto a Haruno que era uma completa incógnita para todos, estava com uma expressão de pura raiva e tristeza, a rosada se levantou para encarar Ino, ficando ambas frente a frente.

– Eu, apesar de tudo, entendo o seu desespero. – Sakura começara a falar encarando a loira nos olhos, seu tom era duro e não se arrependia de tal fato, mas não conseguia evitar – Deve ser difícil para você, é claro. Já que é a única de todos nós aqui que possui um pai que fica preocupado quando você some. – a voz da rosada parecia ácido puro, até mesmo para ela.

A Yamanaka congelou no lugar por um momento, não havia pensado para falar, na realidade as palavras saltaram de sua boca sem que percebesse. Não havia lhe ocorrido que poderia chatear tanto os outros. Aquela não era a sua intenção, queria apenas que eles entendessem a gravidade da situação.

– Yamanaka Ino! – a voz da Haruno chamou a atenção da loira novamente – Você não sabe esperar, quer tudo e quer na hora em que deseja. Existem momentos na vida em que a paciência é uma dádiva.

– Não me dê lições de moral! O que você pode saber sobre mim? – Ino recuperou a fala. A rosada parara de falar por todos e agora falava por si só, demonstrando a sua opinião como coletiva. Quem aquela garota pensava que era para falar dela como se a conhecesse?

– Eu sei o suficiente... – uma risadinha arrogante saiu pela garganta de Sakura, sem que ela pudesse controlar – Não apenas sobre você, mas sobre todos aqui – aquela frase chocou a todos, que olharam para a rosada, incrédulos – Para ser sincera, quem menos sei sobre é o Sabaku ali.

Sakura apontou o dedo indicador para o local onde o ruivo ainda estava sentado e ele semicerrou os olhos rapidamente, não gostava quando alguém lhe apontava o dedo. Mas a rosada nem mesmo havia olhado na direção dele ao fazer aquilo, estivera encarando à Yamanaka o tempo todo e Ino, por sua vez, ficara olhando para a mão da Haruno. Poderia jurar que vira diversas cicatrizes pela extensão da mão e dos dedos da outra, mas não tinha certeza.

– Seu pai é Yamanaka Inoichi, trabalhava com o antigo Hokage. Foi um excelente shinobi pelas suas técnicas de controle da mente que desenvolveu... – ao voltar a falar a Haruno abaixou a mão, repousando o braço ao lado do corpo, novamente. –... E hoje está internado em estado grave no hospital de Konoha e tem uma filha que exige tudo no momento em que quer, achando que não existem outros pacientes em estado tão ou até mais graves do que seu pai.

Todos ficaram boquiabertos, além do fato da Haruno estar sendo extremamente dura, tinha também a questão de ela ter acabado de revelar que sabia sobre todos ali. Sendo que nenhum deles nunca tivera sequer a visto em algum lugar de Konoha.

Sakura tinha uma voz em sua cabeça que estava sussurrando para que ela parasse, sabia que deveria parar, mas seu humor era sempre péssimo pela manhã e quando resolviam mexer com seu temperamento as coisas tendiam a ficar ainda piores, saindo do controle.

Uzumaki Naruto encarou as duas meninas de uma maneira avaliativa, já sabia desde o início que uma não era lá muito chegada na outra e ainda acabavam em uma situação em que o estresse era alto demais, acabando por romper a armadura forte e determinada de Ino e também a máscara de calmaria de Sakura.

– Eu sei que deve ser difícil para você. – a rosada falou e se aproximou um pouco de Ino o suficiente para conseguir apontar o dedo indicador para a mesma – Mas não aja como se a sua vida fosse a pior daqui.

Ino segurou o pulso levantado da Haruno, que estava irritantemente perto de seu rosto e afastou a mão da rosada de perto de si, porém não soltou o seu aperto firme. Em tom ameaçador e acusador, a loira se pronunciara mais uma vez:

– Você faria as mesmas coisas pelo seu pai! – semicerrou os olhos ao perceber que Sakura estava encarando a mão que estava sendo segurada. Onde, de fato, havia muitas marcas de cicatrizes, por toda a extensão de seus dedos. Cicatrizes brancas, antigas.

– Não. – a voz da Haruno tremera um pouco, mas depois de pigarrear, voltou a encarar a loira nos olhos, de maneira séria e determinada – Não faria, não.

– Então você não ama seu pai o suficiente, Haruno Sakura... Ou sabe-se lá se esse é o seu verdadeiro nome. – proferiu Ino, reforçando com uma dose de ironia o nome da rosada.

Não iria ficar mais nem um segundo naquele lugar, precisava de ar. Já estava farta da prepotência daquela garota. Se ela não amava sua família, problema dela. Mas jamais abandonaria seu pai. Ela, Yamanaka Ino, amava o que restara de seu clã. Com um puxão mais forte, Sakura arrancou o braço do aperto da loira e se afastou. Rangendo levemente os dentes, Ino também dera as costas, encaminhando-se para a entrada da caverna. A Haruno cerrou um dos punhos e cravou as unhas na palma, ouvindo as passadas rápidas da outra em direção ao riacho. “Está enganada Yamanaka. Um dia... Eu já o amei” tais palavras povoaram a mente de Sakura, sem que alguma muralha interna pudessesegurá-las.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quero agradecer a todos que comentaram nos capítulos anteriores, acreditem quando digo que os reviews de vocês nos motivam a continuar! Obrigada mesmo *-* Irei respondê-los assim que puder, prometo. E então o que acharam??? Beijos!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Panem Et Circenses" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.