Eu nunca fui o tipo de garota que ficava alegre em todos os momentos. Sempre fui mais reservada, gostava de não demonstrar sentimentos e sinceramente, me sentia bastante confortável nesse estilo de vida, o mundo era uma aventura para mim e eu não fazia questão de explorá-lo.

O surpreendente é que mesmo eu detestando demonstrações de felicidade em excesso, aqui estou eu reproduzindo este ato incontestavelmente. Não há como negar o quão feliz estou, correndo por entre a grama recém-cortada do parque, admirando o belo dia que estava começando, sentindo a brisa leve e confortável desviar do meu rosto a cada passo que dava em minha corrida, eu apenas estava feliz e não havia um motivo. Inspirei profundamente e procurei guardar em minhas memórias o doce aroma de rosas que brotava do pequeno jardim que se encontrava a minha direita, tal jardim este, que pegou fogo dois minutos depois. Lembro de ficar espantada e jogar um pouco de terra em uma tentativa desesperada de apagar o fogo, tudo fora em vão, as chamas pareciam aumentar a cada esforço meu e não havia ninguém próximo a mim para ajudar, não havia ninguém no parque.

Solucei baixo, um perceptível sinal de nervosismo, eu consigo sentir que algo está estranho. Um arbusto se mexeu alguns metros longe, pulei de nervosismo e joguei meu pé diretamente em uma poça de lama, “não acredito, era um tênis novo” pensei. Neste meio segundo que levei para reclamar comigo mesma sobre o ocorrido, as chamas pareceram dominar o local, agora queimava em bancos, árvores e em poucos minutos transformaria um enorme escorregador em apenas cinzas, eu estava em pânico.

A sensação ruim não passava e desta vez estava maior, sentia como se estivesse sendo observada, como se houvesse mais alguém comigo naquela praça, apesar de repentinamente, não haver ninguém. Por um motivo desconhecido e assustador, o fogo deixou de percorrer o seu caminho para o escorregador e voltou-se contra a minha direção, uma forte chama cresceu e se aproximava. Comecei a correr com todas as forças que tinha, ao ponto de em pouco tempo me sentir completamente esgotada, mas não importava a minha velocidade, a chama era sempre mais veloz do que a minha força.

- O que esta acontecendo? – gritei. – Isso não é normal, o que esta havendo por aqui? Quem esta fazendo isso?

Novamente a sensação de estar acompanhada veio, desta vez ignorei o meu cansaço e pus-me a correr com o dobro da velocidade anterior, tudo foi em vão, o fogo me alcançou facilmente, como se eu estivesse apenas caminhando e não correndo, me vi obrigada a recuar, com passos largos e firmes enquanto observava “aquilo” se aproximar cada vez mais, um piso em falso e já não sabia onde havia caído.