Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 49
Desbloqueios são muito problemáticos




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― Sabia que você chegaria na hora, Sakata-kun.

O homem de cabelos castanhos curtos, olhos negros gélidos e uma grande cicatriz por cima do olho esquerdo o encarava com um sorriso assustador no rosto enquanto abaixava a katana ao mesmo tempo que seus companheiros. O Yorozuya se lembrava de ter visto aquele rosto não apenas em uma ocasião, mas sua memória ainda buscava por respostas a respeito daquele sujeito.

Parecia que desde sempre conhecia aquele olhar frio...

― Parece que não se lembra de mim, Sakata-kun. – ele disse, acentuando ironicamente o sobrenome do albino. – Talvez refresque um pouco a sua memória se você prestar atenção na minha cicatriz, não acha... Shiroyasha?

Quem... Quem era aquele homem?!

Gintoki fazia todas as buscas possíveis em sua mente, atrás de alguma lembrança de seu passado que lhe desse alguma pista a respeito a respeito daquele homem, mas sempre estava esbarrando no bloqueio que sua memória fazia deliberadamente. Não conseguia se lembrar dele, mas...

Claro...! A cicatriz! Sua mente encontrara uma lembrança! Ouvi-lo mencionar seu apelido na guerra fez com que ele se lembrasse daquele homem. Seu nome era Namino Koji. No meio dos combates contra os invasores amantos, tivera que enfrentar um homem que tentara matá-lo numa emboscada, agindo como se fosse um assassino contratado, mas sem nenhuma explicação de sua parte sobre o motivo para matá-lo. Para se defender, Gintoki tivera uma luta bastante feroz com ele, sem fazer a menor ideia do porquê de ser alvo daquele cara. E, em um golpe furioso para evitar o pior, o jovem Demônio Branco contra-atacara de forma extremamente violenta tal como um animal acuado, no intuito de matá-lo primeiro, tentando cortar seu adversário em dois.

Agora sabia que ele seria um adversário difícil, um espadachim bastante hábil. Entretanto, seu primeiro encontro com Namino não fora naquele dia, dez anos atrás. Fora antes, muito antes. Ele sentia isso, mesmo se não tivesse sido mencionado nos bilhetes que lhe deixara.

Tal esforço de memória era facilmente percebido por Shinpachi e Kagura. Eles percebiam que o Yorozuya estava tentando se lembrar de algo que não conseguia. Algo mais sobre o passado, o que poderia mexer com ele mais do que se poderia imaginar. Queriam até partir para a luta, enfrentar os outros dois que estavam junto com aquele homem, mas temiam fazer algo que pudesse prejudicar o chefe e amigo dos dois e, por tabela, Tsukuyo.

E, vendo-o arregalar os olhos avermelhados, perceberam que ele finalmente descobrira algo mais.

Por fim, a memória de Gintoki desbloqueara a lembrança que tanto procurara...

 

― FUJA, GINTOKI! FUJA!

Era uma voz feminina que gritava desesperadamente para que um garotinho de cerca de seis ou sete anos fugisse daquele lugar que ardia tal como o inferno na Terra. Aterrorizado, ele não conseguia se mexer para obedecer àquela ordem. Hesitou e voltou. Agarrou a mão daquela mulher, tentando tirá-la de debaixo de uma viga de madeira que lhe caíra em cima.

Entretanto, a visão do garoto se embaralhava com as lágrimas de frustração que começavam a sair. Não tinha força suficiente para tirar de sob o monte de escombros aquela mulher que tanto se preocupava com ele e o mandava fugir para se salvar.

― Não faça mais isso... – ela o encarava com seus olhos rubros, o rosto ferido e contorcido pela dor. – Obedeça à sua mãe... Saia daqui, rápido...!

E mais uma viga, junto com uma parte do telhado da casa, caía por cima da mulher e a engolia por completo. Somente a mão ficara para fora, mas não mais se mexia. O fogo começou a consumir com mais força aqueles escombros, o que o obrigou a engolir o choro e correr, procurando uma saída. Chegou a outro cômodo, uma sala também ardendo em chamas, onde viu outro corpo caído no chão, de um homem de cabelos prateados com uma katana ensanguentada atravessada em seu peito.

― Fuja... – um fio de voz era ouvido pelo pequeno. – Fuja daqui, filho... Salve a sua própria vida...

Os olhos escuros do homem caído perderam o foco e o garoto percebeu que não mais o encaravam. Ele não compreendia exatamente o que estava acontecendo, mas obedeceria pela última vez aos seus pais.

Fugiria pela sua própria vida, correndo o quanto suas pequenas pernas lhe permitissem até conseguir sair daquele inferno no qual aquele pequeno vilarejo se convertera, sendo varrido por labaredas cada vez maiores. Assustado, confuso, os olhos avermelhados inundados de lágrimas as quais tentava deter a todo custo, ele passou por um samurai de cabelos castanhos curtos e olhos negros como a noite e frios a ponto de causar arrepios.

Aquele jovem estava com uma tocha na mão, contemplando com seus companheiros o que considerava um espetáculo: um vilarejo ardendo em chamas. Pôs um pé na frente, fazendo o menino, que corria sem pensar em mais nada e cego de terror, tropeçar, cair e rolar no chão.

― Ora, ora... – debochou. – Se não temos um sobrevivente aqui... Não é, Sakata-kun?

Um dos companheiros questionou enquanto encarava o garoto cujos olhos lacrimejantes estavam arregalados de terror:

― Namino-san, não vai matar o moleque?

― Não. Deixe-o ir. Quero ver se sobrevive depois disso. Duvido que saia grande coisa dele neste início de guerra. Não tem cara de que será um samurai como o pai.

 

Agora compreendia perfeitamente por que aquelas lembranças eram bloqueadas de forma insistente por sua mente. Eram lembranças de um período do qual sequer se lembrava, o período antes de se tornar o “Demônio Devorador de Cadáveres” que saqueava os mortos nos campos de batalha para sobreviver sozinho. Lembrava-se de que vivera um bom tempo nessa situação antes de ser encontrado por Shouyou-sensei.

Eram perdas terríveis e brutais demais para uma pessoa com tão pouca idade suportar, por isso sua mente bloqueava ou borrava as lembranças de sua vida antes de seu mestre aparecer. Eram recordações terríveis para ele até mesmo agora, depois de adulto. Perder pessoas queridas era terrível de qualquer modo. E extremamente doloroso. Era uma dor da qual nunca se anestesiaria. Seus pais, seus amigos na guerra, Shouyou-sensei... E, se viesse a perder mais alguém, certamente sentiria uma dor igualmente terrível.

― Agora se lembrou, Sakata-kun? – Namino sorriu como se estivesse se divertindo com a cara do albino. – Com certeza se lembrou do cara que achava que você não sobreviveria... E olha só como você cresceu! O último Sakata com certeza vai me dar uma luta incrível antes de morrer, não é, garoto? E sob pressão você parece lutar ainda melhor. Que tal uma luta contra o tempo?

Gintoki saltou para avançar contra Koji e sua bokutou se chocou com muita força contra uma katana. O impacto foi tão forte que gerou uma forte lufada de vento. Aquele ataque inicial fez com que Kagura usasse seu guarda-chuva para metralhar os adversários ao mesmo tempo em que protegia Shinpachi. Entretanto, a situação piorou quando um dos companheiros de Namino acendeu um cigarro e jogou o isqueiro ainda aceso contra a parede da casa abandonada, que começou a se incendiar.

― Sakata-kun, me mostre o quanto você evoluiu durante estes anos! – ele sorria com sadismo enquanto travava a bokutou de Gintoki com sua katana. – Ou então não verá sua amada e nem a criança dela!


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