— Tsukuyo, posso entrar? – era a voz de Hinowa por trás da porta corrediça do seu quarto.

— Pode sim, Hinowa.

A porta corrediça se abriu e a morena entrou, vendo a kunoichi mostrar uma expressão apreensiva, a qual não conseguia esconder. As duas eram grandes amigas, não tinham como esconder uma da outra o que sentiam. Se uma tentava ocultar alguma coisa, a outra já sabia.

Havia uma confiança mútua entre as duas. Por isso, Tsukuyo contava a Hinowa tudo o que a deixasse contente, triste, aborrecida, animada... Até mesmo quanto ao seu relacionamento com Gintoki, que a morena sempre encorajava.

Agora a loira exibia uma expressão bastante apreensiva, o que denunciava que o resultado do teste que ela lhe sugerira havia dado o resultado que confirmava suas suspeitas. Hinowa sabia que Tsukuyo naquele momento se sentia completamente insegura.

— As suas suspeitas estavam certas. – a Cortesã da Morte disse. – Eu realmente engravidei. Por um lado, tento pensar que é uma experiência nova pra mim, mas por outro... Eu tenho muito medo.

— Fala do Gin-san?

— Sim. Eu não faço a menor ideia de como ele vai reagir... Sabe? Não me parece que ele vai ficar todo feliz e sorridente com a notícia.

— Bom, eu não acho que ele vá querer que você interrompa a sua gravidez.

— Mas não acho que ele vá querer assumir, Hinowa. Porque isso não foi planejado, apenas aconteceu.

— Pensa em esconder isso dele?

— Talvez.

— Escondendo ou não escondendo, ele vai descobrir. A única diferença é que ele levará mais tempo pra saber... Mas também ele pode não confiar tanto em você como confia agora.

A Cortesã da Morte se quedou pensativa. Pesou os prós e os contras de se esconder uma gravidez, assim como pesou os prós e os contras de se contar a Gintoki sobre isso. Precisava manter intacta a confiança que o Yorozuya tinha nela, assim como ela confiava nele.

Após alguns instantes refletindo e ponderando, Tsukuyo decidiu:

— Vou contar a ele. Mas... – ela enrubesceu e começou a encostar as pontas dos indicadores como as menininhas tímidas dos shoujos. – Como eu vou contar isso a ele...?

*

Decidiu chegar ao bar de Otose antes de entrar definitivamente em casa, pois queria bebericar um pouco. Pediu à velha senhora uma dose de saquê, que prontamente foi posta à sua frente no balcão.

— Você tá bem regrado com a bebida ultimamente, Gintoki. – Otose observou.

— Qual o problema nisso, velha? – ele resmungou aborrecido. – Qual o problema em não querer encher a cara?

A velha senhora sorriu como uma mãe que conversava com um filho adolescente:

— Aquela mulher foi capaz de mexer com você, não é?

A velha era uma exímia observadora, de tantos bebuns que ela via no bar. Não tinha como disfarçar, porque realmente Tsukuyo mexia muito com ele, mexia com seu coração e com os seus sentidos, mais do que poderia imaginar.

E, a cada encontro com ela na calada da noite, sentia que isso aumentava mais e mais. Tudo aumentava na mesma proporção: o amor, a paixão, o desejo. Aquela mulher não era apenas um caso, muito menos uma aventura qualquer. Ele a amava intensamente e sabia que isso era recíproco da parte da kunoichi.

O sorriso do Yorozuya respondeu à pergunta de Otose melhor do que qualquer palavra que ele proferisse. Ela o conhecia muito bem para saber o que ele sentia. Apesar de viverem às turras, um tinha um carinho especial para com o outro.

— Você nem faz ideia do quanto ela mexeu comigo, velha... – ele verbalizou.

Após terminar de beber, ele se levantou dali e pediu para pendurar na conta, que já estava bastante grande. Mesmo com os protestos de Catherine, que dizia a Otose o quanto era extensa a dívida do Yorozuya, a velha senhora permitiu que mais uma dose entrasse na conta dele.

*

Tsukuyo andava para lá e para cá com ar pensativo. Decidira falar logo com Gintoki sobre a sua gravidez, mas antes de sair para ir até a Yorozuya, queria ter na ponta da língua o que e como falar a ele. Não queria assustá-lo, e nem mostrar que tinha medo de sua reação, fosse ela qual fosse.

Afinal, ela era a Cortesã da Morte, temida e respeitada em Yoshiwara!

Em pé, diante da porta corrediça do quarto, posicionou-se como se estivesse frente a frente com o ex-samurai, como se olhasse bem nos olhos dele. No entanto, acabou adotando uma postura de menina tímida e uma voz extremamente insegura:

— Gintoki, eu preciso te dizer uma coisa... Não sei se você vai ficar feliz... É que eu tô grávida.

Não gostou. Aquela não era ela. Tentou outra forma:

— Gintoki, meu querido! – disse com um sorriso quase à Shimura Tae. – Eu tô grávida!

Imediatamente, a cara sorridente se desfez e a loira torceu o nariz. Definitivamente, aquele modo afetado era irritante. Mas, como iria dizer a ele?

“Pensa, Tsukuyo, pensa! Não deve ser tão difícil falar isso ao Gintoki!”

Abaixou a cabeça e seus olhos fitavam o chão. Disse:

— Gintoki... Eu estou grávida...

Não! Não podia mostrar insegurança! Ela não deveria ser tão hesitante! Ela, Tsukuyo, Cortesã da Morte, Líder da Hyakka, Guardiã de Yoshiwara, não deveria ser uma mulher tão insegura, ainda mais diante de Gintoki e com uma notícia tão importante como essa!

Tinha que colocar seus medos de lado, como já fizera por tantas vezes. Afinal, ela era forte! Bem, sentia-se fraca ao lado do albino, mas era bobagem ficar assim o tempo todo.

Tinha que assumir uma postura decidida, tal como o fazia em suas rondas em Yoshiwara. Indecisão e insegurança não cabiam ali naquele momento tão importante! Colocou as mãos nos quadris, manteve a postura ereta, o olhar decidido, respirou fundo e disparou:

— GINTOKI, EU ESTOU GRÁVIDA!

Naquele exato momento, Gintoki havia acabado de abrir a porta corrediça e, ao ouvir tal notícia, imediatamente ficou em choque e caiu duro no chão. Só com o baque da queda é que Tsukuyo percebeu o que acontecera:

— O... O que foi que eu fiz...?