Pain escrita por ultimatebara


Capítulo 1
One - Pain




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Os raios de sol adentraram pela janela e acertaram em cheio suas pálpebras, que mexeram levemente com a claridade. Abriu vagarosamente os olhos e olhou, ainda sonolenta, pela janela do cômodo. Estava uma manhã bonita. Parecia estar quente, pois não havia nenhuma nuvem no céu, deixando o sol espalhar calor para onde pudesse e quisesse.

 

 

Olhou ao redor e viu uma pequena bandeija prateada, cheia de comida, perto da porta. Levantou-se devagar e andou calmamente até ela. Sentou cuidadosamente no chão em frente a bandeija e pegou a maçã, completamente vermelha, que ali estava. Deu a primeira mordida e mastigou vagarosamente.

 

 

Aquele gosto era tão bom. As frutas daquela região eram tão suculentas. As maçãs eram sempre vermelhas. As árvores ficavam carregadas e eram lindo vê-las da do sotão. Era lá que vivia.

 

 

Fechou os olhos para apreciar melhor aquele gosto adocicado e deu outra mordida. Quando terminou a fruta pegou o copo de vidro e o bule, tamém de prata, que estavam em cima da bandeija e encheu o copo até a metade de chá fumegante.

 

 

Tomou um longo gole e pôs o copo de volta na bandeija. Levantou-se vagarosamente e andou até a janela. Debruçou-se sobre a mesma e ficou a fitar o azul do céu lá fora. Era um dia perfeito para sair com a família, ir à praia talvez. Sair com os amigos ou passear com o cachorro.

 

 

Não para ela. Ela permanecia naquele sotão desde os 10 anos de idade - agora com 16 - desde que sua avó morrera de câncer pulmonar e seu tio passou a cuidar dela desde então.

 

 

As vezes sentia saudade da avó. Uma mulher, que para a idade, era realmente muito ativa e nada preguiçosa. Possuía cabelos compridos e brancos. Pareciam  uma cachoeira que escorregava pelas costas manchadas e adornava aquele rosto tão frágil. Era impressionante como sempre ajudava os outros do jeito que fosse. Se alguém precisava lá estava ela. Ajudando. Sem querer, pedir, receber nada em troca. Apenas sorrisos e sinceros "obrigados" vindos das pessoas a quem ela ajudava mesmo naquela idade.

 

Seu único problema era que fumava demais. Cigarros demais por dia. Um atrás do outro. Já havia reclamado com ela uma vez que ainda vivia lá em baixo. Sua avó nunca lhe dera ouvidos. Era uma mulher de decisões tomadas e não seria sua estimada netinha que lhe faria mudar.

 

Mesmo os anos sendo generosos com ela, sua saúde era das piores. Tossia a noite inteira e dava para notar o catarro em seus pulmões quando ela respirava. A morte veio e fora rápido. Não a viram e não a sentiram. Apenas a sua avó.

 

Despertou de seus devaneios quando ouviu um estrondo vindo de algum lugar do quarto. Olhou para trás e contatou que era seu tio. O olhou com tédio e voltou a observar o céu lá fora. Ouvira a voz grossa de seu tio dizer algo a ver com ela ser uma vadia que só dava trabalho e depois o barulho da porta se fechando com força.

 

 

'- Mais um dia. Eu apenas quero sair.'

 

 

Ela sempre pensava em fugir, mas sempre era pega. Da última vez quando tentou pular da janela do sotão - aproveitando a saída do tio - seu vestido ficou preso em um dos arbustos da frente da casa e seu cabelo, por não cortá-lo desde os 12, havia se enrolado em um dos galhos da árvore baixa da entrada da casa. Seu tio quando chegou, bêbado, e a viu ali, enroscada e presa, a pegou pelo braço e a puxou. Puxou sem se importar com a dor que ela sentiria. Puxou sem se importar se doeria. Sem se importar se ela choraria. Apenas puxou.

 

 

Ela havia se soltado, sim, com a ajuda do tio, mas se seu cabelo não tivesse sido arrebentado e seu vestido rasgado da ponta até um pouco acima da coxa, ela ainda estaria ali, agonizando de dor e sentindo os fios de seu cabelo dourado serem arrancados um a um de seu couro cabeludo.

 

 

Houve uma vez que, mesmo com seu tio em casa, ela saira pela porta do sotão mesmo. Desceu as escadas que davam ao segundo andar e passou pela sala quando chegou ao primeiro andar. Quando chegava a porta da frente, sentira seu pulso ser puxado com violência e suas costas baterem de encontro a parede. Seu braço, que não fora pego, bateu com força no cabideiro, deixando uma marca roxa e alongada por seu antebraço. A mão grossa e forte de seu tio havia pego seu pescoço e começava a apertá-lo. Apertava mais forte cada vez mais. Seu ar já estava no limite. Sentia sua traqueia fechando e a passagem de ar ser interrompida. Quando sua vista começara a escurecer ele lhe soltara e ela caiu no chão com força.

 

 

Parece que só quando chegou ao chão notou que fora levantada deste pelo menos 3 centímetros. Sugava com força o ar e os olhos esbugalhados demonstravam como estava sendo difícil respirar e como aquilo fora de surpresa. Passou a mão pelo pescoço dolorido e sentiu que ali latejava com força. Deveria estar muito vermelho. Fora mandada de volta ao sotão com xingos e agressões.

 

 

Suspirou.

 

 

Quando aquilo acabaria ? Será que acabaria ?

 

 

Sempre se perguntava isso. Andou devagar até sua cama improvisada no canto daquele cômodo fetido e se sentou ali. Abraçou o próprio corpo, encolheu as pernas e encostou as costas na parede. Ficou a observar o céu dali mesmo. De sua cama. Do seu cantinho. Parecia um animalzinho. Um filhote com medo de ter perdido a mãe que saíra para caçar. Era engraçado as comparações que fazia consigo mesma.

 

 

Riu baixinho e fechou os olhos. Deitou no colchão duro e se encolheu mais. O sono estava vindo. Sua cabeça latejava tão forte. O frio estava terrível. Seu tio havia levado seu cobertor dizendo que vadias não precisavam de cobertor, pois não sentiam, pois de tanto que eram fodidas sentiam calor a noite toda.

 

 

Deixou um lágrima solitária escapar de seu olho castanho, rolar por sua bochecha e mergulhar no dourado de seu cabelo. Sentiu um estranho frio passar da base de sua coluna até chegar em sua nuca. Sua vista começou a escurecer e sua respiração estava ofegante. Sentia seu sangue correr rápido e o calor agora estava presente.

 

 

Sentiu o tornozelo latejar e direcionou seu olhar para seus pés.

 

 

'- Ótimo !'

 

 

Ironizou mentalmente. Uma piton¹. Havia uma cobra em seu quarto. Deu uma olhadela em volta e viu um pequeno buraco perto da porta. Ela deve ter passado por ali.

 

 

Sem consegiur pensar em mais nada deitou a cabeça no travesseiro áspero e fechou os olhos. Sentiu um frio de congelar tomar conta de seu corpo e o barulho dos pássaros lá fora já não dava mais para ser escutado. Havia morrido.

 

 

A única coisa que se lembra depois de ter sentido frio foi sentir o peso que carregava desaparecer rapidamente e se sentir em uma paz inacreditável.

 

 

Ela certamente estava em casa.


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Notas finais do capítulo

¹- não lembro se a piton é venenosa, mas deixa a pobrizinha ser feliz na minha one, né ?! ^^'Mereço reviewn ?



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