Sirenas escrita por saoren


Capítulo 6
Perspectiva


Notas iniciais do capítulo

depois de alguns anos sem postar, acho que finalmente vale a pena voltar e continuar essa estória. espero que gostem. boa leitura!



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Segundo uma lenda que Tereza costumava escutar de sua avó, existiam mulheres no mar, mulheres especiais que respiravam embaixo d’agua; ao invés de pernas, tinham caudas escamosas como peixes; e uma voz tão encantadora que essa seria sua arma mais letal. Essas mulheres, porém, eram perigosas, vingativas e silenciosas, somente à espera de suas presas. Elas nasciam do medo, da raiva e da morte.

Para elas, o que as águas salgadas seriam o lar, para os homens que tentavam desbravá-las essas mesmas águas seriam o berço da morte; os animais, seus amigos e as tempestades, sua armadilha mais ardilosa. Quando os cruéis tripulantes escravizavam as mulheres à bordo, sua avó comentava com uma expressão que construía a tensão na pequena Tereza, e se aproveitavam de sua coragem de maneira ingrata, elas sofriam tanto que quando não jogadas ao mar por eles, essas mulheres perdiam as esperanças e era aí quando toda a história tinha uma reviravolta e elas renasciam como sereias.

Nas noites de tempestades, algumas das criaturas mais violentas dos oceanos se curvavam diante da aura de poder que elas emanavam. Elas usavam sua poderosa voz para encantar os humanos e quando eles pulavam na água eram puxados para as profundezas pelos outros monstros. Além disso, destruíam com prazer as embarcações que ousavam se entremear em sua casa. Elas ficavam com todo o ouro e prata pra si, uma pequena recompensa diante da saciada sede de vingança eterna.

— Como a senhora sabe de todas essas histórias, vovó? – seus olhos ingênuos se fixavam na senhora todas as vezes quando ela terminava de contar alguma lenda.

— Bem, Tere, as pessoas têm medo do que não costumam conhecer, inventam todo tipo de história como uma forma de explicar algo que nunca viram antes. Muitas dessas histórias – seu tom de voz suave e baixo, quase um sussurro, prendia a atenção da criança – são uma forma também de controlar alguém. Para que elas tenham medo, principalmente da morte. Jamais tenha medo da morte, Tere, para que uma nova vida nasça é preciso deixar a antiga vida para trás.

***

De volta aos aposentos de Sebastian, Tereza estava completamente atônita com o ataque que haviam acabado de receber. Ela mal tinha forças para ficar de pé, não fosse a ajuda Sebastian segurando seu peso ela teria caído no solo amadeirado e lá ficado até conseguir se recompor.

Sebastian, querendo demonstrar seu afeto doentio por ela, a deitou na cama, deu-lhe goles de seu rum para esquentá-la, atirou suas velhas botas de couro esgarçado para um canto do cômodo, pôs a blusa branca, por incrível que pareça, sobre um baú castigado pelas intempéries do mar e pelo constante uso e deitou-se na cama ao lado dela.

Ela estava tão cansada de tudo, desolada, aflita. Por alguns momentos Tereza parecia ter perdido as perspectivas de conseguir se desvencilhar da existência pútrida do homem ao seu lado. Enquanto pensava isso, ela sentiu toques em seus cabelos e involuntariamente contraiu seu corpo, numa forma de querer protegê-lo e evitar qualquer tipo de contato físico além.

— Shhh, não tenha medo de mim, Tereza, não vou fazer nada – ele tentou acalmá-la ao perceber sua reação, mas em vão, pois ela nada comentou e permaneceu tensa.

Querendo aproximar mais seus corpos, ele se moveu para mais perto dela, colocando sua cabeça sobre o braço musculoso. Lembrou do que sua avó disse, ela estava com mais medo naquele momento do que quando toda a adrenalina fluía pelo corpo durante o ataque da frota adversária. Tereza tinha medo agora, pois desconhecia aquele ser, nunca fora tratada tão afetuosamente por ele depois de ter que compartilhar daquele ambiente intragável com Sebastian. As pessoas têm medo do que não costumam conhecer.

O profundo asco que ela sentia ao perceber ser tocada, ou que seu cabelo fosse cheirado e comparado à lembrança do porto ensolarado da ilha, ou que suas roupas fossem tão facilmente destruídas quando ele estava bêbado demais para se importar se a machucaria ou não ao satisfazer seus desejos carnais, enervava todos os pensamentos e se exalava por cada poro do corpo dela, então logo ela recobrava a consciência de que ajudaria suas irmãs a se livrar daquele terror.

— Se eu estivesse indo embora, você me seguiria até os confins da Terra, para me provar que o seu amor vale a pena? – ele cantava baixo e lento e numa falha tentativa de emanar uma voz suave – Se eu estivesse indo embora, procuraria por seu lindo rosto em toda multidão, em todo lugar?

Nesse momento, uma lágrima morna respingou sobre seu braço. Tereza chorava silenciosamente. Apesar de não suportar nem mesmo mais olhar para Sebastian, ela agradeceu por esse momento, esse seria o começo de sua redenção.


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Notas finais do capítulo

e então?!? o arrebatamento está peeeerto, meus marujinhos! até o próximo capítulo.



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