– Capitão, são elas! Desde que colocamos essas mulheres no navio, os horrores dos mares nos tem atingido com mais freqüência! Só pode ser uma maldição! – disse um dos marujos, desesperado para sobreviver.

– Não fale besteiras, Franz. Criaturas como essas são tão inofensivas como peixes! – o homem falava aos berros, pois a tempestade mal deixava que outros sons fossem ouvidos.

Todos trabalhavam de maneira árdua para salvar o que conseguissem de afundar naquela imensidão hostil que era o mar. As mulheres que estavam ali para cozinhar e servirem como escravas se escondiam. A brutalidade daquela vida as faziam lembrar a vida que tinham: podiam andar livremente pelas ruelas da cidade, eram cortejadas pelos belos jovens que nada faziam da vida, principalmente os ricos; Não eram obrigadas a casar, podiam tomar o rumo que quisessem para suas vidas.

Algumas choravam, outras rezaram à Virgem para que tudo ficassem bem. A mais altiva delas, Tereza, uma morena clara de longos cabelos negros e olhos verdes, prestava atenção ao que ocorria através da fresta da porta. A cozinha parecia o lugar mais seguro para elas agora.

– Existem peixes que parecem inofensivos, mas atacam quando menos se espera! – Franz voltou a comentar com o homem alto e musculoso à sua direita.

– O que você acha que elas estão fazendo? Magia negra? – o capitão riu do que dissera como se fosse uma piada.

– Qualquer uma delas pode ter sido feiticeira. Arrastamos algumas ciganas conosco, senhor! É a terceira tempestade que enfrentamos desde que saímos do porto de Santa Lúcia! Nunca isso aconteceu! Já nos bastam esses monstros no fundo do oceano!

– Ah, deixe de falar essas coisas! Miguel e Luís precisam de ajuda com os remos. Depois falamos disso, se sobrevivermos! – o capitão ordenou e continuou a guiar o navio através do timão. Seria uma longa noite.