–------Ano: 2025/Dia do Aniversário: 1 de Agosto-------

Eu estava trêmula. Minha vida sim, mudou bastante durante esse tempo. Eu sentia que queria matar todas as pessoas que passassem por minha casa, sentia praticamente imune a quase tudo que as pessoas diziam ou me mostravam. Retalhador não mudou nada durante esse tempo. Eu havia feito 15 anos. Era o dia que aquela imagem em minha cabeça diria que eu ficaria igual a ela. Espero que não dê certo. Retalhador me olhava quando eu fechava a porta do banheiro com seus enormes olhos negros. Me dava medo de vez em quando, mas ele me defendeu daquele homem esguio de terno, mordendo-o no braço quando ele queria tocar-me. Isso eu deveria retribuir. Depois que terminei de tomar banho, abri a porta. Retalhador não estava ali, mas quando a fechei, ele estava atrás da porta, me dando um enorme susto. Seus olhos se arregalaram ainda mais. Eu não via sua boca, sua cauda não mexia, só me olhava.

–- Vem cá, garoto.

Ele veio. Sua expressão suavizou quando peguei a ração com a mão e ergui para ele. Retalhador começou a comer a ração em minha mão, enquanto eu o acariciava.

–- Bobo. Nunca mais me olhe assim, ok? Vai me assustar mais que essas aparições.

Ouvi a porta abrir. Logo estranhei, pois eu e Retalhador somos os únicos aqui. Isso sempre significa mau sinal. Corri para o quarto, me escondendo debaixo da cama. Me prendi nas barras da cama, impossibilitando as pessoas me verem de baixo da cama. A porta do meu quarto abriu lentamente, revelando som de água, e na minha visão, sapatos brancos all star. Eles caminhavam calmamente até o lugar onde fica a luz. Eu esperava que ele me procurasse sobre o quarto, mas em vez disso, apagou a luz. Eu fiquei as cegas, mas ainda via ele. Eu ouvia seus passos. Estavam cada vez mais perto. Ouvi som de isqueiro, e som de liquido caindo no chão. “O que ele ou ela está fazendo?!” – pensei. Sai logo debaixo da cama, para evitar, mas quando olhei...era um homem com o pescoço completamente torto, com um isqueiro na mão e 3 garrafas de vodka na mão. O tempo passava rápido demais, já deixando de noite e com a lua vermelha. Ele se aproximou de mim, mas antes que eu fugisse, alguém me segurou pelas costas. Olhei e vi uma mulher com kimono, olhos negros com sangue saindo deles e com enormes garras me segurando.

–- Me larga! Me largaaaaaaaa!

–- Hke Hke Hke Hke [Risada Fail do The Crooked Man, mas, mentalize a risada dele.]

Senti a água da vodka em mim. Com aquele isqueiro e com o pensamento da vodka ser inflamável... ele iria me queimar! Me debati mais ainda, dessa vez com todas as minhas forças possíveis. Eu iria ser queimava viva se eu não fizesse alguma coisa. Percebi que a mulher tinha dificuldade de me segurar e usei isso a meu favor: Pulei, debati, fiz tudo até que ela soltou. Mas tudo foi em vão, pois, o homem-torto havia tacado o isqueiro em mim. Minha pele ardia em fogo e eu gritava, mesmo sabendo que era em vão. Eu sentia minha pele desaparecer, o fogo queimar minha carne, músculo, ossos, veias, tudo. Até que eu desmaiei. Minha ultima lembrança era ver Retalhador piscar até virar o cachorro sorridente vermelho, com o cara de casaco branco chamado Jeff ao seu lado.

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Acordei no hospital, com sujeira em minha pele. O médico estava ao meu lado, verificando-me. Eu ainda tossia, pois, o ar do fogo ainda estava em meus pulmões.

–- Graças a Deus! E ai, Kinberlly, como você se sente?

–- Sem...ar...

–- Bom, é normal para o tamanho daquele incêndio.

–- Incêndio?

–- Ocorreu um enorme incêndio em sua casa, meu bem, você estava lá dentro quando os bombeiros entraram em seu quarto. Eles pegaram alguns bens seus que você segurava e os colocam com cuidado numa caixa.

–- Posso...?

–- Claro...

O médico passou para mim uma caixa em forma de livro. Quando abri, tinha o papel amarelo dos versos, os papeis do jogo e a caixinha de música.

–- Isso...

–- Sim, é seu.

–- ...O que houve comigo?

–- Querida, receio que não queira se olhar no espelho.

–- Eu...eu quero sim.

O médico não teve outra escolha a não ser passar o espelho. Eu abafei um grito quando me vi. Eu tinha um enorme cabelo negro, minha pele estava branca branca.

–- Eu...

–- Tivemos que tentar remodelá-la, mas não deu muito certo...

–- ...

Olhei para o lado e vi um vaso de flores azuis, brancas e algumas brancas manchadas de vermelho, até algumas completamente vermelhas. Eu achava bonito, gostava do vermelho, branco e azul. “Que pensamentos são esses, Kinberlly?” – pensei, logo voltando meu foco para o médico.

–- Quem mandou essas flores?

–- Um jovem moreno, alto, cabelos castanhos, óculos, casaco cinza e calça cinzenta. Estranho, roupas cinzentas num dia ensolarado desse, não é? E mandou uma caixa.

–- Quero vê-la.

O médico novamente passou uma caixa branca e grande para mim.

–- Bom, vou deixá-la por uns minutinhos.

E saiu da sala. Quando saiu, a abri, vendo um casaco azul, uma saia curta preta, meias listradas vermelho e preto, um tênis all star vermelhos, uma liga de cabelo roxa, e, uma faca de 26cm. Peguei o bilhete sobre a caixa e o li:

“Gostou de meu presente? Se quer

ser uma de nós, precisa estar simples-

mente perfeita. E para isso, dei meu

presente para você aproveitar. Você

vai me compensar muito por causa dele.

– Jeff”

Tremi de raiva. Joguei o bilhete no lixo, logo dizendo:

–- Vá para o inferno!

Joguei a caixa junto. Eu não precisava daquilo nunca! Mas antes que eu falasse mais pragas, um labrador preto entrou pela porta e pulou para minha maca. Era Retalhador. Ele pedia carinho com o fucinho, mas eu apenas cruzei meus braços e olhei para o lado.

–- Você é aquele cachorro vermelho sorridente, provalmente algo daquele cara sorridente.

Retalhador guniu demoradamente. Mais raiva fluiu de mim dele.

–- Quero que todos vocês vão para o inferno!

Mas, Retalhador olhou para mim, como se dissesse: Já estamos lá.

–- Grr....Que outra coisa ruim pode aparecer?

–- Eu. – uma voz soou na porta.

–- VOCÊ???!!