Era uma noite fria e chuvosa. Fortes raios se formavam naquele céu escuro e limpo. Não se via uma única estrela, apenas o clarão marcado pelos relâmpagos assustadores com seus intensos estrondos. Ouviam-se as badaladas do relógio antigo no canto da sala, indicando que já era meia-noite.

Mas nem isso foi capaz de tirar o lindo sorriso de seu rosto. Aquele sem dúvidas havia sido o melhor dia de toda a sua vida. E para quem não seria, afinal, se o tinha compartilhado com sua amada? Um dia cansativo, porém maravilhoso e muito especial. Nunca tinha se divertido tanto quanto hoje. Era incrível como uma simples pessoa podia colorir o seu mundo.

Então, concluiu que um banho seria a melhor coisa a se fazer naquele momento. Ainda sob efeito da sua enorme felicidade, se dirigiu até o banheiro. Abriu o box e se enfiou embaixo do chuveiro, antes mesmo de girar o registro . Deixou que a água fria escorresse por todo o seu corpo, lhe causando um grande arrepio. Foi só quando a mudança de temperatura aconteceu, ficando quente, que seus músculos enfim relaxaram. Soltou um pesado suspiro, como se tivesse se livrado de algo preocupante.

Por um momento, enquanto se perdia em seus devaneios, sentiu uma sensação estranha: “algo ali estava errado”. Ignorou aquele pensamento e retornou tranquilo ao seu banho. Foi quando fechou os olhos, naquele instante, que sentiu um arrepio espontâneo subir por sua espinha. Era algo apavorante. Havia mais alguém ali, não estava sozinho como pensara.

Abriu os olhos rapidamente, e foi o suficiente para conseguir ver um vulto através do vidro. Fechou o chuveiro num desespero que nem ele mesmo estava se reconhecendo. Pegou a toalha e a envolveu em sua cintura. Abriu o box ligeiro, na tentativa de reconhecer o proprietário do seu susto, mas foi em vão. Não tinha ninguém ali, somente ele.

Por um instante, uma sensação do alívio lhe tomou, e soltou um suspiro. Caminhou lentamente de volta ao chuveiro, mas foi impedido por um barulho que vinha do cômodo ao lado. Não pensou duas vezes e se dirigiu até o local, que novamente estava vazio. Achou aquilo irritante, com certeza era mais uma das brincadeirinhas idiotas e de mau gosto que seus amigos faziam.

Voltou na esperança de continuar seu banho tranquilamente, mas ao pôr seu pé na porta do banheiro viu marcas vermelhas que o fizeram recuar. Ele soube sem dúvidas que eram sangue. Então, viu refletido no espelho embaçado uma sombra atrás de si. Virou-se bruscamente, mas nada encontrou. Ao olhar novamente, leu no espelho uma palavra escrita em sangue: “VINGANÇA”.

Ouviu um estalo, que mais parecia um gatilho sendo puxado. Encontrou uma pessoa que nunca imaginaria que estivesse ali. O que ela fazia com uma arma nas mãos e apontada para ele?

– Você? – Sua voz falhou ao notar quem era. – O que faz aqui?

– Sua hora chegou, León!

– Mas, por quê? Por que está fazendo isso?

– Vingança, eu quero vingança! – A mulher gritou enfurecida, seus olhos jorravam sangue.

– Não entendo? Quer vingança do quê?

– Vingança é um prato que se come frio! Esperei muito por isso!

– Não faça isso!

– Se você não pode ser meu, não será de mais ninguém... - Suas mãos tremiam. – Adeus, León! Saiba que eu te amei muito!

Então, um baque pôde ser ouvido, desde a esquina da rua.