Jane acordou chorando.

Havia sido só mais um sonho. Um sonho não, uma lembrança daquela noite terrível.

Já se passara um ano e Jane tinha aquele sonho toda a noite.

Ela olhou em volta, tudo estava normal, tirando o fato de que elas viviam numa caverna...

Sua irmã estava deitada no monte de feno que ficava no canto da caverna, ela roncava alto, demoraria para acordar. Jane pegou sua faca e saiu para tentar arranjar comida em alguma casa próxima. Nesse tempo que passou Jane havia aprendido alguns truques, ela não era muito inteligente, pois quando sua mãe foi levada ela não havia aprendido nada ainda. Ela não saberia, por exemplo, resolver uma equação, mas ela sabia exatamente para que servia cada tipo de erva, ela sabia como se defender da maioria dos animais, ela sabia como cuidar de uma criança de dois anos no meio de uma floresta..

Ela saiu silenciosamente e ajeitou os arbustos na entrada da caverna para que ninguém notasse. O sol estava nascendo, a maioria dos homens estavam saindo de casa para trabalhar, as mulheres estavam fazendo a comida para os filhos. Se ela corresse até a casa dos Joyte ela poderia pegar algumas frutas que tem em seu quintal. Porém ela também poderia tentar se arriscar e ir para o centro, onde ela conseguiria roubar um pouco de leite para  Caroline, as duas só bebiam água a mais de três meses..

Porem ela não poderia arriscar. Não com os seus desmaios, eles estavam acontecendo com mais frequência desde que ela saiu de casa. Às vezes parecia que sua mãe ia explica-los, mas o tempo fora curto e ela nunca soube por que aquilo ocorria.

Ela olhou novamente para dentro, sua irmã mal se mexia, estava magra como um esqueleto. Jane pensou um pouco e correu, porém ao invés de virar para o oeste na bifurcação ela foi reto e se escondeu no meio da floresta.

-Faça por Caroline, faça por Caroline-Ela repetia para si mesma para vencer o medo.

Ela correu muito e ao chegar na praça central ela sentiu um aperto em seu peito..

-Mais uma-Disse baixinho.

Outra mulher estava indo para a forca. Era a oitava essa semana e Jane ainda não entendia o porquê daquilo. Aquelas mulheres estavam em suas casas vivendo suas vidas e de repente o padre chegava e assim, sem mais nem menos, anunciava sua morte.

Jane se enfiou na multidão e seguiu de cabeça baixa até a padaria, foi chegando silenciosamente e pegou uma garrafa de leite do leiteiro que passava e uma baguete que estava no balcão. Tudo estava indo muito bem até que ela olhou para a casa atrás dela.

Era a casa dos Pitien.

Subitamente ela começou a chorar e correu para a floresta:

-Aqueles nojentos, monstros, assassinos!

Até que ela ouviu: Um barulho de folhas sendo amassadas. Alguém a seguia.

Ela olhou para trás. Era um garoto, e não qualquer garoto, ela conhecia aqueles olhos.

-Você?