Réquiem escrita por Ghanima


Capítulo 10
Epifania


Notas iniciais do capítulo

Música: Memento Mori.
Banda: Kamelot (ta, ninguém percebeu que eu AMO essa banda).

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Obs 1: Memento Mori é uma expressão latina cujo significado é “Lembra-te de que morrerás”. E o nome dado a criações artísticas cuja função era lembrar a todos da inevitabilidade da morte. Suas bases remontam a Roma Antiga, mas era uma manifestação artística muito comum na Idade Média.

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Obs 2: Epifania

do Lat. epiphania Gr. epiphneía, aparição

s. f., É uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do significado de algo.



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Cap 10 – Epifania

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Ele não era capaz de dizer qual era o sentimento que o dominava naquele momento, mas Hidan sabia que caso desse de cara com Shikamaru o levaria para passar o resto da eternidade em algum lugar deveras desagradável. Contudo, a maior parte de sua fúria era com Ino, ela não estava levando a sério que ele ia se casar com ela.

- Ai ai...Estou vendo que Margarida e Fausto perderam a noção do perigo.

Não demora muito até que a loira esteja no raio de visão do Jashin, que sorria de forma macabra.

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Who wants to separate

(Quem quer separar)

The world we know from our beliefs

(O mundo que conhecemos de suas crenças)

And who sees only black and White

(E quem vê apenas o negro e o branco)

Distinguish loss from sacrifice

(Distinguindo a perda do sacrifício)

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- Pare aqui mesmo! – ordena o dono da carruagem com a voz mais carregada de ódio que ele podia emitir.

O condutor atende ao comando imediatamente, o pobre senhor volta os seus olhos marejados para o inocente casal a alguns metros de distância e lamenta internamente pelo infortúnio que está prestes a cair sobre eles, especialmente sobre a lindíssima jovem que sorria com tanta alegria. O veículo estava estacionado em uma esquina e – com um pequeno movimento para trás. – faria com que a carruagem se tornasse oculta à visão dos jovens.

Quase ao mesmo tempo, a mulher que informara a Hidan sobre o encontro de Ino e Shikamaru reaparece, tendo em mãos um envelope, que logo para nas mãos da Morte. A certa distância, o dito casal conversava tranqüilamente, estando parados diante de uma alfaiataria. A Yamanaka e o Nara estavam de braços dados e se mostravam totalmente ignorantes a presença silenciosa e terrível que os espreitava.

- Que problemático. – o rapaz boceja. – Tenho que enfrentar essa fila toda pra pegar a encomenda do meu pai. – comenta ele olhando para a quantidade anormal de pessoas dentro do estabelecimento.

- Pelo menos você se mexe um pouco desse jeito! – ironiza a loira, em seguida mostrando a língua para o companheiro. – Quer que eu te espere?

- Não. – ele arfa derrotado. – Isso vai demorar, que saco.

- Pára de reclamar. – pede a moça, não conseguindo compreender como alguém tão novo podia ser tão desmotivado. – Bem, então eu vou indo. Te vejo quando?

Ao notar a tristeza nos olhos azuis, ele se aproxima do rosto branco.

- Quem sabe? – após essa frase enigmática, ele dá um beijinho rápido nos lábios rosados da jovem e se afasta. – Não apronte nada no caminho.

- Bobo... – sussurra ela ao mesmo tempo em que seus dedos finos se moviam sobre seus lábios.

A jovem se vira e vai andando até a mesma esquina onde a carruagem estava parada, não que ela soubesse desse último detalhe, é claro. Seus passos são lentos e pouco precisos, como se a loira não desse a menor atenção para o que estava em seu caminho e nem legasse importância a onde ela chegaria. Sua cabeça estava unicamente focada em saborear os momentos recentes ao lado de seu mais prezado preguiçoso.

Ela dobra a esquina, ainda perdida no Mundo da Lua, suas bochechas estão rosadas e um sorriso bobo decora aquele rosto juvenil. A distração é tanta que a jovem quase enfarta quando sente uma mão forte e bruta puxá-la para dentro de algo, fazendo com que seu corpo batesse forte contra uma superfície desconhecida e que o barulho de cavalos e rodas pudesse ser rapidamente percebido. Ao se recuperar, a Yamanaka se percebe sendo observada com fúria pela pessoa com a qual ela menos desejava ter contato.

- Não sei se te elogio pela coragem ou se te chamo de suicida.

Hidan fala sem olhar para a acompanhante, suas mãos enluvadas apertam com força o cabo de prata da bengala que estava pousada imponente e ereta entre as pernas do homem. Os olhos púrpuras da Morte faiscavam com um ódio quase nunca sentido e, sem a menor sombra de dúvida, quase sempre perigoso. Ao perceber tais nuances, Ino se vê temendo verdadeiramente o Mefistófeles, por mais que desejasse responder a altura, sua voz parecia entalada em sua garganta.

- Me responda uma coisa. – ele volta a falar. – Você não acha que está arriscando demais?

- Arriscando?

- Eu sei que você não é burra! – a rispidez usada faz com que a Yamanaka se encolha no banco. – Então pare de repetir o que eu falo, é irritante!

- E o que você acha que eu estou arriscando? – questiona a jovem, achando coragem para emitir uma sentença completa.

As mãos do Jashin se enfiam dentro de uma mala e – de dentro dele – os olhos azuis percebem o envelope que fora esquecido no restaurante.

- Isso! – responde ele.

- Como conseguiu?

- Simples. – começa ele, sorrindo ironicamente. – Acabou de chegar a mim, uma certa amiga conseguiu pegar isso de um pontinho rosa que passava na rua.

- “Isso estava com a Sakura?” – Ino olha para a porta do veículo. – Não me importa, eu posso sair com quem eu quiser. – complementa a loira com uma expressão arrogante e resoluta em sua face.

- Você não serve pra blefar. – ironiza o homem de cabelos prateados. – Pode parar com o teatrinho.

- Não falei nada que não fosse verdade.

- Se você leu esses papéis. – ele joga o envelope no chão. – Sabe que não tem como fugir do que te espera.

- Para tudo tem solução. – a Yamanaka encara Hidan.

- Não pra isso.

- Quem garante?

- Escuta aqui, pirralha. – a audácia dela estava ultrapassando os limites da paciência já pequena da Morte. – Sabia que eu posso tomar você aqui e agora e ninguém poderia impedir ou protestar?

Agora sim ela estava apavorada.

- Não pode

- Posso sim. – a mão direita do homem mexe na pasta mais uma vez e tira um papel de dentro da mesma. – Acabei de me reunir com os seus pais e achei que esse artifício... – a mão balança a folha na frente da jovem. – Não seria necessário, mas você está me obrigando.

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Some day we may come to peace

(Algum dia nós poderemos aproximar-nos da paz)

With the world within ourselves

(Com o mundo dentro de nós mesmos)

And I will wait you

(E eu esperarei por você)

Until I close my eyes

(Até eu fechar meus olhos)

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- O que é isso? – inquiri ela com a voz alta e trêmula.

- Apenas algo com o qual os babacas dos seus pais me presentearam.

Eles percebem que a carruagem havia parado.

- Responde direito! – grita ela.

- Leia você mesma. – a Morte põe o papel nas mãos frias da noiva.

Já com a folha em mãos, Ino devora as letras ali escritas e o ódio latente por seus pais parece queimar dentro de seu corpo com veios de leva recém saídos do interior da terra. Lágrimas escorrem pelos orbes azuis e caem sobre o vestido.

- Interessante, não é? – comenta ele com seus olhos fechados e com a cabeça apoiada confortavelmente no encosto do banco. – “Só tem uma coisa que não tem solução, sua burra. E essa coisa sou eu! A Morte.”

- Eu posso queimar esse negócio...- balbucia a jovem.

- Não vai adiantar, isso é só uma cópia. – esclarece o Jashin. – Entendeu a sua situação agora?

Ino não podia pensar em melhor situação para que a palavra traição pudesse ser entendida com perfeição. Seus pais haviam assinado um documento que, praticamente, a entregava de bandeja nas mãos do Mefistófeles; aquelas linhas mostravam que ela, Ino Yamanaka, já estava assustadora e inevitavelmente casada com Hidan Jashin.

A boca da jovem estava entreaberta e seca; suas mãos agarravam a folha com tamanha força que a mesma já estava amassada, os olhos ardiam, sua cabeça estava abaixada e parecia desejar despencar daquele pescoço, a pele branca estava com uma palidez anormal.

- Eles me traíram. – Ino sussurra enquanto lágrimas caiam.

- Basicamente. – Hidan não fazia questão de ser agradável. – Eu pensei em deixar pra anunciar o casamento depois do seu aniversário, mas você quis assim.

- EU NÃO QUIS NADA! – berra a loira, deixando toda a dor sair junto com aquelas palavras.

- É mesmo? – ele dá uma gargalhada sem alegria. – E o seu beijo no Fausto? O que me diz disso?

- Você viu? – isso a deixa verdadeiramente surpresa. – “Droga, por que ele tinha que ver?”

- Infelizmente. – os olhos dele a encaram ferozes. – Por isso que eu vou fazer uso desse papelzinho.

- Eles não podem ter feito isso. – reclama a loira. – Eles não têm esse poder.

- Claro que podem, sua tola. – a mão esquerda dele passeia pelos fios prateados. – Você é menor de idade, não tem direito a apitar em nada na sua vida.

- Desgraçado.

- Tudo que eu tinha que fazer era pressionar um pouco – a voz dele sai neutra como se atraiçoar alguém fosse algo bastante normal. – E fazer uso do fato de que, na realidade, pra casar com você, eu só precisava da autorização dos seus pais. Engenhoso, não?

- Você não vale nada. – responde ela, encarando o noivo com a mesma fúria.

- E ainda sim terei você. – retorqui o homem com seu corpo recendendo a luxúria.

- Não mesmo!

- Deixe-me adivinhar, você não leu tudo. – mais uma vez a gargalhada desagradável dele ecoa dentro da carruagem.

- Não. – admite a Yamanaka.

- Foi o que eu pensei – ele começa a desfazer a gravata azul que pousava sobre sua blusa preta. – Se você tivesse lido, saberia que só falta uma coisinha pra esse contrato ser totalmente cumprido.

A loira abre a porta da carruagem e dá alguns passos para se afastar, por alguma razão, ela sentia que aquele detalhe ao qual ela não tinha prestado atenção seria a aquela coisa que acabaria de vez com a sua alegria. A jovem se vê em uma área afastada da estrada e perto de uma clareira aberta na densa floresta. Logo o homem sai da carruagem e encosta-se à mesma, enquanto tira seu colete preto e a olha com a mesma expressão de prazer que um carrasco sente ao cumprir uma sentença.

- Só o que eu preciso é...- ele para de falar e o canto direito de seus lábios se ergue, maligno. – Como direi? Ah, sim. Consumar o casamento – a entonação dada ao verbo era tudo que Ino precisava para correr.

Hidan espera 5 segundos e ruma atrás da jovem, sua bengala estava em mãos. A Yamanaka corria em desespero, como uma presa fugindo de um caçador. E pode se dizer que era essa mesma a situação; sem prestar atenção para onde seus pés a levavam, a loira voava com as asas do desespero.

Infelizmente, as asas do desespero não era capazes de conter o único mal irremediável em toda a existência. A corrida é interrompida quando Ino se vê presa entre o peito forte da Morte e os braços da mesma que a impediam de mover-se com a bengala posta defronte a jovem.

- Quanto mais você resiste. – sussurra ele na orelha esquerda da jovem. – Mais desejoso eu fico.

A loira não tinha forças nem oxigênio para falar. Ao invés disso, optou por fazer a única coisa que lhe era possível no momento: Se debater. E isso ela fez até que todos os seus músculos começassem a doer; sendo que os braços do homem continuavam firmes como correntes de ferro que prendiam o corpo feminino. Ela não tinha mais o que fazer, se o Mefistófeles fosse cumprir a ameaça, ela estaria totalmente indefesa.

- Faça logo... – a voz dela não é mais alta que um sussurro.

A Morte perde alguns minutos olhando a combalida jovem, indefesa e indiferente como uma boneca de porcelana. O algoz sente algo incomum, não era uma dor, mas sim um desconforto ao realizar aquela cena. Não que a brincadeira com a Yamanaka não tivesse sido divertida; aliás, foi soberba. Só que vê-la naquele estado não lhe agradava tanto quanto ele pensara anteriormente. Tendo sido tomado por tal súbito conhecimento, o Jashin toma a garota nos braços.

- “Acho que já te puni o bastante por hoje.” – seu pensamento é parado com a sensação dos braços finos dela envolvendo seu pescoço. – Não farei nada.

Ele vai andado de volta ao ponto de partida, olhando para Ino uma vez ou outra. O vestido dela estava sujo em algumas partes, os cabelos loiros estavam bagunçados pelo vento, gotículas de suor brilhavam na tez diáfana do rosto dela, os olhos azuis estavam opacos e avermelhados. Ela ainda tremia.

- Está com medo?

- Sim. – a resposta dela foi fraca, sendo apenas um reflexo do estado em que a pobre se encontrava.- “ Que pergunta mais idiota.”

- Stultum est timere quod vitare non potes.(1) – diz ele.

- É insensato temer aquilo que não se pode evitar. – Ino traduz a sentença.

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When your time has come

(Quando chegar sua hora)

You know you'll be lonely once again

(Você saberá que você estará sozinha de novo)

And the final winter comes to us all

(E o último inverno virá para todos nós)

Life is treacherous

(A vida é traiçoeira)

But you're not the only who must pretend

(Mas você não é a única que deve fingir)

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Depois disso, o caminho de volta até a carruagem foi silencioso, e assim se manteve por todo o percurso até a Mansão Yamanaka, cada um dos presentes estava imerso em seus próprios pensamentos, estando então incapazes de legar atenção a qualquer outra coisa. O homem permaneceu com seus olhos fechados e apoiando seu corpo na lateral esquerda do veículo; a jovem estava sentada no banco a frente da Morte e fitava a paisagem. Sem demora, se viram diante da casa da loira.

A mesma deixou o veículo sem olhar para trás, sem querer saber se o Mefistófeles a seguiria ou não. Ela abriu a pesada porta da entrada, se surpreendendo com Satsuki sentada na escada e chorando muito, sendo que nenhuma outra voz podia ser ouvida dentro da casa. A loira vai a direção da jovem empregada, que se assusta ao sentir mãos pousando sobre seus ombros.

- Senhorita! – Satsuki se ergue num pulo. – Perdoe-me, não percebi sua chegada.

- Eu sei disso, mas o que houve? – Ino estava realmente preocupada. – Por que estava chorando? Cadê o povo dessa casa?

A empregada fixa seus olhos avermelhados pelas lágrimas no chão impecavelmente limpo.

- Deidara-san foi embora. – as lágrimas de Satsuki voltam a descer pelos olhos tristes da mesma.

- O QUE?

Isso fora surpreendente demais e a loira sobe as escadas correndo, tentado chegar o mais rápido ao quarto do primo onde ela – com toda a fé – desejava encontrá-lo inventando alguma coisa. Suas mãos brancas movem a maçaneta com violência e a porta abre com tamanha força que logo é ouvido o estrondo da maçaneta colidindo com a parede. Os olhos azuis se arregalam, incrédulos.

O quarto onde Deidara se instalara estava impecavelmente arrumado, como se a presença do homem jamais tivesse estado ali! A Yamanaka invade o ambiente e põe-se a revirar gavetas e o armário, em busca de algo que lhe acendesse a esperança de que aquela súbita partida do loiro tivesse sido apenas um deliro da mente de Satsuki. Infelizmente, essa era a trágica realidade.

Ino volta para a escada com passos vacilantes, vendo do andar de cima que seu noivo estava sentado, confortavelmente, no sofá vermelho da sala. Satsuki estava mais afastada e olhava para o homem com uma expressão de mais absoluto pavor, e a loira conseguia entender perfeitamente o porquê. Ela desce os degraus, mantendo-se sempre apoiada no corrimão gelado, seus olhos não se focavam em coisa alguma, estavam totalmente vazios.

- O que você fez? – pergunta a jovem, andando com firmeza e parando diante do sofá.

- Nada. – fala a Morte.

- Não acredito.

- Não me importo, e se tivesse –

A frase dele é interrompida com as mãos da noiva agarrando a gola de sua camisa, os olhos dela estavam entupidos de fúria. Hidan não esperava que aquela mesma garota inerte, que esteve em seus braços, agora demonstrasse aquela força e resolução.

- “Isso mesmo, garota. Libere essa raiva!” – era agradabilíssimo ver como Ino possuía várias facetas. – Quanta agressividade. – ele põe suas mãos sobre as da jovem.

- Cadê o meu primo? – a voz dela sai áspera e baixa. – “Se algo acontecer com Deidara-niisan, você morre!”

Esse pensamento estava tão explícito nos olhos dela que ele percebeu rapidamente. Apesar de cômico, uma vez que era impossível matar a própria morte, o Jashin não pôde evitar se deliciar com o fato de que todo aquele ódio tornaria sua conquista mais saborosa. Ela realmente o mataria caso o loiro histérico fosse prejudicado.

- Não faço idéia. – responde ele com sinceridade.

- Não? – ela retruca incrédula, erguendo uma sobrancelha loira.

- Mas acho que sei quem foi. – comenta Hidan, tirando as mãos de Ino de sua blusa.

- Quem? – um brilho fugaz se apossa dos orbes cerúleos.

- Seus pais.

Percebendo que ela perderia o chão com a resposta, os braços fortes dele a envolvem e a fazem sentar-se com ele no sofá.

- Como assim?

- Aquilo que você chama de pai comentou que o seu primo estava causando problemas. – ele dá uma olhadinha rápida para o lado de fora da casa. – E achou que seria melhor mandá-lo de volta pra Iwagakure.

- E suponho que você tenha concordado! – ralha a Yamanaka.

- Você realmente me vê como a fonte das suas desgraças, não é? – pergunta ele olhando com tédio para a jovem. – “Não que eu não seja, mas prefiro deixar esse detalhe de lado.” – Hidan ouve o som de cavalos. – Não tenho nada a ver com isso.

- Malditos... – a loira cerra os punhos.

- Aproveite.

- O que?

O silêncio impera na casa por alguns momentos.

- Garota, entenda bem: Nada que você fizer poderá evitar o casamento. – a Morte se levanta do sofá. – Então, aproveite o dia de amanhã. Faça o que quiser.

- Fazer o que eu quiser...

- Pois depois de amanhã, partiremos de Konoha.

Hidan ajeita sua roupa e espera pela crise de histeria de Ino, mas isso não acontece. Pelo contrário, tendo percebido a inevitabilidade da união com o Jashin, a loira decide aproveitar seus últimos momentos no lugar que chamara de lar por 17 anos. Faria como o Mefistófeles sugerira, aproveitaria o dia de amanhã e se despediria da vida que conhecia. Mas não sem antes deixar alguma marca sua nessa terra.

- Eu vou indo, seus pais chegaram. – a Morte vai andando até a porta, sendo parada logo pelo toque de Ino em seu ombro direito. – Algum problema?

- Quero te pedir uma coisa. – a jovem olha diretamente nos orbes púrpuros do noivo.

- O que?

- Encare isso como um presente de casamento.

Apesar de ter sido muito tentando em recusar, o sorrisinho sinistro que decorou tão belamente o rosto da Yamanaka o encantou de tal maneira, que ele se viu forçado a aquiescer ao desejo dela.

- Peça.

E isso ela fez.

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We're a second in time

(Somos um segundo no tempo)

We're the last in the line

(Somos os últimos da fila)

Of the prey that walks the earth

(Da presa que anda sobre a terra)

Good and evil combined

(O Bem e o Mal combinados)

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I am the god in my own history

(Eu sou deus em minha própria história)

The master of the game

(O senhor do jogo)

I may believe if she would come to me

(Eu poderia acreditar se ela se deixasse vir para mim)

And whisper out my name

(E sussurrar meu nome)

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Assim que o Jashin partira, Ino trancou-se no seu quarto com Satsuki e passou alguns minutos escrevendo bilhetes para Sakura, Hinata e Tenten. Nos bilhetes, ela pedia para que as amigas fizessem um piquenique com ela perto da sede do Arlequim; quando terminou de escrever, passou os papéis para Satsuki que tratou de fazer com que os mesmos chegassem em seus destinos.

Naquela noite, a Yamanaka manteve-se confinada em seu quarto até a madrugada, quando finalmente conseguiu fazer um lanche e tomar um banho. Não tardou em voltar para seu quarto e escrever em seu diário, relatando todo o pandemônio interior que a consumia.

Ao contrário da loira, Hidan estava radiante, à sua maneira. A Morte passou o resto da noite comemorando os enormes progressos daquele dia; desde a reunião com os Yamanaka à resignação que lhe fora dada de presente por sua noivinha. A comemoração mor dele foi causar uma baixa demográfica súbita em Konoha.

Ao voltar para o quarto onde estava hospedado, o Jashin mesmo se ocupou em adiantar os preparativos de sua partida, arrumando tudo o que precisava. Ao finalizar sua tarefa, o mesmo atirou-se na cama espaçosa e admirou os lençóis; era indescritível o que ele sentia ao saber que em poucos dias, ele teria Ino finalmente. Ele estende suas mãos para o criado-mudo e pega o seu colar, passando seu dedos sobre o mesmo.

Em seu quarto na Mansão, Ino repetia aquela ação.

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Sometimes I wonder where the wind has gone

(Ás vezes pergunto-me onde o vento terá ido)

The life has ever been

(Que a vida tem sempre visto)

Sometimes I wonder how belief alone

(Ás vezes me pergunto como apenas com fé)

Can cut me free from sin

(Posso libertar-me do pecado)

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When you close your eyes

(Quando você fecha os seus olhos)

Mementos of summer retrieve your mind

(Lembranças do verão revivem em sua mente)

Like drizzle after nood cleans the air

(Como os chuviscos que depois limpam o ar)

When the winter blows

(Quando o inverno sopra)

You're glad you remember you really tried

(Você fica feliz em lembrar de que realmente tentou)

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Ino acordou tarde, já era quase meio-dia e assim que possível, a mesma começou a se aprontar para o piquenique com as amigas, ela sabia que as mesmas iriam comparecer. Pondo um vestido vermelho e branco – alem do pingente de triangulo - a Yamanaka correu até a cozinha para preparar uma cesta. Terminado isso, foi para o estábulo e pôs-se sobre seu querido Maru.

A jovem se sentia revigorada com o vento fresco batendo em seu rosto, seus olhos olhavam atentamente cada pedacinho do já conhecido trajeto. Tudo que ela queria era guardar em sua memória aqueles mínimos momentos de felicidade. Até mesmo os sons produzidos pelo cavalo lhe traziam felicidade. Ela chorou algumas vezes durante o percurso, mas se recuperou ao ver três figuras conhecidas – e incomensuravelmente queridas – sentadas na margem oposta na qual ela estava.

Ela não foi percebida pelas amigas até que as patas de Maru colidissem com a madeira da ponte, que a levaria até o seu destino. A Yamanaka via os cavalos que trouxeram as jovens, presos e deitados sobre algumas árvores.

- Qual o motivo dessa reunião? – sorri Tenten enquanto corta uma laranja.

Ino cavalga até uma outra árvore e lá deixa Maru, a cesta com comida estava presa firmemente em suas mãos.

- Olá, Ino-chan. – cumprimenta a tímida Hinata, que ajeitava seu vestido cinza e branco.

- Está atrasada, porquinha! – brinca Sakura.

- Não começa, testuda. – a loira se senta com as amigas e põe a cesta no centro da enorme toalha onde estavam as amigas. – O que vocês andam fazendo?

- Só sei que Hinata está procurando um vestido branco. – alfineta a morena, comendo tranqüilamente a laranja que cortava anteriormente.

- Como é? – perguntam a Haruno e a Yamanaka.

- Tenten-chan! – Hinata estava mais vermelha do que a maçã que acabara de pegar.

- Que lindo. – a garota dos cabelos rosas bate palmas. – Já marcaram a data, hein? Futura senhora Uzumaki.

Tenten e Ino gargalhavam alto com as reações que a Hyuuga tinha com cada palavra que evocasse sua união com Naruto. A jovem de cabelos negros estava com os olhos perolados esbugalhados e voltados para o chão, tentando ao máximo evitar olhar as amigas.

- Não tem nada marcado. – esclarece Hinata.

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And it comes to an end

(E o fim chega)

Even winter like fall

(Assim como o inverno e o outono)

And we all have our beliefes

(E todos temos as nossas crenças)

Pray for mercy for all

(Reze por misericórdia para todos)

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- Não sei porque você está falando, testuda. – Ino bebe um gole de suco de uva. – Justamente a pessoa que almoçava ontem com Itachi Uchiha.

Agora é a vez da Haruno ficar vermelha.

- Pode começar a falar! – ordena Tenten.

- Isso é verdade, Ino-chan? – inquiri a estupefata Hyuuga.

- Eu mesma vi. – responde a loira com um sorriso matreiro.

- É que eu percebi que meu relacionamento com o Sasuke não iria pra frente. – começa a Haruno. – Então, há dois dias, meus pais foram jantar com os Uchiha e Itachi-kun me fez companhia o tempo todo.

Enquanto falava, os olhos verdes da jovem brilhavam.

- Quem mandou você parar? – diz Ino.

- Muito pouco esclarecedor o que você nos disse até agora, Sakura. – comenta Tenten.

- O que aconteceu, Sakura-chan? – nem mesmo a tímida Hinata conseguia conter a curiosidade.

Vendo que seria perda de tempo desconversar.

- No dia seguinte, eu acordo de manhã e minha mãe entra no quarto, em estado de graça, dizendo que tínhamos um convidado inesperado no café. – a menina de olhos verdes morde um morango. – Quando eu desço, lá estava Itachi-kun sentado à mesa, junto com o meu pai.

- Que romântico. – zomba a jovem de cabelos castanhos.

- Depois disso, eu e ele passamos mais tempo juntos. – os olhos de Sakura ganham uma carga triste. – Mas não aconteceu nada demais.

- Não fique triste, Sakura-chan. – Hinata dá a amiga um sorriso gentil. – Logo você poderá ter uma surpresa.

- Será mesmo?

- Claro! Ele não é o Sasuke. – fala a Mitsashi. – Além de bem mais bonito, Itachi é maduro o suficiente para não brincar com você.

- E quanto a você e Neji, Tenten? – pergunta Ino.

- Continuamos noivos e só. – a frustração da morena é palpável. – Nunca vi alguém ser tão indiferente à própria vida, meu Deus!

- Esse é o Neji-niisan. – fala Hinata tentando conter uma risada. – Ele não vai mudar.

- Por que não fala sobre você e o Shikamaru, hein? – cutuca Sakura. – Eu também vi vocês juntos.

- Não vai além de amizade.

A Yamanaka é sintética na resposta, mas sorri para as amigas, fazendo um esforço hercúleo para esconder a dor lancinante que o nome do Nara lhe causava.

- Que chato. – fala Tenten.

A reunião das amigas se estende por toda à tarde, sempre sendo permeadas por sorrisos e risadas que ecoavam pela floresta, com direito a corridas e mergulhos no rio. O último momento das jovens juntas naquele dia foi ao assistirem o pôr-do-sol. Quando isso aconteceu, as quatro estavam com seus cavalos e pertences sobre a ponte, ouvindo o barulho delicioso da água corrente. Separaram-se assim que cruzaram a ponte.

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I am a man without a mistery

(Eu sou um homem sem um mistério)

The deal is done within

(O acordo é feito no interior)

I will embrace the coldest winter breeze

(Eu abraçarei a mais fria brisa do inverno)

And pray for every sin

(E rezarei por cada pecado)

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- Suponho que deva lhe dar os parabéns – comenta Kakuzu enquanto mexia com dezenas de papéis.

- Pelo que? – Hidan estava sentado num sofá, olhando para o teto.

- Conseguiu a loirinha, finalmente. – esclarece o mais alto.

A Morte ri.

- Não foi tão difícil. – a arrogância naquela sentença escorria por cada palavra.

Os dois estavam dentro do quarto onde Kakuzu estava hospedado. O banqueiro estava ocupando a poltrona perto da janela e aparava as últimas arestas dos negócios de seu mais sinistro cliente, o que era ótimo já que isso significava que logo não teria mais que conviver com o Jashin.

- E como vai ser a lua-de-mel? – só havia malícia na voz do banqueiro.

- Já teria acontecido, se dependesse só de mim. – responde a Morte.

- Você está confundindo noite de núpcias com lua de mel. – zomba Kakuzu.

- Que seja.

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So subservient in your embrace

(Tão servil em seu abraço)

No more denial

(Chega de rejeição)

No run away

(Não há fuga)

This is the final

(Esse é o fim)

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Os dois se calam. O homem de olhos estranhos continua emprenhado em sua função, se assegurando de que tudo estava na mais perfeita ordem; tudo em prol de não ter mais que aturar Hidan perto de si. Era bem verdade que ele sabia que teria que lidar com a Morte mais cedo ou mais tarde, só que preferia não ter que encarar esse fato tão depressa.

- Preciso saber quando entregar o dinheiro pro hospital.

- Amanhã à noite. – Hidan põe a mão direita no bolso do terno é tira um relógio.

Kakuzu tira os olhos surpresos dos papéis.

- Inacreditável.

- O que? – a Morte volta seus olhos para o homem.

- Achei que estava blefando quanto a essa doação. – o banqueiro descansa seus braços sobre a mesa. – Tanto dinheiro jogado fora...

- Não me importo. – boceja o homem de cabelos prateados. – Não precisarei permanecer como Hidan Jashin por muito mais tempo.

- E sobre a dívida do Yamanaka?

- Mas que inferno, Kakuzu! – ralha o Jashin, cujos olhos estavam negros agora. – Dá pra calar esse inferno de boca um minuto?

O outro se cala. Hidan se deita totalmente no sofá e perde-se em pensamentos, todos eles culminando, fatalmente, numa certa jovem de olhos azuis e cabelos loiros. Sem perceber, seu corpo treme com a expectativa de logo tomar posse de Ino. É bem verdade que esse não era o seu plano original, mas depois de vê-la amadurecer lindíssima, acabou decidindo que brincaria com ela tanto nesse mundo, quanto no outro.

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My last recall

(Minha última recordação)

And that's the price for what we learn

(Esse é o preço pelo que aprendemos)

The more we know the more we yearn

(Quanto mais sabemos mais desejamos)

Cause we're so alone

(Porque estamos tão sozinhos)

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I am a man without a mistery

(Eu sou um homem sem um mistério)

The deal is done within

(O acordo é feito no interior)

I will embrace the coldest winter breeze

(Eu abraçarei a mais fria brisa do inverno)

The journey can begin

(A jornada pode começar)

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Quando voltou para casa, já era noite. Seus pais tentaram de tudo para fazê-la interagir com eles, mas ao verem o olhar de absoluto ódio que a filha lhes legava, desistiram. Depois de comer e fazer sua higiene, a jovem isolou-se em seu quarto. Pondo em uma única mala tudo aquilo que lhe era mais querido, pois sabia que Hidan cuidaria de tudo quando estivessem na casa do mesmo.

Ino estava na sacada, com seu fiel diário em mãos e uma taça de vinho ao seu lado. Seus olhos azuis estavam fixos na lua quase totalmente encoberta pelas nuvens carregadas, o vento ainda estava fraco só que se munira de um frio incômodo e que a camisola verde da jovem não era capaz de amenizar. O pingente que lhe foi dado pela morte brilhava em seu pescoço e balançava com o vento.

Guardada dentre as páginas do diário, estava uma carta que só poderia ser enviada amanhã.

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I'm still the god in my own history

(Eu ainda sou o deus da minha própria história)

I still believe that she will come to me

(Eu ainda acredito que ela virá até mim)

And whisper out my name

(E vai sussurrar o meu nome)

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Diário, 04 de Setembro.

Não sei de onde eu tiro forças para escrever essas linhas, e também pouco me importa. Pois essas são as últimas palavras que escrevo antes da Ino Yamanaka morrer. Dramático? Nem um pouco. Especialmente depois de perceber que se foi traída e que se está sozinha. Toda a dor que eu tinha pra sentir eu já senti, agora só percebo o vazio interminável que está dentro de mim.

Nunca desejei tanto que um dia não terminasse ou que a minha vida o fizesse. A partir de amanhã, não terei mais minhas amigas, Deidara-niisan, Satsuki, o Arlequim ou Shikamaru. Shika...Meu preguiçoso, meu querido preguiçoso. Pena que não poderei vê-lo antes de partir, mas levarei comigo lembranças lindas de cada pessoa especial que esteve na minha vida.

Graças ao Mefistófeles, eu percebi que tem um lado dentro de mim que é sombrio, vingativo e cruel. E eu até já sei quem vai sofrer com isso. E garanto que tudo será merecido, o inferno cairá sobre aqueles que me condenaram. Já me acostumei com a idéia, mas juro que farei com que duas certas pessoas se arrependam de não terem morrido a nove anos atrás.

Paro por aqui antes que eu inunde as páginas com lágrimas, só que para finalizar, escrevo uma constatação: Adeus, dias felizes.

Requiescat in pace, Ino Yamanaka.

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Assim que terminou de escrever, a jovem pega suas coisas e volta para dentro do quarto, sentando-se na cama e correndo seus olhos pelo cômodo. Tudo ali continha uma lembrança, sua visão fica embaçada pelas inconvenientes lágrimas que brotam e caem ininterruptamente pelo seu rosto branco. A Yamanaka deita na cama e se cobre, o diário e a taça ficam posicionados em seu criado-mudo.

Ela chora por mais algumas horas, sem dar atenção ao tempo perdido, focando-se apenas na torrente de lembranças e emoções que cai sobre ela. Antes de pegar no sono devido à exaustão, ela repete umas das frases que pôs em seu diário.

- Adeus, dias felizes...

Por ter se rendido à exaustão, a jovem perde a chance de ver seu algoz sentado na borda de sua cama, com a aparência de uma caveira. A Morte fora invadida pelo desejo de dar uma última olhada em Ino antes de levá-la embora de Konoha. Ele se põe sobre o corpo dela, sendo suportado pelos braços que estavam em cada lado da jovem, os lábios enegrecidos tocam de leve os dela.

- Você nunca esteve tão certa.

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Someday we may come to peace

(Um dia talvez possamos alcançar a paz)

And reach beyond behind the lies

(E alcançar além de por trás das mentiras)

And I will await you

( E eu esperarei por você)

Until I close my eyes

(Até fechar os meus olhos)

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Continua


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Notas finais do capítulo

(1)Frase de Servius Publius, escritor assírio do século I.

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Sobre a Memento Mori: Não foi escolhida à toa, e esse trecho vai ser usado pra explicar o motivo que me levou a usar essa canção, suponho que quem leu a música possa ter se confundido ou achado ela sem sentido. Essa música é do álbum The Black Halo. Tanto esse álbum quanto o que o antecede - Epica - contam uma história baseada na obra Fausto, de Goethe (que vcs perceberam que eu vivo citando e usando na fic). Nesses álbuns, o personagem principal é Ariel (a.k.a Fausto), um homem que vende sua alma ao Diabo(que no álbum é chamado de Mephisto) em troca de poder e conhecimento. Durante o decorrer da história, o nosso personagem principal perde aquela que amava, uma jovem chamada Helena(a.k.a Margarida) e acaba se perdendo na própria ambição.

A música Memento Mori é uma das últimas canções que tem no The Black Halo e trata do arrependimento que consome o Ariel e o momento de realização dele quanto aos seus erros e ao seu destino. É isso o que acontece com a Ino nesse cap, ela percebe que estar com Hidan é inevitável e decide aceitar isso. Despedindo-se do mundo que conhecia e entrando num território desconhecido.



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