Dois meses se passaram e me procuraram novamente. Foi num dia em que estava saindo de casa em direção ao treino. De repente não sentia minhas pernas e estava sendo arrastada. Acordei novamente na sala. Tive a maior surpresa que poderia esperar: Vítor estava sentado ao lado da maca administrando as medicações.

Não era ele. Não podia ser ele. Respirei fundo e ainda com a visão embaçada tentei enxergar o número no colar. Número 25, era o irmão dele. Eu não podia demonstrar que já o conhecia ou reconhecia sua face. Formulei a frase que ele provavelmente esperava ouvir:

–Por que me trouxeram de volta pra cá?

–Precisamos realizar alguns testes para saber se a segunda aplicação foi bem sucedida.

–Vai doer tanto quanto da última vez?

–Talvez um pouco mais, mas serão apenas 24 horas. Alguém virá te explicar o procedimento.

–Posso fazer uma pergunta pessoal? - Ele assentiu. - Por que você apoia tudo isso?

–Você não vê? Isso pode salvar a humanidade. Imagine uma sociedade sem doenças, onde todos têm o mesmo biotipo, não precisam de muito para sobreviver. É um mundo completamente novo. O que ele custa não é nada comparado ao que ele pode fazer no futuro.

Esmeralda entrou na sala com luvas, bisturis e um sorriso que me deu calafrios:

–Você pode sentir dor e temos que fazer isso com você acordada. -Ela levantou a minha camiseta. Percebi que estava amarrada. Me preparei psicologicamente para agonizar pelas próximas 24 horas.

Primeiro ela tirou uma amostra do meu sangue e entregou para o enfermeiro seja ele quem for. Senti quando ela furou a pele pela primeira vez. Tentei me concentrar no soro que pingava em minha veia naquele momento. Conforme o corte aumentava era mais difícil controlar a dor. Quando o corte passou de 20 centímetros comecei a gritar. Ela arrancava a minha pele como um açougueiro corta a carne para consumo. Eu não conseguia mais parar de gritar e nem me debater. A dor excruciante me impedia de ficar inconsciente. Assim que ela terminou a dor aumentou. Minha metade esquerda da barriga estava em carne viva. O ar entrava em contato e eu continuava gritando de dor. Ela injetou em minha veia um soro de coloração azulada que fez meu corpo tremer de dor. Ela saiu da sala.

Depois de duas horas e meia gritando, tremendo e ardendo, desmaiei. Acordei oito horas depois. Olhei para o corte em minha barriga e estava quase completamente cicatrizado. Meus braços estavam desamarrados mas minhas pernas não. Depois de meia hora tentando me soltar das correntes Esmeralda entrou na sala novamente.

–Desculpe por isso, mas era necessário. Se desejar, pode fazer em mim. Caso contrário um médico fará.

–Não, obrigada. Eu só quero ficar o mais longe possível daqui.

–Eu só preciso de mais uma amostra de sangue. - Eu estiquei o braço e ela retirou. A agulha na pele não era mais considerado dor.

***

Desci do carro ás oito da manhã do dia seguinte ao que havia sido raptada. Subi as escadas e Vítor estava em meu quarto. Minha mãe já estava no trabalho. Saí correndo e abracei ao Vítor. Neste momento me permiti chorar. Chorei como se não houvesse amanhã, como se não houvesse ninguém no mundo.

–Quando você não apareceu ontem, fiquei preocupado. Agora eu já sei onde você estava. - Eu não falei nada, só o abracei mais forte. - A cicatriz vai sumir em alguns dias, mas eu tenho uma ordem para te fazer. Só assim vou ter certeza que você estará em segurança. - Assenti. - Você virá morar comigo.