Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 64
Sacrifício


Notas iniciais do capítulo

Nos desculpem pelo atraso, mas felizmente conseguimos postar na quarta. Tivemos alguns empecilhos de manhã, e não pudemos postar mais cedo.
Sobre o "concurso" que fizemos, Sarick venceu, e já enviamos os spoilers para os vencedores.
Esse capítulo teve partes (mais especificamente a última narração) inspiradas na edição 116 da HQ (talvez as pessoas que leram identifiquem). Foi uma parte muito importante da guerra e precisávamos incluir isso na nossa fic.
Alguém aí estava com saudades do palavreado do Negan?
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Fiquei parada na porta do hotel observando os últimos preparativos para a saída. Depois das despedidas, as armas e mantimentos dos caminhões eram verificados, para certificar que nada ficaria para trás. Enquanto isso, eu estava com Brianna no colo e uma bolsa que Eugene me dera com tudo que ela precisava.

Algumas pessoas ainda conversavam do lado de fora dos ônibus, terminando de se despedir. Em sua maioria, eram homens que iriam para a missão e abraçavam suas esposas e filhos. Sarah estava com seu irmão, que se oferecera para ajudar. Eu ainda não havia tido tempo de conhecer Fred, porém Sarah estava muito mais feliz depois do reencontro. Avery desaparecera depois de conversar com Carl. Provavelmente ela deveria estar com o filho de Rick, nos últimos dias os dois estavam muito próximos, sempre foram, porém desta vez eu estava suspeitando que houvesse algo a mais entre eles. Scott falava com os pais e Mika que, como sempre, olhava as crianças.

A única coisa que eu havia recebido eram recomendações de todos. Jesus me explicara alguns pontos importantes do Alto do Morro, Rick dissera que voltariam logo, e Eugene repetira diversas vezes como eu deveria cuidar de Brianna, como se eu já não tivesse criado uma criança e ele não fosse uma pessoa inexperiente nesse aspecto. Os estoques de armas, comida, gasolina e outros suprimentos importantes para manter a comunidade de pé, naquele dia, estavam por minha conta a partir do momento em que eles se despediram. Aquilo não poderia ser chamado de despedida, entretanto isso não era necessário, eu sabia que eles voltariam.

Só depois de algum tempo me dei conta da dimensão de tudo aquilo. Aquela comunidade não era como a nossa base militar, era bem maior, como a prisão. Havia algo próximo de duzentas pessoas, todas elas trabalhando para que o Alto do Morro seguisse em frente. Eu não entendia como Jesus fazia aquilo, ele conhecia todos aqueles moradores e passava a maior parte de seu tempo tomando conta de tudo que acontecia na comunidade. Naquele momento eu entendia porque diversas vezes Rick havia dito que a liderança era um fardo pesado demais, compreendia porque o Alto do Morro era praticamente liderado por duas pessoas, por mais que Jesus era bem mais ativo.

Gregory, por outro lado, parecia ter sumido depois da nossa chegada. Eu tentara procurá-lo horas antes, mas ele estava escondido em seu escritório. Como todos os assuntos só giravam em torno da guerra, o líder da comunidade perdera seu poder, já que Gregory não queria lutar. Ele era acomodado com a situação de submissão, pensava que aquilo não os prejudicava e, o pior de tudo, culpava a chegada do grupo da base militar pelo que estava acontecendo, pelos riscos que estávamos correndo. Porém os moradores apoiavam a empreitada do nosso grupo e de Jesus, assim como as outras duas comunidades, todos iriam à luta, estavam fartos da submissão.

Os veículos finalmente saíram do Alto do Morro, e as pessoas começaram a se dispersar, voltando a seus afazeres diários. Apesar da saída de diversos cidadãos continuávamos a trabalhar e manter tudo no lugar. Scott de aproximou de mim, seus olhos miravam o chão e ele estava cabisbaixo. Os braços estavam cruzados, provavelmente devido ao frio. Mesmo com a pequena pausa da neve, ainda havia uma fina camada de gelo no chão e o clima continuava frio, principalmente quando ventava.

– Por que você está assim? – indaguei quando o ruivo parou ao meu lado.

– Acredita que eles vão conseguir voltar? – a pergunta de Scott me surpreendeu um pouco.

– Você não tem mais fé? – fazia algum tempo que eu não falava com o garoto, apesar de termos tido uma boa relação no início do apocalipse, sete anos antes, porém, que eu me lembrasse, ele costumava ser mais otimista.

– Sei lá... Depois de tudo que aconteceu, parece que Deus está se esquecendo de nós. Não é nada fácil acreditar em milagres depois de tantas perdas.

– Não é sobre esse tipo de fé que estou falando. Você conheceu a minha mãe – dei um pequeno sorriso ao me lembrar dela –, a minha família não era muito religiosa, por isso eu tenho mais fé nas pessoas – Scott pareceu se conformar com aquilo, assumindo um aspecto menos triste.

– Sente muito a falta dela?

– Às vezes eu queria que ela estivesse aqui me irritando, ou cozinhando do jeito que só a minha mãe sabia...

– As tortas dela eram as melhores... Sabe, também sinto saudades do pessoal do parque...

– Sim! Das maluquices da Kate e das gracinhas do Josh... – sorri novamente, deixando as boas lembranças tomarem conta da minha mente.

– Muito do que somos agora devemos a eles, o parque mudou tudo. São poucas as pessoas que passam pelas nossas vidas e fazem a diferença, não é mesmo? – apenas confirmei com a cabeça, voltando o olhar para o horizonte.

Scott era muito maduro, apesar da idade, todas aquelas perdas haviam mudado o garoto. Provavelmente aquele sentimento havia iniciado a conversa, o medo de perder seus pais novamente. Eu tinha que concordar com ele, eu não seria nada sem eles, até mesmo Charles, que morrera deixando um grande ensinamento. De repente, a melancolia tomou conta de nós, e ficamos parados observando o céu. Vários pensamentos passaram pela minha cabeça, o parque havia sido o começo de tudo. Se eu tivesse seguido para Atlanta sozinha, nunca teria os encontrado, talvez tivesse morrido na capital.

O choro de Brianna nos despertou daqueles pensamentos. A garotinha começou a se debater, como sempre fazia. Os motivos para aquilo eram poucos, já que ela havia se alimentado minutos antes, suas fraldas também haviam sido trocadas e ela dormira muito nas últimas horas. Por isso a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi que a ruiva estava com frio, apesar de estar usando um casaco de lã.

– É melhor entrarmos, está esfriando – disse e Scott pegou a bolsa para me ajudar.

*Narrado por Avery Hopper

Antes da saída dos caminhões, ônibus e carro, eu estivera com Carl e Michonne. Pelo menos quando ela estava por perto eu tinha mais liberdade para conversar com meu namorado sem ter que ficar disfarçando. A confiança de Carl havia me contagiado, por isso eu estava tranquila, sabia que nada de ruim aconteceria a eles. Depois do tempo destinado às despedidas, todos se dividiram entre os seis veículos, que ficaram lotados.

Fiquei observando eles descerem o morro. Como ainda era manhã, o Sol começava a nascer no horizonte, e o grupo só deveria voltar depois do pôr-do-sol. Já que Jesus era o único que conhecia o caminho, ele dirigia o carro que ia à frente, levando Rick, Sarah, Fred e Carl. Os demais iriam nos três ônibus e, algumas pessoas, nos caminhões. Todos estavam prontos e bastante centrados para trazer nossa liberdade de volta.

Enquanto isso, o restante da comunidade ficaria lá. Caso alguns dos Salvadores viessem ao Alto do Morro para fazer a cobrança antecipada, estaríamos prontos para lutar. Porém, se tudo corresse bem, só teríamos que passar o dia inteiro exercendo nossas funções normalmente e fingindo que nada havia acontecido.

Entrei no saguão com o intuito de ir para o meu quarto descansar antes da vigília, contudo encontrei minha mãe lá com as quatro crianças. Brianna dormia no colo dela, que revezava os olhares entre o bebê e os três mais velhos. Grace, Sam e Hesh brincavam de pega-pega ou algo do tipo, provavelmente não faziam a mínima ideia do que estava acontecendo, e era melhor que fosse assim.

Nos últimos dias, minha mãe e eu estávamos distantes. Eu havia tentado falar com ela diversas vezes, mas mamãe sempre estava trabalhando ou cansada de mais para aquilo. Sentia saudade de conversar com ela sobre assuntos diversos, de passar um tempo com ela. Eu também queria contar sobre o namoro o mais rápido possível, porém tinha medo de que ela tivesse outra reação aguda ao estresse e, além disso, Carl e eu decidíramos que revelaríamos aquilo juntos, convocando uma pequena reunião com nossas famílias.

Sentei-me ao seu lado e minha mãe ficou me encarando por algum tempo, como se pensasse no que dizer. Pensei em puxar qualquer assunto banal, porém acabei decidindo ir direto ao ponto.

– Faz muito tempo que a gente não conversa – falei finalmente.

– É... Você sumiu.

– Você esteve muito atarefada esses dias, acho que todos estão.

– Não estou mais, então pode falar – ela olhou para as crianças rapidamente, depois se voltou para mim.

– Como assim? Eu não posso apenas sentir a sua falta? – fingi estar ofendida, o que a fez dar um pequeno sorriso, todavia, no fundo, eu estava falando a verdade.

– Claro que sim, mas você me parece um pouco pensativa... Acho que quer dizer algo – minha mãe estava certa, como sempre. Ela tinha a estranha capacidade de ler o meu rosto ou algo do tipo, já que sempre percebia quando havia algo de errado comigo. Se eu pudesse, minha mãe seria a primeira pessoa a saber, entretanto Michonne chegara na frente.

– É verdade – fiz uma pausa, tentando escolher as palavras. Eu sabia que Carl queria estar lá quando eu contasse, mas aquele era o momento perfeito. – Carl e eu estamos namorando.

– Eu sabia que isso não ia demorar muito, já estava desconfiada...

– Você sabia de alguma coisa? – quase gritei a pergunta, mas reduzi o tom de voz ao olhar para Brianna.

– Vocês não são muito discretos... Acho que o Alto do Morro inteiro já deve saber disso. Agora vamos, me conte tudo – só de pensar naquilo já me senti envergonhada. Eu não gostava dessa troca de papeis, sempre estivera aberta para escutar a vida da minha mãe, porém não estava nem um pouco a fim de falar sobre os detalhes da minha. Além disso, no momento, eu tentava ser mais reservada, enquanto ela se mostrava um pouco animada, e até curiosa, como eu.

– Não!

– Avery! Você é minha única filha, acho que eu tenho o direito de saber como está o seu relacionamento! E eu me lembro muito bem de quando tive que detalhar o meu namoro com o Daryl...

– Nós só estamos namorando! O que mais eu preciso dizer?

– Está bem, só quero que tome cuidado – com certeza ela não estava se referindo ao cuidado para que Carl não partisse o meu coração. Já era a segunda vez que alguém recomendava isso, mas não era como se ainda fôssemos adolescentes inconsequentes.

– Você está com medo de virar avó? – brinquei. – Não se preocupe, não tem como você ficar mais velha.

– O problema não sou eu virar avó, e sim que eu vou ter que tomar conta de mais uma criança.

– Pensei que estivesse gostando de cuidar dessa fofura – passei a parte de trás dos dedos pelos cabelos ruivos da pequena, percebendo que estávamos falando sobre a possibilidade de eu ter um filho. Apesar de estarmos levando na brincadeira, era estranho pensar naquilo tão cedo.

– Eu gosto de cuidar dela, isso me lembra de quando o Sam era menor e não fazia bagunça – ela olhou para o meu irmão, que assim como seus amigos, corria pelo saguão com o rosto vermelho enquanto ria –, mas eu realmente estou muito cansada.

– Eu posso te ajudar, se quiser – depois da minha missão, mamãe estivera muito atarefada, contudo eu sabia que não podia perguntar nada sobre aquilo.

– Eu agradeço muito, mas agora você precisa ir para o muro. Scott e Mika já foram para o turno – me ergui rapidamente ao lembrar daquilo, mas fui interrompida. – Eu sei que estou escondendo algumas coisas, não é que eu não confie em você, estou fazendo isso para o seu bem.

Sorri e saí da sala, me sentindo bem mais leve depois daquela conversa. Por outro lado, a última frase me deixou intrigada. Antes eu pensava que ela estava com Jesus, mas se aquele segredo todo era para o meu bem, havia algo por trás daquilo.

*Narrado por Sarah Grimes

O carro parou a um ou dois quilômetros do nosso destino, como planejado. Se eles não nos vissem chegando, teríamos mais tempo para revisar o plano e garantir que nada daria errado. De longe era possível ver o Santuário, era uma grande fábrica cinzenta com três chaminés no topo e algumas escadas que rodeavam a parte da frente. Em vários pontos, ao invés de paredes, tinha vidros, que reluziam a luz do Sol. Ao redor da construção havia uma cerca, com algumas barreiras em volta, carros e ônibus destruídos e contêineres, porém isso não era o pior. Protegendo a cerca aparentemente frágil estavam eles, nossos eternos inimigos. Eram muitos errantes, acorrentados, presos e amarrados ao local. A maioria ainda apresentava sinais de vida, apesar de alguns deles estarem desfalecidos no chão ou com as cabeças penduradas em hastes de madeira, como se fossem bandeiras. Aquilo chegava a ser terrível, a forma com que estavam dispostos ao redor da cerca mostrava profunda brutalidade. Havia mordedores esquartejados, enforcados, estripados e com grandes partes do corpo faltando, provavelmente os Salvadores matavam pessoas daquele jeito. Era como se eles tivessem descontado toda a sua raiva naqueles caminhantes em estado de decomposição, que se agravava com o derretimento da neve. Por mais que eu detestasse aqueles seres desprezíveis, nunca teria coragem de fazer aquilo porque, além de não ajudar em nada, era horrível.

Passado o transe inicial, saí do carro, assim como os outros, e nos reunimos em um círculo. Todos estavam em volta de Rick que inevitavelmente tinha voltado a ser o líder, já que era ele quem comandava o plano, que formulara junto com Abraham. Ele consistia em duas partes: inicialmente, pediríamos pacificamente que acabassem com aquilo, mostrando que não estávamos apenas pedindo, aquilo era uma exigência e nenhum de nós estava brincando, era pra valer; se não funcionasse, teríamos que partir para o ataque.

Era algo bem ousado, mas não seria um combate direto, com o intuito de matar. A chave do plano era fazer o máximo de barulho possível, e para isso teríamos que atirar contra as vidraças. Se tudo desse certo, atrairíamos uma grande manada, o que prenderia os Salvadores dentro da fábrica por um tempo. Dessa forma, teríamos alguns dias para atacar seus postos avançados, que eram cruciais para o grupo.

Depois de ter revisado o plano novamente e dado as últimas explicações, Rick acrescentou algumas observações e começou a separar os grupos que ficariam em cada zona, a entregar os fuzis e metralhadores e separar as funções. Ao final da distribuição, ele se aproximou de mim e entregou uma pistola.

– Preciso que fique aqui por perto, alguém tem que avisar quando os walkers estiverem chegando ou se alguém vier enquanto estamos lá – fiquei paralisada por alguns instantes, sem entender o que Rick pretendia com aquilo. Depois de tudo o que havíamos passado, o que havíamos enfrentado juntos, ele estava pedindo para que eu não participasse. Ele poderia querer me proteger, mas eu não via por esse lado, não era mais a mulher indefesa que Rick conhecera no supermercado. Após todos aqueles anos ao meu lado, ele já deveria confiar em mim.

– Você está querendo me tirar do plano? – eu não queria ter que discutir aquilo na frente de todos, mas faria isso se fosse necessário.

– Não...

– Eu já entendi tudo, Rick. Eu vou lutar junto com todos vocês, isso não é justo.

– Só estou tentando te proteger! Grace está sozinha, e você tem seu irmão agora. Não precisa fazer esse sacrifício.

– Não estou fazendo sacrifício nenhum, não estou abdicando nada. Pelo contrário, estou tentando lutar pela minha liberdade, pela minha família – ele olhou para o chão, deveria estar pensando naquilo.

– Está bem – Rick se voltou para todos, que apenas aguardavam por um sinal. – Vamos.

Eu me aproximei de Fred, que conversava com Glenn e Maggie, e os acompanhei na caminhada rumo ao Santuário. Peguei uma das metralhadoras que se encontrava na bolsa de armas e algumas balas. Enquanto andava, carreguei a arma e foquei nos pontos em que precisaria atirar. Apesar de tentar me convencer de que isso não seria necessário, no fundo eu sabia que Negan não iria aceitar nossas reivindicações tão facilmente.

– Negan! Apareça! – meu marido gritou enquanto disparava para cima. Depois de alguns minutos o homem surgiu na sacada de um andar mais alto, e pareceu desorientado ao nos ver. Ele usava sua habitual jaqueta preta, com uma camisa branca por baixo.

– Que porra é essa, Rick? Que merda vocês estão fazendo aqui? – ele indagou num tom igualmente alto.

– Isso não é o que parece. Não é uma ameaça, é uma oferta... de paz. Viemos até vocês, três comunidades unidas – a base militar não contava mais, nosso grupo começara a fazer parte do Alto do Morro desde o primeiro ataque –, para dizer a você e seu pessoal: chega! Não vamos dar nossos suprimentos a vocês, não iremos nos curvar à sua vontade. Esses dias acabaram. Mas não há necessidade de violência. Não precisamos lutar por isso. Eu sinto que todos nós preferimos não fazer isso. Estamos te dando a chance de se render. Sabemos que você tem crianças aí dentro, e pessoas que não são parte disso... – Jesus nos dissera isso durante o caminho, mas preferira não contar como tinha aquelas informações. – Que não são Salvadores, que não atacaram ou mataram ninguém. Essas pessoas devem ser poupadas.

– E quanto aos outros? Eu... O resto? Os assassinos que têm mantido todos vocês a salvo.

– Vocês podem continuar suas vidas aqui, desde que não nos incomodem nunca mais.

– Então deixa eu ver se entendi – Negan cruzou os braços atrás do corpo, segurando seu taco de beisebol coberto de arame e começou a andar de um lado para o outro. – Eu me rendo, como todos os meus homens, e nós perdemos tudo. Você acha mesmo que vamos cair nessa? O que acontece se nós recusarmos?

– Todos aqui fora vão lutar pra entrar aí. E então, o que acontecer, aconteceu... E não será nada bonito – aquilo não era um bom sinal, provavelmente Negan estava certo de que deveria nos atacar.

– Então você realmente se convenceu de que seu grupo de contadores e advogados e fazendeiros e professores será capaz de derrubar esses muros e conseguir algo quando entrarem?

– Se prepare – Rick falou para Jesus, que estava atrás dele.

– Estou meio tentado a deixar o seu planinho rolar... Pra mostrar pra vocês o quão estúpidos vocês são... Não há futuro nisso. Rendição, como você sabe com toda a porra de certeza, não é uma opção. Mas ficar esporrando nossas vidas no campo de batalha também não é. Por que eu confiaria em vocês? E por que vocês confiariam em nós? Tenho um plano diferente. Conversei com Gregory ontem, ele me disse pra me preparar, mas eu não esperava que vocês estivessem fazendo essa porra toda. Ele me garantiu que não deixaria vocês prosseguirem com isso, que esta do meu lado e que, se ficarem contra nós, estarão expulsos do Alto do Morro. Gregory tem alguns homens fieis lá. Se tentarem entrar na comunidade, eles matarão suas famílias. Vão para casa agora, ou não terão casa nenhuma para voltar.

Olhei para trás, os moradores do Alto do Morro estavam indecisos, sem saber o que fazer. Eu não os culpava por isso, Negan estava colocando nossas famílias em risco. Por outro lado, poderia ser apenas invenção dele, mas aquilo era a cara do Gregory. Mesmo assim, não pude deixar de me preocupar com Grace. Enquanto isso, os membros de Alexandria, do Reino e Jesus pareciam convictos.

– Sou homem o suficiente para admitir que achei que salvaria as suas vidas com esta manobra – o líder do Salvadores prosseguiu ao notar que nenhum de nós desistiu.

– A oferta ainda está de pé. Se renda e não haverá necessidade de uma carnificina aqui. Seu pessoal não será ferido – Rick prosseguiu, tomando a decisão por todos nós. De certa forma, eu concordava com ele, não poderíamos nos render por uma suposição, se tudo desse certo, ninguém correria mais riscos.

– Eu considerei sua bondosa oferta... E estou pensando numa resposta que fica em algum lugar entre de porra de jeito nenhum e vá se foder na puta que pariu!

Tudo aconteceu muito rápido. Depois do primeiro tiro, quando um dos nossos, que eu não consegui identificar, caiu no chão, todos correram para trás dos contêineres. Fomos surpreendidos por diversos Salvadores que atiravam das escadas e da parte superior do Santuário. Era a primeira vez que eu via aquele grupo usar armas de fogo, mesmo assim eles tinham uma boa mira.

– Eu disse para vigiarem as janelas! Ponham os olhos nas janelas agora! E se abriguem! – Rick gritou enquanto corria em meio aos tiros. Eu estava atrás de um contêiner mais ao fundo, junto com Fred e Glenn. Ele ficou mais à frente, acompanhado por Jesus e mais alguns homens.

Os habitantes do Reino se fixaram atrás de um ônibus com seus fuzis, e pareciam estar encarregados de abater os Salvadores, que atiravam contra nós. O resto tinha a missão de disparar nos vidros, e era isso que a maioria estava fazendo. Esperei a chuva de balas reduzir e me adiantei, escorando na lateral do contêiner para atirar.

Fui até alguns destroços, e os outros me seguiram. Alguns errantes da cerca conseguiram se soltar, mas isso não era a melhor parte. Ao fundo pude ver claramente uma manada se aproximando com velocidade, era exatamente o que queríamos. Já estava quase na hora de sairmos, mas havia o risco de aquilo não ser o suficiente para invadir o local.

– Não seria melhor se a cerca fosse derrubada? – perguntei a Glenn, que recarregava sua arma.

– Rick já está fazendo isso... – ele respondeu como se fosse óbvio, porém se interrompeu no final, como se tivesse dito algo que não deveria. No primeiro momento não entendi o que aquilo queria dizer, até ouvir um som que me chamou a atenção.

O carro em que chegáramos acelerou bruscamente, indo em direção à cerca. As janelas escuras estavam fechadas, mas eu sabia exatamente quem estava lá. Foi como se tudo ao redor tivesse parado de repente, e só pude prestar atenção no carro, que chegava cada vez mais perto de lá. Apenas um pensamento tomou conta da minha mente: eu queria ter tido mais tempo. Precisava daquilo para conversar mais com Rick, abraçá-lo, me despedir. Mesmo assim, nem todo o tempo do mundo seria o suficiente, eu precisava dele comigo.

Subitamente, me levantei e comecei a andar em direção ao carro. Não sabia direito o motivo de estar fazendo aquilo, talvez fosse com o intuito de trazer meu marido de volta. Não dava para pensar em outra coisa a não ser ele, naquele momento, o tiroteio poderia esperar, parecia não ter tanta importância assim. Meus passos não eram tão firmes quanto pretendia, eu cambaleava um pouco e tentava me apoiar em tudo que via pelo caminho, fixando o olhar em um único ponto.

Minha curta caminhada foi interrompida inesperadamente. Não deu pra ver de onde veio, mas algo me atingiu e eu caí no chão, sentindo muita dor no braço direito, o restante do meu corpo parecia latejar com a queda. Os sons pareceram se distorcer no mesmo instante, e comecei a ficar tonta com todo aquele barulho. Pude ver um vulto se aproximando, ele segurou minha cabeça por trás e disse algo que não consegui ouvir da primeira vez.

– Todos para os caminhões! – alguém ordenou mais ao fundo.

– Sarah! Você está bem? – ele gritou novamente, era Fred. Tentei respondê-lo, entretanto o som não saía e o desespero começou a tomar conta de mim. – Glenn, me ajuda! Precisamos tirar ela daqui!


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Notas finais do capítulo

Apesar de na série o Rick estar passando por uma fase meio sanguinária, e que na HQ a proposta dele era matar os Salvadores, achamos que, no nosso contexto, Rick não está assim. Apesar disso, estamos na guerra e a passividade não leva a bons caminhos...
Para quem queria ver o Fred (valeu Aurélia!), aqui está:
http://www.rtbookreviews.com/public/images/geteven5.jpg
Então, o que acharam do capítulo? Quais são as suas expectativas para o próximo? Comentem!