Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 61
Costume


Notas iniciais do capítulo

Parece que agora o nosso dia é quinta... Não estamos conseguindo de jeito nenhum postar na quarta! Essa semana foi meio turbulenta, teve a volta de Once Upon A Time que nos tirou muito tempo, mesmo que ainda não conseguimos ver o episódio, e outros acontecimentos (uma notícia que nos deixou extremamente contentes...).
Após a primeira narração, temos um salto temporal explícito, só estamos reforçando para não deixar dúvidas.
Sobre a guerra contra o Negan, só queríamos dizer que não é 100% Guerra Total, por isso não será o tempo todo. Os capítulos sem batalhas podem parecer meio parados, mas tenham paciência, OK? Além disso, essa guerra será diferente.
Boa leitura!



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*Narrado por Sarah Grimes

– Aguenta firme, está quase lá! – falei tentando passar confiança. Eu sabia o quanto deveria estar sendo difícil para ela.

Horas haviam se passado desde que Rosita fora levada até a cama e o parto se iniciara. Eugene deixara o quarto logo no início, ele aparentava estar bastante nervoso. Desde então, só éramos Rosita, Gabriela e eu. Tentávamos convencê-la a todo o momento que tudo ficaria bem, nos limitando a forçar alguns sorrisos de vez em quando. Porém, nem mesmo uma pessoa tão ou mais otimista quanto eu poderia pensar positivamente.

O sangramento no braço direito persistia, manchando ainda mais os lençois brancos da cama. Eu poderia ter acabado com aquilo ou até mesmo removido a bala para evitar uma infecção, contudo Rosita me impedira e não dava para fazer aquilo contra a sua vontade. Logo no começo ela explicara o motivo de ter se escondido. No caminhão, não contara sobre o tiro porque não queria preocupar, já que os garotos pareciam precisar de mais ajuda. Entretanto, logo que chegamos ao Alto do Morro ela começara a sentir contrações e supôs que, se soubéssemos que ela havia sido baleada, tentaríamos salvar a ela e ao bebê. Assim, mulher preferiu fazer o parto sozinha, o que com certeza teria dado errado, presumindo que não era possível salvar os dois.

Rosita estava certa de que não sobreviveria, apesar dos meus esforços para tirar essa ideia de sua cabeça. Eu só havia concordado em fazer o parto com a bala ainda alojada em seu braço porque a fiz prometer que, depois do nascimento de seu filho, ela me deixaria salvá-la. Por isso, eu tentava ao máximo apressar o parto para que a grávida tivesse uma chance.

O fato de estar praticamente sozinha também não ajudava muito, já que Gabriela não tinha muita experiência com isso. Porém, ela era a única pessoa disponível no momento, já que o Doutor Carson estava com Patrick, e Maggie, com Scott, que, até onde eu sabia, ainda não havia acordado.

Depois de todas aquelas horas em que Rosita colaborara ao máximo para terminar aquilo, pude ver o bebê saindo. Antes eu não tinha nada a fazer além de dar instruções, entretanto, ao ver que ele estava prestes a nascer, poderia agir para que acabássemos logo.

Por alguns instantes, tudo que pudemos ouvir foi aquele choro. Cortei o cordão umbilical cuidadosamente, finalmente havia acabado. Todas nós sorrimos, era uma linda menina. No mesmo instante me lembrei de Abraham, ele queria muito que seu filho fosse um menino. A garotinha era um pouco maior do que Grace quando nascera, e tinha olhos azuis como a minha filha.

– Gabriela, leve ela para o banheiro – pedi indo entregá-la. Eu precisava cuidar daquele ferimento urgentemente, e achei que fosse melhor que Rosita visse a garota depois que tudo estivesse bem.

– Não! Eu quero ver a minha filha – ela protestou com a voz claramente fraca. Não era preciso pensar muito para saber que ela estava se preparando para a morte, e queria ver a menininha pela primeira e última vez. Tornei a me aproximar e coloquei a filha nos braços da mãe. – Ela se parece muito com o pai! Eu queria tanto que Abraham estivesse aqui para vê-la... Não chore, vai ficar tudo bem. Elas vão cuidar muito bem de você, e Eugene também. Sarah e Gabriela, me prometam que ele vai cuidar da minha filha, e vocês também, por favor.

– É claro que nós faremos isso, mas você estará aqui para criá-la – falei um pouco apreensiva.

– Eu só preciso que vocês prometam – Rosita continuou e olhou para Gabriela, que não falara nada até então. – Quero que a deixem com Eugene, sei que ele irá cuidar dela como se fosse filha dele. Por favor!

– Sim – ela concordou.

A mulher sorriu e passou a filha para Gabriela, que a levou até o banheiro. Respirei fundo e me aproximei do ferimento para avaliá-lo. Estava pior do que antes, ela já havia perdido muito sangue, e era possível ver alguns estilhaços, mas a bala continuava lá mais ao fundo. Lembrava-me de já ter atendido um paciente que fora atingido por uma bala perdida. Naquele plantão, de madrugada, os cirurgiões estavam ausentes, então eu acabei realizando a minha primeira cirurgia de risco para remover a bala. Olhando para Rosita, tentei me concentrar ao máximo para lembrar os procedimentos.

– Vai doer um pouco no início, já que não temos sedativos, mas vai dar tudo certo – falei seriamente, todavia, no fundo eu estava um pouco desesperada. Já havia repetido inúmeras vezes que tudo ia dar certo, quando não tinha certeza de nada.

– Você não precisa fazer isso – Rosita contrariou parecendo saber o que fazia. Era como se ela pressentisse o que poderia acontecer, como se ela soubesse que não resistiria. Mesmo assim, tentei argumentar. Ela poderia não estar totalmente consciente.

– Jesus foi buscar sedativos em Alexandria. Eu só vou parar o sangramento enquanto esperamos. Não desista ainda, você não poderá se arrepender depois. Apenas dê uma chance a si mesma – era a minha última tentativa. Se isso não funcionasse, eu não sabia o que fazer.

– Não, desde o começo eu já sabia que era eu ou a minha filha. Por isso eu quis que o parto fosse antes. Era ela ou eu, e preferia morrer a perdê-la.

Eu compreendia perfeitamente esse sacrifício, não pensaria duas vezes antes de dar a minha vida pela de Grace. Provavelmente fora o extinto de mãe dela que mostrara isso, que as duas não poderiam sobreviver. Por mais que ela estivesse certa quanto a isso, não poderia se entregar tão cedo. Naquele momento, sua filha já estava a salvo e não havia mais motivos para esperar. Quando olhei para Rosita novamente, ela já estava com a cabeça apoiada no travesseiro e os olhos fechados. Pude notar que a mulher não respirava mais, seu corpo não possuía qualquer sinal de vida.

*Narrado por Avery Hopper

Primeiro veio o som do tiro, em seguida os abraços e choros. Do resto eu não me lembrava. Depois de dois dias e pudemos enterrá-lo, junto com Rosita e um pequeno memorial que fora feito para Sasha e Abraham. Achei curioso quando descobri que, no Alto do Morro, as pessoas não enterravam seus mortos, elas os queimavam. Nós estávamos trazendo esse velho hábito de volta, e parecia que os moradores voltariam a fazer funerais. Talvez tudo fosse apenas uma questão de costumes, o mundo não era mais perfeito, perderíamos muitas outras pessoas, e deveríamos nos acostumar a viver sem elas.

A neve branca cobria a terra. O frio era intenso e a pequena nevasca não mostrava que pararia. Mesmo assim, enterramos nossos parentes naquela manhã. No início, todos estavam juntos, depois só ficamos minha mãe, Carl e eu. Ela saiu depois de algum tempo para cuidar da pequena ruiva, que ficaria sob sua responsabilidade durante todo o dia. Carl ficou por mais tempo, porém foi embora ao perceber que eu não pretendia sair tão cedo.

Eu estava sozinha, parada diante do círculo de pedras que fora feito para representar o túmulo de Patrick. Teríamos até colocado uma cruz, como nos outros, contudo ele era ateu e, na ausência de algo melhor, colocamos as pedras. No centro tinha algumas flores que foram colocadas por nós quatro no começo.

Mais uma vez eu estava perdida em devaneios. Pat estava certo, as memórias poderiam ser melhores que a realidade. Pelo menos as lembranças que eu tinha dele eram as melhores possíveis, porém a realidade me impedia de sorrir. Ao mesmo tempo em que eu ficava feliz por tê-lo conhecido, entristecia ao lembrar que nunca mais o veria.

Sequei as últimas lágrimas do meu rosto e decidi ir embora por causa do frio. As únicas pessoas que estavam no funeral eram Tyreese e Mika. Ela estava agachada ao lado da cruz de Sasha, e chorava bastante. Ele, de pé e em silêncio, olhava fixamente para o túmulo. Virei-me e saí de lá, arrastando a neve com os pés. Minha mãe me dissera uma vez sobre os dias de neve lhe trazerem lembranças tristes. Eu, por outro lado, amava a neve, pois ela me lembrava o Natal, as festas, comemorações e, consequentemente, alegria. E o mais irônico de tudo era que naquele momento nossos pensamentos se invertiam, ela se lembrava da época do nascimento de Sam com felicidade, e, ao longo daqueles dois dias, passei a sentir que aqueles ventos gélidos traziam tristeza. Só podia ver isso no céu, junto com aqueles flocos cristalinos.

Resolvi não voltar para o quarto onde estava alojada junto com minha mãe e meu irmão porque eu realmente queria e precisava ficar sozinha. Por isso, acabei indo para o restaurante do hotel, que eu ainda não conhecia. Todas as minhas ”refeições” haviam sido feitas no quarto, onde eu tinha passado a maior parte dos dias. Ainda não era hora do almoço, e eu tinha esperanças de que ele estivesse vazio.

O local era dividido em restaurante e lanchonete. Fui para a segunda parte, me sentei e, sem saber exatamente no que pensar, comecei a analisar o espaço. Era uma lanchonete estilo anos 50, com o piso quadriculado em preto e branco, as paredes em tons de vinho e uma bancada na lateral. Do outro lado havia mesas com bancos de couro com a coloração um pouco mais escura que a da parede. Eu sempre adorara esse tipo de lanchonete, mas, naquele momento, não estava no clima para ficar animada por estar lá. Permaneci parada na mesa do fundo, tentando não pensar em absolutamente nada. Depois de tanto chorar, eu não conseguia mais fazer isso, por mais que a dor permanecesse.

As últimas palavras de Patrick não saíam da minha cabeça. O pior era que ele tinha toda a razão. Eu já tinha pensado naquilo outras vezes antes do que ele dissera, mas nos últimos dois dias, minha mente fora completamente ocupada pela morte de Pat e por Carl. Meu amigo me ajudara a abrir os olhos para isso, entretanto eu não sabia o que fazer. Dizer tudo para ele estava praticamente fora de cogitação. Como dizer para o garoto que eu havia zombado por sete anos, dizendo que nunca gostaria dele, que o amava? Como acabar com aquela amizade de anos para arriscar algo novo?

Respirei fundo e tentei não pensar em mais nada. Para passar o tempo fixei meu olhar nos cartazes de rock espalhados pelas paredes. Algumas bandas eu conhecia, outras não. Muitas vezes já havia me perguntado sobre as músicas que teriam sido lançadas se não houvesse apocalipse.

Levei um grande susto ao olhar para a porta e ver que havia alguém lá. Ele poderia ter estado me observando por muito tempo sem que eu tivesse notado. De repente, não me pareceu mais um garoto, era um homem. Ele usava um chapéu de xerife e tinha lindos olhos azuis. Não foi preciso olhar muito para reconhecê-lo, mesmo estando escuro.

– Eu estava te procurando – Carl falou enquanto se aproximava.

– Você não estava olhando as crianças? – questionei um pouco desconcertada, fazendo um sinal para que ele se sentasse no banco do meu lado. Tudo que nos separava eram alguns centímetros.

– Sim, mas o Scott ficou lá por mim. Sua mãe me pediu pra falar com você. Ela disse que odeia te ver triste e acha que eu posso te fazer sorrir... – ao ouvir aquilo, involuntariamente, acabei dando um pequeno sorriso com os lábios fechados, porém era sincero. Mesmo assim a tristeza parecia não ter saído da minha face e ele havia notado isso.

– O que foi? – ele indagou ao notar meu desânimo.

– Eu ainda sinto muito a falta dele. Sabe, as pessoas falam que com o tempo nos acostumamos, mas parece que o tempo parou pra mim. Às vezes eu olho para o lado e imagino que ele vai chegar e começar a conversar comigo, então eu me lembro que ele não vai voltar...

– Eu também sinto saudades dele, mas Patrick queria que seguíssemos em frente. Aposto que, se ele estivesse aqui e te visse assim, faria uma daquelas piadas sem graça que só você ria! Tudo bem, todos dizem isso, então foi meio clichê – acabei rindo sem querer. Não havia tido uma conversa tão longa assim desde que saíra daquele quarto na enfermaria. – Pelo menos dessa vez pudemos nos despedir dele, não é? Lembra daquele dia, no hotel?

– Claro que sim. Foi terrível! Não sei se foi pior do que dessa vez. Se por um lado, estava tudo incerto, dessa vez estávamos cientes e pudemos vê-lo pela última vez – fiquei parada por algum tempo me lembrando da voz fraca de Patrick e seu semblante cansado. Carl fora o último a falar com ele. – O que ele disse, quais foram as últimas palavras?

– Que nós tínhamos que continuar nossas vidas e... – ele se interrompeu de repente e ficou apenas me fitando por algum tempo. Arqueei a sobrancelha direita esperando uma resposta, que veio logo em seguida. – E que eu tinha que ir atrás da minha garota – Carl pareceu ficar meio constrangido e, ao perceber que eu era a tal garota, senti meu rosto queimar. – Patrick disse que sabia que éramos cabeça-dura, mas nem tanto. Quando nos reencontrou, ele pensou que estaríamos juntos. Pat estava certo, já vimos tantas pessoas morrerem sem aproveitar, sem terem sido completamente felizes, acho que desperdiçamos o nosso tempo. Eu não quero perder mais as oportunidades.

– Carl...

– Talvez você não sinta o mesmo, por isso eu nunca tive coragem de falar. Você deve me achar um cara idiota e egoísta – ele abaixou a cabeça e ficou entrelaçando os dedos.

– Não é nada disso... Tudo bem, no começo eu achava isso, mas vi que estava enganada. Tem muito mais além de um garoto egoísta. Você é corajoso e altruísta, está bem mais maduro do que quando nos conhecemos. Foi meu companheiro durante todo esse tempo, e às vezes tão engraçado quanto Patrick – dizendo isso, coloquei minhas mãos ao redor de seu rosto para que ele me olhasse. Ao ouvir minhas palavras, Carl sorriu e seus olhos brilharam. – Bom, essa é a parte que você me beija – cortei o “clima” sem saber o que exatamente dizer e ele apenas riu fraco.

– Da primeira vez foi estranho, então vamos fazer a segunda dar certo.

Tirei o chapéu de sua cabeça e, sem tirar meus olhos dos dele, o coloque sobre a mesa. No mesmo instante nos aproximamos mais, até que nossos lábios se tocaram. Realmente, foi melhor do que o primeiro beijo. Antes ainda não estávamos prontos para isso, precisávamos ter passado por todos aqueles acontecimentos para crescermos mais. Não consegui pensar em mais nada, eu só sabia que queria muito beijá-lo e pareceu ser a coisa certa a fazer. Não havia nada que nos impedisse, já tínhamos esperado de mais.

*Narrado por Gabriela Hopper

Eu estava no saguão com as crianças e com a filha da Abraham e Rosita. Tentava a todo custo fazê-la parar de chorar, mas era óbvio que ela estava com fome. Ficar sem leite materno já estava sendo ruim o suficiente para a garotinha, e ela havia aguentado isso durante dois dias. Maggie saíra para buscar mais leite, e Scott havia deixado os meninos comigo para ver como Mika estava.

Enquanto eu cuidava da menina, que ainda não tinha nome, apesar de Hesh ter inventado umas opções malucas que não serviam para uma criança, me lembrava de meus primeiros dias com Sam, de como eu era desajeitada e pensava que não havia nascido para cuidar de um bebê. Mas, naquele momento, segurando a ruiva, eu sabia exatamente o que estava fazendo, e estava dando o meu melhor para cumprir parte da promessa que fizera a Rosita de cuidar da sua filha. Mesmo assim, a outra parte parecia impossível de ser executada. Estávamos nos revezando para ficar com a garota. Sarah passara o dia anterior com ela, e faria o mesmo no seguinte. Faríamos essa troca até que conseguíssemos estabelecer algo mais concreto.

Depois de dar algumas voltas pelo saguão, resolvi me sentar devido ao vento frio que vinha da janela e poderia ser prejudicial para a recém-nascida. Estávamos na época do nascimento de Sam, esse já era o quarto inverno depois de seu nascimento. Meu filho, assim como seus amigos, não fazia a mínima ideia do que fosse um aniversário.

Se Avery estivesse animada e do meu lado, ela tentaria inventar algo para animar o clima. Eu torcia bastante para que ela voltasse ao normal logo, não gostava de vê-la triste, muito menos chorando. Era difícil ver minha filha, que sempre fora tão alegre, daquele jeito, deprimida e melancólica. Desde a morte de Patrick, Ave não falara quase nada, e só comeu quando a obriguei, ameaçando não deixá-la ir ao enterro. Nesse momento, ela deveria estar com Carl. Ele, com certeza, tinha mais chances de tirar um sorriso dela.

As crianças pararam de correr ao redor do sofá e se aproximaram assim que eu me sentei. Sam se sentou ao meu lado, enquanto Grace e Hesh apoiaram suas cabeças no braço do sofá.

– Por que ela é tão pequena? – meu filho indagou com um olhar curioso, fitando os olhos azuis da garota atentamente. Seus cabelos ruivos possuíam o mesmo tom dos do pai. Olhando para ela, era quase impossível encontrar algum traço que lembrasse sua mãe.

– Todos nós já fomos desse tamanho, querido – respondi olhando para ele, que pareceu um pouco confuso. – Até você já foi assim.

– Eu?

– Sim, já segurei você desse jeito. Era tão pequeno quanto ela. Mas não se preocupe, ela vai crescer, assim como vocês também.

– Legal, vamos ter mais uma amiguinha! – Grace comentou. – Ela é tão bonitinha!

– Não, pra mim tem cara de joelho – Hesh discordou.

– Hesh! Ela é muito pequena, você não pode dizer isso! – a garota o repreendeu como sempre fazia. Ela era o freio que impedia o pequeno coreano de fazer ou dizer esse tipo de coisa.

Naquele momento, Maggie entrou no saguão. Ela sorriu para as crianças e logo veio até mim trazendo uma mamadeira cheia de leite. A mulher pegou seu filho no colo e saiu do local, levando os garotos juntos.

Finalmente fiquei sozinha naquela sala e o único som que eu ouvia era o do vendo do lado de fora. A garotinha em meus braços pareceu se aquietar antes mesmo de receber a mamadeira. Mesmo sendo pequena, ela já era inteligente, uma menina adorável. Uma pena que seu futuro era incerto, assim como o nascimento envolvia uma tragédia. Eu havia prometido a Rosita que cuidaria dela, assim como Sarah, mas havia uma opção melhor para todos. Ela havia perdido os pais, porém tinha uma chance, e era por ela que a garota aguardava.

– Gabriela – uma voz me chamou e eu me voltei para sua origem. Eugene estava parado diante da porta, com uma expressão estranha. Desde a morte de Rosita, ele aparentava estar muito abatido. Seus cabelos não estavam jogados para trás como de costume, sua expressão demonstrava cansaço e suas roupas, geralmente bem alinhadas, pareciam amarrotadas. – Maggie me pediu para vir aqui. Desculpe, não sabia que estava ocupada... – ele falou ao notar que eu segurava o bebê, e começou a sair.

– Não, eu precisava mesmo falar com você – já fazia algum tempo que Sarah e eu tentávamos falar com Eugene, que nos evitava. – É sobre ela que precisamos conversar – aguardei alguma reação, e, como ele não se manifestou, resolvi continuar. – Nós discutimos um pouco sobre o assunto, e concluímos que você poderia ficar com ela.

– Acredito que eu não seja a pessoa mais indicada para isso – eu sabia que aquele não era o real motivo porque ele estava fugindo de mais daquele assunto.

– Claro que é. Rosita queria isso, e tenho certeza que Abraham também. Antes de morrer, ela nos fez prometer que você cuidaria da filha dela. Foi o último desejo da Rosita – tentei apelar para o lado emocional.

– Eu não posso.

– Ela precisa de você! Criar uma criança é muita responsabilidade, mas sempre estaremos por perto para ajudar. Rosita te escolheu, ela confiava em você.

– Não! Eu vou falar a verdade: posso sim cuidar dela, mas não quero. Você não sabe como é... Toda vez que penso nela me lembro de Rosita, ela a matou! Acha que está sendo fácil pensar nisso? Eu olho pra ela e penso que Rosita poderia estar aqui... Ver esse bebê já é uma tortura, acha mesmo que eu poderia cuidar dela? – Eugene explodiu e eu me surpreendi. Nunca havia o visto tão nervoso, e acabei ficando irritada pelos seus argumentos.

– Qual é o seu problema? Está culpando uma criança por algo que não dava para impedir? Rosita escolheu isso, ela preferiu morrer para que sua filha vivesse, e ela estava certa! – o homem abaixou a cabeça e pareceu concordar. No mesmo instante senti meu nervosismo passar. – Olha, você não é obrigado a fazer isso, mas é o melhor. Todos nós estamos estressados por causa do que aconteceu, isso não nos deixa pensar direito. Sei que vai se acostumar com isso, só precisar dar uma chance a ela.

Dizendo isso, me levantei e estendi a ruiva para Eugene. No primeiro momento, ele pareceu indiferente, mas logo seu olhar mudou completamente, se assemelhava a compaixão. O homem pegou a menina nos braços e continuou a observando. Por alguns instantes, era como se nada mais existisse além dos dois. A garotinha o fitava com os olhos brilhantes, foi amor à primeira vista. Seus lábios se comprimiram, formando algo parecido com um sorriso, que Eugene retribuiu enquanto passava a mão delicadamente pelo rosto dela.

– Acho que devo isso a eles. Quando Abraham e Rosita descobriram que eu estava mentindo só para ser protegido, que não tinha uma cura, no início ficaram com raiva, mas acabaram perdoando. Eu não merecia aquilo, tinha feito algo terrível, mas eles, depois de algum tempo, voltaram a me tratar como um amigo. Eu nunca esperaria isso, eles foram ótimos para mim. Talvez cuidar da filha deles seja uma forma de agradecimento. Tenho que fazer isso por eles. – ele fez uma pausa e voltou a olhar para a menina. – Ela é linda. Já tem nome? – Eugene perguntou sem olhar para mim.

– Não. Nós pensamos que você saberia algum nome que Rosita gostava.

– Ela gostava de Brianna – ele fez uma pausa e olhou para mim. – Ela vai se chamar Brianna.


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Notas finais do capítulo

A morte da Rosita se assemelhou um pouquinho à do Patrick, já que os dois sabiam que iriam morrer.
Acreditamos que tenham gostado desse capítulo, certo? O que acharam da Brianna?
Recebemos uma ótima pergunta no Ask, e ficamos muito curiosas para saber quem foi. Se a pessoa quiser se manifestar, ficaremos muito gratas. Amamos a pergunta, responderemos assim que der tempo.
O próximo terá um pouco mais de ação, e já temos previsão de postagem, apesar de ainda não termos começado a escrever. Será na segunda dia 6. Tem uma motivo muito especial, mas quando postarmos vocês saberão.
Bem, como esse capítulo estamos entrando na reta final da fic. Não diremos quando acabará para não preocupar vocês, contudo já sabemos quando e como terminará.