Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 51
Cotidiano


Notas iniciais do capítulo

Na semana passada resolvemos não fazer esse "hiatus", mas o nosso computador estava cheio de vírus e não pudemos usar ele por quase uma semana. Agora que ele está zerado (quase perdemos todos os arquivos, incluindo capítulos e gifs), decidimos postar hoje mesmo porque estávamos com muitas saudades dos seus comentários.
Desculpem por postarmos fora do horário habitual, mas as férias destruíram a nossa rotina.
Bem, agora são 100000 palavras! Muito obrigada por nos aturarem durante tanto tempo. Pra vocês pode parecer pouco, são 51 capítulos, mas é muito para nós duas. A todos que acompanharam a história até aqui, muito obrigada e realmente esperamos seus comentários, estávamos morrendo de saudades.
Esse foi o maior capítulo que já escrevemos até agora, e nunca tivemos um capítulo de 4000 palavras antes, mas há chances de termos futuramente. No começo pode ficar muito confuso, mas vamos explicar tudo ao longo dele e mais um pouco nos próximos.
Teremos quatro narrações dessa vez. Foi um grande desafio escrever pelo ponto de vista de um personagem que não é nosso e, por favor, se estiver ruim, não nos matem! Nós tentamos. Se estiver tão ruim assim, simplesmente avisem.



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*Narrado por Daryl Dixon

Calcei minhas botas silenciosamente para não acordar os outros que dormiam. Mesmo assim, Gabriela resmungou algo, mas logo voltou a dormir. Peguei minha besta e caminhei até a saída lentamente com a arma nas costas. Ficar com armas dentro da nossa pequena casa quebrava as regras de Gabriela, assim como não subir na cama com sapatos e coisas do tipo, mas eu iria usar a minha besta para caçar nesse final de madrugada.

– Papai, onde você vai? – parei de andar ao ouvir a voz de Samuel atrás de mim.

– Vou caçar – respondi olhando para meu filho, que esfregava os olhos sonolentos e me observava com curiosidade. – Quer ir comigo? – na mesma hora, Sam abriu um grande sorriso e balançou a cabeça positivamente. – Só não faça muito barulho para não espantar os animais.

Antes de sairmos, ele pegou seu estilingue e andamos pelo gramado até a saída dos fundos, que levava à floresta. Durante o trajeto até o meu ponto de caça, ficamos totalmente em silêncio. Sam prestava atenção em todos os meus passos, e tinha o mesmo olhar de sempre para mim.

Ele deveria ter algo próximo de 3 anos e meio de idade, foi o que Sarah havia dito da última vez que o examinou. Não parecia que havia se passado tanto tempo desde que meu filho era apenas um bebê, e, com o passar dos anos, Gabriela e eu aprendemos a criá-lo. Ela com seu jeito nervoso e preocupado, eu mais liberal, talvez por pensar que não estava me saindo tão bem como deveria. Sam também não ajudava muito, já que, desde que aprendeu a falar e andar me seguia para qualquer lugar, e imitava praticamente tudo que eu fazia. Na verdade, eu até gostava um pouco disso, da companhia do garoto, mas não entendia como ela poderia querer ser como eu. Nunca fui um exemplo, mas, perto do meu filho, eu me esforçava para ser um cara bom, por ele.

Continuamos adentrando na floresta até que chegarmos a uma clareira onde eu costumava pegar alguns animais. Escutamos um trote, que eu reconheci como sendo de um veado. Ergui a besta em direção à origem do som.

– Papai – ele me chamou sussurrando, consciente de que não poderia fazer muito barulho, e eu me virei para encará-lo.

– O que foi?

– Acho que a mamãe não vai gostar muito de saber que eu vim aqui – ele disse. Mesmo sendo pequeno, Sam havia puxado a responsabilidade da mãe.

– Ela não precisa saber, certo? – ele assentiu e eu pensei em alguma desculpa convincente para darmos. – Se ela perguntar, diga que eu estava te ensinando a andar naquela bicicleta velha. Eu sei que ela também não quer que eu te ensine, mas é menos pior do que ela saber que estávamos na floresta – voltei a me concentrar no som do veado, que ficava cada vez mais próximo. Eu não queria que Sam visse o animal sendo morto. – Filho, feche os olhos agora e conte até dez.

Mais uma vez ele balançou a cabeça e fechou os olhos, enquanto sussurrava os números lentamente. Dei alguns passos silenciosos até que cheguei a uma árvore, de onde era possível ver o veado comendo algumas folhas de um arbusto. Era estranho ver um animal de porte tão grande ainda vivo nessa floresta, ainda mais porque, com o passar dos anos, os errantes foram se tornando cada vez mais insaciáveis, principalmente por causa da falta de carne humana, que eles praticamente destruíram em pouco tempo. Mas isso pouco importava no momento, eu sabia que esse veado seria muito bem vindo no grupo.

Quando ouvi Sam pronunciando o número nove, o animal já estava caído no chão. Arranquei a flecha da cabeça do veado e o coloquei sobre o meu ombro.

– Dez! – o garoto correu até mim.

Voltamos para a base ainda silenciosa. Pela pouca luminosidade, deveriam ser quase seis horas da manhã. Com o tempo começamos a ter noção das horas e estações a partir da observação de fatores naturais, o que contribuía muito para a plantação, criação de alguns animais e outras tarefas diárias.

Sam andava sorridente ao meu lado. Seu pijama, que na verdade era uma blusa grande que parecia uma camisola nele, estava com algumas manchas de terra, o que irritaria muito Gabriela que, querendo ou não, fazia os trabalhos domésticos junto com as outras mulheres. O uso de pijamas foi um hábito que mantivemos por conta dela.

– Tivemos sorte hoje? – Sam perguntou. Estranhei essa frase, e ele percebeu isso. – A mamãe sempre diz que tivemos sorte quando você volta com alguma coisa da caça.

– Dessa vez, sim.

Deixei o veado no lugar onde colocava os animais mortos para escorrer o sangue. Depois disso, me dirigi até a tenda onde morava pra deixar Sam dormindo. Havíamos nos fixado em uma base militar meses antes do nascimento do meu filho, logo após a invasão do hotel. Parecia que iríamos vagar para sempre nas florestas, o que não era uma opção com Gabriela grávida, mas tivemos que fazer isso por algumas semanas até encontrarmos o lago e, logo em seguida, uma antiga base do exército que abrigara várias pessoas no início do apocalipse.

Quando chegamos à tenda, Gabriela me encarou com um olhar ameaçador, de braços cruzados e expressão severa.

– Onde você estava com o meu filho? – ela perguntou irritada.

– Estávamos andando – respondi sem dar mais informações.

– É, papai mandou dizer que ele estava me ensinando a andar de bicicleta – Sam me entregou ingenuamente.

– Claro, e o que estavam realmente fazendo? – Gabriela perguntou mudando o tom de voz para se dirigir ao garoto.

– Estávamos na floresta caçando! Mas não fique com raiva do papai, não aconteceu nada de mais, e até tivemos sorte!

– Tudo bem, eu não estou com raiva dele, mas só porque você pediu. Agora venha aqui, você está imundo. Pode ir para a banheira que eu já vou te dar banho – Sam poderia estar de costas para mim, mas eu sabia que ele tinha se aborrecido com esse comentário. O garoto sempre gostou de ter autonomia, e detestava ser ajudado em tarefas simples, para mostrar que poderia ser como eu.

– Eu sei tomar banho sozinho!

– Então eu só vou te ajudar – Gabriela o acompanhou com os olhos até que ele saísse da área que usávamos como cozinha e mudou totalmente de expressão ao se aproximar de mim. – Andando?

– O que você queria que eu dissesse?

– A verdade! Ele só tem 3 anos! E se ele tivesse se perdido ou encontrado um errante? – ela disse desesperada ao mencionar essas possibilidades.

– Eu me perdi na floresta com menos de 12 anos, e ainda estou vivo – tentei argumentar, mesmo sabendo que ela ganharia essa discussão.

– Ele não tem nem 10 anos! O mundo não é mais como o de antes! Eu nem quero pensar no que poderia acontecer se ele sumisse...

– Não precisa se preocupar tanto. Não aconteceu nada de mais. Se acontecesse, se ele sumisse, eu iria atrás dele e não pararia até encontrá-lo. Fique calma, não aconteceu nada de preocupante.

– Não dá, a preocupação é da minha natureza – isso era verdade, e eu já estava acostumado com isso. – Tenho que dar banho nele, ou melhor, ajudá-lo a tomar banho e acordar a Avery para a aula de direção.

– Vou ajudar o Rick com os cavalos que ele encontrou.

*Narrado por Sarah Grimes

Terminei outro capítulo do livro de biologia. Passei uma hora lendo e não aguentava mais nada relacionado a medicina natural. Com o passar do tempo fui voltando a estudar e já conseguia produzir medicamentos a partir de plantas encontradas na região, uma vez que boa parte dos remédios estava saindo do prazo de validade. A minha função de médica havia se aprofundado mais, e eu começava a entrar na área científica com a ajuda de Eugene.

Abraham, Rosita e Eugene estavam a caminho de Washington desde o início do apocalipse, mas, quando nos encontraram, estavam apenas procurando um lugar seguro. No mesmo dia encontramos a base militar, e o trio acabou se juntando ao nosso grupo, e se tornaram membros muito valiosos. Abraham era um sargento, excelente estrategista e muito bom com armas. Eugene era um professor de Ciências que desenvolvia um projeto de energia solar e outro de produção de munição.

Mesmo com o pouco que tínhamos, estávamos seguros havia muito tempo, e os errantes costumavam aparecer com grandes intervalos. Com essa calmaria, conseguimos pensar mais na melhoria da nossa qualidade de vida. Além da plantação que evoluía bastante com o passar do tempo, tínhamos um lago, de onde retirávamos praticamente toda a água para consumo, e a criação de animais que foram encontrados pela floresta.

– Senhora Grimes – escutei a voz de Eugene e levei alguns segundos para perceber que ele se dirigia a mim, mesmo que estava sozinha na tenda que usava como enfermaria. Com o passar dos anos, evolui para a condição de esposa do Rick, principalmente para os novos integrantes do grupo. Isso não fazia muita diferença, já que éramos praticamente casados muito antes de eu receber seu sobrenome. – Eu já terminei a lista – soltei o livro e me levantei para observar as anotações dele.

– Não temos nem metade disso – comentei passando os olhos pela lista.

– Sei disso, por isso dei uma olhada na lista telefônica, e existe um lugar por aqui que tem tudo o que precisamos. Fica a alguns quilômetros e, se tivermos sorte, podemos produzir a munição lá mesmo.

– Isso é ótimo! Antes precisamos saber se esse lugar está seguro, e se realmente tem o que precisamos – a produção de munição era apenas por precaução, para o caso de um dia precisarmos, já que sobraram poucas balas desde a fuga do hotel. – Como está a Rosita?

– Está bem melhor. Ela já consegue ficar em pé normalmente, mas o Abraham não quer que ela se esforce muito, nem que saia da tenda, e ela não gosta muito disso, mesmo que continua reclamando daquelas dores.

– Isso é normal, e é melhor que ela não se esforce muito.

Rosita estava grávida, e o parto já se aproximava. Por mais que a situação dela fosse um pouco preocupante devido a algumas complicações, eu acreditava que ela e o bebê ficariam bem. Eu já estava me preparando para o nascimento, que era outra situação preocupante, mas depois de fazer o meu parto e ajudar Gabriela e Maggie nos delas, estava muito mais confiante.

– Vou voltar para o projeto da energia solar. Tenha um bom dia – Eugene disse saindo.

O projeto já estava muito adiantado e, talvez em algumas semanas, poderíamos abandonar as velas e começar a usar energia elétrica. Vivíamos apenas com a luz do Sol e de velas à noite. A energia solar seria ótima, já que era renovável e não haveria risco de esgotamento. Quando eu ia voltar para a leitura, fui interrompida.

– Mamãe! – Grace me chamou. Sorri logo que ouvi essa palavra, e me voltei para ela. Minha filha deveria ter algo próximo de 4 anos, era uma criança saudável e linda, parecida com uma boneca. Seus cabelos castanho-escuros quase chegavam à cintura, e eu costumava fazer penteados nela quase todos os dias, mas hoje eles estavam soltos. Grace arrastava o casaco de Rick que eu havia encontrado no hotel na mão direita, enquanto segurava a boneca, que fora de Mika anos atrás, na outra mão. – O papai esqueceu o casaco.

– Vamos entregar para ele?

– Sim. Mas você sabe onde ele está?

– Deve estar cuidando dos cavalos – coloquei o casaco no ombro e peguei a mão de Grace enquanto andávamos em direção ao cercado de animais.

Os dois cavalos que Rick encontrara na floresta eram mais recentes. Eles estavam correndo pela floresta dias atrás, então foram trazidos para a nossa base. Pelo bom estado deles, possivelmente deveria haver outro grupo nas redondezas, mas, pelas constantes rondas no perímetro de mais ou menos dez quilômetros, só havia uma cidade abandonada, onde costumavam encontrar poucos mantimentos e alguns objetos úteis.

Grace soltou a minha mão e correu até o pai, que conversava com Daryl fora do cercado próximo aos cavalos. Ela pulou no colo de Rick e o abraçou, enquanto eu me aproximava deles.

– Você esqueceu o seu casaco, papai! – Grace disse enquanto voltava a ficar de pé. – Nós viemos entregar. Estamos no inverno, Mika me disse que é a época mais fria do ano. Você pode pegar um resfriado.

– Obrigado, filha. O que seria de mim sem você para me lembrar das coisas? – Grace sorriu e se voltou para Daryl.

– Você viu o Sam?

– Ele estava com a mãe dele, mas agora deve estar com o Hesh.

– Obrigada!

– De nada, bonequinha.

Grace saiu correndo em direção às tendas. Ela passava quase o dia inteiro brincando com Sam e Hesh, ou com Mika, que costumava cuidar das crianças. Hesh era o mais novo dos três. Seu primeiro nome era David, mas o apelido vinha do segundo, uma homenagem ao avô Hershel. Ele era uma cópia de Glenn aos 3 anos de idade, seus olhos eram escuros, amendoados. Ele era muito alegre, o mais bagunceiro dos três, que normalmente causava confusão.

– Estamos pensando em construir casas – Rick comentou. – A temporada de chuvas está próxima, e da última vez as tendas quase não resistiram. O problema são os materiais que não temos.

– Por falar nisso, Eugene e eu conversamos hoje sobre a produção de munição. Ele encontrou um lugar que fica a alguns quilômetros. Ele acha que lá tem tudo o que precisamos para iniciar a produção.

– Esse nerd é eficiente – Daryl falou. – Acho que podemos aproveitar a patrulha dos meninos e dar uma passada nesse lugar. Talvez tenha até alguns materiais de construção.

*Narrado por Avery Hopper

Estávamos na estrada abandonada, e eu me sentei no banco do motorista para o meu “teste de direção”. Apesar de Carl, e até Scott e Mika já saberem dirigir, só agora minha mãe havia permitido que eu aprendesse, alegando que só com mais ou menos 18 anos eu tinha responsabilidade para isso.

– Qual é a primeira coisa que você tem que fazer? – ela perguntou.

– Olhar se o câmbio está no ponto morto – afirmei com convicção.

– Não – minha mãe cruzou os braços. – Colocar o cinto de segurança, verificar os espelhos retrovisores e ajustar o banco.

– Mas estamos num jipe de exército, não tem cinto de segurança, não tem espelhos retrovisores e os bancos não são ajustáveis – ironizei.

– Avery, estou te preparando para dirigir qualquer tipo de carro. Temos carros populares na garagem. Depois de fazer essas coisas que esse veículo não permite, o que você deve fazer?

– Certificar que o câmbio está no ponto morto e puxar o freio de mão – fiz tudo isso e, em seguida, coloquei a chave na ignição.

– E agora?

– Eu piso na embreagem e dou a partida – disse enquanto realizava essas tarefas.

Engatei a primeira marcha e comecei a andar pelo terreno plano. Não havia muito com o que me preocupar, fora a minha mãe que não permitia que eu andasse em alta velocidade. Esse era como o teste de habilitação, mas eu não corria o risco de não passar. No máximo, teria que fazer mais algumas aulas quando voltasse, já que a minha primeira patrulha seria no dia seguinte. Eu estava muito ansiosa, finalmente eles tinham confiança em Carl e em mim para uma missão, porque se dependesse apenas de Scott, já teríamos ido há muito tempo.

– Acho que agora podemos voltar. Você já está pronta para dirigir – minha mãe falou e eu sorri. – Lembre-se: um veículo é uma máquina que atende aos comandos de quem a domina, portanto, tenha sempre em mente o máximo cuidado e consciência de que você é capaz de fazer isso.

– Tirou isso de um livro de autoajuda? – brinquei.

– Não. Meu pai disse isso quando eu tirei carteira de motorista.

– Então foi ele quem tirou isso do livro de autoajuda. Afinal, eu ganhei a carta?

– Claro que sim, agora pare de brincar e preste atenção na estrada.

Quando chegamos à base, Tyreese e Sasha abriram o portão de ferro e eu estacionei o carro na garagem e minha mãe logo saiu para ajudar no almoço, uma tarefa que ela odiava.

Agora eu finalmente poderia dirigir e participar da missão. Isso era muito importante para mim, e para Carl também, que aos poucos ia conseguindo a autonomia que sempre quis. Ele havia incorporado a frase do pai “Não fale, pense” como lema de vida. Ele só se abria mais quando estava comigo, com Scott e Mika. Eu não sabia como ele conseguia, mas Carl continuava usando aquele chapéu. Eu me inspirava nele para ser uma boa irmã mais velha, e eu achava que estava me saindo bem, já que Sam gostava de mim.

Scott deveria ter uns 15 anos, era o mais alto e mais responsável do nosso grupo. Seu rosto foi se afinando com o tempo, e os cabelos ficaram cada vez menos ruivos. Mesmo sendo jovem, ele se comportava como um adulto, o que fazia com que os verdadeiros adultos do grupo confiassem muito mais nele do que em mim ou em Carl. Scott não se parecia com aquele garotinho religioso que eu havia conhecido anos atrás no parque. Não que ele tivesse perdido a fé, ele só havia deixado alguns costumes de lado. Enquanto ainda estávamos no hotel, Glenn e Maggie se aproximaram muito dele, e agora Scott já era um Rhee. Ele cuidava muito bem do irmão mais novo, Hesh, mesmo que o garoto sempre dera muito trabalho.

Mika tinha a mesma idade que Scott, e era a adolescente mais fofa que eu já havia conhecido. Ela havia crescido muito, mas não perdera suas características principais, como o rosto arredondado e os cabelos loiros como Sol. Assim como Scott ela havia arranjado uma família. Mika foi adotada pelos irmãos Tyreese e Sasha. Ela se dava muito bem com a mãe, e seu pai era do tipo superprotetor. Quanto a sua relação com Scott, nada mudou. Eles continuaram muito amigos, mas isso nunca evoluiu, mesmo que todos previssem um futuro relacionamento.

No começo eu poderia ter pensado que perderia espaço para Sam, mas eu adorava ser irmã mais velha, principalmente dele, que era tão responsável que não exigia a minha responsabilidade. Nós nos dávamos bem na maioria das vezes, mas eu costumava achá-lo irritante em algumas ocasiões, ou ficava provocando o garoto para vê-lo emburrado.

– Então, como foi? – Carl perguntou se aproximando.

– Eu consegui!

– E você ainda tinha dúvidas disso? – mesmo com os anos se passando, Carl e eu adorávamos nos provocar. – Adivinha só: vamos ter babás. Daryl e Tyreese virão conosco.

– Que novidade! Eles ainda não confiam em nós! Levar o Scott não serve como garantia?

– Segundo eles, vai ser só uma carona. Eles vão ficar em uma fábrica antes da cidade. Acho que tem a ver com aquela coisa do Eugene, mas eu ainda acho que eles querem ver se vamos nos comportar.

– Sempre desconfiado, Senhor Grimes!

– Você acredita fácil de mais, Senhorita Dixon.

– Não sou uma Dixon! – falei um pouco irritada. Eu gostava de Daryl, mas não era exatamente uma relação de pai e filha. Ele era praticamente um irmão mais velho desleixado. – Nem a minha mãe gosta que o Eugene a chame de Senhora Dixon! Ainda somos Hopper.

– Está bem, Senhorita Hopper! Vamos procurar o Scott e a Mika para o almoço.

*Narrado por Gabriela Hopper

Eu olhava Sam de longe depois do almoço enquanto ele corria com seus amigos, que pareciam brincar de pega-pega.

– Vai mais devagar, filho! – na mesma hora Hesh trombou com Sam e Grace, fazendo com que os três caíssem no chão.

Olhando para trás, nem parecia que conseguiríamos tudo que tínhamos hoje, principalmente depois da invasão do hotel. O grupo se separou, mas logo nos reencontramos. Mesmo assim, acabamos perdendo Patrick para sempre, e o demos como morto. A queda do hotel foi como a da prisão, mas teve um menor número de perdas. Isso nos desanimou, porque parecia que o hotel seria um lar para sempre, mas, no fundo, todos sabiam que nenhum lugar é totalmente seguro no apocalipse.

Passamos semanas vagando na floresta, até que encontramos o grupo de Abraham e, logo em seguida a base militar perto de um lago. Nossas esperanças foram renovadas com isso. Se nenhum lugar era seguro por muito tempo, a base nos pareceu um ótimo lugar temporário até que Sam nascesse, mas acabamos nos fixando no local, e fizemos diversas alterações para trazer mais segurança tanto que, com o passar do tempo, a base se tornou nosso lar e passamos e conseguir nos preocupar com conforto.

No dia que meu filho nasceu eu não estava preparada, mas talvez nunca estivesse. Daryl, Avery e eu fizemos uma lista com possíveis nomes para o bebê, mas, no momento que o segurei tive certeza de que ele se chamaria Samuel, como o meu pai.

Alguns meses depois veio o nascimento de outro garoto, David Hershel, que também recebeu o nome do avô, mas esse nome era raramente mencionado, já que todos o chamavam de Hesh. No parto dele houve mais segurança, principalmente porque já havíamos nos fixado na base. Ele era muito agitado e bagunceiro. Maggie não sabia de onde ele havia puxado essas características, e tinha dificuldade para cuidar dele, mesmo com a ajuda de Glenn e Scott. O garoto era facilmente reconhecido por causa da sua touca preta, que ele usava todos os dias desde que nascera. Glenn havia a encontrado em uma patrulha dias antes do parto, e deu para o filho assim que ele veio ao mundo.

Éramos ao todo dezenove pessoas, sem contar com o filho de Abraham e Rosita que nasceria em breve. Nos dividíamos em três famílias de quatro pessoas, uma de três, outra de duas e Michonne e Eugene, que viviam isolados em suas respectivas tendas. Ainda havia a maior tenda, que era a de enfermagem e outra que usávamos para fazer as refeições. Ao todo eram nove tendas enormes que funcionavam como casas, além do lago, de onde retirávamos água e alguns peixes. Tudo isso dentro dos limites dos muros que foram construídos assim que chegamos ao local, a partir de materiais encontrados na cidade que se encontrava a alguns quilômetros da nossa base.

No começo do apocalipse, eu havia perguntado para Avery e Josh se eles achavam que isso iria acabar. A resposta estava no tempo que se passara. O apocalipse não teria fim, éramos obrigados a conviver com isso ou morrer. As mortes também eram inevitáveis, eu não queria dizer que não conhecia alguém que morreu. Durante os anos que passamos na base militar me esforcei ao máximo para conhecer as pessoas que conviviam comigo, quem eram, a sua história, pelo que passaram. Mais do que apenas pessoas do grupo, eles eram amigos próximos.

Sam era um garoto inteligente e responsável, mesmo aos 3 anos. Ele queria ser exatamente como o pai, e passava grande parte do dia seguindo seus passos, preferindo, muitas vezes, fazer isso do que brincar com os amigos. Ele gostava de se sentir independente e, por mais que isso reduzisse o trabalho que tinha com ele, eu sabia que meu filho estava crescendo muito rápido.

A minha relação com Daryl continuava praticamente a mesma. Não nos considerávamos casados. Por mais que morássemos juntos havia anos e tivéssemos um filho juntos, a nossa relação continuava sendo um namoro, e não havia outra definição para nosso relacionamento. Daryl foi evoluindo com o tempo, e se tornou um ótimo pai, por mais que às vezes sua irresponsabilidade com Sam me irritasse. Eu estava feliz com todas essas mudanças na minha vida e procurava não me sentir culpada com isso, lembrando da conversa que tive com Sarah.

Eu estava um pouco preocupada com Avery, mas confiava nela o suficiente para saber que ela voltaria bem. Assim como eu havia dito a ela, a nossa relação continuou a mesma. Claro que havia uma cobrança maior por ela ser mais velha, mas eu a tratava do mesmo jeito que tratava Sam. Avery continuava a mesma, na fisionomia e na personalidade, apesar de ter se tornado um pouco mais responsável. Rick costumava brincar que, em breve, ela e Carl estariam juntos. Por mais que isso fosse um pouco esperado, eu preferia ver isso como um futuro muito distante, para mim eles sempre seriam os garotos de 13 anos que faziam provocações um com o outro.

Sam se aproximou de mim ofegante e com o rosto todo vermelho. Fiquei o fitando por alguns segundos até que ele conseguiu recuperar o fôlego e falar.

– Mãe... Eu esqueci de falar. A comida... estava muito boa.

– Obrigada, querido – eu sabia que ele iria pedir alguma coisa. Sam aprendeu esse método com Daryl, e até mesmo Avery costumava usá-lo às vezes. Eu sabia que a minha comida era horrível, por isso eu apenas auxiliava no preparo, picando algumas coisas, portanto, eu não fazia a comida.

– O Hesh e a Grace estão no deque. Posso ficar com eles?

– Acho que não tem problema nenhum. Só não pense em entrar no lago, nenhum de vocês sabe nadar ainda.

– Mãe, eu não vou brincar, só vou vigiar. Você sabe que o Hesh sempre se mete em confusão – ele falou com um tom mais sério.

Sam se virou e foi embora. Em sua cintura estava preso o estilingue que Daryl havia feito para ele. Eu não sabia o que ele tinha na cabeça naquele dia para dar esse tipo de brinquedo para o garoto, mas Sam o adorava e era impossível tirar o estilingue dele.

– Estamos começando a preparar o jantar. Você vem? – Sarah me chamou.

Fui até a tenda-cozinha, onde Maggie e Sasha começavam a separar os alimentos. O ruim de ser dona de casa era que as tarefas não tinham fim, mas considerando que não tínhamos nada para fazer, uma ocupação era ótima. Mas eu já estava acostumada, esse era o meu cotidiano.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam da nossa ideia maluca? Pulamos muitos acontecimentos e, como devem ter notado, se passaram 4 anos desde o capítulo anterior, temos novos personagens e perdemos um. Temos muitas coisas preparadas para o futuro, é muito importante para nós saber o que acharam dessa mudança inesperada.
Até o próximo!