Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 50
"Erros" bons


Notas iniciais do capítulo

Bem, chegamos ao capítulo 50, finalmente. Só temos que agradecer aos comentários que tivemos. Sem eles, essa história não teria muita graça. Muito obrigada a todos que leram e nos incentivaram a continuar!
Obrigada pelos últimos comentários, sabemos que estão ansiosos pelo que vem a seguir, então não vamos enrolar muito. Leiam as notas finais!
Boa leitura!



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*Narrado por Sarah West

Gabriela se sentou na cama e eu medi sua pressão, que estava um pouco baixa, mas já voltava ao normal. Eu juntava os sintomas e tentava descobrir o que era, mas parecia ser um grande enigma. Ela continuava insistindo que estava bem, apesar de não conseguir ficar em pé. Maggie abriu a porta lentamente e nos observou com um sorriso preocupado.

– Você está bem? – ela perguntou.

– Sim – Gabriela respondeu e eu lhe lancei um olhar de repreensão. – Quer dizer, mais ou menos – ela cruzou os braços e bufou. – Odeio isso! Odeio que as pessoas fiquem me tratando como uma doente, eu não posso fazer nada! Já estive no hospital uma vez. Eu só tive uma reação aguda ao estresse, mas parecia que eu estava em estado terminal!

– Não sabemos se você está bem ou se é grave, então eu não vou descartar a possibilidade de você estar doente – falei séria.

– Quais são os sintomas? – Maggie perguntou interessada enquanto se sentava na cama.

– Cansaço e tontura, que provocaram um desmaio – respondi. – E creio que uma dor de cabeça.

– Sim, eu estou com dor de cabeça, mas a tontura já passou – Gabriela se levantou novamente, mas colocou a mão na cabeça e fez uma careta.

– Quer se sentar? – falei um pouco irritada com a teimosia dela. Ela parecia mais uma criança.

– Você já tem alguma hipótese? – Maggie perguntou depois que Gabriela finalmente se sentou.

– Na verdade não consigo chegar a uma conclusão. Os sintomas sozinhos não dizem nada, a menos que... – parei um pouco. Maggie e eu lançamos um olhar interrogativo para ela, que ficou sem entender. Maggie tinha um pouco mais de certeza que eu.

– O que foi? – Gabriela perguntou um pouco receosa.

– Quem pergunta? – ela disse animada.

– Gabriela, eu preciso fazer uma pergunta. Você tem que responder com o máximo de seriedade possível e não fique irritada – falei tentando juntar toda a minha experiência médica para fazer a pergunta. – Você acha que pode estar grávida?

– Eu? – ela falou num tom ofendido, como se eu estivesse brincando.

– Sim, você. Seu ciclo apresentou alguma mudança nos últimos dias?

– Com tudo que aconteceu, eu nem liguei muito para isso – Gabriela respondeu.

– Então... – Maggie falou querendo que Gabriela chegasse a uma conclusão.

– Isso não quer dizer nada, apesar de estar um pouco atrasado! – ela tentava se convencer do contrário, mas só então parou para pensar no que tinha acabado de dizer. – Vocês não acham mesmo que eu possa estar... Eu acho que não tenho mais idade para isso... Não, eu não estou!

– OK, mas você está com dúvida. Não custa nada fazer um teste – falei. – Acho que temos um aqui.

– Está bem, eu faço. Mas vocês vão ver, não há possibilidade alguma.

Gabriela pegou o teste e foi para o banheiro. Eu não entendia porque ela parecia estar tão irritada, como se fosse um absurdo. A gravidez era algo absolutamente normal, e eu já havia visto mulheres com idade mais avançada terem uma gravidez até mesmo tranquila. Ela parecia imaginar que isso não era normal para ela, como se a possibilidade nunca tivesse passado pela sua cabeça. Depois de alguns minutos esperando sentada na cama junto com Maggie, que estava tão ansiosa quanto eu, a porta do banheiro se abriu e Gabriela saiu com o teste nas mãos.

– O que significa dois riscos? – ela perguntou confusa. Maggie e eu nos entreolhamos animadas com a notícia enquanto sorríamos, em parte pela confusão de Gabriela, que provavelmente nunca havia feito um teste de gravidez antes. – Parem de rir! Estão me agonizando! Eu realmente achei que poderia estar grávida por causa da reação de vocês...

– Mas você está! – Maggie disse se levantando.

– Estou? Não! – ela se recusava a acreditar e tinha uma expressão chocada. – Já ouvi falar que esses testes não são muito confiáveis, e, além disso, devem estar vencidos!

– O teste não errou com nós duas – Maggie afirmou.

– Além disso, qual é o seu problema com a gravidez? – perguntei.

– Eu não nasci para isso, nunca sonhei com isso, nem pensei nessa possibilidade. Avery me pegou de surpresa, eu nunca tinha pensado em ser mãe. Sarah, você sonhou com isso a vida toda! Eu nunca pensei nisso. Eu tenho uma filha, mas nunca quis engravidar e isso é estranho para mim.

– Quando eu fiquei grávida, você me mostrou porque eu deveria seguir em frente, o quanto isso era bom. Consegue ver sua gravidez como algo bom, assim como me mostrou? – falei.

– Não sei... Ainda estou muito confusa com isso tudo. Eu ainda não consigo acreditar! Talvez não seja algo tão desesperador...

*Narrado por Gabriela Hopper

Saí do quarto com a desculpa de que iria falar com Daryl, mas na verdade eu só queria ficar sozinha para absorver a novidade e tudo que eu havia ouvido. Sarah e Maggie me liberaram depois de darem os parabéns várias vezes pela gravidez e recomendarem repouso por causa da tontura. Gravidez era uma palavra estranha para mim, isso nunca tinha passado pela minha cabeça, mas agora eu estava quase certa de que estava grávida e não sabia muito bem como reagir ou o que fazer. Agora eu já estava um pouco mais calma, e via isso como algo não tão assustador. Assim como eu havia dito para Sarah uma vez, uma vida é uma esperança, e depois de Grace, meu filho seria uma nova vida no mundo, mais uma para provar que ainda existiam esperanças.

De repente me lembrei do que meus pais pensariam. Com toda a certeza meu pai ficaria muito feliz, porque sempre quis ter netos, apesar de eu ter deixado bem claro que isso nunca iria acontecer. Ele mesmo se arrependia de ter tido só uma filha. Meu pai conversaria comigo sobre a responsabilidade de ser mãe e o quanto isso mudaria a minha vida, e que era a coisa mais gratificante do mundo. Já a minha mãe, depois de fazer brincadeiras e provocações devido à minha idade e decisão de não ter filhos, que eram a cara de Avery, ela ficaria muito eufórica. Se existia uma coisa que Barbara Hopper desejava ser na vida, era avó. Seria a melhor avó do mundo para o neto, fazendo todas as suas vontades, e com certeza o estragaria.

Ao pensar em meus pais me veio à cabeça a pessoa que os abandonou quando julgou não precisar mais deles. Eu nunca havia pensado nessa possibilidade, e um dos motivos para isso era o fato de que os meus namoros não eram tão sérios. Os namoros mais sérios que tive foram já depois do apocalipse. Se eu tivesse recebido essa notícia anos atrás, teria me castigado mentalmente por não ter me prevenido, acharia isso um atraso para a minha vida e ficaria semanas pensando no que fazer. Mas no final das contas, aqueles pensamentos pouco me importavam. Mesmo dos jeitos mais inesperados possíveis, eu tinha Avery, Daryl e esse novo filho, que eram as coisas erradas na minha antiga vida certa, eram os meus “erros” bons.

Enquanto subia as escadas em direção ao décimo andar, mas especificamente ao terraço, fiquei pensando em como contar isso a Daryl. Eu não conseguia pensar em nenhuma possível reação dele. Assim como eu, ele provavelmente nunca teria pensado em ter filhos. O que mais me intrigava nele era o fato de não conseguir compreender a mente dele, saber no que ele pensava. Andei receosa até lá, e encontrei Daryl pensativo, apoiado no parapeito.

– Sua filha está preocupada com você – ele começou logo depois que eu me posicionei ao seu lado. – E eu também.

– Não precisa se preocupar, não estou doente – falei para despreocupá-lo.

– Você desmaiou. Tem certeza que não devo me preocupar?

– Eu posso passar mal com frequência nós próximos... – pensei um pouco antes de continuar, e enquanto isso ele ficou me observando com atenção. – Nos próximos nove meses.

– Nove?

– Não sei exatamente, mas deve ser um pouco menos do que isso... – olhei para ele. Daryl estava pálido e paralisado, com um olhar confuso, e não esboçava qualquer reação. – Você está bem? – não obtive resposta, e comecei a me preocupar. Segurei as mãos dele, que estavam geladas. – Daryl! Meu Deus! Você está tendo um ataque de pânico! Respira! Devagar!

Daryl estava visivelmente pálido, sua respiração era irregular e desesperada. Ele começou a respirar lentamente, com os olhos focados em mim. Com o tempo a pele dele foi retomando cor e as mãos voltaram à temperatura normal, mas ele continuou em silêncio, como se estivesse absorvendo a informação.

– Você está grávida – Daryl falou como se tentasse compreender.

– Sim – respondi com calma. – O que foi?

– Não estou pronto para isso – ele parecia inseguro. Eu nunca havia visto ele assim, e não sabia como reagir diante da situação. – Como vou ser um bom pai se nunca tive um exemplo? Não sei se serei um bom pai para ele.

– Não sei se você será o melhor pai do mundo, mas será o melhor para ele – afirmei. Por mais que eu tivesse tido pais excelentes, não tinha a mínima ideia de como criar uma criança pequena, mas eu sabia que ele iria se esforçar ao máximo, assim como eu. – Eu também não estou pronta. Ninguém nasce pronto para nada, isso é uma coisa que aprendemos com o tempo. Sempre tivemos tempo, não é mesmo? Temos uns oito meses para isso.

– Tudo bem. Eu te amo – ele falou me abraçando.

– Também te amo – respondi com os olhos fechados e a cabeça repousada em seu peito recebendo uma sensação de segurança que só ele poderia me passar.

*Narrado por Avery Hopper

Pela sacada pudemos ver uma movimentação no local do antigo jardim, onde estavam iniciando a plantação. Carl e eu saímos do restaurante e corremos até a entrada. Chegamos lá, onde estavam todos reunidos com expressões surpresas e preocupadas. A movimentação deixara Grace assustava, mas o choro dela não era o que chama a minha atenção, e sim minha mãe desacordada, sendo carregada por Daryl. Sarah passou algumas instruções, e logo minha mãe foi levada para um quarto, e todos foram se dispersando ainda surpresos, deixando na sala, além de mim, Carl e Rick, que embalava Grace.

– O que aconteceu? – Carl perguntou.

– Ainda não sabemos. Ela desmaiou de repente – Rick respondeu. – Sarah está vendo como ela está.

– Ave, como você está?

– Só vou ficar bem quando souber como minha mãe está, e se ela estiver bem – disse.

Continuamos em silêncio por um longo tempo. Isso era agonizante, ficar sem notícias e ter que esperar. Aconteceu de forma inesperada, e isso aumentava o meu desespero. Podia ter acontecido algo grave, ou talvez nada. Perdi a conta de quantas vezes contei as lâmpadas do imenso lustre que estava sobre a minha cabeça, enquanto Rick dava voltas na sala para tentar fazer a filha dormir. Eu sabia que precisava esperar. Se fosse algo grave Sarah levaria tempo para descobrir, e se não fosse nada ela teria que constatar se tudo estava bem, e eu fixava isso na minha mente para não me desesperar.

Pareciam ter se passado horas, mas deveriam ter sido minutos. Depois de todo esse tempo de espera minha mãe desceu as escadas com Daryl. Ela parecia cansada e um pouco abatida, mas ao mesmo tempo parecia estar bem. Daryl parecia um pouco preocupado, mas eu preferi ignorar isso para não ficar aflita. Saltei do banco onde estava e esperei que ela se aproximasse.

– Podem nos deixar sozinhas? – minha mãe pediu e os três se retiraram. – Avery, lembra quando me disse que queria ter um irmãozinho? – ela perguntou e eu fiquei confusa. Isso não parecia ter nada a ver com a ocasião, mas apenas confirmei com a cabeça. – Não sei muito bem como dizer isso... Eu estou grávida.

– Você está o quê? Tá de brincadeira, né? – perguntei incrédula, sem esconder isso.

– Claro que não! Você sabe que eu não brinco com esse tipo de coisa!

– Mas... – já era de esperar que isso pudesse acontecer, mas eu não queria isso. A minha vida de filha única era perfeita, e eu nunca quis um irmão mais novo para atrapalhar.

– Você não me disse que queria ter um irmãozinho? – ela tentou entender o que eu dizia.

– Era de brincadeira! Eu brinco com esse tipo de coisa! Você não pode levar o que eu digo a sério! Isso era uma forma de dizer que você precisava de um namorado, e agora você tem um. Não precisava do irmãozinho! – respondi com um tom de indignação e um pouco de revolta.

– Avery, não precisa ficar assim... – ela falou num tom calmo e compreensivo.

– É que... Bem, as mães sempre dão mais atenção para os irmãos mais novos, eu sei disso. E ele vai ser seu filho de verdade, e com o Daryl. Eu só sou adotada. Você vai dar mais atenção para ele – disse com tristeza. Parecia um ciúme bobo, mas eu nunca tive uma mãe de verdade antes do apocalipse, e agora a minha mãe estava prestes a ter outro filho e me deixaria de lado.

– Filha, eu entendo o que você disse, e como deve estar se sentindo, mas não tem porque se preocupar. Você sabe que eu nunca me importei se você tem o meu sangue ou não, eu te amo do mesmo jeito. Eu te escolhi assim como você me escolheu, isso só a torna mais especial. Você é a minha garota e sempre será – dei um fraco sorriso ao ouvir tudo isso. Ela me compreendia perfeitamente, e até estava me mostrando que a situação não era tão ruim como eu imaginava, me deixando mais confortável. – Você é assim, animada, porque eu não te criei. Eu aposto que você seria bem diferente se eu tivesse te criado desde pequena.

– Então devo ter pena do meu irmão? – brinquei.

– Ele vai ter um bom pai e uma ótima irmã, disso eu tenho certeza – ela sorriu e me abraçou. Depois dessa conversa, percebi que essa gravidez não era tão ruim assim. Eu não estava saindo da família, ela só estava aumentando, e com isso toda a minha insegurança ia embora.

– Você está bem? – mudei de assunto.

– Estou grávida, não estou doente! – minha mãe protestou. – No começo eu não queria acreditar que isso estava acontecendo comigo. Nunca pensei em engravidar antes, mas agora parece melhor. A minha família está aumentando. Antes eu era muito solitária, mas agora tenho todos vocês e mais esse bebê.

– Estou feliz por você estar feliz. Você está sorrindo o tempo inteiro e nem percebeu! Sabe, agora também estou gostando da ideia. Quando eu era menor queria muito ter irmãos para brincar e não me sentir tão sozinha. Mesmo que antes esse irmão poderia ser ignorado, teríamos um ao outro. É meio óbvio que agora eu não vou brincar mais, mas eu vou cuidar dele, protegê-lo e ensinar tudo que eu tive que aprender, até algumas coisas erradas que você não vai gostar... e se você está feliz, não sei como não ficar também – quando percebi, havia algumas lágrimas no rosto dela. – Mãe, você está chorando!

– São esses malditos hormônios! Eu nem acredito que vou ficar nove messes assim! – minha mãe limpou as lágrimas com um leve sorriso e depois me abraçou.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam?
Agora finalmente estamos de férias. Hoje será o nosso último dia de aula. Esperamos que vocês se divirtam bastante do período da Copa. Agora poderemos nos dedicar mais tempo para escrever.
Agora vamos iniciar uma nova etapa, onde acontecerão várias mudanças, mas ainda temos que organizar algumas coisas e estamos gostando muito do resultado até agora. Mesmo assim, ainda temos que trabalhar em alguns detalhes. Por isso, não saberemos quando postaremos novamente, se será semana que vem, na outra ou, na pior das hipóteses, daqui a duas semanas. Esperamos que compreendam isso.
Não se esqueçam de comentar, vocês estão nos incentivando muito!
Agora, em relação à gravidez da Gabriela. Já que talvez vamos ficar um tempinho sem postar, gostaríamos de fazer uma enquete.
Qual nome vocês acham que o bebê vai ter?
É uma pergunta bem difícil, considerando que existem milhares de opções. Como o nome já está definido, quem acertar irá ganhar um spoiler de grande ajuda.
Até o próximo!