Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 34
O grito


Notas iniciais do capítulo

Devido ao grande número de pedidos, vamos tentar postar dois capítulos por semana. Planejamos fazer as postagens às quartas e sábados, mas não tem como garantir isso. Como estamos escrevendo o capítulo 40, teremos duas postagens por um tempo até os capítulos acabarem.
O nome do capítulo será explicado na última linha.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423724/chapter/34

*Narrado por Sarah West

Já havia se passado quase três meses e meio da morte de Judith, o tempo voou nessas últimas semanas. Na primeira semana após a morte eu me mudei para cela de Rick. Ele ainda estava muito abalado e eu fazia companhia todas às noites. Nós conversávamos bastante e eu estava sendo quase uma psicóloga. Várias vezes ele acordava com pesadelos vendo Lori e Judith.

Com o tempo a dor diminuía, assim como a frequência dos pesadelos que ele possuía. Carl ainda não havia aceitado a nossa relação, mas de vez em quando ele mandava Avery e Patrick para saber notícias do pai. Isso me parecia um grande avanço, para que, um dia, os dois voltassem a ter o relacionamento que tinham antes.

Rick não usava mais a sua aliança. Não que ela me incomodasse, mas eu ficava feliz por ele ter feito isso por mim. Significava que ele havia superado o passado e estava disposto a começar algo comigo.

– Já acordou? – Rick perguntou. Eu ainda estava deitada na cama de casal improvisada olhando para o teto enquanto ele dormia.

– Sim – respondi depois de me virar para Rick.

– Tive outro sonho – ele falou. A preocupação logo me atingiu. Rick sempre ficava transtornado com esses sonhos, que, segundo ele, eram reais demais. – Mas foi diferente das outras vezes, não era só a Lori e Judy, você e os outros estavam nele. Tudo estava calmo e o Sol estava se pondo no horizonte. Lori me disse que tudo estava bem, que agora com todos mortos poderíamos finalmente descansar.

– Foi só um sonho. Vamos levantar – disse saindo da cama.

– Não podemos ficar mais um pouco?

– Infelizmente não – dei um sorriso e ele se levantou.

Terminamos de nos arrumar e Rick foi direto para a horta, enquanto eu me dirigi ao refeitório Antes que eu pudesse me servir Scott e Mika se aproximaram correndo. O garoto estava com o braço todo ensanguentado e o apertava com força.

– Nós estávamos brincando, aí o Scott arranhou o braço em um ferro lá na entrada do bloco – Mika falou rapidamente e eu me levantei. Fomos até a enfermaria e eu comecei a cuidar do ferimento.

– Está ardendo – ele falou enquanto eu limpava o corte.

– Você já tomou vacina antitetânica? – perguntei.

– Sim, um mês antes de o apocalipse começar.

– Então você deu muita sorte. Talvez a próxima pessoa a se cortar nesse ferro pegue alguma doença.

– Ela vai ficar bem? – Mika perguntou num tom preocupado.

– Claro que vai, ele só precisa tomar mais cuidado. E você, Scott, pode voltar a brincar, mas nada de fazer esforço com esse braço.

– Tudo bem, obrigado! – ele se levantou e saiu correndo junto com Mika.

Doze dias atrás outro acidente havia ocorrido com aquele mesmo ferro, Bob havia cortado o seu braço profundamente. Eu sabia que outro acidente iria ocorrer se não tomassem nenhuma providência.

Voltei para o refeitório com bastante fome, em especial naquele dia. Lá encontrei Maggie e Glenn e passamos algum tempo conversando. Eles eram, sem dúvida, um lindo casal.

*Narrado por Gabriela Hopper

Depois de encerrar meu trabalho na cerca, segui meu caminho até a sala que eu usava para administrar a prisão. Enquanto andava, encontrei Avery dentro da nossa cela.

– Você por aqui em plena luz do dia? – brinquei.

– É, eu esqueci o meu colar aqui dentro – ela explicou.

– Parece que você gostou mesmo do colar.

– Sim, seus tataravós ou qualquer coisa do tipo tinham muito bom gosto.

– Acho que já falamos muito de mim. Que tal você falar do que gostava antes? – sugeri. Eu sabia que a família dela era um assunto delicado, por isso preferi não fazer menção a isso. – Além de música, claro.

– Deixa eu ver... Eu era viciada em Milk Shake de morango com chocolate. Tinha uma loja ótima em Columbus, você deveria ter conhecido. Mas, voltando ao assunto principal, eu também gostava de sair com as minhas amigas, ir ao cinema...

– Qual é o seu filme favorito? – comecei a aprofundar no assunto, e ela mordeu o lábio inferior pensativa.

– Gosto muito dos filmes do James Bond, mas o meu favorito é “007 - Cassino Royale”.

– Só uma pergunta: com quantos anos você assistiu a esse filme?

– 10, por quê?

– Nada, esse filme só é proibido para menores de 14 anos.

– Legal! Você também assistiu? – ela ignorou o que eu havia dito.

– Não! – falei num tom meio ofendido.

– Assistiu sim! – Avery retrucou me provocando.

– Na época em que esse filme estava em cartaz eu fui ao cinema com um “carinha” ver “O Grande Truque” – falei irritada.

– Você no cinema? Você tinha uma vida pessoal agitada! – Avery ergueu a sobrancelha direita. Ela conseguia ser bastante irritante quando queria.

– Poncho indígena! – me voltei para Daryl tentando ignorar o que minha filha havia dito. – Precisamos de você na cerca.

– Só vou porque você pediu educadamente! – retruquei.

– Tudo bem, continuamos a conversa mais tarde – Ave provocou.

– Não, não vamos continuar essa conversa.

– Sabe Daryl, estávamos falando sobre o que fazíamos quando as coisas eram normais, e eu acabei descobrindo que a minha mãe ia ao cinema com “carinhas”. Ela tinha uma vida bem agitada...

– Avery Hopper! – repreendi e ela ergueu as mãos em sinal de rendição.

– Tá, parei!

– Você vem ou não? – Daryl perguntou e eu assenti.

Passamos pelas cercas e notei que ele estava com muita pressa. Depois de um curto tempo de caminhada, consegui questionar o motivo daquela correria.

– O que está acontecendo?

– Veja você mesma.

Quando chegamos à cerca exterior, entendi tudo aquilo. Logo no início já era possível notar que o habitual som dos gemidos era mais forte do que de costume, mas isso não era o pior. Havia vários walkers aglomerados na cerca, muito mais do que o normal. Eles se espremiam e empurravam de maneira selvagem em um espaço minúsculo e pisavam sobre outros mordedores que estavam estirados no chão, como tapetes, mas continuavam a estender os braços na tentativa inútil de nos alcançar. Além disso, tinham os errantes que havíamos matado. Estes eram dilacerados e pareciam fazer parte do chão, mas nesse momento, eles nem chegavam a cair, eram simplesmente empurrados contra a cerca pelos walkers de trás. A cada minuto outras pessoas matavam uma ou duas dúzias deles, mas ao fundo era possível ver que dezenas ainda estavam por chegar. E a cerca, que antes parecia tão firme, rangia com todo aquele peso a empurrando.

Peguei um dos vários facões que ficavam apoiados na cerca de trás e fui em direção à cerca. Por mais que o número de pessoas matando os caminhantes era quase o triplo do normal, talvez não conseguíssemos dar conta de tantos errantes. Os mordedores eram como hidras, nós cortávamos uma cabeça e nasciam duas no lugar. Era um ciclo vicioso que parecia não ter fim.

– Por que tem tantos deles aqui? – perguntei para Sasha sem desviar o olhar.

– Não sei. Eles apareceram ontem à noite. Alguns acham que é acúmulo de pessoas aqui dentro. Talvez os que estão aqui estejam atraindo outros de fora, mas não dá pra saber. Pode ser algo na floresta, mas ir até lá é suicídio.

– Mas e dos outros lados da cerca? A mesma coisa?

– Não, está muito mais vazio.

– Acha que é perigoso?

– Talvez. Estamos providenciando estacas de madeira para tentar segurar o peso, mas por enquanto a cerca está aguentando.

Continuei perfurando a cabeça deles em silêncio enquanto tentava absorver aquela visão terrível. Mesmo matando muitos, eu sabia que mais chegariam depois.

– Se dermos conta disso tudo, seria bom limpar o lado de fora, tirar os corpos – sugeri.

– Seria ótimo. O problema é conseguir matá-los – Sasha respondeu.

*Narrado por Avery Hopper

Parei de correr por alguns segundos. Eu estava fazendo isso praticamente o dia inteiro. Brincar de pega-pega nessa idade poderia parecer algo infantil, mas estava muito legal. O único problema é que brincar de três acabava tornando a brincadeira meio repetitiva.

– Peguei! – Patrick falou ofegante enquanto colocava a mão em meu ombro.

– Quanto agora? Seis a quatro a quatro pro Carl? – falei enquanto tentava respirar.

– É – Carl falou menos ofegante que nós dois.

– Já vai escurecer – disse apontando para o Sol, prestes a desaparecer no horizonte. – Vamos entrar.

– Podemos fazer outra coisa amanhã – Carl sugeriu. – Que tal rouba bandeira?

– É, rouba bandeira de três! – Patrick zoou. - Sei lá! A gente podia chamar aqueles garotinhos.

– Credo! Então vamos fazer outra coisa! – Carl era o que mais recusava aquelas crianças.

– O Patrick tem razão. A gente podia tentar fazer as pazes com eles. O Scott é legal, e se ele anda com eles, talvez não sejam tão chatos – insisti. – Por favor!

– Tá bom! Amanhã a gente conversa com eles, mas não me responsabilizo por danos mentais – Carl se rendeu.

Nos últimos dias, ele estava muito triste. Patrick e eu tentávamos animá-lo. Carl até fingia estar se divertindo, mas qualquer coisa para ele lembrava Judith. A única pessoa que realmente conseguia fazê-lo rir era Michonne, que deixou de lado as missões fora da prisão para conversar com ele. Geralmente eles almoçavam juntos, e eu ficava feliz em vê-lo sorrindo.

Seguimos nossos caminhos e entrei na minha cela. Troquei de roupa e fui para o refeitório, onde minha mãe deveria estar. Caminhei pelo local por um tempo até encontrá-la em uma mesa.

– Oi, mãe – falei colocando meu prato na mesa e me sentando junto com ela.

– Você está vermelha! – minha mãe falou.

– É, eu estava correndo – expliquei.

– Hoje temos carne – ela falou satisfeita.

– É, Daryl caçou um cervo – disse.

– Vou ignorar essa parte do cervo, já que não como carne há muito tempo.

– Por quê? O que você tem contra cervos?

– Você já foi ao açougue e pediu carne de cervo? – eu ri.

– E você já comprou comida vencida? – retruquei.

– Você está respondendo de mais hoje.

– E você está fugindo de mais do assunto – me arrependi de dizer isso quando ela me lançou um olhar severo. Ao longe vi Sarah fazendo o seu prato. Ela se sentou conosco e resolvi puxar assunto. – Como vão você e o Rick?

– Estamos bem – Sarah respondeu com um jeito fofo.

– Adoro casais apaixonados! – falei olhando para minha mãe, que continuava a me encarar como se eu fosse a pessoa mais inconveniente do mundo, e talvez eu fosse. – Desculpa! Esquece o cervo!

– Não estou assim por causa do cervo – ela disse. – Você já pensou que é muito inconveniente?

– Eu estava pensando nisso agora, mas eu já pedi desculpa!

– Tudo bem, você sempre foi assim – minha mãe deu um pequeno sorriso e eu fiquei feliz. Talvez esse ataque dela fosse uma dessas coisas de pais para tentar corrigir os filhos. – Como foi o seu dia, Sarah?

– Scott se machucou – ela falou e eu quase saltei da cadeira.

– Scott? – repeti.

– Ele cortou o braço em algum ferro, mas está tudo bem – suspirei aliviada. – Scott não tem família?

– Não – minha mãe falou com um ar sério. – A mãe o abandonou quando ele era pequeno e o pai morreu no começo do apocalipse. Ele foi adotado por um casal do nosso antigo grupo, mas eles também morreram.

– Uma pena – Sarah falou. – Ele passa bastante tempo com o Hershel e as garotas – eu não sabia disso. – Gabriela, o que houve com a cerca? Tinham muitas pessoas lá.

– Os walkers estão se aglomerando daquele lado da cerca. Talvez ela não aguente tanto peso, mas estão providenciando estacas de madeira para segurá-la enquanto não pensam em outra coisa – ela voltou a falar com aquele ar sério.

Ficamos por pelo menos uma ou duas horas conversando sobre assuntos variados. Houve uma chuva de desejos de uma boa noite para todos (como de costume) e todos se dirigiram para seus blocos.

Subi na cama de cima do beliche e me enrolei no lençol. Era engraçado como eu sempre havia sonhado em dormir na cama de cima, era um sonho idiota, mas eu queria fazer isso, e valia a pena. Eu tinha uma sensação de superioridade, como se eu fosse inalcançável.

Olhei para baixo, mas antes que eu pudesse desejar uma boa noite para minha mãe, notei que ela estava com os braços cruzados olhando para os meus tênis.

– Você é neurótica, sabia? – falei jogando os tênis no chão.

– As meias também.

– Estou dormindo – me deitei novamente e fechei os olhos.

– Tudo bem, não vou perder meu tempo com isso. Estou cansada de mais por causa daquela cerca. Boa noite.

– Boa noite.

– Você não estava dormindo?

– É mesmo!

Minha mãe não perdia seus costumes, mesmo no apocalipse. Ela ainda olhava datas de validade nos alimentos e continuava tentando manter os hábitos até o máximo. Na maioria das vezes era engraçado, mas eu entendia seu lado. Ela passou três décadas da vida dela vivendo normalmente, não deve ser difícil abandonar esses costumes. Provavelmente é como aprender uma nova língua ou algo do tipo.

De certa forma, fiquei feliz pelo súbito ataque de boas maneiras dela. Para mim, significava que ela se importava comigo e estava tentando me dar uma boa criação.

Eu até queria dormir, mas não conseguia. Prestar atenção no silêncio e nos poucos ruídos que havia nessa noite parecia uma tarefa mais interessante. Ao fundo, eu podia ouvir grilos a uma enorme distância. Também havia aqueles gemidos irritantes de walkers na cerca, mas eles pareciam mais ferozes. Às vezes eu podia ouvir passos ou sussurros em celas próximas.

Um estrondo forte ecoou pelas paredes acinzentadas do bloco, isso fez meu corpo entrar em estado de alerta imediatamente. Inicialmente não me levantei da cama, apenas fiquei parada esperando que outra coisa acontecesse, minha mãe também não tinha se movido.

Dois ou três minutos depois veio um grito. Um grito agudo e muito forte.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estamos deixando um suspense no ar, mas talvez vocês saibam o que aconteceu. Comentem a sua opinião!
Até o próximo!