Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 3
Mudando de vida


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora. Esse capítulo é antes do que aconteceu com a Gabriela até a hora em que ela e a Avery se encontram.
Boa leitura!



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*Narrado por Avery Dickens

Eu voltava para casa depois de um longo dia na escola. Estava escutando música (AC/DC-Highway To Hell, para ser mais exata). Além disso, eu segurava toda contente a prova de matemática que foi aplicada semana passada, na qual toda a turma foi mal, menos eu, que tirei a nota máxima. Isso era muito raro, considerando que a professora não era tão amigável.

Eu sabia que não deveria estar muito feliz por isso, já que meu pai provavelmente iria dizer “Parabéns, não fez mais que a sua obrigação”, era sempre assim. Foram raras as vezes que ele me elogiou, acho que a última foi no concerto da escola, em que todos me parabenizavam pela “bela demonstração de violino”.

Cheguei em casa, ela estava muito silenciosa (claro, só haviam duas pessoas lá no momento). Peguei a minha chave a abri a porta.

– Pai! Adivinha quem tirou total na...

– Fica quieta! – ele me cortou enquanto falava no telefone. – Rebecca, liga a TV. O General vai fazer um pronunciamento.

– Mãe, olha a minha prova! – pedi enquanto ela ligava a televisão.

– Filha, faz o que o seu pai pediu. Acho que é importante. – claro, os pedidos do meu pai, para ela, eram uma ordem.

Sentei-me no sofá, longe do meu pai, e joguei a prova de volta na mochila.

– Esse poderá ser o primeiro comunicado de muitos. Trago um aviso muito importante, que deverá ser seguido à risca. Houve um surto grave de um vírus desconhecido, e a população corre risco. Não sabemos se outros países foram afetados, pouco sabemos sobre isso. Todos devem ir para hospitais, escolas e abrigos, onde unidades especiais do Exército poderão proteger a todos. – eu fiquei assustada com o que o general falou. Irônico, eu havia acabado de sair de uma escola.

– Pai, por que você não vai proteger esses lugares?

– Porque não fui selecionado. Além do mais, tenho uma família para proteger.

– Pensei que eu não fosse sua filha...

– Avery, não é hora de fazer piada. Não vê o que está acontecendo? – minha mãe sempre defendia meu pai, sempre foi assim.

– Eu não sei! Ele não explicou nada! Falou que tem uma coisa acontecendo e que temos que nos abrigar! O que estamos fazendo aqui e não na escola? O que esse vírus faz?

– Não vamos a lugar algum! Esses “abrigos” vão lotar. Se uma pessoa infectada entrar lá, já era! – meu pai gritou.

– Tá, não precisa gritar, mas o que o vírus faz?

– Transforma as pessoas em mortos-vivos.

– Tipo os dos filmes? – me animei um pouco.

– Avery, isso é sério! Bem pior que os dos filmes. Não existe cura! Se você for mordida, já era! – ele se irritou novamente.

– Eles... mordem?

– Filha, por que não percebe que isso é sério? Já estudou a peste negra? É pior que isso! – minha mãe me explicou. – John, o que vamos fazer?

– Ficar aqui. Temos que buscar suprimentos. Os supermercados vão lotar. Rebecca vá comprar comida enquanto eu vou buscar armas.

– E eu?

– Fica aqui. – meu pai falou saindo.

Aquilo não fazia sentido! Parecia um filme de terror e eu tinha que ficar em casa! 13 anos não significam nada para eles? Já posso fazer compras no supermercado! Todo mundo sabe que o assassino pega as pessoas sozinhas e desprevenidas e era o meu caso agora!

Meu pai sempre falou que eu não era filha dele e que minha mãe traiu ele. Dizia que eu era incompetente demais para ter o sangue dele. Agora, na hora de realmente servir o país, ele dizia que tinha que proteger a esposa e a filha que nem é dele? Se ele é tão competente assim, porque nunca fez o exame de DNA? Nem precisa, meu tipo sanguíneo é o mesmo do dele, a mesma cor dos olhos e quase a mesma fisionomia!

Esvaziei minha mochila e comecei a pegar algumas coisas. Eu tinha esperança que meu pai estivesse errado e nos levasse para minha escola, onde eu teria alguém pra conversar.

Subi para o meu quarto e comecei a revirar as gavetas. A primeira coisa que peguei foi o meu violino (presente do meu avô). Depois encontrei meu taco de beisebol (também do meu avô, que brigou com o meu pai porque ele dizia que beisebol era coisa de homem). Se meu pai estava pegando armas, seria para matar os mordedores, e, como eu não sabia atirar (nem pretendia aprender), precisava me defender. Também peguei um relógio de corda, que ganhei da minha avó materna.

E por último peguei meu MP3 e umas pilhas. Eu não vivia sem música. Depois, o essencial, minhas roupas. Dei espaço para as mais confortáveis e acabei pegando sete conjuntos (um para cada dia da semana).

Meu pai chegou carregando uma bolsa de armas. Não sabia como deixaram pegar tantas, mas elas estavam lá.

– O que tem aí? – sempre quis ver uma arma de perto.

– Alguns rifles, pistolas semi-automáticas, armas de longa distância com mira e muita munição. Não encoste em nada!

– Tudo bem... Cadê a mamãe?

– Deve ter pegado uma fila nas compras.

Mais tarde, minha mãe voltou com umas sacolas cheias de alimentos não perecíveis (principalmente enlatados).

Ela preparou a janta com o que já tínhamos em casa (enquanto isso meu pai nos passou algumas instruções dadas pelo Exército), então eu tomei banho e fui dormir. No dia seguinte, acordei um pouco mais tarde que o normal, pensando que havia me atrasado para a escola, mas ela deveria estar lotada, não teria aula.

– Mãe, que horas são? – desci depois de trocar de roupa.

– Onze horas, por quê?

– Onze!? Eu dormi de mais! E a escola, como fica?

– Avery, olha pra mim. – me virei para o meu pai. – Se você não entendeu, acabou escola, sua vida mudou agora.

–Tá - lamentei.

O telefone tocou. Se nossa vida mudou, por que ainda tinha telefone? Tudo parecia tão normal! Eu precisava ver uma coisa estranha para aceitar tudo isso. Olhei pela janela e procurei alguém na rua. Não haviam pessoas nem carros, ela estava deserta. Nem os pássaros estavam lá.

Columbus era uma cidade média, mas isso não significa que as ruas sejam desertas. Nessa cidade, não era como o interior em que todo se conheciam. Eu sabia o nome de poucas pessoas, as que moravam perto de mim ou pertenciam ao meu cotidiano. Era quase impossível conhecer metade das pessoas.

Meu pai ligou a televisão e notei que aquele mesmo general falava. Bem que ele disse que iria se pronunciar mais vezes...

– ... Aconselhamos a todos que o local mais seguro para se proteger disso são as grandes cidades. Juntem um grande estoque de comida e materiais de higiene pessoal e vão para as grandes cidades, onde temos vários soldados para defesa e os médicos estão estudando essa infecção. Se, por ventura, encontrarem um deles, matem. O segredo é atingir o cérebro.

– Viu, os abrigos encheram, agora vão fazer o mesmo nas cidades.

– O que vamos fazer? Passar o resto de nossas vidas trancados em casa? – perguntei.

– Não seja dramática! Tem uma ideia melhor? – minha mãe perguntou.

– O papai poderia usar as armas para matar eles.

– Não vou gastar munição com dois deles. Se um dia a casa for cercada, eu atiro.

Olhei pela janela e vi que dois deles estavam vagando pela rua. Tomei um grande susto, eles eram como os dos filmes. Tinham muito sangue e pareciam mordidos. Só agora podia entender as coisas.

– Podemos matar eles? Eu posso usar meu taco de beisebol! Deixa!

– Vamos lá. – meu pai finalmente aceitou uma sugestão minha.

Fomos para o lado de fora e meu pai preparou o rifle.

– Se você precisar de ajuda, me avisa que eu atiro.

Fui toda confiante em direção ao mais adiantado. Me posicionei e comecei a bater na cabeça dele. O sangue começou a escorrer depois de quatro pancadas.

– Que nojo! Mãe, você viu?

Me virei pra trás e vi um bando deles do outro lado da rua. Meus pais se voltaram pra mim e começaram a correr para dentro de casa. Eles estavam próximos de mais, e havia um na porta. Meu pai atirou nele, mas outro o surpreendeu por trás.

– Avery, corre! – minha mãe gritou.

– Pelo menos podemos salvá-la... – ouvi meu pai dizer de longe.

Dei um fraco sorriso. Não conseguia olhar para trás. Ouvi alguns gritos de dor e lágrimas escorreram pelo meu rosto. Para onde eu iria? Como alguém de 13 anos pode sobreviver sozinha?

De tanto correr, nem notei que estava em um cruzamento da 185 com a estrada que levava ao parque. Eu já havia passado uns dias lá com meus avós. Algo me disse que eu deveria ir por lá, talvez fosse a vontade de voltar para aquelas lembranças, com esperança de que eles estariam no parque.

Olhei para trás e vi um bando maior que o outro vindo em minha direção. Eles emitiam gemidos horríveis. Isso me lembrava aquela música que ouvi no dia anterior, “Highway to Hell” (estrada para o inferno ). O pior era que eles vinham em minha direção, não dava para matá-los.

Olhei para o lado e vi um posto de gasolina. Eu estava com fome, já deveriam ser umas duas horas da tarde, ou mais. Corri até lá e me escondi por um longo tempo. Quando me levantei para olhar, só pude ver um deles se perdendo no horizonte.

Encontrei uma máquina de lanches naquele posto. Não pensei duas vezes e quebrei o vidro com meu taco de beisebol ensanguentado. Eu não tinha dinheiro, e ele não valia mais nada. Minha vida não tinha mudado?Eu tinha que me adaptar à mudança.

Enchi minha mochila (que não saiu das minhas costas desde que saímos de casa para matar os walkers) com todas as barrinhas de cereal, chocolates e salgadinhos que estavam na máquina.

Eu já estava cansada, então fui andando pela estrada enquanto comia. Horas depois, já estava escurecendo e eu não me agüentava em pé. Sem querer, soltei o taco no chão. Me joguei no chão de tão cansada e peguei ele.

Quando ia me levantar, um carro grande veio de trás e freou bruscamente para não atropelar a coisa no chão. No caso, eu. Mesmo não me atropelando, ele esbarrou em mim e eu caí no chão de novo. Peguei a mochila e vi que o carro havia acertado meu violino e a corda soltou.

A porta do carro se abriu e uma pessoa saiu dele. Guardei o violino e tentei me levantar, mas, antes disso, a mulher que estava dirigindo levantou um machado, pronta para cortar a minha cabeça.

Ela era louca. Sem conseguir pensar em como fugir, dei um grito. Ela se assustou e abaixou o machado.

– Não me mate! Não vê que estou viva? – gritei novamente depois de me recuperar.

– Desculpe, eu pensei que... – a louca tentou se desculpar.

– É, mas quase me atropelou. Já pensou em andar com o farol aceso? – falei.

– E o que você estava fazendo sentada no meio da estrada?

– Se você não notou, meu taco de beisebol caiu, e eu fui pegá-lo. Aliás, você bateu o carro no meu violino e uma corda soltou.

– Me desculpe – ela parecia bem assustada, claro quem não estaria? – O que você faz sozinha? Onde estão seus pais?

– Estão mortos – me lembrei do que meu pai falou antes de morrer, e olhei para o chão para não encará-la. Depois me voltei para ela.

– Eu sinto muito.

– Nada disso teria acontecido se você andasse com os faróis acesos! – eu não gostava de pensar naquilo, então mudei de assunto.

– E para onde você vai? – ela perguntou enquanto eu entrava no carro – Espera...

Você me deve essa. Quase me atropelou. Vai me deixar sozinha na estrada, com eles?– falei tirando a mochila das costas.

– Claro que não, é que...

– Você prefere ficar sozinha? – abri a porta do carro tentando fazer chantagem emocional, sempre funciona, menos com os meus pais.

– Não, pode ficar! É que eu nem sei seu nome.

– Avery Dickens. E você é?...

– Gabriela Hopper. Você costuma ser irritante com todos? – eu? Irritante?

– Não, só quando conheço pessoas hostis – brinquei.

– Hostil? – ela se sentiu ofendida.

É, se sinta ofendida, você atropelou meu violino! – brinquei colocando a corda do violino de volta no lugar. – Você está indo para onde?

– Atlanta. Mas não dá pra chegar lá hoje. Talvez de noite, ou de madrugada. Não dá pra dirigir duas horas diretas.

– Se você me ensinar a dirigir... – ia ser legal aprender a dirigir.

– Quantos anos você tem? 12? – 12? Eu não sou tão nova assim!

– 13 anos! E seis meses!

– Como se seis meses fossem me fazer mudar de ideia. Com certeza, não – ela deu a partida e se voltou para a estrada.

– Pra que serve o taco de beisebol? - ela perguntou.

– Pra jogar beisebol! - falei ironicamente. - Uso ele para matar os walkers.

– É como você os chama?

– Sim. Eles só andam e mordem. Chamam eles de walkers, caminhantes, mordedores... Chame do que quiser.

– Bem, acho que tenho muito a aprender com você - fiquei feliz com o comentário dela, pelo menos alguém reconhecia meu trabalho e pude ver que ela não era tão louca assim.


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Notas finais do capítulo

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