Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 18
Novo mundo


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo, como prometido. Teremos mais dois essa semana.
Muito obrigada pelos comentários, visualizações (já passamos das 500), favoritos e recomendações!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423724/chapter/18

*Narrado por Joshua Harris

Já fazia algumas horas desde que saímos em busca de mantimentos e gasolina. Estava escuro e era melhor parar para descansar, porém estávamos no meio do nada.

Olhei para Scott ao meu lado, ele segurava o rifle apontado para baixo com uma expressão séria no rosto. Era evidente que os pensamentos dele haviam mudado, mas a fé em Deus persistia, mesmo que isso não o impedisse de tomar certas atitudes.

– Está cansado garoto? – perguntei.

– Um pouco – ele respondeu. – Mas não dá para descansar agora, temos que achar um lugar melhor, quem sabe nós achamos uma cidadezinha?

– Seria muito bom, também estou cansado – falei.

Continuamos andando. A escuridão atrapalhava um pouco a visão, mas eu pude ver algumas construções que não estavam muito distantes. Quando chegamos, havia um posto de gasolina com uma lojinha e uma mercearia.

Fomos até o posto, peguei a lanterna na minha mochila e comecei a vasculhar o local à procura de algum galão, enquanto Scott, sem dizer nada, foi até a lojinha do posto. Eu nem precisava falar nada, ele já sabia o que fazer. Scott já tinha experiência no quesito sobrevivência e sabia exatamente o que fazer, na hora certa e do jeito certo.

– Josh! – escutei a voz rouca dele me chamar.

Corri para a lojinha do posto. Poderia ser algo grave, ele poderia estar cercado de errantes. Cheguei lá e encontrei Scott na porta com a arma apontada para um homem, ou melhor, um garoto com cabelo loiro escuro, de vinte e poucos anos e estatura mediana. Ele levantava as mãos, em sinal de rendição, e arregalava seus olhos azuis.

– Pode abaixar a arma – falei e Scott me obedeceu. Era a primeira vez que encontrávamos outro sobrevivente. Tanto eu quanto o garoto estávamos apreensivos, o que era mais evidente no rosto dele. Eu não sabia o que esperar das pessoas que poderíamos encontrar. Como professor de História eu sabia como as pessoas poderiam mudar, principalmente em situações extremas como essa.

– Obrigado – o rapaz falou abaixando as mãos. – Há mais de vocês lá fora? Digo, estão em grupo?

– Não exatamente – respondi a pergunta dele, porém o rapaz continuou confuso.

– Nos separamos do grupo – Scott disse tirando o semblante sério do rosto. – Viemos buscar mantimentos.

–Claro – ele disse ainda assustado com a abordagem de Scott.

–Bem desculpe pelo modo com que o Scott o abordou, nós não sabíamos o que esperar – falei.

–Não, tudo bem, algumas pessoas mudaram muito. Creio que não seja o caso de vocês. A propósito, sou Lewis Carter.

– Me chamo Josh.

– Muito prazer – Lewis disse apertando a minha mão.

– Então, seu grupo está muito longe?

– Um pouco. O nosso carro ficou sem combustível no meio da estrada. Pedimos para elas ficarem esperando enquanto não voltamos.

– Se quiserem, eu tenho um bom lugar para passar a noite – ele convidou e não tinha como recusar.

– Claro! – respondi e começamos a segui-lo.

Depois de andar um pouco, encontramos um pequeno celeiro branco. Ele parecia meio desgastado, mas era o melhor que tínhamos.

Scott se acomodou num canto e dormiu rapidamente. Sentamo-nos em montes de feno que se encontravam no centro do local. Era desconfortável, porém melhor do que sentar no chão.

“Eu vi o apocalipse, vi como todos mudaram. Agora são apenas corpos andando por aí.”

Era o que estava escrito na parede. Lewis notou o meu interesse por aquelas palavras que tinham tudo a ver com a nossa situação. Era isso. As pessoas passaram por muitas mudanças, e algumas delas não resistiram e se juntaram ao enorme grupo de corpos que vagavam sem rumo por aí.

– Esse celeiro não é meu. Quando eu cheguei, já estava escrito. Filosófico, não? – ele comentou.

– É um resumo de tudo! – falei impressionado.

– Esse garoto, o Scott é seu filho? – ele perguntou curioso.

– Não, é um vizinho da minha namorada. Salvamos ele.

– Então quantos são os sobreviventes do seu grupo?

– Bem, tem a Gabriela, minha namorada, e a Avery, filha dela – respondi. – Fazíamos parte de um grupo muito maior, éramos doze pessoas até que fomos atacados. Perdemos muitos naquele dia.

– Sempre fui só eu – Lewis disse. – Foi até bom encontrar vocês, eu estava ficando louco, não falo com alguém há muito tempo.

– Acho melhor você dormir, eu posso fazer a vigia – sugeri.

– Não eu faço a vigia, tenho tido insônia nesses últimos dias – ele disse. – Não será nenhum problema para mim.

Peguei um pouco de feno e fiz uma espécie de travesseiro. Lewis foi para o pequeno segundo andar do celeiro e ficou observando a janela. O cansaço era tanto que logo consegui pegar no sono. Outra coisa que contribui para eu conseguisse dormir rápido foi a sensação de estar em um local seguro.

De repente senti alguém tocar meu braço e balançá-lo com força. Abri os olhos bruscamente e vi Lewis ao meu lado.

– Temos que sair daqui! Há vários mordedores cercando a entrada e a porta está cedendo!

Corri para acordar Scott. Pegamos nossas armas e procuramos uma saída. No fundo do celeiro havia uma escada que levava para o telhado, a única rota de fuga. De repente, a porta começou a balançar com mais força e foi derrubada. Muitos caminhantes estavam invadindo. Nós três não conseguiríamos matá-los.

– Vão! Eu seguro eles! – Lewis gritou.

– Vem com a gente! – Falei.

– Não dá, alguém tem que mantê-los ocupados! Alguém tem que se sacrificar. Vão!

Scott já estava na metade das escadas. Eu fiquei no início delas observando Lewis abater alguns errantes. Ele olhou para mim, sorriu e fez um gesto para que eu fosse embora. Comecei a subir sem olhar para trás, porém com um peso na consciência.

Muitas coisas me mudaram nesse tempo, mas nada foi tão significativo quanto aquele gesto. Às vezes é necessário fazer sacrifícios. Não eram muitas as pessoas que teriam coragem de se sacrificar por um desconhecido.

Eu e Scott chegamos ao topo do celeiro. Não era muito alto. Ele foi primeiro a escorregar pelo teto e atingir o chão. Fiz o mesmo e me posicionei ao seu lado.

– Pra que lado vamos? – Scott perguntou.

– Vamos por ali – apontei para a direção contrária à porta do celeiro.

– O Lewis não vem?

– Ele ficou – respondi e ele suspirou e olhou para baixou.

– Ele está em um lugar melhor, o Senhor reservou um lugar bom para as pessoas que sofreram, tenho certeza – ele dizia isso sempre que a morte nos alcançava.

Começamos a andar sem rumo em silêncio. Estava muito escuro, e de vez em quando encontrávamos um ou dois walkers, que matávamos sem atirar. Precisávamos contar com a sorte para poder reencontrar Gabriela e Avery.

*Narrado por Avery Dickens

Andamos a noite toda sem parar para nada. Eu já estava cansada, era como se meus pés fossem feitos de chumbo ou qualquer outro material pesado. Gabriela, que estava ao meu lado, também aparentava sinais de cansaço, ambas estávamos exaltas depois daquela “fuga”.

Ao andarmos um pouco mais encontramos uma “cidadezinha” em volta da rodovia. Havia um posto com uma lojinha e uma mercearia. Nos dirigimos para a mercearia, famintas e extremamente cansadas.

Ela possuía vidros estilhaçados e a porta arrombada, indicando que um sobrevivente já poderia ter usufruído dos benefícios da loja. Com sorte poderíamos achar comida e outras coisas úteis. Por dentro a mercearia não era tão destruída quanto na entrada, as prateleiras estavam em ordem com exceção de alguns mantimentos revirados. O chão, as paredes e as prateleiras estavam todos empoeirados, de modo que nossas pegadas ficavam cravadas no chão. Sem contar as inúmeras teias de aranha que mostravam o abandono sofrido desde o começo do apocalipse.

Minha mãe foi direto para as prateleiras, enquanto eu passei meus olhos por toda a loja à procura de algo que me chamasse atenção e logo avistei. Fui até o caixa onde havia várias camisas, entre elas uma preta da minha banda favorita.

– Uma camisa do Queen! – exclamei. – Posso ficar com ela?

– Claro – ela respondeu pegando um enlatado e observando a data de validade. Os hábitos dela não mudavam. – Pegue tudo que precisar.

– Eu preciso disso.

Tirei a blusa do cabide e a observei, era preta com o escrito Queen em dourado. Ao redor do símbolo da banda havia nomes escritos em dourado, os nomes dos integrantes do Queen. Enfiei a blusa na mochila e continuei olhando o balcão à procura de algo útil. Acabei encontrando chicletes, não era algo útil, mas ela havia dito que eu podia pegar o que precisasse e com certeza eu precisava de um.

– Nossa! Há quanto tempo eu não vejo um chiclete! E chiclete, eu posso pegar?

– Se fosse no tempo normal eu não te deixaria pegar, você nem viu a data de validade – ela falou. – Mas contando que você não vê um desses há quase um ano e meio, pode sim.

Sorri para ela, que não devolveu o sorriso. Gabriela passou os olhos pela loja à procura de algo um tanto assustada.

– Ave, você não passou por ali, passou?

Olhei para onde ela apontava. Havia algumas pegadas de botas bem grandes, nada parecido com as pegadas das botas de Gabriela e dos meus tênis.

– Eu não passei por lá – respondi.

Assim como ela, comecei a procurar por alguém ou até mesmo um walker naquela loja, mesmo que aqueles passos não fossem arrastados. De repente, um homem de cabelos negros e olhos castanhos chegou por trás de Gabriela e apontou uma arma na cabeça dela.

– Não se mexam – o homem falou e ao meu lado surgiu uma mulher que também estava armada. – Passem as armas, as de fogo primeiro.

Ela obedeceu e lentamente tirou a pistola que Josh havia lhe entregado de sua bagagem de mão e deixou no chão. Depois fez a mesma coisa com seu machado e eu imitei deixando meu taco de beisebol no chão.

– Muito bem, agora nos acompanhem – o homem ordenou recolhendo as armas.

Seguimos pela rodovia até chegarmos a um carro popular prata no acostamento. Lá fomos “gentilmente” empurradas para dentro do carro. Logo em seguida fomos amarradas nos pulsos com pedaços de pano.

– Por que estão fazendo isso? – perguntei impaciente e irritada. Por que eles estavam retirando nossas armas e nos amarrando? Eu não sabia com estava o mundo fora daquele parque, mas meu pensamento era de que a humanidade deveria se unir parar lutar contra a ameaça maior. E o que estava acontecendo não tinha nada a ver com união em prol da sobrevivência.

– Cala a boca garota! – a mulher de olhos castanhos me olhou enquanto quase berrava comigo.

– Vem tampar então! – exclamei irritando ela. Até agora eu não entendia o porquê de tanta hostilidade que nós estávamos recebendo. Não havíamos feito nada para ela e nem pretendíamos fazer. A mulher avançou em minha direção adentrando na parte de trás do carro, porém o homem a segurou pelo braço.

– Fica calma – ele pediu soltando o braço da mulher e depois se virou para Gabriela. – Controle sua, sua...

– Filha – minha mãe falou com a calma que faltava em todos nós.

– Eu não quero ouvir nenhum “pio” – a mulher de longos cabelos castanhos disse – Eu dirijo, não vou ficar atrás com essa loirinha.

Eu estava prestes a mostrar a língua para aquela mulher, o que era um ato infantil, porém isso iria irritá-la ainda mais. Minha mãe me repreendeu com os olhos. O homem se sentou entre nós duas e a mulher arrancou o carro em direção ao norte. A estrada estava deserta e a paisagem era sempre a mesma.

Deveria ter se passado mais ou menos três horas que o carro rodava na estrada. Fazia muito calor, sem contar com a fome que eu sentia.

– Pra onde estão nos levando? – sabia que não era para abrir a boca, mas eu precisava saber.

– Logo vocês irão saber. Só vai levar algumas horas – o homem falou.

– Horas?!

– Fica quieta garota! – a mulher gritou.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Lewis Carter: http://www.thehollywoodnews.com/wp-content/uploads/iain-de-caestecker.jpg
Continuem comentando e até quarta-feira com a continuação desse capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Born to Die" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.