Fire escrita por Lolis
O copo de café apertado entre os dedos finos e delicados, com unhas longas precariamente cobertas por um esmalte escuro que se desbotava. A fina corrente prateada contornava o pulso fino e pálido.
- Você acha que será terno? – Murmurou. – Digo, que... Não virá até nós?
- Virá. – Ele lhe respondeu. – Mas estaremos pronto.
Ela cravou os olhos de esmeralda nele. Queimavam como brasas, como o fogo, cálidos e belos, numa sintonia silenciosa de beleza breve e doce. Tudo nela era tão absurdamente único e peculiar que ainda o surpreendia.
Os dedos ágeis dele, como convinham a um apanhador, traçaram um caminho rápido até os fios de cobre, presos por uma fita clara. Puxou-a com delicadeza, deixando que os fios contornassem os ombros frágeis.
- Eu levei tempo para prendê-los. – Ela murmurou, colocando o café ao chão.
- Eu sei. – Ele sorriu zombeteiro.
Não tinha fogo apenas nos olhos, mas nos cabelos de cor ferrugem, acaju suave e quente – e o fogo não pode ser contido. Ela não podia ser contida em sua coragem grifinória, tão bela sob a luz prateada da lua que penetrava por entre as cortinas.
Não eram necessárias palavras demais, nem gestos demais. Era apenas um olhar, castanho no verde, e os lábios roçando-se na dança pura que mantinham entre si. Era preciso um sorriso, um curvar de lábios e estariam bem.
Ele nunca se permitiria perdê-la. Porque ele nunca suportaria viver sem os olhos cálidos e inocentes, que pareciam ver sempre o lado bom, sempre um otimismo surpreendente. Nem os cabelos de fogo, porque, oras, ele também era fogo. Ele também era incontrolável.
E quando, por fim, consumiam-se, o mundo rendia-se a fúria que os tomava, ao poder sublime de duas almas entrelaçadas em vidas tão distintas, no crescer rápido demais em uma guerra. E as cicatrizes que as perdas e os ganhos deixavam eram imensas, inimagináveis.
James poderia perder tudo, menos os olhos dela. Menos ela, tão segura e tão confiante, tão cheia de si e pronta para qualquer coisa – porque Lily nascera para a grandeza. Não a grandeza maculada pelo ódio ou pela ganância, mas pela grandeza natural dos passos elegantes e dos gestos imperativos. Pela grandeza natural que possuía, de como era capaz de ter tudo que desejasse e mesmo assim ser tão simples.
A complexidade dos olhos dela instigavam-no a desvendar os mistérios das palavras doces que aqueles lábios rosados proferiam. A cada instante, James só desejava mais e mais, desejava que ela pertencesse eternamente a ele.
Mas o eterno era mutável, era hipócrita – e a sua eternidade lhe foi arrancada. Era inevitável que a grandeza dela não cobrasse seu preço, mas ele estava disposto a pagá-lo. A dar sua própria vida na tentativa de salvar o fogo em que os olhos dela brilhavam, os olhos que o seu filho possuía.
Ele não era grande, não era excepcional – e todos os seus erros resumiam-se em amar demais. Em erros tão corretos que o assombravam, que o tornavam tão pronto para o que enfrentaria nos anos seguintes.
Porque o fogo queima, não só a si mesmo, mas a tudo que o rodeia. Não há chance de pará-lo. Ele consome, ilumina, e, por fim, extingue-se.
"Porque a grandeza vai muito além da vida, da morte ou das nossas escolhas. Ela está incutida em quem nós somos, e escolhe suas vítimas a dedo, porque cada um só recebe aquilo que pode suportar."
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
essa foi uma das fics que eu mais gostei de escrever, porque foi natural, foi propícia e... Ah, seilá ♥