Waiting For The Impossible Girl escrita por Harpia


Capítulo 6
Planos




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Amy enrolou-se nos cobertores da cama de Clara e se reconfortou com seu perfume, mesmo deixando rastros de seu pranto nas fronhas dos travesseiros. Sabia que ela desistiria dela, todos desistiam e não a aceitavam, então não seria nenhuma novidade, mas doeria, pois ela se apegou e levaria eternidades até que superasse sua perda. Sua maquiagem estava parcialmente borrada e seu cabelo estava completamente bagunçado como prova de que quanto mais evitasse a dor, não tardaria até que ela a apunhalasse. Do que adiantava se tornar forte o suficiente para seguir em frente, mas não ser forte o suficiente para encarar seu passado? Não fazia sentido, ela tinha de enfrentar seus demônios e perdoá-los, assim, não os temeria mais. Uma hora eles se cansariam de tentar destruir uma alvo imbatível, partiriam e deixariam-na em paz. Uma última lembrança se projetou - Amy se prometeu de que seria a última - por trás de suas palpebras fechadas, pondo sal sob suas feridas.

Num cemitério atrás da capela de sua cidade natal, ela ansiosamente estava sentada em cima de uma lápide enquanto seu namorado enchia uma seringa com heroína e aplicava no braço; houve uma vez que por falta de informação aplicara na veia da costa da mão e um hematoma se formou porque a veia ficou obstruída. Mordendo o lábio na expectativa de usar a droga, seus olhos de pupilas dilatadas estavam pintados com sombra esfumaçada. Amy sentia vergonha de se arrepender de ter dado uma desculpa convincente à seus pais de que iria sair para jantar com a família de uma amiga; e claro que não era verdade, os dois sempre iam àquele recanto sombrio para se drogarem. Seu passado era sujo e ela se sentia suja também toda vez que se lembrava de que ele o pertenceu. Desejava ter conhecido Clara antes ou pelo menos nunca te conhecido seu namorado; isso teria poupado à vida de seus pais e sua irmã mais velha.

Retornando de seu estado de hesitação, enxergou Clara se mover da porta até onde ela estava deitada.

– Se está esperando que eu te odeie vai ser à toa – a morena afirmou decidida, agachando-se à sua frente e brincando com as madeixas emaranhadas de seu cabelo ruivo. Estava ciente de que não poderia salvá-la ou curar suas feridas internas.

Pond engoliu à seco, se recompondo e erguendo a cabeça do travesseiro. – Se a t.a.r.d.i.s é uma máquina do tempo, podemos voltar até lá e mudar essa tragédia, não é?

Sem saber com negar a essa boa ação, Clara recuou para andar em círculos pelo quarto. – Não posso fazer isso Amelia, me perdoe.

No limite de um relapso, Amy perdeu a capacidade de aceitar um "Não".

Gritou na sua cara. – Como pode ser tão egoísta a ponto de me negar isso?

– Não sou Não me chame de egoísta. Quem está sendo egoísta é você que não entende que não é a única pessoa no mundo a sofrer coisas ruins!

A ruiva rebateu irônica. – Obrigada, esse conselho fez eu me sentir muito melhor.

– O mundo não gira ao seu redor, sua dor não é exclusiva. Faz ideia do que poderia acontecer se alterasse o passado?

– As coisas teriam dado certo.

Clara enfezou-se. – Apenas para você?

– Pode ser.

– Então você está querendo dizer que eu sou um erro?

Ainda insatisfeita, fingiu se contentar com a rejeição de seu pedido, porém dentro de sua mente impetuosa um plano começou a ser executado. Se Oswin não tinha permissão de emprestá-la a Tardis, ela tinha o direito de roubá-la. – Não, Clara. Você tem razão, eu estava sendo egoísta.

– Eu entendo que você queira se vingar, minha mãe morreu quando eu tinha dez anos. Ela estava muito doente e nada poderia salvá-la, há coisas que não podem ser reparadas, Amy.

– Tá, já entendi, agora chega – murmurou menos obstinada.

– Me espere no jardim, tenho mais um plano para nós duas nos divertimos hoje.

A morena desceu às pressas e Amy fez o mesmo alguns minutos depois para não denunciá-las caso o Doutor estivesse (na espreita) no escritório. Não a contou sob a discussão que teve com ele, não queria estragar a melhor noite de todas. Prendendo o cabelo num coque e esperando-a na cerca do jardim, se assustou quando o farol de uma moto reluziu entre os roseiros.

Oswin acelerou e freou próxima a garota, oferecendo-a um capacete. – Está afim de aterrorizar as vizinhanças do século dezenove com a nossa "carruagem" anti-gravidade?

– Isso não seria bruxaria para eles?!

– O quê você acha que eu quis dizer com "aterrorizar"? – um sorriso lascivo brotou em seu rosto afável.

– E o seu tutor, ou devo dizer, Doutor? Ele não ficaria feliz em saber que estamos bagunçando a história.

– Amanhã seremos lenda. Além do mais, ele saiu para resolver uns assuntos pendentes com a Rainha Vitória, não ficará sabendo de nada.

Com o ricochetear da brisa invernal, elas seguiram em alta velocidade de moto pelas ruas medievais e como consequência em menos de seis minutos haviam mulheres de vestidos longos e homens gritando deslumbrados conforme as perseguiam descalços e as imploravam para tentar pilotar uma vez sequer.

– Depois eu que sou irresponsável – Amy brincou, o queixo sob o ombro de Clara e os braços em torno de sua cintura.

E no término do passeio entre as vilas, tomaram um atalho entre as plantações altas para despistá-los. Clara desligou os faróis ao alcançarem um campo plano atrás de um moinho de vento e elas se sentaram no gramado. O céu estava um pouco nublado, camadas de nuvens grossas se rastejavam para o Norte e na linha do horizonte ainda restaram vestígios de um sol. Ela se deitou para vasculhar a escuridão acima do planeta.

Apontou para a estrela que ofuscava o brilho das outras. – Qual é o nome daquela?

– Eu não sei – a respondeu fraca, deitando-se ao seu lado.

Enrugando o rosto, Amy mostrou-se repulsiva. – Você viaja com um alien e não sabe o nome das estrelas? Que desperdício.

– Cale-se – pediu docemente. Levantou-se astuta e foi até o maleiro da moto para retirar uma garrafa de vinho seco, um saca-rolhas e duas taças.

Pega de surpresa, Amy arregalou os olhos quando ela a entregou o saca-rolhas. Abrindo facilmente a garrafa da bebida, despejou-a até a boca das taças.

Entre um gole e outro, perguntou.– E sua família?

Apesar de quase engasgar-se, o entusiasmo pintou sua voz, apesar das tragédias que seus olhos castanhos e bondosos viram. – Maioria dos meus tios moravam em Wales. Minha mãe morreu na epidemia de cólera e meu pai morreu seis anos depois, mas nessa época eu já arrumado outro lugar para morar. Sou uma governanta e também trabalho numa espécie de taverna e é um emprego de meio-período.

– Sente falta deles?

Uma onda de melancolia a acertou e ela esvaziou a taça duma vez, mascarando o aperto em seu peito com um riso ingênuo. – Já faz tanto tempo que já me acostumei. O que acha do meus dois empregos, eles são o suficiente para sustentar as suas ambições?!

– Isso deve ser muito legal, mas, ahn, para quê serve o dinheiro se eu tenho você? – ela mordeu o lábio, admirando-a de novo, paralisada e em um estado de êxtase. – Gosta do seus empregos?

– São meios exaustivo, para ser sincera. A taverna é divertida, mas as crianças me cansam nos fins de semana e o pai delas me olha estranho – explicou, enchendo metade de sua taça.

– Imagino... Eu não gosto de crianças!

– Não pensa em ter filhos?

– Só se fosse com você, poderíamos adotar um ou dois, mas eles tinham que ser parecidos com você – Amy riu de si mesma e passou a mão na testa, constrangida. – Meu deus, o que estou falando?!

– Por que está rindo? Eu não entendi a piada.

– Por nada – ela abaixou a cabeça. – É que eu nunca esperei que pudesse me sentir tão completa outra vez. Você me faz tão feliz, como se eu não precisasse me preocupar com nada.

Embriagada, Amy emplacou, deitando-se em seu colo. Rolando os olhos e abrindo um último sorriso, Clara configurou as coordenadas e ativou o Vortex Manipulator preso em torno de seu pulso, teletransportando seus átomos de volta à sua casa, exceto a moto; ela a mandou de volta para de onde veio. Havia roubado aquele item da garagem do Tardis, ele costumava ser usado pelos Agentes do Tempo. Deitada com Amy em sua cama, a cobriu e deu um beijo em sua testa num gesto protetor. Em seguida, saiu de seu quarto e desceu até o escritório. Encontrou o Doutor sentado numa poltrona a beira da lareira flamejante. Ele estava comendo Fish fingers com creme de baunilha. Meditando enquanto contemplava as chamas, mergulhava os palitos de peixe na tigela e os mastigava lentamente como se aquele momento fosse sagrado por algum motivo.

– Já estou aqui – ela anunciou, dando passos curtos em sua direção.

Mais cedo, após ter discutido com Amy, o Doutor havia ido até Clara aos prantos no jardim e pedido para que ela o encontrasse depois que chegasse do encontro inesquecível com a tal garota de outra dimensão.

Ele se virou lambendo a ponta dos dedos e deixou a tigela em cima de sua mesa. – Que bom, Clara.

– Queria conversar comigo?

– Sim, sim, sobre Amy Pond... – O Doutor fechou os olhos e bufou. – O que essa garota tem a ver com você?

– Eu também queria descobrir, gosto tanto dela – Clara se sentou na poltrona em frente à sua. Parecia iluminada, como se Pond houvesse a transformado em ouro polido. – Um vórtex se abriu no nosso quarto e posso atravessar instantaneamente até a dimensão de Amy. Como você acha que isso aconteceu?

– Hm – ele assentiu sério, como se não fosse uma novidade.

– Você não parece surpreso – rebateu.

– Eu dei vinte e quatro horas para ela ir embora, restam menos de cinco agora, espero que vocês tenham aproveitado bem a noite porque hoje é a última vez que vocês se verão.

– Como assim, Doutor? Por que ela te incomoda tanto?

– Não confio nela e você também não deveria. O passado dela é trágico e fez dela uma pessoa desalmada.

– Você não conhece Amy, ela só quer um pouco de atenção e precisa de um pouco de amor.

Ele elevou a voz, supremo. – Ás vezes o amor não é o suficiente e infelizmente, não será.

– Do que está falando? Sabe de alguma coisa que eu não sei?

– Sei que ela te fará sofrer, se livre dela – garantiu, olhando fundo em seus olhos.

No andar de cima, Amy abriu uma brecha na porta do quarto para escutar melhor o bate-boca e desesperou-se ao distinguir as palavras "Eu fecharei o vórtex se ela se recusar a partir de espontânea vontade". O Doutor era cruel, ela confirmou. Aproveitando a ausência de sua amada, vasculhou as gavetas. Haviam bilhetes, anéis, fotografia, anotações e até objetos comprados no mercado negro intergalático, no entanto o que mais lhe chamou a atenção foi a chave da cabine azul. Os símbolos Gallifreyans talhados no metal a atraíram e ela a guardou no bolso. Seu plano estava dando certo por enquanto; enquanto sua consciência não estivesse pesada e a fizesse se sentir mal por mentir para Clara, aquela que era a única que a fez experimentar o amor de verdade e o que era confiança.


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Notas finais do capítulo

Para quem não se lembra o Vortex Manipulator é usado pelo Jack em vários episódios e os Agentes do tempo são de Torchwood. Percebem que Amy está se revelando uma pessoa realmente má?