Minha escrita por danaandme


Capítulo 15
Uma outra Rachel




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Elise desceu do palco às pressas, passando por entre várias mesas onde as pessoas ainda a aplaudiam. Ela tentou sorrir para alguns rostos, mas nada era mais importante que chegar até Rachel. A morena havia saído do restaurante atrás daquela loira ridícula e Elise se recusava a perder sua estrela mais uma vez.

Passando pela porta de saída, que levava a recepção do Hotel, ela avistou Rachel correndo na direção do hall dos elevadores e se apressou para alcança-la, mas uma mão a puxou de uma vez, a desviando de sua rota e a fazendo colidir contra o corpo de quem lhe puxava.

“Eu não vou permitir que você continue com isso, Elise.”, a voz de Michele soou forte e autoritária junto ao ouvido dela, enquanto seus braços envolviam o corpo da ruiva a prendendo junto a si. Pelo canto dos olhos Elise viu Jesse correr na direção dos elevadores e seu desespero aumentou. Ela tentou se livrar de sua colega de trabalho, mas supreendentemente a pequena morena consegui mantê-la firmemente presa junto ao seu corpo.

“Me solte sua...”

“É melhor você se acalmar. Afinal de contas, como você adora me lembrar constantemente, eu não sou ninguém, mas você tem muito a perder se começar um escândalo no meio da recepção de um dos mais prestigiados hotéis de New York.”, a pequena sussurrou junto a ela e Elise bufou furiosa, mordendo os lábios tentando conter as lágrimas de frustação e magoa.

“Turistas com celulares podem fazer estragos maiores que os paparazzi nos dias de hoje...”

A ruiva olhou ao redor e notou um casal as observando. Michele rapidamente deslizou as mãos pela cintura de sua colega, girando o corpo dela e ficando cara a cara com a ruiva.

“Você vai sorrir para mim, vai voltar para o restaurante e vai ter um jantar agradável comigo, Scott.”, Michele pode ver uma raiva descomunal se espalhando por todo o verde dos olhos de Elise, mas em segundos esse sentimento pareceu se converter em algo que se assemelhava a angústia. Ela viu sua colega piscar várias vezes, tentando se recompor, e de repente as muralhas pareciam ter se reconstituído e Elise mais uma vez havia sumido por trás de sua habitual máscara de diva inatingível.

Com um sorriso nos lábios ela se aproximou de Michele e sussurrou docemente.

“Eu posso fazer da sua vida um inferno, senhorita anônima intragável.”

Michele revirou os olhos e entrelaçou seus dedos junto com os dela, a puxando pela mão em direção ao restaurante.

“Eu já tenho que beijar você todos os dias até o fim do meu contrato, Elise... Acredite, isso já é castigo suficiente.”, reclamou a pequena morena entredentes, retribuindo o sorriso falsamente.

...

O que Quinn realmente queria, era ter saído do hotel e entrado no primeiro taxi que passasse na sua frente, desaparecendo da face da terra. Infelizmente a presença de três fotógrafos logo na saída do hotel a impediu de seguir adiante. Sem alternativas, ela retrocedeu imediatamente para o hall da recepção, onde foi escoltada pelo mesmo funcionário que as havia recebido mais cedo, até uma das suítes do hotel. Menos de um minuto depois, Rachel invadia o quarto procurando por ela.

“Quinn.”, a voz da morena ressoou entre aquelas quatro paredes enchendo o ambiente com uma mistura de alivio e ansiedade.

Quinn não se virou para vê-la. Suas mãos se fechavam com força no espaldar de uma das cadeiras do pequeno conjunto de mesa de jantar que compunha a elegante decoração decor da suíte.

Rachel observou a postura tensa da mulher que ela amava; os ombros rígidos, cabeça baixa, músculos dos braços tensionados firmemente, marcando as curvas delicadas dos bíceps sobre a pele de porcelana, e sentiu seu coração apertar. Ela sabia que um dia essa conversa aconteceria. Ela teve suas razões para querer esquecer, mas aquilo não era justo com Quinn... não era justo deixa-la de fora dessa parte de sua vida.

Rachel sentou-se na cama e fechou os olhos.

“Como a grande maioria dos pais, os meus pais me mimaram durante toda minha infância, e levando em consideração nossa excelente situação financeira, esses mimos eram muito mais do que sorvetes e brinquedos muito caros. Quer dizer, quantas crianças podem ter uma sessão exclusiva de Wicked durante suas férias na França como presente de dez anos?”

A morena deu uma risadinha sarcástica e sacudiu a cabeça, ela podia sentir a ferida se abrindo em seu peito.

“Eu sempre sonhei ser uma estrela da Broadway, e depois desse dia, minha vontade cresceu tanto que eu me juntei ao glee club do meu colégio, e me matriculei nas melhores escolas de música de NYC. E tudo começou assim, eu comecei a cantar nas festas no colégio, em festivais de música, em reuniões e dinner parties que meus pais costumavam oferecer a amigos. De repente, todos ao meu redor só falavam o quão talentosa eu era. Aos doze anos eu não era só a garota mais popular do colégio, mas era também uma personalidade em todas as colunas sociais do estado... O problema é que toda essa atenção, misturada com minhas tendências de diva egoísta, não mostraram ser algo que pudesse ser controlado com facilidade, e eu acabei dando mais valor a atenção que eu recebia do que ao sonho que eu tinha... e aos quinze anos eu já estava completamente fora do alcance das infelizes tentativas de meus pais de me impor limites.”

Rachel fez uma pausa, tomando coragem para continuar. Quinn ainda não havia dado nenhum sinal de que estava ao menos ouvindo o que ela estava tentando dizer. A atriz continuava parada junto a uma cadeira, a cabeça baixa e de costas para ela. Rachel mordeu os lábios e respirou fundo.

“...E então Elise aconteceu.”, por um breve momento pareceu que Quinn diria alguma coisa. Ela havia apertado ainda mais o encosto da cadeira e Rachel conseguiu notar que ela havia prendido a respiração por um segundo.

“Nós fomos colegas de turma durante os dois últimos anos do colégio. Ela era a única pessoa que não se deixava intimidar pela quantidade de fotos, festas VIPs, de garotos ou garotas que caiam aos meus pés, ou pelas entrevistas que eu dava num final de semana. Ela era a única pessoa que me enfrentava e que dizia na minha cara tudo aquilo que ela realmente achava de mim... E ela era a única pessoa que podia rivalizar comigo naquilo que eu mais chamava atenção... Elise sempre foi uma diva... uma estrela com um talento absurdo.”

Quinn sentiu as lágrimas queimando em seus olhos, ela piscou e fechou as pálpebras com força, evitando que as lágrimas escorressem por seu rosto. Como ela imaginou, aquela mulher havia sido parte de um pedaço importante da vida de Rachel, um pedaço que ela ainda desconhecia, e que por algum motivo, que ela temia saber, Rachel havia decidido não dividir com dela até aquele instante.

“Eventualmente nossas trocas diárias de ofensas e disputas por solos se transformaram em algo mais e nós nos apaixonamos. Foi algo intenso e dramático como qualquer relação entre adolescentes, mas no nosso caso especificamente, a grande maioria do drama acontecia por causa dos meus excessos...”

Essa era a parte que Rachel não queria lembrar. Essa era a época da vida que ela desejava poder mudar... Aquela Rachel Berry que humilhava as pessoas que julgava serem inferiores a ela; a Rachel que não tinha escrúpulos; a Rachel que usava os sentimentos daqueles que realmente se importavam com ela, só para conseguir o que queria...

Ela realmente odiava aquela Rachel.

E seu maior medo era que Quinn também odiasse...

“As fotos e as notas nos jornais sempre diziam o mesmo... Rachel em mais uma noitada a La Berry; ou a princesinha de New York saindo de um hotel na quinta avenida depois de uma noite de farra com amigos... ou jovem socialite exige a demissão de garçons em restaurante em Manhattan, e finalmente a preferida dos meus advogados na época; Rachel Berry processa casa noturna pela divulgação de fotos que mostram a socialite saindo bêbada amparada por amigos no final de semana passado.”

A voz da morena falhou um pouco, mas ela respirou fundo e continuou.

“Eu fui interna contra minha vontade numa clínica de reabilitação logo em seguida... e vinte e oito dias depois sai de lá direto para uma rave em Londres. Eu sumi durante duas semanas... bebi tanto que perdi completamente a noção do tempo. Só lembro de acordar num hotel em Paris, com meus pais e dois inspetores de polícia arrombando a porta do quarto. Meus pais me trouxeram de volta e Elise estava me esperando no desembarque... Ela tinha os olhos inchados e vermelhos e correu na minha direção... e como sempre ela trouxe a realidade com ela. Acho que eu nunca levei um tapa tão forte como o que ela me deu naquele dia... Por causa daquele tapa eu resolvi voltar para a clínica de reabilitação.”

Elise sempre foi capaz de fazer aquela Rachel voltar a realidade. Ela nunca teve medo de fazer aquilo que ninguém mais se atrevia. Rachel sabia que até seus pais agiam como se estivessem lidando com uma bomba prestes a explodir, mas Elise não. Ela não se incomodava em esfregar na cara dela o quanto imatura, irresponsável e egoísta ela era. E naquele dia a força do tapa refletiu tudo isso, mas foi algo que Elise dissera logo em seguida que realmente fez a diferença. E isso era algo que por mais que ela quisesse, ela não conseguiu encontrar força para repetir.

‘Não me faça ter pena de você.’

“Sai da clínica, limpa e determinada a continuar assim, e consegui, pelo menos por algum tempo. Eu parei de ir as festas, me dediquei mais ao colégio e ao glee club, fui as competições e quis acreditar que meu sentimento por Elise seria forte o bastante para me manter afastada daquilo tudo... Mas no fim todos aqueles meses vivendo uma vida mundana e perfeitinha não foram o suficiente para me manter sã e só bastou que ela fosse passar um final de semana visitando os avós em Boston, para que eu jogasse para cima tudo de novo.”

Richard havia prometido que seria uma festa pequena e ‘saudável’, mas num passe de mágica a casa estava cheia de desconhecidos dançando e se divertindo, muito álcool e inúmeras garotas belíssimas se jogando sobre ela.

Aquela foi a primeira vez que ela consumiu drogas em festas.

“Depois daquele fim de semana eu não soube mais de Elise... ela simplesmente sumiu. Richard me falou algo sobre ela ter ficado sabendo da festa e de ter dito que estava tudo acabado entre nós. Eu fiquei chateada por alguns dias, mas não achei muito espaço na minha agenda para me importar... as festas e as noitadas voltaram a ser tudo para mim... e sem Elise por perto para me controlar, eu perdi o freio completamente. Precisei acordar numa freeway em Los Angeles, ao lado do cadáver de meu melhor amigo, com mais ossos quebrados do que eu imaginava ter, e com quase a metade do meu sangue espalhado pelo estofado carro, para enxergar o que realmente importava na vida.”

Rachel estava tão perdida nas lembranças que não percebeu que Quinn a encarava com lágrimas nos olhos. A loira tremia, agarrada a cadeira como se estivesse sustentando todo o peso do corpo naquele objeto. Rachel levantou o olhar, imediatamente conectando seus olhos com aquele mar castanho esverdeado, forçando as palavras entre lágrimas que agora escorriam por seus olhos.

“Eu não tenho orgulho dessa garota fútil e sem alma que eu fui um dia... e eu nunca mencionei meu relacionamento com Elise porque ela me faz lembrar dessa Rachel que eu tanto odeio... Elise me faz lembrar de como eu atirei meus sonhos pela janela e me converti numa pessoa sem escrúpulos e vazia... uma viciada que machucava todos ao seu redor. Eu joguei fora o único relacionamento sério que eu havia tido na vida... e por causa de quê? Por sexo sem compromisso, álcool e festas fúteis que me davam fotos em colunas sociais... E até pouco tempo eu pensava que essa tinha sido a minha única chance de ser feliz... de que ninguém poderia ser tão importante quanto ela foi um dia... Mas então... você apareceu. E foi como se tudo ficasse realmente para trás, não esquecido, mas finalmente para trás... Você me fez perceber que aquela Rachel não vai voltar nunca mais, Quinn. E eu não tenho mais medo de viver tudo o que eu sempre quis viver, porque o seu amor me libertou. Você não me faz sentir prisioneira, pelo contrário, desde o primeiro momento o seu sorriso me fez sentir viva de novo. O seu abraço pode me afastar de qualquer lembrança ruim. Você me faz acreditar que eu ainda posso voltar a ser aquela garota que um dia sonhou em viver para cantar... Você. Só você... E eu sinto muito porque por um instante eu te fiz duvidar do meu amor, mas quando eu ouvi aquela voz... foi como se a realidade esfregasse mais uma vez na minha cara que aquela Rachel existiu um dia... e que só porque hoje eu tenho você ao meu lado, isso não quer dizer que eu possa apagar tudo o que já fiz... e todo mal que causei.”

Ela estava envolta pelos braços de Quinn antes mesmo de terminar de falar.

“Desculpe... por favor, amor... desculpe...”, Rachel murmurava entre lágrimas.

Quinn a apertou ainda mais junto a seu corpo. Ela não sabia o que fazer... quer dizer, Santana e Brittany haviam comentado algo sobre o passado de Rachel, mas ela nunca imaginou algo parecido.

“Quinn... não me deixe...”

A fragilidade presente na voz dela, trouxe Quinn de volta.

“Nunca.”, a loira beijou o rosto dela sentindo o gosto salgado das lágrimas que ainda escorriam pela face de Rachel. “Nunca, Rach...meu amor... me desculpe... eu me deixei levar pelos ciúmes...eu deveria...”

Rachel colocou gentilmente os dedos sobre os lábios de Quinn, fazendo-a se calar.

“Eu deveria ter contado isso tudo antes... não foi sua culpa.”

“Eu estraguei nossa noite...”, dessa vez foi a vez de Quinn chorar. Rachel suspirou e a abraçou, pensando na caixinha de veludo azul que ela trazia em sua bolsa. Talvez fosse melhor que Quinn não desconfiasse da real intenção daquele jantar.

“Nossa noite não acabou... Digamos que ela só ganhou uma pitada de drama.” Rachel passou os dedos sobre as bochechas dela, limpando algumas lágrimas que ainda escorriam. “O que você acha de pedirmos para que o serviço de quarto traga nosso jantar aqui? Afinal de contas, nós já estamos numa das melhores suítes do hotel...”

“Isso seria maravilhoso...”, respondeu Quinn com um sorriso tímido.

Foi então que elas ouviram duas batidinhas na porta. As duas se olharam confusas e Rachel se levantou para verificar quem era. Quinn observou quando ela abriu uma brecha da porta para espiar quem as incomodava antes de escancarar a porta e bufar alto.

“Eu tenho quase certeza de que já sei o que você tem a me dizer, St. James!!!”

Rachel agarrou seu amigo pela gola da camisa e o puxou para dentro do quarto.

“O que diabos Elise Scott está fazendo lá embaixo?”

“Não venha com toda essa atitude para cima de mim, Rachel Barbra Berry! Se você e sua alma gêmea não tivessem decidido sumir da face da terra por semanas eu teria conseguido lhe avisar o que estava acontecendo!”

Quinn piscou os olhos um pouco encabulada, por ele ter se referido a ela como ‘alma gêmea’ de Rachel, e não conseguiu evitar que um sorriso bobo surgisse em seu rosto, mas logo em seguida o resto das palavras dele chamaram a atenção dela.

“Como assim? Quer dizer que você sabia que aquela mulher estaria aqui hoje?”, perguntou a loira se aproximando deles. Rachel franziu o cenho e olhou para Jesse, aparentemente ela iria fazer a mesma pergunta.

Jesse jogou os braços para cima e deu dois passos para trás. Não que ele não estivesse esperando uma reação como aquela, mas a fisionomia e o tom de voz de Quinn no momento que ela se referiu a Elise, o fez tremer involuntariamente. Algo naquela expressão era assustadoramente familiar.

“Vejam bem, eu não tive como evitar... Eu nem ao menos sabia que ela estava na cidade... e tudo aconteceu muito rápido! Talvez se não fosse por causa da inabilidade daqueles três patetas de Lima de resistir a um belo par de pernas, isso tudo não teria chegado ao ponto que chegou!”

Rachel inchou as bochechas, bufando irritada e berrou na cara do amigo.

“Jesse, eu não estou entendendo nada!!! Pare de rodeios e vá logo ao ponto!”

“Está bem! Eu estava bancando um city tour para os três mosqueteiros e para Michele, uma das protagonistas da nossa peça, quando esbarramos em Elise. Ela ativou o modo diva-megera on e cinco minutos depois, o produtor artístico, musical, nossos investidores e toda a equipe de marketing e RP estavam no telefone exigindo que ela fosse a outra estrela do musical.”

“O QUÊ?!”, berraram Rachel e Quinn.

Jesse deu de ombros e sacudiu a cabeça sem palavras. Rachel bufava furiosa, seu rosto estava vermelho vivo, e antes que Quinn ou Jesse pudessem fazer algo, ela passou pela porta de saída em direção aos elevadores.

Quinn só saiu do choque quando a ouviu urrar outro palavrão no corredor, e imediatamente correu na direção dela. Jesse as seguia tentando explicar como ele não podia ter feito nada a respeito. E quando todos achavam que a situação não podia ficar pior, a porta do elevador se abre e de dentro dele saltam Elise e Michele.

“Você não tem o direito de fazer isso, Elise!”, Michele falava com dificuldade, agarrada a cintura dela, enquanto tentava carrega-la de volta para o elevador.

“Cala a boca, Bergman! Eu vou dar um basta nisso tudo!”, Elise tentava se livrar do abraço de Michele quando deu de cara com uma Rachel enfurecida, acompanhada de uma namorada igualmente possessa, que parecia capaz de congelar o mundo inteiro apenas com o olhar.

O escândalo que já era iminente, agora, se fazia inevitável. No instante que Rachel saiu de seu alcance, Jesse não teve outra opção a não ser agarrar Quinn pelos ombros, numa tentativa inútil tentar diminuir os danos.

“Quem você pensa que é?”, Rachel disparou na cara de Elise. “Você aparece depois de anos sem dar notícias, e ao invés de agir como uma pessoa normal e telefonar marcando um maldito café, você resolve montar um show e interromper o meu momento extremamente especial com minha futura esposa, cantando algo sobre como você quer reviver o nosso amor?” A morena gesticulava freneticamente cara a cara com Elise. “Você perdeu o juízo, Elise?!”

“Futura... esposa...?”, Quinn e Elise murmuraram ao mesmo tempo, ambas em choque pela escolha de palavras de Rachel.

A socialite arregalou os olhos, só então percebendo o que ela havia deixado escapar.

Michele sentiu Elise parar de tentar se livrar de seus braços, a ruiva abria e fechava a boca sem emitir nenhum som. Por outro lado Jesse apertou ainda mais Quinn junto a si. Ele tinha certeza que em breve o significado das palavras de Rachel surtiria efeito em Quinn, e ele tinha razões para acreditar que se ela resolvesse sair para a briga, ele teria que começar audições para encontrar uma nova Lana imediatamente.

“Rachel...”

Rachel deu dois passos para trás e se virou, procurando o olhar de Quinn quando a ouviu murmurar seu nome. A compreensão do que deveria ter acontecido naquela noite finalmente ia se fazendo presente nas feições da loira.

“V-Você... ia...Você ia me p-propor... Você ia pedir minha mão em...casamento? Hoje?”

Não havia mais porque negar e Rachel nunca mentiria para ela. A morena não precisou dizer nada, somente sorriu tristemente. Um sorriso que não fazia seus olhos brilharem.

Quinn engoliu seco.

“E-Ela... ela estragou...”, Quinn desviou o olhar para encarar Elise, e Jesse sentiu os músculos dos braços dela enrijecendo. O que entrava em contradição com o tom de sua voz, que ficou mais clara, calma e inacreditavelmente controlada quando ela concluiu.

“Ela estragou tudo.”

Num rápido passeio pelo google você aprenderia que os dez maiores predadores da face da terra são mortalmente silenciosos quando se preparam para atacar suas presas. Eles são ágeis e letais, e geralmente suas vítimas mal conseguem saber o que as atingiu antes que seja tarde demais.

Quinn Fabray certamente deveria estar inclusa nessa lista. Em segundos ela se desvencilhou de Jesse e agarrou Elise pelos ombros a colocando contra a parede. Deixando a pobre coitada da Michele sentada no chão totalmente apavorada.

“Escute aqui seu projeto de diva egoísta aspirante a centro do universo dos infernos, é melhor você dar o fora das nossas vidas antes que eu realmente faça o que eu estou desejando fazer desde o momento que eu vi essa sua carranca ruiva nojenta. Eu passei minha vida inteira esperando por ela, e agora que eu a encontrei não vou permitir que ninguém a tire de mim.”

Elise parecia congelada perante Quinn e sua performance de ‘HBIC, o retorno’.

Em nenhum momento a loira gritou ou a agrediu. Nem mesmo a maneira como ela encurralou Elise na parede foi brutal. Quinn conseguiu com que sua rival tremesse perante ela usando o mesmo método que a ajudou a dominar todo o colégio durante mais da metade de sua adolescência; liberando sua HBIC persona.

Era como estar cara a cara com um predador faminto, Elise pensou. As pupilas dilatadas brilhavam ameaçadoramente em meio as finas listras de castanho esverdeado, o tom de voz era assustadoramente melodioso e calmo, totalmente desprovido de emoção e fazia com que os pelos de seu braço erguessem. E o jeito que o maxilar dela travava entre as palavras, era quase como se ela estivesse se preparando para arrancar sua cabeça fora. Essa era a mulher que sua estrela queria como esposa? Seria mais seguro beijar um tubarão branco!

Mas então, as feições de Quinn mudaram. A sombra que cobria seus olhos desapareceu e a besta deu lugar a bela, e sem mais nem menos, ela se afastou.

Só com essa distância entre elas Elise pode entender o que havia acontecido.

Os braços de Rachel estavam ao redor da cintura de Quinn, que ao sentir o toque dela, recuou, incapaz de continuar furiosa.

Depois disso foi muito fácil perceber o obvio.

Ela nunca tivera nenhuma chance contra Quinn Fabray.

Rachel, sua estrela, veio até ela depois de anos sem vê-la com uma fúria indescritível no olhar, uma fúria que se justificava porque ela havia planejado pedir a mão da mulher que ela amava em casamento e Elise, com sua teimosia e egoísmo, havia atrapalhado.

Em nenhum momento Rachel vacilou, em nenhum momento foi como rever as brigas que elas tiveram um dia... Porque naquela época, mesmo enquanto brigavam Rachel vacilava. Um gesto, um olhar, um toque... não importava o quão séria era a briga.

Mas hoje, Rachel estava diferente. Sua postura havia mudado, o olhar... o jeito de como ela confirmou suas intenções de fazer sua proposta a Quinn naquela noite... e a maneira como ela a segurava em seus braços nesse momento, como se Quinn fosse parte dela.

Elise e Rachel sempre precisaram chegar quase no limite da loucura para conseguirem se entender. Era quente, perfeito e intenso, mas não tinha cumplicidade ou profundidade. Nenhuma das duas seria capaz de acalmar uma a outra sem que algum limite fosse quebrado.

Elise abaixou a cabeça. Ela amou Rachel com todas suas forças, mas a Rachel que ela pensou que era sua, na verdade nunca foi a verdadeira Rachel... Aquela mulher na sua frente não era aquela versão sem eixo e rumo, que se sustentava nela para sobreviver um dia a mais...

Essa Rachel Berry tinha sua própria força e brilho. E pelo que ela pode ver, Quinn era o sol que alimentava isso.

“Eu não posso competir...”, ela admitiu finalmente deixando quatro rostos confusos a encarando. “Eu sinto muito por tudo.”

Elise preferiu sair o mais rápido possível dali, antes que as lágrimas borrassem sua visão ainda mais. Ela correu na direção da porta que dava acesso as escadas, desaparecendo da vista de todos no momento que a grande porta corta fogo se fechou atrás dela.

Quinn olhou de relance para Rachel e apertou sua mão. Rachel compreendeu e se virou para Jesse com a intenção de pedir que seu amigo fosse atrás dela, mas um baque seco chamou a atenção dos três e eles viram Michele desaparecer pela mesma porta por onde Elise tinha sumido minutos antes.

Jesse franziu o cenho.

“Por isso eu não esperava.”

...

“Elise! Elise, pare!”, Michele se esforçava para segui-la, pulando degraus e arriscando a integridade de seus ossos no processo.

Elise quase tropeçou em um dos degraus e acabou se sentando de uma vez no chão. Michele estava ao lado dela no segundo seguinte.

“Você não devia correr assim, sabia? Podia ter rolado escada a baixo e quebrado o pescoço! E se isso acontecesse eu ia ter que trabalhar com sua substituta, e ela fuma mais que uma chaminé! Beijar ela seria um suplício!”

Elise sacudiu a cabeça chorando. A única pessoa que a seguiu... foi exatamente aquela que ela destratou desde a primeira vez que viu.

“Não faça isso. Não haja como se você se importasse...”, ela conseguiu falar entre os soluços. Ela odiava isso, sempre que ela chorava ela soluçava.

“Eu me importo.” Michele esticou a mão, hesitando apenas por momento, antes de que seus dedos enxugassem algumas das lágrimas que escorriam pelas bochechas rosadas.

Elise sentiu o coração apertar, e sem saber como, de repente ela estava chorando no ombro de Michele. Sem mais muralhas, sem mais máscaras, sem mais fingir ser inatingível.

“Por que não fui eu? Por que não podia ser eu?”

O abraço de Michele ficou mais forte e Elise enterrou ainda mais o rosto junto a ela, se agarrando ao casaco da morena.

“Eu passei esse tempo todo pensando que quando ela estivesse pronta, ela viria me buscar... mas nunca fui eu...”

Michele apertou mais uma vez seus braços contra o corpo da ruiva, enquanto afagava gentilmente as costas dela. Um gesto que pouco a pouco conseguiu acalmar a ruiva.

“O que você me diz de nós duas irmos para o seu quarto, ligarmos para o serviço de quarto e pedirmos uma montanha de brownies e um pote sorvete de creme, ein?”

Elise revirou os olhos, mas não conseguiu conter o riso.

“Eu não sei se eles servem potes inteiros de sorvete aqui, Bergman.”

Michele estreitou os olhos, cutucando ela de leve.

“Mas você é uma estrela internacional! Você merece um pote de sorvete só para você.”

Michele se levantou e fez com que Elise se levanta-se também.

“Vamos, eu aposto que consigo um pote todinho só para nós.”

“Você só está me usando para conseguir seu sorvete, não é?”

Michele sorriu abertamente, foi um sorriso tão encantador que Elise não conseguiu deixar de não sorrir também.

“Oh, você descobriu minhas reais intenções.”

Ao invés de tomar o elevador, elas resolveram subir as escadas até o andar da suíte que Elise estava hospedada.

...

Após uma longa conversa com Jesse, onde ele explicou todos os detalhes dos eventos que levaram a confusão daquela noite, Rachel e Quinn resolveram voltar para casa. Não que elas considerassem a noite perdida, mas porque elas acabaram percebendo que só queriam ficar juntas, abraçadas de conchinha num lugar que pertencia somente a elas.

Rachel quis se desculpar pelo fiasco de seu quase pedido de casamento, mas Quinn a calou com um beijo sussurrando docemente, ‘Você não precisa se desculpar por algo que não chegou a acontecer. Eu tenho certeza que vai chegar o dia que você realmente dizer as palavras, e esse instante vai ser o momento mais mágico de toda minha vida.’

No momento elas saiam de mãos dadas do elevador, já no hall de entrada do apartamento, quando uma figura encostada da porta de entrada do apartamento, chamou a atenção de ambas.

“Luc? O que você está fazendo aqui a essa hora da noite?”

O rapaz passou a mão pelos cabelos, ele parecia um tanto nervoso.

“Bem, primeiramente bom dia senhorita Fabray...Rachel... bem vindas de volta. Espero que a viagem tenha sido maravilhosa... e relaxante...”

Rachel cruzou os braços e Quinn fechou a cara.

“Luc. Me dê logo as más notícias.”

O rapaz fez uma careta e mordeu o lábio inferior. Quinn respirou fundo e ergueu a sobrancelha, ela realmente não estava com muita paciência no momento. Luc pareceu perceber isso porque de uma hora para outra ele disparou de uma só vez.

“Suamãeestáesperandovocêsládentro.eunãotivecomoevitar.elaéumtantoassustadoraeameaçouchamaraimprensa.”

Quinn arregalou os olhos e Rachel engoliu seco.

“Minha... mãe?”

Luc sacudiu a cabeça fazendo que sim.

“O que mais pode acontecer hoje?!”, Quinn perguntou exasperada.

Luc mordeu o lábio mais uma vez e deu de ombros, sorrindo sem jeito.

“Você foi indicada ao Oscar de melhor atriz...”

Rachel precisou da ajuda de Luc para segurar Quinn quando ela desmaiou.


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